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terça-feira, 19 de novembro de 2019

Educação X Cultura: pode uma coisa dessas?

Às vésperas da segunda prova do ENEM, dias atrás, eu estava assistindo ao programa Estúdio-I, da GloboNews. É um programa, para quem não conhece, onde vários jornalistas e afins dividem uma bancada onde falam sobre diversos temas nas tardes do meio da semana. Muito comum é a abordagem de temas culturais. Chegam a entrar em êxtase quando falam sobre Cultura, sobre representações da Cultura, em como o governo atual não é lá muito fã da Cultura e tal e coisa e tal.
Em certo momento falou-se da prova do ENEM que seria dali a 2 ou 3 dias. E que a mesma seria de Matemática, Química e Física... Caramba, aí começou uma lenga-lenga sobre "nunca me dei bem nessas matérias", "matemática não é para mim (nós)", "física e química não entram na minha cabeça"... só faltou a máxima "não sei para que é preciso estudar esse lixo".
Fico demasiadamente triste ao ver jornalistas de um canal fechado (pago) que adora falar de Cultura e que nessa ponta mostra desprezo pela Educação. Não consigo conceber a ideia de Cultura que não esteja alicerçada na Educação de qualidade. Mas parece que para alguns Educação deveria se resumir à órbita mais próxima da Filosofia e Sociologia, com sua quase inseparável conotação política, com a possibilidade de doutrinamento ideológico e vai por aí afora.
Ouvi ontem, também na GloboNews, uma fala do filósofo Mangabeira Unger (figura cheia de vai e vem no espectro político), defensor de uma nova Educação Libertadora. Espera aí! Há muito espaço para a Educação ser tão diferente da que é feita hoje (nos locais onde é feita com qualidade, programas cumpridos e tudo o mais) nas áreas de Matemática, Química, Física e até Biologia? Há como sair do formato predominantemente conceitual dessas quatro disciplinas, alicerces que são para as carreiras das áreas de Exatas e Biomédicas? Que nova Matemática será essa onde não é necessário aprender exponencial, logaritmo, sistemas, matrizes, trigonometria e números complexos? 
É preciso lembrar que essas ciências que aí estão nos levaram ao desenvolvimento científico mundial em que nos encontramos hoje. Se temos robôs industriais, internet beirando a 5G, satélites e drones, sondas em outros planetas e congêneres, chegamos até aí com a boa e velha Matemática e suas parceiras. E se vamos mais longe, vamos nos fundamentar nessas mesmas disciplinas com as suas novas descobertas obtidas com o uso das mesmas ferramentas.
Não há espaço para discussões filosóficas ou de extremismos políticos na Matemática, Química e Física. Talvez na Biologia ainda possa entrar uma parte subjetiva nos estudos de evolução e de ecologia, mas há também o peso do rigor científico dos dados das pesquisas e da análise estatística.
Talvez, pela falta desse espaço político, certos "jornalistas" desprezem a Educação e enalteçam a Cultura. Afinal de contas é mais fácil admirar uma tampa de privada numa exposição de artes do que o desenvolvimento de um problema matemático que ocupa a lousa inteira.
De toda forma, acho triste ver que a defesa da Educação é um tanto quanto seletiva e talvez vista por outras lentes que não as que buscam o progresso da humanidade.

Ramon Lamar de Oliveira Junior

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Sobre plantio de árvores ameaçadas de extinção

Li, dias atrás, um pedido na internet para se divulgar a ideia de contactar e estimular as prefeituras e as pessoas a plantarem em suas calçadas, praças e outros locais espécies de árvores ameaçadas de extinção, notadamente da Mata Atlântica.
Não canso de dizer que internet está cheia de especialista que não é especialista. Não estou discutindo o mérito da boa intenção, ninguém fala em favorecer a arborização e proteger espécies nativas sem estar bem intencionado, é claro. A pessoa, em questão, que divulgou tal ideia - salvo engano de minha memória - tem formação na área do Direito.
À primeira vista a ideia é louvável. Vamos resolver dois problemas de uma vez: a escassa arborização urbana e a natureza que vem perdendo suas espécies. 
Contudo, posso elencar três "contras" em relação à ideia proposta e convido-os a refletir sobre o assunto.

1) A maioria das árvores ameaçadas são árvores que necessitam de condições de habitat muito específico. São árvores chamadas climácicas, ou seja, de comunidades-clímax. Essas árvores estão habituadas a locais mais úmidos, sombreados e com pouco vento. Sabidamente nas calçadas e praças a situação é exatamente o contrário.

2) As árvores climácicas de florestas normalmente têm raízes superficiais. Isso nas praças menores e nas calçadas pode e vai provocar danos à pavimentação e eventualmente a equipamentos subterrâneos como tubulações de água, esgoto e águas pluviais, ou fiação e cabos enterrados.

3) As árvores nativas para se plantar em uma determinada região são as nativas regionais. Ou seja, aqui em Sete Lagoas, se resolvermos plantar alguma nativa, devemos plantar nativas do cerrado como o pau-terra, por exemplo. Essas são mais adaptadas ao solo, ao clima e às pragas que existem em nossa região.

Talvez a ideia possa ser melhor aproveitada em grandes praças ou parques botânicos com locais adequados para esse trabalho de preservação.

Ramon Lamar de Oliveira Junior

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Futebol, racismo e jogos de torcida única.

O último Cruzeiro x Atlético (um insosso 0x0) foi um jogo onde 10% dos ingressos foram destinados aos torcedores do Atlético e 90% aos torcedores do Cruzeiro, mandante do jogo.
Brigas aconteceram entre os torcedores e a cena que ficou mais marcante foi de uma "injúria racial" cometida por "torcedores" do Atlético contra um segurança. Essa cena triste jogou muitos holofotes a discussão da violência no futebol.
Advogados me ensinaram (nas notícias pós-jogo) que não foi um ato de racismo. Que ato de racismo é contra toda uma população. O que aconteceu, por ter sido contra uma única pessoa foi "apenas" "injúria racial". Ah, para!!! Racismo agora tem níveis e categorias? Para o bonde que eu quero descer!
A partir das violências acontecidas com quebra de cadeiras e tal vem a proposta fenomenal de resolver o problema da selvageria nos estádios: "jogos de torcida única". Essa velha fórmula já mostrou várias vezes que não funciona. "Torcedores" brigam com torcedores do mesmo time em jogos de torcida única... ou não. A maior agressão no caso em pauta nem foi contra torcedor rival, foi contra um segurança ("olha a cor da sua pele", disse o agressor furioso). Já vi brigas mais de uma vez em estádios (com torcida única ou não) e olha que eu frequento estádios muito pouco. "Torcidas" rivais marcam encontros fora dos estádios onde ali sim o pau come de verdade. São barras de aço, rojões e até tiros. Esses elementos precisam ser identificados, fichados e punidos no rigor máximo da lei. 
O verdadeiro torcedor tem que ser preservado. Pessoas civilizadas têm que ter o direito de assistir ao jogo que quiserem. E de preferência lado a lado com o torcedor adversário em clima de camaradagem, brincadeiras e zoações. Mas em paz! Um dia se ganha, outro se perde. A solução "torcida única" faz a sociedade perder. É a vitória da selvageria sobre o bom senso, sobre a civilidade.
Sim, torcedores morrem. E sim, existe lei para punir. E a aplicação extrema da lei é que pode manter esses criminosos sob controle, dentro de uma celazinha 2m x 2m e, de preferência, com um bom serviço de quebrar pedras com marreta durante um bom tempo... uns 30 anos, por exemplo. Mas no lugar disso, o que vemos: atenuantes, acusações confusas, defesas esmeradas e, se for condenado, uma pena leve de um ano com progressão, ou a substituição da pena de prisão por "medidas sócio-educativas". Por que isso?
"A polícia prende e o juiz solta." Esse chavão tem que ter seu fim, ser extinto. Futebol tem que ser lugar de festa, mas também de respeito. Que sinalização estamos dando com "jogos de torcida única"? Estamos aceitando que os selvagens não podem se encontrar dentro do estádio? Só isso? Nas ruas, no entorno do estádio, nos postos de gasolina o pau pode quebrar pois o "templo sagrado do esporte bretão" está livre e sereno. Será mesmo?
Provoquei no Facebook porque penso que o que deflagrou essa decisão não foi o confronto de torcidas, mas sim a tal "injúria racial" que teve infinita maior repercussão. Ninguém matou ou morreu dentro do Mineirão. Mas uma pessoa foi humilhada, cuspida na cara em vários sentidos além do literal. Uma sociedade está recebendo mais cuspe na cara e parece não enxergar. Tem gente "graúda" envolvida na tal "injúria racial"? Ah... tá... explicado.
Agora há pouco vi um dos "torcedores" envolvidos dizendo que não é racista porque há negros na família dele e até, pasmem, o cabeleireiro "dele" é negro. Puxa vida, que palhaçada é essa!!!
Diante de tamanha repercussão da "injúria racial" e a decisão de "torcida única" eu só posso com tristeza pensar uma coisa: será torcida só de brancos ou torcida só de negros?
Lamentável.

Ramon Lamar de Oliveira Junior