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quarta-feira, 23 de junho de 2021

INFORMAÇÕES SOBRE OS MÓDULOS III E IV DAS SALINHAS DE MATEMÁTICA, QUÍMICA E BIOLOGIA

As informações preliminares sobre as novas Salinhas do Segundo Semestre de 2021 já estão disponíveis. em nosso blog. Basta clicar AQUI

Analise as nossas sugestões e use os "comentários" para tirar alguma dúvida ou fazer alguma sugestão.

Brevemente divulgaremos os valores, estamos aguardando ainda as definições sobre se as aulas serão presenciais ou online. Contudo, tudo indica que ofereceremos as duas modalidades, a partir de um número mínimo de alunos interessados.

Confira no nosso blog e vá se organizando! Estamos ansiosos para comemorar a sua aprovação no SiSU ou nos Vestibulares!

Ramon Lamar e Andreia Aparecida



quarta-feira, 16 de junho de 2021

Aranhas: Latrodectus geometricus (viúva-marrom)

(Esta postagem foi feita em 26.12.2010, mas pela atualidade e pelo surgimento recentes de casos de acidentes no período, foi elevada momentaneamente para as primeiras posições do blog para facilitar acesso.)

A viúva-marrom ("brown widow" para os gringos) é parente bem próxima da famosa viúva-negra  americana (Latrodectus mactans). Trata-se de uma das aranhas que merece nossa atenção pela dor da sua picada e pela ampla distribuição em praticamente todo território nacional.


Latrodectus geometricus: viúva-marrom.
Fotos do Bira (Ubirajara de Oliveira - Laboratório de Aracnologia - ICB/UFMG)

A Latrodectus geometricus (família Theridiidae) é uma aranha pequena, de corpo amarronzado com algumas manchas no dorso. Não se trata da famosa aranha-marrom de que tratarei oportunamente neste blog. Possui uma mancha alaranjada em forma de ampulheta na parte inferior do abdômen. Prefere viver em pequenas plantas ou arbustos, debaixo de bancos, frestas das paredes, batentes de portas, beiras de janelas ou portões de garagens e cantos de construções. Em uma coleta noturna, capturamos várias em arbustos e lobeiras no antigo campo de futebol do UNIFEMM. 
Em princípio, a viúva-marrom não é agressiva. Fica lá na dela, em sua teia bastante irregular. Muitas vezes quando tentamos capturá-la, a danada cai da teia, fingindo-se de morta. Tem atividade durante o dia, mas pode ser vista em sua teia com bastante facilidade à noite, com iluminação apropriada. 
A picada da L. geometricus é muito dolorosa. A dor ocorre em acidentes com aranhas e outros animais peçonhentos que possuem veneno neurotóxico (no caso da viúva-marrom trata-se de uma neurotoxina chamada α-LTX que se liga a receptores pré-sinápticos provocando violenta liberação de neutrotransmissores). As fêmeas são maiores e mais venenosas do que os machos. Os acidentes normalmente ocorrem quando a aranha é pressionada contra o corpo da vítima (aranhas presentes em roupas, por exemplo). Um caso bem documentado de acidente ocorrido no Brasil pode ser lido clicando aqui.

Depois de um banho de álcool (aranha morta, é claro) a mancha alaranjada no abdômen fica mais clara. (Foto: Ramon L. O. Junior)

Certamente, você está pensando que jamais verá uma aranha dessas. Que essas coisas são raras e que só acontecem com outras pessoas. Então olhe bem a foto abaixo que mostra a ooteca (casulo de ovos) de uma aranha dessa espécie, com seus "espinhos" típicos. É muito, mas muito provável que você já tenha visto. Se nunca viu, procure embaixo de alguns bancos de jardim e depois me conte aqui.

Ootecas encontradas embaixo de banco de ardósia. Perceba que em uma delas observa-se um pequeno um furo, ou seja, os filhotes já saíram.

Procure manter a calma em caso de acidentes com aranhas, escorpiões e cobras. A possibilidade de levar o animal (pelo menos uma boa descrição ou até mesmo uma foto - hoje com celulares com câmera a coisa fica muito mais fácil e acredite: já salvou a vida de pessoas - clique aqui) pode facilitar muito o atendimento médico pois permite o diagnóstico preciso, mesmo que o agressor esteja parcialmente destruído. Nunca use tratamentos caseiros ou sem a devida atenção de um médico. Em Minas Gerais, a referência para esses tipos de acidente é o Hospital de Pronto Socorro João XXIII, em Belo Horizonte (não hesite em procurá-lo se o atendimento que você recebeu deixou alguma dúvida).

Casulos de ovos (foto em 15/06/2021, Ramon Lamar))

Viúva-marrom escondida na teia irregular e casulo de ovos.
(Foto em 15/06/2021, Ramon Lamar)


Texto: Ramon Lamar de Oliveira Junior

Mais fotos: O João Alberto, leitor do blog, encontrou as informações que precisava por aqui e ainda nos enviou boas fotos de viúvas-marrons capturadas em visão ventral e dorsal. Confiram abaixo:



O Leonardo Saraiva, de Brasília, pesquisou informações sobre a viúva-marrom aqui no blog, depois de ter encontrado várias delas em casa. Nos mandou essa bela foto que é exemplo típico de uma boa fotografia para auxiliar na identificação da espécie. Mancha no abdômen e casulos de ovos não deixam dúvida sobre o encontro com o referido animal.



Observação: Tenho encontrado referências à presença da Latrodectus mactans (viúva-negra) no Brasil, em especial na vegetação litorânea, incluindo a região da Baia de Guanabara. Em recente curso feito na UFMG, aventou-se a possibilidade de confusão entre a L. mactans e a L. curacaviensis ("flamenguinha"). Não sei se é o caso, mas fica aí o benefício da dúvida.

Referências para leitura: 
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Cardoso, JLC; Brescovit, AD e Haddad, JRV. Clinical aspects of human envenoming caused by Latrodectus geometricus (Theridiidae). Journal of Venomous Animals, Toxins and Tropical Diseases 9: 418, 2003.
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Brazil, TK; Pinto-Leite, CM; Almeida-Silva, LM. Lira-da-Silva, RM e Brescovit AD. Aranhas de importância médica do Estado da Bahia, Brasil. Gazeta Médica da Bahia 79 (Supl.1):32-37, 2009.

Aranhas: Loxosceles (Aranha-marrom)

(Esta postagem foi feita em 05.03.2011, mas pela atualidade e pelo surgimento recentes de casos de acidentes no período, foi elevada momentaneamente para as primeiras posições do blog para facilitar acesso.)

Vou começar esse post de uma forma diferente. Segue abaixo o relato do artista plástico Luciano Diniz (condensei algumas partes). Esse relato foi publicado na comunidade do Orkut sobre os “Causos de Sete Lagoas”:
Resolvi abrir um depósito que tenho na entrada do meu atelier para uma faxina de rotina, e eis que me deparo com o local infestado de aranhas. Matei muitas, ou quase todas pensei eu, mas no dia seguinte me apareceu uma mancha esbranquiçada na lateral externa do pé direito, bem na junta. Lembrei-me então de um vídeo que vi sobre o assunto, do sintoma aparente do efeito de uma aranha pica o ser humano, e me dirigi à uma farmácia para me medicar. Tomei comprimidos, passei pomadas, e fiquei tranquilo que em alguns dias aquilo estaria desaparecido.
Mas nada disso ocorreu, ao contrário, foi só piorando, passei por 8 médicos que não descobriam o que eu tinha, mesmo avisando estar desconfiado da aranha. Fiz todo tipo de exame possível, e tudo estava perfeito, glicose, triglicérides, colesterol, etc, tudo em ordem e o pé só piorando, o que era um mistério, pois tinha saúde excelente, frequentava há anos a academia, boa alimentação. E fui só piorando, veio uma bengala, depois as muletas, até que caí de cama, sem conseguir andar e a ferida só aumentando, até então já contornando por trás até quase o peito do pé, e uma dor insuportável.
Finalmente, descobri que havia sido realmente vítima de uma aranha. Graças eu ter uma saúde excelente devido à alimentação e a malhação, me salvei. Poderia ter morrido ou perdido o pé.
Fui então enviado imediatamente a um cirurgião que me operou e retirou todo o tecido necrosado e envenenado. Fiquei 32 dias imóvel sobre uma cama sentindo dores desesperantes, pois só sobraram os nervos sobre os ossos ao retirar toda a carne já dissolvendo e necrosando, mais 6 meses de cama em recuperação, e mais de um ano nas muletas. Hoje me sinto praticamente um deficiente físico, pois não tenho mais os movimentos do pé, ainda ando com dificuldade, mas pelo menos estou vivo e andando, graças à Deus.
Muito provavelmente o nosso amigo Luciano foi vítima da aranha-marrom (gênero Loxosceles). A aranha-marrom, pertencente à família Sicariidae, também é conhecida como aranha-violino (devido a uma mancha escura em forma de violino que geralmente está presente no dorso do animal). Essa aranha é originalmente de ambiente cavernícola, entretanto já se adaptou ao interior de nossas residências. É uma das poucas aranhas que se alimentam de insetos mortos (a maioria come insetos vivos) que ela encontra com facilidade em nossas casas. A lagartixa de parede é o predador dessa aranha no ambiente doméstico. A Loxosceles possui tamanho total (corpo e patas) entre 3 a 4 centímetros no máximo.

Loxosceles. Observe a mancha dorsal em forma de violino (nem sempre é bem visível). Crédito da foto: Ubirajara de Oliveira (Bira) - Laboratório de Aracnologia - ICB/UFMG.

Nas nossas casas ela habita normalmente os armários, guarda-roupas, atrás de quadros e entre as telhas (quando não há laje). Normalmente é dócil, não ataca. Porém, se comprimida contra o corpo ela inocula o veneno. A picada não dói, pois as quelíceras são muito pequenas e não provocam dor ao penetrar na pele.  O veneno também não é neurotóxico, como o da armadeira. Mas a picada deixa o veneno que é NECROSANTE. Assim, de 24 a 48 horas depois da picada seguem os sintomas iniciais descritos pelo Luciano, inicia-se com uma mancha parecendo mármore. Depois vai complicando e chega a necrosar toda a pele.
Médicos e farmacêuticos normalmente não têm informação sobre esse tipo de acidente. Geralmente confundem com furúnculo ou cabelo encravado e não dão muita importância. Na dúvida, recorra ao HPS João XXIII em BH e mostre a lesão. Eles conhecem bem esses casos pois são assessorados pelos biólogos da UFMG e são a referência para esse tipo de acidente. Acredite, biólogos conhecem mais esses casos do que os médicos, afinal de contas, se expõem mais a esses acidentes em cavernas e tal. Não há nos Cursos de Medicina, uma disciplina que trate com detalhes desses casos. O pessoal do Laboratório de Aracnologia da UFMG montou um curso excelente sobre o assunto. Fiz o curso e estive presente em algumas aulas em outras vezes que foi oferecido. Infelizmente, nas turmas que frequentei, nenhum matriculado era aluno do curso de medicina. Só biólogos mesmo e alguns curiosos interessados no assunto (inclusive meu aluno Saulo - que de vez em quando dá as caras aqui no blog).
A procura dessas aranhas em nossas casas é importante. Não as confunda com aquelas aranhas pernudas que ficam no canto das paredes, quase lá no teto. Aquelas - Pholcus phalangioides - não fazem nadinha, no máximo nos ajudam comendo pernilongos. Procure cuidadosamente (use luvas) atrás de quadros na parede. Nossos colegas biólogos do Laboratório de Aracnologia da UFMG coletaram mais de 300 numa casa de alto padrão no bairro Mangabeiras em BH, sem nenhum acidente na casa, pois as aranhas não atacam. Só picam, como já mencionei, se pressionadas contra nosso corpo (dentro de sapatos, roupas...).

Uma Loxosceles perto de sua teia onde deposita ovos. O corpo é pequeno, cerca de 8 a 10 milímetros. Mas as pernas são alongadas.
Crédito da foto: Ubirajara de Oliveira (Bira) - Laboratório de Aracnologia - ICB/UFMG.

O tratamento é a inoculação do soro anti-loxosceles até no máximo 48 horas do acidente. Pode usar o soro depois, mas o efeito será menor e algum grau de ferida vai se estabelecer. Ou seja, vá para o HPS João XXIII, rápido. Farmácias, remedinhos e pomadinhas não farão nenhum efeito. No máximo, poderão evitar a infecção por bactérias quando a ferida estiver gigante.




Ao lado, imagens chocantes de lesões tegumentares causadas pela Loxosceles. Eu não aconselho, mas se tiver estômago, clique na imagem para ampliar. Não consegui os créditos das duas primeiras imagens, quem souber, por favor me informe. As demais estão devidamente referenciadas. Febre, dor, edema local, mancha avermelhada, irritabilidade, taquicardia, náuseas e vômitos são sinais e sintomas que costumam acompanhar o desenvolvimento das lesões.


Felizmente (bom, melhor seria não ter acontecido, claro!), nosso amigo Luciano foi vítima da forma Tegumentar, ou seja, "apenas" lesões de pele (mas que foram muito graves). Em 2% dos casos pode se estabelecer a forma Visceral, ou seja, o veneno ataca os órgãos internos, em especial o fígado e os rins causando sintomas sérios e progressivos: febre alta e persistente, destruição das hemácias, com consequente anemia e icterícia, perda de proteínas na urina, acidose metabólica, desequilíbrio hidroeletrolítico e crise hipertensiva. Arritmia cardíaca completa e agrava o quadro. A urina fica escura como na Hepatite ("urina de coca-cola") e o prognóstico é grave, especialmente em crianças e idosos, muitas vezes culminando em óbito.

 Ramon Lamar de Oliveira Junior

Escorpião amarelo: dois casos fatais na mesma semana

(Esta postagem foi feita em 29.03.2012, mas pela atualidade e pelo surgimento recentes de casos de acidentes no período, foi elevada momentaneamente para as primeiras posições do blog para facilitar acesso.)

Dois casos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nesta semana, vitimaram duas crianças de 3 anos de idade: primeiro foi a Sara Karla, em Contagem, agora o pequeno Hailander, picado em Caeté. O Serviço de Toxicologia do HPS João XXIII, da Fundação Hospitalar de Minas Gerais, emitiu alerta para as vítimas de picadas de escorpiões para que busquem atendimento imediato. No ano passado (2011), foram registrados 1.254 atendimentos somente nesse hospital. Entre 2009 e 2010, houve 2.512 ocorrências envolvendo escorpiões. 

Escorpião amarelo (Tityus serrulatus). Fonte: Laboratório de Aracnologia, ICB/UFMG.

Escorpião amarelo encontrado em apartamento novo, provavelmente escalou o sistema de esgoto. Foto enviada pela Flávia Franco, leitora do blog. O escorpião encontra-se um pouco destruído. Uma mãe não pensa duas vezes na hora de preservar seu filho, não é mesmo Flávia. Obrigado pela imagem.

O escorpião amarelo, Tityus serrulatus, é o mais perigoso escorpião brasileiro, e um dos mais perigosos do mundo. Sua picada é particularmente grave em crianças e em idosos. Em ambos, graças à menor quantidade de água no corpo, a concentração da toxina atinge valores mais elevados. Em ambos, também, os sistemas de defesa e resistência são menos eficientes (por ainda não estarem completamente desenvolvidos ou por já estarem perdendo a capacidade de resposta).
O veneno é uma neurotoxina, o que explica a forte dor da picada. Minha mãe, que já foi picada quando jovem pelo escorpião amarelo e pelo escorpião marrom (Tityus bahiensis), relatou-me que a dor da picada do amarelo é infinitamente maior. A neurotoxina pode interferir com a liberação dos nossos mediadores químicos mais importantes. Dessa interferência em relação ao sistema simpático (adrenalina/noradrenalina) podem derivar sintomas como alterações da pressão sanguínea, da frequência cardíaca (arritmia) e edema pulmonar. Já em relação ao parassimpático (acetilcolina) podem derivar problemas com as diversas secreções (nasal, salivar, gástrica...), tremores e espasmos musculares, diminuição da pupila (miose) e do rítmo cardíaco.
O escorpião amarelo é registrado em diversos estados brasileiros, com especial predileção pelos estados da Região Sudeste e estados vizinhos como Bahia e Goiás, bem como o Distrito Federal. Os escorpiões adultos medem de 5 a 7 centímetros, com manchas escuras o cefalotórax, pedipalpos e pernas. Por muito tempo acreditou-se que a espécie não possuia machos, reproduzindo-se apenas por partenogênese a partir de fêmeas. A descoberta, a partir de 1999 de machos desta espécie em área de transição de floresta seca e cerrado para caatinga, na Bahia, lançou muita controvérsia sobre o tema. Parece haver, portanto, estratégias reprodutivas de dois tipos, mas a partenogênese é de grande importância pelo explosivo crescimento populacional.
Introduzido em Brasília na década de 1980, T. serrulatus hoje corresponde a 70% dos achados de escorpiões naquela área urbana. Sua capacidade de agir como espécie oportunista, sobrevivendo por muito tempo em ambientes impactados, aliada a alta densidade populacional e tamanho da prole explicam o sucesso dessa espécie e nos indicam o tamanho do perigo.
Alimentam-se de insetos, com grande preferência pelas baratas, caçando principalmente à noite. Durante o dia ficam entocados em frestas, montes de entulhos, restos de construções e em toda sorte de porcarias que escondemos em nossos "quartinhos de muquifo" ou amontoamos num canto do quintal. São diligentemente predados por galinhas. A aquisição de algumas dessas aves é uma medida interessante para combater escorpiões encontrados em casas que têm quintais. O problema é o hábito diurno dos galináceos, contrastante com o hábito noturno dos tais aracnídeos. Mesmo assim, as galinhas ciscam, ciscam, ciscam... e acabam com vários escorpiões.
Em caso de acidente, siga os seguintes procedimentos:
  • Lavar o local com água e sabão e aplicar compressas de água fria. A vítima deve ser mantida deitada e evitar grandes movimentos para não favorecer a distribuição do veneno. Se a picada estiver no braço ou na perna, mantê-los mais elevados. Não fazer torniquete ou sucção no local da ferida, não espremer, cortar, furar ou aplicar folhas ou outros produtos.
  • Coletar o escorpião. Se ele ainda estiver vivo, isso pode ser feito invertendo-se um frasco de boca grande sobre o bicho e passando-se uma folha de papel embaixo do recipiente e do animal, que deve ser substituída pela tampa furada após virar o frasco. Não é necessário colocar alimento. Também é possível capturá-lo segurando o pós-abdome com uma pinça, de modo a impedir o uso do ferrão. Nunca utilize sacos plásticos para aprisionar indivíduos. Também é importante saber para realizar a captura que escorpiões não saltam. Se o animal estiver morto, coloque-o em um frasco de vidro com álcool. Se possível, identifique o escorpião. Constatado alto grau de periculosidade, leve a vítima imediatamente a um hospital.
  • Observe a vítima. Se ela apresentar os sintomas: náuseas ou vômito, suor excessivo, abaixamento da temperatura, agitação, tremores, salivação, aumento da frequência cardíaca e da pressão sanguínea, leve-a imediatamente ao serviço de saúde mais próximo com o escorpião capturado. O soro anti-escorpiônico deve ser aplicado em último caso, pois pode gerar distúrbios. Em pacientes com hipersensibilidade (alérgicos) pode até mesmo levar a óbito. Esse, no entanto, é o único tratamento eficaz para a maioria dos casos graves.
  • Notifique o órgão municipal responsável sobre o ocorrido, mesmo que o acidente tenha sido leve, mesmo que tenha ocorrido apenas a visualização/captura de escorpiões. Essa etapa é esquecida por muitos, mas é de suma importância para alertar a população local sobre riscos, guiar medidas e focalizar áreas para ações de controle e até mesmo garantir estatísticas reais. (Adaptado de: http://www.ibaraki.com.br/escorpiao-o-veneno-dos-escorpioes-e-suas-consequencias.htm)
Fonte: Ministério da Saúde, conforme www.ibaraki.com.br

CURIOSIDADES E OUTRAS INFORMAÇÕES:
  • Escorpião é aracnídeo, não é inseto. Portanto não morre com a aplicação de inseticidas usuais. A aplicação de inseticidas costuma piorar o problema, pois mata as baratas. Com isso, os escorpiões tornam-se mais ativos, migrando pelo terreno ou pela casa à procura de alimentos.
  • Escorpiões emitem uma fluorescência azul quando iluminados com luz ultravioleta (luz negra). Tal técnica é usada para a pesquisa da presença desses aracnídeos em locais como cemitérios e depósitos de materiais dos mais diversos tipos. Claro que só funciona à noite.
  • O número de segmentos no abdômen ("cauda") do escorpião é constante e não tem nada a ver com a idade do bicho. Aliás, o veneno é produzido por escorpiões de todas as idades.
  • Escorpião não se suicida. O veneno do escorpião é ineficaz contra o próprio escorpião. Além disso, o aguilhão ("ferrão") não consegue romper o espesso exoesqueleto do dorso do escorpião. Na verdade, quando presos em um círculo de fogo, os escorpiões tentam "atacar o fogo" e acabam morrendo pelo efeito do calor. Fizemos tal experimento no curso de Biologia, na UFMG, quando do estudo desses animais. Naquela época, experimentos desse tipo eram mais tolerados.
  • Em caso de acidentes na nossa região, o HPS João XXIII de Belo Horizonte é o centro de referência para esse tipo de caso. Inclusive para acidentes com aranhas e cobras. Se em sua cidade o atendimento estiver complicado (sem soro, sem um protocolo rápido de ações) dirija-se imediatamente para o João XXIII.
Ramon Lamar de Oliveira Junior

PS1.: Aproveito esta postagem para relatar mais um encontro de escorpião amarelo em estabelecimento no entorno do Mercado Municipal e Teatro Redenção, aqui em Sete Lagoas.

PS2.: Alyne Goulart, ex-aluna e atualmente estudante de Medicina na Ciências Médicas (FCMMG) postou o seguinte comentário no Facebook sobre este tópico.

"Ramon, muito boa a postagem. Lembrando que a Unidade de Toxicologia do Hospital João XXIII tem um Centro de Informações e Assistência Toxicológica disponível. Acho que vale muito a pena divulgar: (31)32244000 ou 08007226001."
PS3.: Para indicações sobre venenos com ação sobre escorpiões, leiam o comentário publicado em 15 de junho de 2014 por "E mai essa..."

PS4.: Leiam sobre Alerta Sobre Risco de Acidentes em http://ramonlamar.blogspot.com.br/2014/12/alerta-sobre-risco-de-acidentes-com.html

PS5.: Infográfico sobre escorpionismo do website do Estado de Minas: http://www.em.com.br/app/infografico/2012/09/28/interna_infografico,360/escorpioes.shtml

terça-feira, 15 de junho de 2021

Hospital Regional: Capítulo Final ou apenas o final da 11ᵃ Temporada

A não-conclusão do Hospital Regional de Sete Lagoas é um grande exemplo de descaso da classe política, em todos os níveis (cada qual com uma parcela maior ou menor), com nossa cidade e região.

A representatividade de nossa região é insuficiente, infelizmente. Tanto no cenário estadual quanto no federal. Apenas um deputado estadual eleito por nossa cidade que, mesmo que tenha o máximo empenho, não destrava esses processos. Não estou em defesa e nem em acusação ao deputado, é apenas uma constatação óbvia a qual ele mesmo já deve ter chegado.


Precisamos eleger mais representantes... não dividir tantos votos... não eleger "candidatos de fora" que por mais bem intencionados no discurso, não nos colocam em primeiro plano. Ou aprendemos e nos unimos em torno de nomes com potencial de alavancar esse e outros passos, ou ficamos nessa mesmice, despencando nas posições do ranking estadual.

Agora vem aí outra eleição no próximo ano e o mundo político já está alvoroçado. Promessas e mais promessas e uma delas é a conclusão do referido Hospital, que muito tem feito falta para toda a região (é um  hospital regional) nesses tempos de pandemia.

Mas não é só terminar a obra. Há ainda que se equipar o hospital e contratar pessoal. Não basta terminar a obra (que já deve ter vários comprometimentos pelo tempo parado, e várias inequações) que os equipamentos e funcionários pagos vão brotar do chão.

Eu, particularmente, acho que acabamos esse ano a 11 temporada da série e ano que vem vamos para a 12 temporada, ainda sem expectativa de ver o final. Tá mais perdido que Lost.

Ramon Lamar de Oliveira Junior

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Parece que "descobriram a roda" sobre o aspecto da Lagoa Paulino (atualizado)

Puxa vida, já cansei de escrever aqui no blog sobre a situação da Lagoa Paulino, aqui em Sete Lagoas. Mas agora parece que "descobriram" o motivo de seu aspecto lastimável, especialmente pela manhã e em alguns dias mais que outros. 

A Lagoa Paulino sofre de um problema crônico de EUTROFIZAÇÃO. 


Eutrofização começa com uma chegada de matéria orgânica no corpo d'água. Não, na Lagoa Paulino não há mais lançamentos de esgoto como acontecia até a década de 1970. Contudo, muita matéria orgânica existe acumulada em seu fundo e de diversas origens. Principalmente podemos citar: águas pluviais que carreavam grande quantidade de matéria orgânica (esse problema foi muito minimizado por volta de 2014/2015 quando a prefeitura - depois de muita insistência minha - realizar a limpeza do anel de captação pluvial em sua volta), dejetos provenientes dos próprios habitantes da lagoa (especialmente carpas e outros peixes que foram colocados para alimentar os botos) e a morte das próprias algas que costumam dar cor esverdeada à lagoa.

Na eutrofização, as algas absorvem muitos nutrientes liberados das fontes citadas acima (especialmente nitratos e fosfatos, mas não descarto alguma influência de ferro carreado a partir das chaminés de nossas siderúrgicas). Com tantos nutrientes as algas microscópicas proliferam e criam um tapete verde. Oras, mas isso deveria ser bom! Fotossíntese produz oxigênio para os peixes! Mas não é. Não é porque esse tapete verde não deixa a luz chegar nas outras algas microscópicas que estão na massa de água (e aí essas não podem fazer fotossíntese). E some-se a isso um outro problema: à noite as algas não fazem fotossíntese, mas consomem o oxigênio dissolvido na água. Aí começa a morte de algas e sua decomposição liberando mais nutrientes e consumindo oxigênio. A diminuição do nível de oxigênio dissolvido na água provoca morte de peixes... que liberam mais nutrientes na água.

Tudo isso leva a alteração da cor das águas que depende de vários fatores, inclusive qual tipo de alga está proliferando em qual época do ano. Mas também há o trabalho dos peixes que foram colocados para alimentar os botos (os peixes estão lá até hoje) que revolvem o fundo da lagoa levantando o sedimento, sujando a água de marrom e liberando mais nutrientes. E esses peixes - ao contrário do que disseram os "especialistas" que os colocaram - comeram toda a vegetação enraizada no fundo da lagoa. Sem vegetação enraizada a liberação dos sedimentos para turvar a água é maior ainda. Isso já foi claramente demonstrado em um experimento feito nos Estados Unidos e descrito aqui no blog.

Ou seja, é um conjunto, uma "tempestade perfeita" como se diz. Lagoa rasa (muito rasa), muito sol, muitos nutrientes no fundo, uma fauna não-nativa que "detonou" o ambiente mais ou menos conservado que havia. Proliferação de algas, baixo nível de oxigênio, morte de organismos... mau cheiro... alterações da paisagem.

Como resolver???

A resposta é simples. O mesmo que o prefeito Márcio Reinaldo mandou fazer na Lagoa da Boa Vista (mesmo não recebendo licença do Estado, cuja Secretaria de Meio Ambiente do ex-governador Pimentel disse precisar de dois anos para analisar e dar a licença). Tirar toda a água, remover parte do sedimento, impermeabilizar novamente a lagoa e colocar nova fauna de peixes (ictiofauna). Eu particularmente acho que deveríamos colocar apenas lambaris nativos (piabas) na Lagoa Paulino para evitar outros problemas, mas há algumas outras possibilidades que devem ser feitas e pensadas por quem realmente é especialista no assunto (ou conhece bem o problema, em vez de criar outros). 

Hoje vocês podem ver a Lagoa da Boa Vista com águas transparentes e algas (Chara) no fundo, segurando os sedimentos. Mas a Lagoa da Boa Vista ainda precisa de uma fonte artificial de água para manter seu espelho d'água o ano inteiro (ao contrário da Lagoa Paulino que ainda tem minadouros a ela relacionados). Algumas de nossas lagoas só vão se manter artificialmente, com aporte de água (especialmente Boa Vista e Catarina). A lagoa do Cercadinho teve suas nascentes em parte "reabilitadas" pelo trabalho do Dr. Lairson Couto quando Secretário de Meio-Ambiente.

Algas Chara no fundo da Lagoa da Boa Vista após a reforma feita no mandato do prefeito Márcio Reinaldo. Observe a água límpida e a presença das algas no fundo que ajudam a manter o sedimento no lugar, não deixando-o turvar a água.

Carpas e alguns outros peixes se alimentam do lodo do fundo da lagoa, criando essas bacias onde também se reproduzem. Ficam circulando ali para se alimentar de lodo e levantando os sedimentos o que torna a água turva. E comem toda a vegetação de fundo.


Basicamente é isso... tudo está aqui no blog e em outros periódicos que me pediram explicações sobre o problema... abaixo alguns links daqui mesmo:

https://setelagoas.com.br/noticias/cidade/21658-eutrofizacao-da-agua-da-lagoa-paulino-aumenta-e-preocupa-professor

http://ramonlamar.blogspot.com/2015/07/eutrofizacao-volta-com-forca-na-lagoa.html

http://ramonlamar.blogspot.com/2011/06/eutrofizacao-nas-lagoas-e-nivel-da-agua.html

http://ramonlamar.blogspot.com/2012/05/eutrofizacao-na-lagoa-paulino.html

http://ramonlamar.blogspot.com/2013/10/carpas-e-turbidez-da-agua-enfim-uma-boa.html


Ramon Lamar de Oliveira Junior - Biólogo - Professor

Mestre em Morfologia (UFMG) na área de Reprodução de Peixes


PS.: Alguns slides usados em aulas.




PS2.: O Jornal Sete Dias publicou reportagem hoje (11/06/2021) sobre o tema, com vários erros de biologia de lagoas, erros históricos e erros conceituais. O link da reportagem é: http://setedias.com.br/noticia/manchete/53/lagoa-paulino-pede-socorro-material-organico-mata-lentamente-um-dos-cartoes-postais-da-cidade/25648

Em comentário publiquei algumas ressalvas:
Primeiramente convém lembrar QUE NÃO HÁ LANÇAMENTO DE ESGOTO CLANDESTINO NA LAGOA PAULINO. Os entrevistados devem ou deveriam saber que  há um anel de captação de águas pluviais (uma galeria de aproximadamente 1,5m de largura e 1,3m de altura) em volta de toda a Lagoa Paulino e que a mesma já foi esvaziada algumas vezes não se detectando mais os lançamentos de esgotos clandestinos. Quando o anel de captação foi feito pelo SAAE na década de 1980, todas as emissões clandestinas foram eliminadas. Inclusive, por insistência minha, foi feita uma limpeza desse anel de captação em 2014 quando transbordava continuamente para a lagoa, causando a piora na DBO da lagoa.
Realmente não descarto que enxurradas ainda possam levar matéria orgânica para dentro da lagoa, inclusive já pedi várias vezes que fosse fiscalizado e autuado o lançamento de óleo de fritura nas tubulações de coleta pluvial que passam pela "feirinha" da praça Dom Carmelo Mota.
Já foram feitas tentativas infrutíferas de usar filtração para remoção de algas microscópicas (fitoplancton). Simplesmente o volume é tão grande que é impossível proceder a uma filtração. Podem consultar a Secretaria de Meio Ambiente, isso foi tentado em 2014, se não me engano.
A lavação de carros lança sim detergentes no interior do corpo d'água. Basta observar o "cuidado" com que a lavação é feita. Esponjas lotadas de detergentes são lavadas dentro da lagoa. Detergentes são fontes de fosfato, que contribui para a eutrofização.
Colocar CARPAS SABIDAMENTE É UM DESASTRE e só piora a eutrofização. Bom consultar trabalhos científicos sobre o tema. Aliás a colocação de carpas que foi feita para alimentar os botos é uma das principais causas do problema.
E finalmente, lodo não é resultado da decomposição de matéria orgânica. Lodo são algas, no caso algas que morreram e formam esse tapete na superfície.
Sugiro ler diversas postagens minhas sobre o tema em meu blog.
Acompanho essa questão da Lagoa Paulino desde a década de 1980, quando ainda estava cursando Biologia na UFMG.
Seria importante conhecer um pouco mais sobre a história da lagoa e as obras que foram feitas no passado, as intervenções que eram potencialmente importantes para resolver o problema e as que já foram feitas e resultaram em catástrofe (COMO A INTRODUÇÃO DE CARPAS).
Solução para o problema é fazer o mesmo que foi feito na Lagoa da Boa Vista, mas aconselho que sejam introduzidas apenas espécies nativas, preferencialmente lambaris (piabas), para que o problema não se repita e não surjam outros problemas.

Ramon Lamar de Oliveira Junior - Sete-lagoano - Mestre em Biologia pela UFMG


Aqui, uma de minhas cobranças para a limpeza da galeria ou anel de captação: http://ramonlamar.blogspot.com/2011/01/lagoa-paulino-e-o-anel-de-captacao-de.html

FOTOS:
Limpeza parcial da Lagoa Paulino em 2013 (não poderia ser feito o esvaziamento completo por falta de autorização da Secretaria Estadual do Meio Ambiente) mostrou que não há lançamento clandestino de esgoto sanitário na Lagoa Paulino.

Galeria pluvial ou anel de captação em volta de toda a Lagoa Paulino.
A foto foi feita de uma das aberturas para entrada e manutenção, como as da foto seguinte.



PS3.: A Lagoa Paulino apresenta contaminação por cianobactérias que, sabidamente podem produzir cianotoxinas. Essas cianotoxinas em contato com a pele podem provocar reações alérgicas com vermelhidão e, dependendo da sensibilidade da pessoa, problemas mais graves. Portanto LIGAR A GRANDE FONTE DA LAGOA PAULINO NÃO É UMA ALTERNATIVA PARA AUMENTAR O NÍVEL DE OXIGÊNIO NA LAGOA. O spray produzido pela fonte atinge os passantes do entorno da lagoa, dependendo da direção e velocidade do vento. Assim, estaríamos expondo os passantes ao contato com as cianotoxinas. 
Aliás, a proibição de uso das águas da Lagoa Paulino se deu exatamente por exames que constataram a presença de cianobactérias na mesma em grande quantidade. Certamente, algum pedestre que está lendo esta postagem já foi atingido por esse spray da fonte da Lagoa.