Li ontem na Folha de S.Paulo online (clique aqui) sobre uma questão ecológica envolvendo as turbinas de geração de energia eólica. O estudo original foi publicado na conceituadíssima revista Science.
Quem não ler a matéria em sua íntegra ficará pensando que é "mais um exagero dos biólogos". Afinal de contas "pra quê que serve morcego, bicho asqueroso!".
A matéria mostra que as questões ecológicas são muitas vezes de difícil entendimento prévio. Morcegos não são cegos, como se costuma acreditar, e em adição contam com um eficientíssimo sistema de ecolocalização que lhes permite escapar das hélices. Quem poderia esperar que grandes pás girando provocariam morte de morcegos? Claro que um ou outro seria afetado pelas pás (- ô bicho burro!!! diriam alguns). No entanto, a principal causa da morte não é a colisão com as pás, mas as diferenças de pressão do ar que existem no fluxo da turbina, imperceptível para os morcegos. Ao passar por essas áreas, o morcego sofre uma descompressão que afeta seus órgãos internos, podendo provocar sua morte.
No caso exposto, a diminuição da população de morcegos afeta a ação desses animais sobre a população de insetos. Um morcego pode ingerir por noite uma quantidade de insetos igual ao seu próprio peso. O morcego então é um controlador da população de insetos, muitos deles pragas agrícolas (lembrando que insetos polinizadores de importância na agricultura raramente têm voo noturno). Insetos também dispersam sementes, polinizam flores que abrem à noite (como ocorre nos pequizeiros) e são a fonte de nutrientes para cadeias alimentares complexas e pouco conhecidas que existem no interior de grutas e cavernas, onde os organismos da base da cadeia se alimentam do conteúdo das fezes dos morcegos.
O trecho seguinte, presente na notícia apresentada, talvez sensibilize aqueles que pensam primeiro no bolso e depois na natureza:
"O estudo, conduzido por uma equipe de pesquisadores americanos e sul-africanos, sugere que a diminuição da população de morcegos na América do Norte poderia gerar prejuízos agrícolas de mais de US$ 3,7 bilhões por ano, podendo atingir até US$ 53 bilhões anuais."
Some-se a isso os custos decorrentes das consequências para a saúde dos homens do uso maior de inseticidas para controlar as pragas. Dói no bolso... e no corpo.
Ramon Lamar de Oliveira Junior
Esta questão das pás das turbinas já foi relacionada também à morte de pássaros.
ResponderExcluir