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terça-feira, 9 de dezembro de 2025

REVISITANDO O GLIFOSATO E SUA SEGURANÇA

Nos últimos meses, o debate sobre o glifosato ganhou um novo capítulo decisivo. Um dos estudos mais citados para sustentar a segurança do herbicida — publicado em 2000 e amplamente usado por agências reguladoras no mundo todo — foi oficialmente despublicado após 25 anos. A decisão ocorreu porque vieram à tona indícios graves de conflito de interesse: o artigo utilizava exclusivamente dados fornecidos pela própria Monsanto, sem estudos independentes, e havia suspeitas de ghostwriting, com trechos escritos por funcionários da empresa sem a devida declaração. Esses fatores comprometeram a confiança nas conclusões e levantaram questionamentos sobre a integridade científica por trás do documento.

A despublicação tem implicações profundas. Por décadas, esse estudo serviu como um dos principais pilares para validar a segurança do glifosato, especialmente quando associado ao uso do Roundup e de culturas geneticamente modificadas para resistir ao herbicida, como a soja transgênica. Essa tecnologia permitiu que agricultores utilizassem doses cada vez maiores de glifosato, já que a planta cultivada não sofria danos. O resultado foi uma aplicação intensiva e recorrente do produto em larga escala.

https://valor.globo.com/agronegocios

Agora, com a retirada desse estudo do corpo científico, uma série de dúvidas se abre. Reguladores e pesquisadores precisam reavaliar a farmacotoxicidade do glifosato com maior rigor, desta vez baseada em evidências plenamente independentes e transparentes. Não significa, automaticamente, que está comprovado que o glifosato causa câncer ou outros danos graves, mas significa que parte das certezas usadas para defender sua segurança não é mais confiável. Isso recoloca no centro da discussão temas como exposição crônica, resíduos em alimentos, impactos ambientais e efeitos de longo prazo sobre a saúde humana.
A situação é especialmente sensível no Brasil, onde a soja transgênica resistente ao glifosato domina vastas áreas agrícolas. O modelo de cultivo associado à aplicação intensiva pode passar a ser questionado, tanto por órgãos reguladores quanto por consumidores e organizações de saúde e meio ambiente. É possível que, a partir desse episódio, haja pressão para estabelecer novos limites, revisar protocolos de segurança ou incentivar alternativas menos dependentes de herbicidas.
O episódio revela algo maior: a necessidade de ciência independente, livre de conflitos de interesse e com acesso aberto aos dados brutos. Quando decisões de grande impacto econômico e sanitário se apoiam em estudos que depois se mostram comprometidos, toda a sociedade é prejudicada. A retratação do estudo de 2000 não encerra o debate sobre o glifosato, mas marca o início de uma fase que exige mais transparência, mais rigor e mais responsabilidade.
Para agricultores, consumidores, pesquisadores e formuladores de políticas públicas, o momento é de reflexão: como equilibrar produtividade, segurança e sustentabilidade? O futuro do glifosato — e de modelos agrícolas baseados em seu uso intensivo — dependerá das respostas que conseguirmos construir coletivamente, a partir de evidências sólidas e independentes.

Explicando a questão da soja transgênica resistente ao glifosato

A introdução da soja geneticamente modificada para resistir ao glifosato transformou profundamente o manejo agrícola nas últimas décadas. Essa tecnologia permitiu que o herbicida fosse aplicado diretamente sobre as lavouras sem causar danos à planta cultivada, eliminando com eficiência a maioria das ervas daninhas. Como consequência, o uso do glifosato tornou-se mais frequente e em doses progressivamente maiores, uma vez que a cultura permanecia protegida contra seus efeitos.
Esse modelo de produção, embora tenha simplificado práticas agrícolas e reduzido custos operacionais para muitos produtores, resultou em uma dependência crescente do herbicida. Além disso, a aplicação intensiva favoreceu o surgimento de plantas daninhas resistentes, exigindo ainda mais pulverizações para manter o controle. Assim, a combinação entre soja transgênica tolerante e glifosato consolidou um sistema de cultivo altamente dependente do produto, cujo impacto ambiental e sanitário tem sido cada vez mais debatido pela comunidade científica e por órgãos reguladores.

Quanto usamos de glifosato no Brasil?

Com base nos dados disponíveis, uma estimativa razoável sugere que o Brasil consome — ou comercializa — algo na ordem de duzentas a trezentas mil toneladas anuais de glifosato (ingrediente ativo), em anos recentes. Esse volume impressionante dá a dimensão do quanto o herbicida se tornou central para o modelo agrícola brasileiro, consolidando-se como o produto mais vendido e mais aplicado do país dentro do grupo dos agrotóxicos.
O uso expressivo do glifosato está diretamente ligado à expansão das culturas transgênicas tolerantes ao herbicida, especialmente a soja RR, seguida pelo milho e pelo algodão. Esses cultivos permitem que o agricultor aplique o produto diretamente sobre a plantação sem causar danos às plantas — uma tecnologia que simplifica o manejo de plantas daninhas e reduz custos de operação. O efeito colateral, porém, é que o volume total aplicado nas lavouras aumenta significativamente, uma vez que a principal limitação ao uso do glifosato — o risco de queimar a cultura — deixa de existir.
A soja, por si só, explica boa parte desse consumo. O Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo, com dezenas de milhões de hectares plantados anualmente. Como mais de 95% da área é ocupada por variedades transgênicas resistentes ao glifosato, a cultura responde pela maior parcela da demanda nacional do herbicida. O milho safrinha, cultivado logo após a soja, também utiliza intensamente o produto para dessecação pré-plantio. Já o algodão, outra cultura de grande área no Cerrado, adota manejo semelhante, com uso recorrente de glifosato ao longo do ciclo.
Além dessas culturas principais, o herbicida também é amplamente empregado em áreas de pastagem, na cana-de-açúcar e na dessecação de áreas antes do plantio de diversas culturas, prática comum no sistema de plantio direto — que depende fortemente de herbicidas para funcionar.
Essa combinação — transgênicos tolerantes, agricultura de larga escala, plantio direto e múltiplas safras por ano — ajuda a explicar por que o glifosato domina o mercado de herbicidas brasileiro. Mais do que um produto, ele se tornou uma peça estrutural do modelo agrícola atual. Por isso mesmo, qualquer discussão sobre sua segurança, uso e regulamentação tem impacto enorme, tanto do ponto de vista produtivo quanto ambiental e de saúde pública.

Entendendo o transgênico

A adoção de cultivares resistentes ao glifosato transformou profundamente o manejo de plantas daninhas na agricultura brasileira. Antes do desenvolvimento da soja transgênica resistente ao herbicida, o glifosato precisava ser aplicado com extremo cuidado: sua ação é não seletiva, ou seja, mata praticamente qualquer planta que atinge. Isso obrigava o agricultor a direcionar o produto apenas para as ervas daninhas, evitando ao máximo o contato com as folhas da soja cultivada, pois qualquer deriva ou erro de aplicação poderia comprometer seriamente a lavoura. A operação, portanto, era mais lenta, exigia maior precisão e demandava mão de obra experiente.
Com o advento da soja resistente ao glifosato, esse cenário mudou completamente. As novas cultivares passaram a tolerar o herbicida, permitindo que ele fosse aplicado de maneira mais ampla, inclusive por pulverização aérea ou tratorizada sobre toda a área plantada, sem risco de danificar a cultura principal.
Além disso, a resistência genética fez com que os agricultores pudessem usar doses maiores de glifosato sem comprometer a cultura, o que contribuiu para o aumento expressivo do consumo nacional.
Isso trouxe como vantagem imediata uma drástica simplificação do controle de plantas daninhas, garantindo maior eficiência operacional, redução de custos de manejo, menor necessidade de técnicas complexas de aplicação e, sobretudo, a possibilidade de realizar o controle mesmo com o mato já estabelecido.

Ramon Lamar de Oliveira Junior

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Capins invasores no Cerrado brasileiro: a ameaça silenciosa dos capins africanos (e questão do ENEM 2025)

O Cerrado é um dos biomas mais biodiversos do planeta, abrigando milhares de espécies vegetais e animais altamente adaptadas ao clima sazonal, ao solo pobre em nutrientes e ao regime natural de queimadas. Porém, nas últimas décadas, o equilíbrio desse ambiente tem sido profundamente impactado pela chegada e expansão de gramíneas exóticas invasoras, especialmente os chamados capins africanos.

Originalmente introduzidos no Brasil para formação de pastagens, controle de erosão e até ajardinamento, esses capins encontraram no Cerrado condições ideais para se espalhar. Seu crescimento rápido, alta produção de biomassa e resistência ao fogo fazem com que dominem grandes áreas, substituindo a vegetação nativa e alterando completamente o funcionamento do ecossistema.

Por que os capins africanos são um problema?

Os capins invasores competem com as plantas nativas por luz, espaço e nutrientes. Como crescem muito mais rápido e produzem mais biomassa que a vegetação típica do Cerrado, eles:

  • Aceleram e intensificam incêndios, pois acumulam grande quantidade de matéria seca inflamável.
  • Reduzem a biodiversidade, formando grandes monoculturas e impedindo o estabelecimento de novas espécies nativas.
  • Alteram o ciclo hidrológico, já que mudam a estrutura do solo e a dinâmica da infiltração de água.
  • Favorecem a reinvasão, porque se regeneram rapidamente após queimadas ou distúrbios.

 As espécies invasoras mais comuns no Cerrado

1. Capim-gordura (Melinis minutiflora)

https://tropicalforages.info/text/entities/melinis_minutiflora.htm

2. Capim-braquiária (Urochloa spp. especialmente Urochloa decumbens e Urochloa brizantha)

Urochloa decumbens - https://plantastoxicas.com.br/urochloa-decumbens/

3. Capim-marmelada (Urochloa plantaginea)

https://www.inaturalist.org/taxa/288222-Urochloa-plantaginea

4. Capim-colonião (Megathyrsus maximus sin. Panicum maximum)

https://www.feedipedia.org/node/416

5. Capim-andropogon (Andropogon gayanus)

https://revistacultivar.com.br/

Impactos ecológicos e socioeconômicos: Além das consequências ambientais, os capins invasores influenciam atividades humanas, aumentando custos de manejo, dificultando restauração ecológica e favorecendo incêndios próximos a áreas urbanas.

Como combater os capins invasores?

O controle dessas gramíneas exige:

  • remoção manual ou mecanizada;
  • uso criterioso de herbicidas;
  • manejo integrado do fogo;
  • restauração com espécies nativas;
  • prevenção da expansão.

 

QUESTÃO DO ENEM 2025

E aí? Qual resposta você marcaria???

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Derramamentos de Petróleo: 6 Incidentes e Suas Consequências Devastadoras

Você sabia que o petróleo, apesar de ser uma das principais fontes de energia do mundo, também está por trás de alguns dos maiores desastres ambientais da história? Milhões de litros desse combustível já foram despejados acidentalmente (ou intencionalmente!) em oceanos e rios, causando a morte de animais, prejudicando comunidades inteiras e deixando cicatrizes que duram décadas.

Será que a gente tem ideia do impacto real desses vazamentos? Você já ouviu falar de algum deles? Conhece pessoas que já viveram perto de alguma área atingida por petróleo? Neste texto, vamos conhecer seis dos casos mais marcantes, com detalhes sobre o que aconteceu e sobre as consequências ainda sentidas.

1. Deepwater Horizon – Golfo do México (2010)

Em 20 de abril de 2010, uma explosão na plataforma Deepwater Horizon, operada pela empresa BP, deu início ao maior vazamento de petróleo da história dos Estados Unidos. O acidente matou 11 trabalhadores e resultou na liberação de aproximadamente 5 milhões de barris de petróleo cru no oceano durante 87 dias ininterruptos.

Consequências: O impacto ambiental foi catastrófico. O óleo cobriu vastas áreas do mar e da costa, atingindo pântanos, praias e recifes. Milhares de animais marinhos, como tartarugas, aves costeiras e golfinhos, morreram intoxicados. A pesca e o turismo em vários estados americanos foram severamente afetados. Mesmo mais de uma década depois, estudos indicam que partes do ecossistema ainda não se recuperaram completamente.

O vazamento agravou ainda mais a situação ambiental e econômica da região do Golfo do México, que já havia sido profundamente afetada pelo furacão Katrina em 2005. Comunidades pesqueiras e ecossistemas costeiros ainda em recuperação foram novamente atingidos por uma crise de grandes proporções, com a contaminação da água, mortandade de espécies marinhas e prejuízos à pesca e ao turismo, aprofundando a vulnerabilidade social e ecológica da região. Embora Nova Orleans não tenha sido diretamente atingida pelo petróleo, a cidade sofreu os impactos indiretos do desastre, como prejuízos à economia local — especialmente nas áreas de pesca, turismo e navegação — e o agravamento das dificuldades enfrentadas por uma população ainda fragilizada pelos efeitos do Katrina.

E você? Já imaginou o que é ver uma praia coberta por óleo por semanas?

2. Guerra do Golfo – Kuwait (1991)

Durante a Guerra do Golfo, um dos episódios mais trágicos ligados a conflitos armados e à destruição ambiental ocorreu no início de 1991. Naquele contexto, o Iraque havia invadido o Kuwait em 1990, e uma coalizão liderada pelos Estados Unidos — com apoio de países europeus e árabes — foi formada para forçar a retirada das tropas iraquianas. Essa operação militar ficou conhecida como Tempestade no Deserto.

Antes de abandonar o território kuwaitiano, as tropas do ditador Saddam Hussein realizaram uma série de atos de sabotagem ambiental e estratégica. Um dos mais graves foi o vazamento deliberado de petróleo no Golfo Pérsico, liberando entre 800 mil e 1 milhão de toneladas de óleo cru no mar. A intenção era dificultar a movimentação da frota naval americana, que operava com porta-aviões, cruzadores e navios de apoio na região.

Você sabia que uma mancha de petróleo no mar também pode ser usada como armadilha? Isso mesmo. O óleo no mar torna a navegação arriscada, interfere nos sensores dos navios, prejudica a operação de helicópteros e aviões e pode até causar incêndios em embarcações atingidas. Além disso, a fumaça densa dos poços em chamas reduzia a visibilidade aérea, dificultando os bombardeios da coalizão.

Consequências: Esse ato transformou o Golfo Pérsico em uma zona de desastre ecológico. Corais, tartarugas, golfinhos e aves marinhas morreram aos milhares. As costas de países como Kuwait, Arábia Saudita e Bahrein ficaram cobertas de petróleo. O fogo em mais de 700 poços de petróleo gerou uma densa nuvem negra de fuligem, que permaneceu no céu por meses, causando doenças respiratórias e afetando o clima regional. Além do dano ambiental, esse episódio mostrou como a guerra moderna pode transformar a natureza em campo de batalha.

Você já imaginou o impacto psicológico e ambiental de uma guerra que, além de afetar pessoas, devasta também a vida marinha e os ecossistemas inteiros?

3. Exxon Valdez – Alasca (1989)

Em 24 de março de 1989, o petroleiro Exxon Valdez colidiu com recifes no Alasca, derramando cerca de 40 milhões de litros de petróleo cru nas águas frias e ricas em biodiversidade do local. O acidente aconteceu em uma área remota, com o litoral bastante recortado em muitas praias, dificultando ainda mais a resposta rápida. Não foi um dos maiores acidentes em volume de petróleo derramado, mas é um dos acidentes mais estudados.

Consequências: A contaminação matou centenas de milhares de aves marinhas, lontras, focas e peixes, além de afetar profundamente a pesca comercial de salmão e arenque, base da economia local. A empresa responsável enfrentou diversos processos, mas os impactos ambientais ainda são sentidos hoje, especialmente nos sedimentos costeiros, onde resíduos de petróleo persistem.

Você já pensou em como comunidades inteiras, que vivem da pesca, podem ser destruídas por um acidente desses?

4. Ixtoc 1 – Golfo do México (1979)

Este acidente aconteceu em águas mexicanas, quando a plataforma de perfuração Ixtoc 1, operada pela PEMEX, sofreu um colapso no sistema de segurança e explodiu, liberando petróleo por cerca de 10 meses seguidos. Estima-se que foram despejados mais de 3 milhões de barris no oceano. A explosão que causou o acidente gerou um grande incêndio na plataforma e no óleo que estava presente na superfície do mar nas proximidades da estrutura.

Consequências: O petróleo atingiu áreas costeiras do México e chegou até o estado do Texas, nos EUA. O impacto nos recifes de coral, na pesca e na saúde da fauna marinha foi imenso. Na época, a tecnologia para conter vazamentos era ainda mais limitada, e a resposta foi lenta e ineficaz.

Você sabia que esse acidente é considerado um dos maiores da história antes do de 2010? Será que hoje estamos mais preparados?

5. Derramamento no Nordeste do Brasil (2019)

Entre agosto e novembro de 2019, manchas escuras de petróleo apareceram em mais de 1000 praias de 11 estados do litoral nordestino. Até hoje, a origem exata do vazamento não foi oficialmente confirmada, o que aumenta a indignação de ambientalistas e da população.

O derramamento permanece sem uma causa oficialmente confirmada, mas algumas hipóteses principais ainda são consideradas plausíveis pelas investigações. A mais aceita é a de um vazamento acidental de petróleo cru venezuelano por um navio petroleiro estrangeiro em alto-mar, possivelmente durante o transporte, a centenas de quilômetros da costa. Outra hipótese é o despejo ilegal de resíduos oleosos, como a lavagem clandestina de tanques, prática criminosa que pode ter ocorrido fora das áreas monitoradas. Também se discute, embora com menor respaldo, a possibilidade de um vazamento contínuo causado pelo afundamento de um navio antigo com petróleo ainda nos tanques. Por fim, há teorias que sugerem sabotagem ou ação intencional, mas essas carecem de qualquer evidência concreta e são consideradas altamente improváveis.

Consequências: Foi o maior desastre ambiental em extensão territorial da história do Brasil. O óleo contaminou manguezais, recifes de coral, áreas de proteção ambiental e praias turísticas. Comunidades pesqueiras artesanais perderam sua fonte de renda, e muitos voluntários se expuseram a riscos à saúde para tentar limpar as praias, com pouco apoio oficial.

Você conhece alguém que vive no Nordeste e se lembra desse episódio? Por que será que esse desastre teve tão pouca repercussão internacional?

6. Vazamento da REDUC – Baía de Guanabara (2000)

Em janeiro de 2000, um dos dutos da refinaria da Petrobras (REDUC), em Duque de Caxias (RJ), se rompeu e derramou cerca de 1,3 milhão de litros de óleo combustível na Baía de Guanabara. O manguezal de Magé, um dos mais importantes da região, foi gravemente afetado.



Consequências: O petróleo atingiu diretamente o ecossistema de mangue — um dos mais ricos e frágeis do planeta — matando peixes, caranguejos e aves, e prejudicando profundamente a pesca artesanal. Comunidades ribeirinhas relatam que até hoje não conseguiram recuperar completamente seus modos de vida. A Petrobras foi multada e realizou ações de mitigação, mas os danos ao meio ambiente foram duradouros.

Você sabia que esse acidente aconteceu bem perto da cidade do Rio de Janeiro? Já esteve em algum manguezal e viu sua importância ecológica?

Por Que Esses Casos Ainda Importam?

Esses seis desastres revelam algo em comum: o enorme custo ambiental e social do uso e transporte do petróleo. Mesmo com tecnologia avançada, os riscos continuam elevados. Quando um vazamento acontece, não há botão de “desfazer”. Os danos persistem por anos — ou até décadas.

Além disso, esses episódios mostram que os mais pobres e vulneráveis são sempre os mais atingidos, seja em comunidades pesqueiras no Brasil, seja entre povos indígenas no Alasca. Também expõem a fragilidade de ecossistemas preciosos, como recifes, manguezais e águas costeiras.

E você? O que pensa sobre isso? Acredita que os países e empresas estão realmente comprometidos com a prevenção? Qual sua opinião sobre o uso de fontes renováveis de energia como alternativa ao petróleo?

Compartilhe esse texto, converse com seus amigos e familiares e leve esse debatepara sua escola ou comunidade. A mudança começa com a informação.

domingo, 6 de julho de 2025

ECOLOGIA: Eutrofização: Causas, Mecanismos e Impactos Ambientais

Deve ser meu milésimo texto sobre o assunto! Mas como sempre me perguntam, dessa vez pedi ao ChatGPT para organizar os dados de outra forma! 

EUTROFIZAÇÃO

A eutrofização é um dos principais problemas ambientais que afetam lagos, lagoas, represas e áreas costeiras ao redor do mundo. Trata-se de um processo de enriquecimento excessivo de nutrientes nas águas, especialmente de nitrogênio (N) e fósforo (P), que provoca um desequilíbrio ecológico com sérias consequências para a biodiversidade e a qualidade da água.


🌿 O que causa a eutrofização?

A eutrofização ocorre principalmente devido à atividade humana (processo chamado de eutrofização antrópica). As principais fontes de nutrientes são:

  • Esgoto doméstico sem tratamento ou com tratamento ineficaz (rico em matéria orgânica, fósforo e nitrogênio);

  • Fertilizantes agrícolas e de jardins que escorrem para corpos d'água com as chuvas;

  • Resíduos industriais;

  • Decomposição de lixo orgânico, folhas e restos vegetais urbanos;

  • Ração excedente e dejetos em viveiros de peixes (aqui, chamada eutrofização aquícola).

Esses nutrientes atuam como "alimento" para algas e cianobactérias (antigamente chamadas algas azul-esverdeadas), promovendo seu crescimento exagerado.


🔄 Etapas da eutrofização

  1. Entrada excessiva de nutrientes na água;

  2. Proliferação de algas e cianobactérias (floração ou bloom algal);

  3. Aumento da turbidez da água, que reduz a penetração da luz solar;

  4. Morte das algas em excesso, que não conseguem mais sobreviver por falta de luz e oxigênio;

  5. Decomposição das algas mortas por bactérias aeróbias, que consomem grandes quantidades de oxigênio;

  6. Diminuição do oxigênio dissolvido (hipóxia) ou ausência total (anóxia);

  7. Morte de peixes e outros organismos aquáticos, incapazes de sobreviver em ambiente sem oxigênio;

  8. Formação de gases tóxicos como metano (CH₄) e sulfeto de hidrogênio (H₂S), que causam mau cheiro e aumentam o estresse ambiental.


⚠️ Consequências ecológicas e sociais da eutrofização

A eutrofização tem impactos graves em diversos níveis:

  • Mortandade de peixes e fauna aquática por falta de oxigênio;

  • Redução da biodiversidade, pois apenas poucas espécies toleram ambientes eutrofizados;

  • Aparência turva, coloração esverdeada e mau cheiro da água;

  • Produção de toxinas por cianobactérias, que podem causar problemas neurológicos, hepáticos e dermatológicos em humanos e animais;

  • Imprópria para banho, recreação ou abastecimento humano;

  • Impacto econômico em turismo, pesca e qualidade de vida urbana.


📌 Exemplo real: Lagoa Rodrigo de Freitas (RJ)

Mortandade de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas chega a 65 toneladas (março de 2013)

A Lagoa Rodrigo de Freitas, um cartão-postal da cidade do Rio de Janeiro, é um exemplo clássico de ambiente afetado por eutrofização crônica:

  • Recebe nutrientes vindos de esgotos, lixo urbano e matéria orgânica de áreas do entorno;

  • Apresenta florações frequentes de algas, especialmente após chuvas intensas seguidas de calor;

  • Passa por episódios recorrentes de mortandade de peixes, principalmente tainhas, devido à hipóxia causada pela decomposição de algas;

  • Fatores como ressacas, baixa renovação da água e revolvimento dos sedimentos agravam o quadro. A ressaca, além de poder revolver o fundo e assim liberar nutrientes minerais, pode bloquear a saída de água da lagoa em direção ao oceano, concentrando poluentes.

Esse caso demonstra como eutrofização urbana pode se combinar com fatores naturais (como chuvas e marés) para desencadear eventos ambientais de grande impacto.


📌 Caso da Lagoa Paulino

Na Lagoa Paulino (Sete Lagoas), embora não haja lançamento direto de esgoto, o ecossistema também enfrenta problemas ambientais relacionados à qualidade da água, causados por outros fatores:

  • Águas pluviais (enxurradas) que podem chegar até a lagoa trazendo matéria orgânica de várias naturezas, inclusive fezes de animais e resíduos de alimentos. A matéria orgânica sofre decomposição liberando nitratos e fosfatos;

  • Carpas (colocadas no passado para alimentar os botos que foram trazidos para a lagoa) reviram constantemente o fundo da lagoa, liberando sedimentos ricos em nutrientes como fósforo e nitrogênio para a coluna d’água, o que estimula o crescimento de algas;

  • A presença de aves e outros animais contribui com aporte contínuo de matéria orgânica e nutrientes por meio de fezes, aumentando a concentração de nutrientes disponíveis;

  • Pessoas que lavam carros diretamente na lagoa utilizam água com detergentes e outras substâncias químicas, que contêm fosfatos e surfactantes tóxicos para os organismos aquáticos, além de aumentar a poluição e turbidez da água.

Esses fatores, mesmo sem esgoto lançado diretamente, promovem um ambiente propício para a eutrofização e desequilíbrios ambientais, que podem levar à proliferação de algas, redução do oxigênio dissolvido e mortandade de peixes. A proliferação de algas é facilmente perceptível em algumas épocas do ano (especialmente o inverno), bem cedinho, nas margens da lagoa. Também são visíveis cardumes de peixes (tilápias) buscando água mais oxigenada na superfície da lagoa. Aeradores e fonte já foram instalados para minimizar o problema, mas não atuam na causa do mesmo. Grande mortalidade de peixes não ocorreu ainda, em parte porque as carpas são peixes que têm grande tolerância a baixa concentração de oxigênio na água.


🛠️ Como prevenir e mitigar a eutrofização?

  • Tratar o esgoto doméstico e industrial adequadamente antes do lançamento;

  • Controlar o uso de fertilizantes agrícolas e urbanos;

  • Preservar matas ciliares e zonas de vegetação natural, que funcionam como filtros naturais;

  • Criar barreiras físicas ou biológicas para limitar o crescimento de algas;

  • Investir em monitoramento ambiental e sistemas de oxigenação artificial, quando necessário;

  • No caso da Lagoa Paulino, além disso, é importante:

    • Controlar a população de carpas (muito mais eficiente seria trocar todo o peixamento) para evitar o revolvimento excessivo do sedimento;

    • Promover campanhas educativas para evitar lavagem de carros diretamente na lagoa;

    • Gerenciar o acesso e a presença de aves para minimizar aporte excessivo de nutrientes por meio de suas fezes (muito comuns em algumas partes da orla).


Conclusão

A eutrofização é um processo ambiental provocado pelo excesso de nutrientes na água, que causa desequilíbrios ecológicos graves, como a morte de peixes, proliferação de algas tóxicas e degradação da qualidade da água.
É um problema diretamente relacionado à ocupação urbana, ao saneamento deficiente e ao manejo inadequado dos recursos naturais, mas também pode ser agravado por práticas humanas diretas, como o uso inadequado da água e o manejo da fauna local.
Com informação, fiscalização e planejamento, é possível evitar que ambientes aquáticos ricos em vida se tornem sistemas sufocados e doentes.

sábado, 5 de julho de 2025

ECOLOGIA: Bioacumulação, Bioconcentração e Magnificação Trófica: Conceitos e Diferenças

Em ecologia e toxicologia ambiental, é fundamental compreender como substâncias químicas contaminantes se comportam nos organismos vivos e nos ecossistemas. Três conceitos centrais para entender esse comportamento são bioacumulação, bioconcentração e magnificação trófica. Embora relacionados, eles se referem a processos distintos.


1. Bioacumulação

Bioacumulação é o processo pelo qual um organismo acumula substâncias químicas tóxicas em seus tecidos ao longo do tempo, devido à absorção mais rápida do que a eliminação. Essas substâncias podem entrar no organismo por diferentes vias:

  • Alimentação (via oral);

  • Respiração (vias aéreas);

  • Contato direto com o meio (absorção pela pele ou pelas superfícies corporais).

A bioacumulação ocorre principalmente com substâncias lipofílicas (solúveis em gordura), como metais pesados (mercúrio, chumbo, cádmio) e compostos orgânicos persistentes (como o DDT e os PCBs), que têm baixa taxa de degradação e se acumulam nos tecidos gordurosos dos organismos.

Exemplo: Um peixe que vive em águas contaminadas pode absorver mercúrio tanto da água quanto ao se alimentar de presas contaminadas. Com o tempo, mesmo que o nível de mercúrio na água seja baixo, o peixe acumula concentrações elevadas da substância. Pode envolver a alimentação!


2. Bioconcentração

Bioconcentração é um caso específico de bioacumulação. Refere-se à acumulação de uma substância química diretamente do ambiente (geralmente da água) para o organismo, sem considerar a alimentação como via de entrada.

A taxa de bioconcentração é frequentemente expressa por um índice chamado Fator de Bioconcentração (BCF – Bioconcentration Factor), que é a razão entre a concentração da substância no organismo e a concentração no meio:

BCF=Concentração no organismoConcentração na aˊguaBCF = \frac{\text{Concentração no organismo}}{\text{Concentração na água}}

Exemplo: Plantas aquáticas ou peixes absorvendo pesticidas presentes na água diretamente através da pele ou das brânquias, sem consumir nenhum outro organismo contaminado. Não é por meio da alimentação!!!


3. Magnificação Trófica (ou Biomagnificação)

Magnificação trófica, também chamada de biomagnificação, é o aumento progressivo da concentração de uma substância tóxica à medida que se sobe na cadeia alimentar. Organismos de níveis tróficos superiores consomem repetidamente presas já contaminadas, acumulando substâncias que não são metabolizadas ou excretadas eficientemente.

Dessa forma, topo da cadeia alimentar = maior concentração da toxina.

As substâncias mais comumente associadas à magnificação trófica são:

  • Metais pesados, como mercúrio (Hg) e cádmio (Cd);

  • Pesticidas organoclorados, como o DDT (dicloro-difenil-tricloroetano);

  • PCBs (bifenilos policlorados), usados industrialmente como isolantes térmicos;

  • Outros compostos organoclorados, como as dioxinas (TCDD = 2,3,7,8-Tetraclorodibenzo-para-dioxina)

Esses compostos compartilham duas características principais:

  1. São persistentes, ou seja, degradam-se lentamente no ambiente;

  2. São lipofílicos, o que significa que se dissolvem nas gorduras corporais dos seres vivos em vez de na água, sendo mal eliminados pela urina ou suor. Assim, quanto mais gordura um organismo possui e mais tempo vive, maior a tendência de acumular essas substâncias.

Exemplo clássico do DDT: Durante a década de 1960, foi observado um aumento alarmante na concentração de DDT ao longo das cadeias alimentares aquáticas:

  • Água: 0,000003 ppm (partes por milhão);

  • Plâncton: 0,04 ppm;

  • Pequenos peixes: 0,5 ppm;

  • Peixes maiores: 2 ppm;

  • Aves marinhas predadoras (como gaivotas e falcões): até 25 ppm

Esse acúmulo causou efeitos graves na reprodução das aves, como afinamento da casca dos ovos, que frequentemente se quebravam antes da eclosão, levando à queda das populações. Casos semelhantes de magnificação trófica foram observados com mercúrio em peixes grandes, como o atum e o peixe-espada, que podem concentrar níveis perigosos do metal, afetando inclusive a saúde humana por meio do consumo desses animais.

Importância ambiental e para a saúde humana

Esses processos são particularmente perigosos porque envolvem substâncias persistentes no ambiente, muitas vezes tóxicas mesmo em baixas concentrações. Isso inclui metais pesados, pesticidas e poluentes industriais. A exposição humana ocorre, por exemplo, por meio do consumo de peixes contaminados (como o atum e o peixe-espada, ricos em mercúrio), sendo especialmente perigosa para gestantes e crianças.


A Doença de Minamata: um exemplo real e trágico

Um dos casos mais emblemáticos dos efeitos da bioacumulação e da magnificação trófica foi a Doença de Minamata, identificada na década de 1950 na cidade de Minamata, no Japão. A enfermidade foi causada pelo despejo de grandes quantidades de metilmercúrio (um composto orgânico altamente tóxico) no mar por uma indústria química local.

O mercúrio se acumulou nos organismos aquáticos — primeiro no fitoplâncton, depois nos peixes e moluscos —, e atingiu concentrações muito elevadas nos predadores de topo e, finalmente, nas populações humanas que se alimentavam desses frutos do mar contaminados.

A população local começou a apresentar sintomas neurológicos graves: dificuldade motora, perda de coordenação, problemas visuais, surdez, paralisia e, em casos extremos, morte. Bebês nascidos de mães expostas durante a gestação apresentavam malformações congênitas e deficiências mentais severas, caracterizando a chamada síndrome congênita de Minamata.

Doença de Minamata: observe as mãos crispadas, consequência de contrações musculares.

O caso de Minamata tornou-se um símbolo internacional dos perigos da poluição industrial e levou à formulação de tratados globais sobre controle do mercúrio, como a Convenção de Minamata, assinada em 2013, visando reduzir emissões e liberações desse metal pesado no ambiente.


Conclusão

Entender os processos de bioacumulação, bioconcentração e magnificação trófica é essencial para avaliar os impactos da poluição ambiental sobre os organismos e os ecossistemas. Esses conceitos ajudam a explicar por que certos poluentes representam um risco tão grande, mesmo quando presentes em concentrações aparentemente pequenas no ambiente. Com esse conhecimento, é possível orientar políticas públicas de controle da poluição e promover práticas sustentáveis que protejam a biodiversidade e a saúde humana.

terça-feira, 1 de julho de 2025

Desmatamento em Rondônia: Causas, Dinâmicas e Consequências

A imagem de satélite abaixo revela, de forma impressionante, a degradação da cobertura florestal no estado de Rondônia, na Amazônia Legal brasileira. O padrão geométrico de clareiras na floresta evidencia uma ocupação humana agressiva, marcada por desmatamento sistemático, sobretudo para a expansão da agropecuária e pela presença de infraestruturas viárias, como a BR-364. Trata-se de um processo que vem se intensificando desde os anos 1970 e que compromete um dos biomas mais ricos e importantes do planeta: a Floresta Amazônica.


1. Contexto histórico: da floresta à fronteira agrícola
A ocupação de Rondônia foi incentivada por políticas governamentais do regime militar brasileiro, sobretudo nos programas de integração nacional e reforma agrária:
  • Décadas de 1970 e 1980: O governo federal implementou projetos de colonização promovendo a migração de famílias do Sul, Sudeste e Nordeste. O lema "integrar para não entregar" impulsionou a abertura de estradas como a BR-364, que se tornou eixo principal da devastação.
  • INCRA e assentamentos rurais: Milhares de lotes foram distribuídos sem planejamento ambiental adequado, o que levou à derrubada de vastas áreas de floresta para o plantio e criação de gado.
  • Madeireiras e garimpos: A exploração econômica inicial da região envolveu intensa atividade madeireira e, posteriormente, garimpos ilegais de ouro e cassiterita.

2. Padrão de desmatamento: a “espinha de peixe”


O padrão visível na imagem é conhecido como "espinha de peixe" ou "radial":
  • Surgem a partir de uma estrada principal (geralmente federal ou estadual).
  • Pequenas estradas vicinais são abertas perpendicularmente.
  • Lotes agrícolas são desmatados em forma retangular, seguindo a lógica do parcelamento fundiário.
  • Com o tempo, esses lotes se expandem e se unem, formando grandes mosaicos de desflorestamento.
Esse tipo de padrão é típico de ocupações dirigidas ou espontâneas, com baixa fiscalização ambiental.

3. Dados atualizados do desmatamento em Rondônia
  • Segundo o PRODES/INPE, Rondônia perdeu mais de 50 mil km² de floresta amazônica desde 1988 – uma área maior que a da Dinamarca.
  • Em 2022, Rondônia foi o quarto estado que mais desmatou na Amazônia, atrás apenas do Pará, Mato Grosso e Amazonas.
  • Em 2023, houve crescimento de 17% no desmatamento em algumas áreas do sul do estado, especialmente próximas a unidades de conservação e terras indígenas.
  • A maior parte da área desmatada é convertida em pastagens degradadas, que perdem produtividade em poucos anos e impulsionam mais desmatamento (efeito dominó).
4. Causas principais do desmatamento

a) Pecuária extensiva
Responsável por cerca de 80% do uso do solo desmatado.
Rondônia tem um dos maiores rebanhos bovinos do Brasil: mais de 14 milhões de cabeças de gado.
Em geral, são pastos de baixa produtividade, exigindo grandes extensões de terra.

b) Agricultura
Expansão de soja e milho em regiões como Vilhena, Chupinguaia e Colorado do Oeste.
Avanço da agricultura mecanizada substituindo áreas antes usadas para gado.
Monoculturas com alto uso de agrotóxicos e pressão sobre áreas de floresta.

c) Madeira ilegal
Extração clandestina de espécies valiosas como mogno, ipê e jatobá.
Rondônia já teve centenas de serrarias ativas sem licença ou com fraudes em planos de manejo.
Muitas vezes, o desmatamento se inicia com a retirada seletiva de madeira (fase chamada de “degradação florestal”).

d) Grilagem de terras
Falsificação de documentos e ocupação ilegal de terras públicas.
Áreas protegidas, como unidades de conservação e terras indígenas, são invadidas e loteadas.
A grilagem é um dos principais motores do desmatamento em áreas onde a floresta deveria estar intacta.

5. Consequências ambientais

a) Perda de biodiversidade
A floresta amazônica de Rondônia abriga milhares de espécies de plantas, insetos, aves e mamíferos – muitas delas endêmicas e ameaçadas.
O desmatamento fragmenta habitats, impede migração de espécies e reduz populações viáveis.

b) Alteração do ciclo da água
Árvores amazônicas transpiram bilhões de litros de água para a atmosfera todos os dias.
O desmatamento reduz a formação de rios voadores, afetando as chuvas em outras regiões do Brasil, como o Sudeste e o Centro-Oeste.
Com menos cobertura florestal, há maior erosão, assoreamento de rios e seca de nascentes.

c) Emissões de carbono
O Brasil é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, principalmente devido ao desmatamento.
Cada hectare de floresta amazônica derrubado pode liberar entre 100 e 200 toneladas de CO₂ na atmosfera.

d) Aumento de queimadas
Áreas recém-desmatadas são geralmente queimadas para limpar o solo.
As queimadas geram fumos tóxicos, afetam a saúde da população local e aumentam as emissões de poluentes atmosféricos.
Rondônia é um dos estados com maior número de focos de calor detectados por satélites do INPE.

6. Consequências sociais e culturais
Violência no campo: Conflitos armados entre grileiros, madeireiros, fazendeiros e comunidades indígenas ou tradicionais são frequentes.
Perda de direitos indígenas: Povos como os Karipuna, Uru-Eu-Wau-Wau e Kawahiva têm suas terras invadidas, caçadas e contaminadas por atividades ilegais.
Impactos à saúde: Queimadas e uso de agrotóxicos afetam populações vulneráveis com doenças respiratórias e contaminação da água e do solo.
Desestruturação social: A ocupação desordenada e a degradação ambiental dificultam a oferta de serviços públicos e incentivam o êxodo rural.

7. Áreas protegidas sob ameaça
Na imagem, destacam-se várias terras indígenas e unidades de conservação pressionadas pelo avanço do desmatamento: TI Karipuna, Uru-Eu-Wau-Wau, Massaco, Sete de Setembro, Zoró e Parque do Aripuanã.
Muitas dessas áreas aparecem como manchas verdes contínuas cercadas por desmatamento, o que compromete sua integridade ecológica.
A restrição de uso dos Piripkura indica que se trata de uma área habitada por povos indígenas isolados, cuja sobrevivência depende diretamente da preservação da floresta.

8. Soluções e caminhos possíveis
Fortalecimento da fiscalização ambiental, com apoio de tecnologia (satélites, drones, radares) e aumento de operações presenciais.
Demarcação e proteção efetiva de terras indígenas, com combate à grilagem e incentivo à vigilância comunitária.
Promoção de cadeias produtivas sustentáveis, como manejo florestal legal, produção de castanha, borracha e óleos vegetais.
Reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, especialmente em nascentes e áreas de preservação permanente (APPs).
Educação ambiental e apoio a práticas agroecológicas, integrando conservação da natureza com produção alimentar de baixo impacto.

Conclusão
A imagem de Rondônia é um retrato dramático, mas realista, de uma das frentes mais críticas do desmatamento amazônico. O avanço da fronteira agrícola, alimentado por políticas mal planejadas e pela exploração predatória, compromete não apenas a integridade da floresta, mas também o equilíbrio climático do país e do planeta. Reverter esse cenário exige vontade política, engajamento social e valorização da Amazônia viva e em pé como ativo estratégico para o Brasil e para o mundo.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Principais ameaças aos biomas brasileiros: um panorama detalhado

O Brasil é detentor de uma das maiores biodiversidades do planeta, distribuída em seis biomas principais: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampas. Cada bioma apresenta uma estrutura ecológica própria e enfrenta ameaças específicas, geralmente decorrentes da intervenção humana e das mudanças climáticas. A seguir, apresento uma análise aprofundada dessas ameaças, ilustrada com dados e exemplos recentes, bem como sugestões para mitigação.



Floresta Amazônica

A Amazônia cobre cerca de 49% do território brasileiro e é a maior floresta tropical úmida do mundo. A principal ameaça é o desmatamento ilegal, que em 2023 voltou a crescer, atingindo cerca de 13 mil km² naquele ano, segundo o INPE. A expansão da agropecuária, principalmente para criação de gado e plantio de soja, é o motor desse desmatamento. Além disso, o garimpo ilegal em áreas protegidas, especialmente na Terra Indígena Yanomami, causa degradação severa e contaminação por mercúrio. A construção de grandes obras de infraestrutura, como hidrelétricas (ex.: Belo Monte) e estradas (ex.: BR-319), fragmenta o habitat e facilita o acesso ilegal.

As queimadas associadas ao desmatamento provocam aumento significativo nas emissões de CO₂, contribuindo para o aquecimento global. Estima-se que o desmatamento e as queimadas na Amazônia possam transformar partes da floresta em savana nos próximos 30-50 anos, um processo conhecido como “savanização”, que reduziria drasticamente a capacidade do bioma de armazenar carbono e manter a biodiversidade.

Soluções: Combate rigoroso ao desmatamento ilegal com monitoramento por satélite, fortalecimento das áreas protegidas e territórios indígenas, incentivos à agricultura sustentável, recuperação de áreas degradadas e fortalecimento da governança ambiental.


Mata Atlântica

Originalmente cobrindo cerca de 1,3 milhão de km², hoje restam apenas cerca de 10% a 15% da Mata Atlântica nativa, altamente fragmentada. A urbanização desordenada, principalmente nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, é uma das principais causas da perda de habitat. A expansão agrícola e a pecuária em áreas remanescentes também aceleram a degradação.

O avanço da mineração e o impacto de empreendimentos turísticos em áreas costeiras e de restinga ameaçam os ecossistemas frágeis. A poluição dos corpos d’água e a introdução de espécies exóticas (como a acácia negra) agravam o cenário. A Mata Atlântica abriga muitas espécies endêmicas e ameaçadas, como o mico-leão-dourado e o jaguatirica, que têm sua sobrevivência comprometida pela perda de habitat.

Soluções: Ampliação e integração dos corredores ecológicos para garantir conectividade, restauração florestal, controle rigoroso da expansão urbana, políticas de incentivo à agricultura sustentável e educação ambiental nas comunidades locais.


Cerrado

O Cerrado, que ocupa cerca de 24% do território nacional, é conhecido como a “caixa d’água do Brasil”, pois é a nascente de importantes bacias hidrográficas, incluindo o Rio São Francisco. No entanto, a conversão de suas áreas naturais para agricultura intensiva (soja, milho, algodão) e pastagens para pecuária é a principal ameaça. Dados do MapBiomas indicam que o Cerrado perdeu cerca de 50% da vegetação nativa desde 1985, com aceleração nos últimos anos.

Queimadas, frequentemente usadas para manejo e limpeza do solo, muitas vezes fogem do controle, causando danos à fauna e ao solo. A degradação dos recursos hídricos afeta não só a biodiversidade, mas também as populações humanas que dependem da água.

Soluções: Incentivo a práticas agrícolas sustentáveis e integração lavoura-pecuária-floresta, controle do uso do fogo, criação de áreas protegidas e incentivo à recuperação de áreas degradadas para garantir a manutenção dos serviços ambientais.


Caatinga

A Caatinga, exclusivamente brasileira, sofre com a desertificação, acelerada pelo desmatamento para uso agrícola e pecuário, extração de madeira para carvão e manejo inadequado do solo. Estudos apontam que cerca de 60% da Caatinga está degradada em maior ou menor grau. A irregularidade das chuvas e as secas prolongadas tornam o bioma vulnerável à perda de biodiversidade, com espécies adaptadas ao semiárido correndo risco.

O uso excessivo dos recursos hídricos, como a construção de açudes e poços, pode agravar a escassez. A pressão sobre os recursos naturais também impacta comunidades tradicionais que vivem da agricultura familiar.

Soluções: Implementação de técnicas de manejo sustentável do solo e da água, agroecologia e sistemas agroflorestais, recuperação de áreas degradadas, fortalecimento das políticas de combate à desertificação e apoio às comunidades locais.


Pantanal

O Pantanal é a maior planície alagável do mundo e um dos biomas com maior biodiversidade aquática e terrestre. Em 2020, incêndios florestais severos destruíram cerca de 25% da área do bioma, exacerbando os efeitos de um ciclo hidrológico alterado por mudanças climáticas e interferência humana.

A drenagem para agricultura e pecuária, a poluição por agrotóxicos e o avanço imobiliário comprometem a qualidade da água e os habitats aquáticos. A redução da frequência e intensidade das cheias pode alterar drasticamente os ciclos naturais do Pantanal, afetando peixes, aves migratórias e outras espécies.

Soluções: Monitoramento e controle rigoroso de queimadas, políticas integradas de manejo das águas, ampliação das áreas protegidas, fiscalização contra atividades ilegais e envolvimento das comunidades locais em estratégias de conservação.


Pampas

Os Pampas, que ocupam cerca de 2% do território brasileiro, têm sua vegetação natural amplamente substituída por pastagens para pecuária extensiva e monoculturas (soja, arroz, trigo). O plantio de florestas exóticas, como eucalipto e pinus, também altera o equilíbrio ecológico local, afetando a fauna adaptada aos campos naturais.

A fragmentação do habitat e o uso intensivo de agrotóxicos afetam a biodiversidade e a qualidade do solo e da água. Espécies típicas dos campos, como o veado-campeiro e a seriema, estão ameaçadas pela perda de habitat.

Soluções: Incentivo à pecuária sustentável, proteção das áreas naturais remanescentes, recuperação de áreas degradadas, controle do uso de espécies exóticas e criação de corredores ecológicos.



Bioma Marinho-Costeiro

O bioma marinho-costeiro brasileiro abrange os diversos ecossistemas ao longo dos cerca de 7.400 km de costa, incluindo manguezais, recifes de corais, restingas, estuários e praias. Caracteriza-se por sua elevada biodiversidade, servindo como berçário para inúmeras espécies marinhas, aves migratórias e mamíferos aquáticos. Além disso, esses ambientes desempenham funções ecológicas essenciais, como proteção contra a erosão costeira, regulação da qualidade da água e suporte à pesca e ao turismo, atividades econômicas fundamentais para as comunidades locais.

Entretanto, o bioma enfrenta ameaças graves, como a poluição por resíduos sólidos, esgoto e óleo, a degradação e destruição de habitats devido à urbanização desordenada, expansão portuária e turismo predatório. A sobrepesca e a exploração não sustentável dos recursos pesqueiros comprometem a biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas. Ademais, os efeitos das mudanças climáticas, como a elevação do nível do mar, o aquecimento e a acidificação oceânica, provocam o branqueamento dos recifes e a perda de habitats críticos. A conservação do bioma marinho-costeiro depende da criação e fiscalização de áreas protegidas, do manejo sustentável dos recursos e da educação ambiental para garantir a manutenção dos serviços ecossistêmicos e a qualidade de vida das populações costeiras.


Conclusão

Os biomas brasileiros enfrentam desafios complexos e interligados, envolvendo desde a pressão direta sobre o uso do solo até as consequências das mudanças climáticas globais. A conservação desses ambientes requer esforços integrados entre governo, setor privado, cientistas e sociedade civil, com políticas públicas baseadas em ciência, fiscalização eficaz, incentivos econômicos à sustentabilidade e educação ambiental. Preservar os biomas é garantir a qualidade de vida das gerações presentes e futuras, bem como o equilíbrio do planeta.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Sempre-vivas

Na região da Serra do Cipó e em outras áreas da Serra do Espinhaço, como Diamantina, a coleta de sempre-vivas — flores nativas e endêmicas dos campos rupestres — é uma prática tradicional que envolve diversas comunidades locais. As sempre-vivas, conhecidas por sua beleza e durabilidade, são utilizadas na confecção de arranjos e artesanatos e possuem importância cultural, econômica e ecológica para a região.

Com o tempo, a extração excessiva dessas plantas começou a ameaçar sua sobrevivência e a biodiversidade local. Diante disso, surgiram iniciativas de manejo sustentável, com destaque para a atuação de associações de coletores, como a Associação dos Coletores de Sempre-Vivas da Serra do Cipó e outras presentes em municípios como Diamantina. Essas associações promovem a organização da atividade extrativista, respeitando os períodos de coleta, os locais de ocorrência e os ciclos reprodutivos das plantas. Com apoio de instituições ambientais e projetos de pesquisa, os coletores recebem capacitação sobre boas práticas de manejo, conservação da vegetação nativa e geração de renda sustentável.


Além do aspecto ecológico, a cultura das sempre-vivas está profundamente ligada à memória afetiva da região. Um exemplo disso é a figura do Juquinha da Serra, um eremita carismático que vivia nos campos da Serra do Cipó e ficou conhecido por presentear visitantes com flores silvestres e por sua gentileza. Após sua morte, foi homenageado com uma grande escultura de pedra, localizada na beira da estrada, tornando-se um símbolo regional da hospitalidade, da simplicidade e do carinho pela natureza.

Assim, a coleta de sempre-vivas na Serra do Cipó e no Espinhaço reflete uma complexa relação entre tradição, conservação e identidade cultural, mostrando como o uso consciente dos recursos naturais pode caminhar lado a lado com a valorização das pessoas e da história local.