A situação da arborização urbana de Sete Lagoas é lamentável. São diversos quarteirões da cidade em que não encontramos no máximo uma árvore nas calçadas, experimente observar. Muitas vezes, nem arbustos. A cidade, hoje, respira principalmente às custas das árvores que alguns mantêm nos quintais e jardins. E os quintais e jardins estão acabando.
Pululam aqui e ali argumentos para um verdadeiro combate às árvores: (1) está atrapalhando a fachada da minha loja, (2) cai muita folha, flor e fruto no chão, (3) passarinho fica na árvore e faz cocô no meu carro, (4) essa árvore é feia, (5) a árvore tá na minha calçada, é minha, e faço com ela o que eu quiser, (6) fulano de tal pediu para cortar e fulano de tal é poderoso, não podemos decepcioná-lo, (7) precisamos criar mais um loteamento (em vez de regularizar as dezenas de loteamentos irregulares), (8) a lenha dessa árvore vai ser boa, principalmente agora que o gás tá caro e (9) deu vontade de cortar uma árvore hoje. Lembrando que existem argumentos técnicos para a supressão e substituição de árvores. Supressão e substituição!!!
Estamos numa cidade quente, onde as árvores auxiliam muito para um melhor microclima, com temperaturas mais amenas e umidade mais alta. Sem contar o trabalho de melhorar a absorção da água das chuvas pelo solo e consequente alimentação dos nossos importantíssimos lençóis subterrâneos.
Agora, imagine só se nossa cidade resolvesse legitimar o ataque às árvores na forma de legislações que permitam aumentar a área impermeável das construções urbanas, não vinculem compensações ambientais a uma exata fiscalização pelos órgãos competentes, diminuam a quantidade de árvores plantadas a cada árvore suprimida, ou que privilegiem a compensação ambiental na forma de praças e outros espaços sem arborização.
Argumentos técnico-científicos existem, e são inúmeros, para procurar aumentar a área verde de um município. Para isso temos a possibilidade de nos assessorarmos na SBAU - Sociedade Brasileira de Arborização Urbana e em outros grupos de profissionais que atuam de forma semelhante. Mas quando os argumentos técnico-científicos perdem para argumentos econômicos e políticos que, ainda por cima , subvertem a construção do arcabouço legal, então a coisa fica feia.
Dia da Árvore, Semana da Árvore, Mês da Árvore... tudo isso perde o sentido quando não compreendemos a importância das árvores todos os dias. Tudo isso perde o sentido quando não é a árvore o verdadeiro objeto a ser preservado pelas legislações ambientais, inclusive as urbanas.
Ramon L. O. Junior