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terça-feira, 23 de setembro de 2025

Sete Lagoas, a Estrada dos Tropeiros e as Gameleiras da Memória

A história de Minas Gerais é inseparável de suas estradas coloniais. Quando se fala em Estrada Real, muitos imediatamente lembram os caminhos oficiais reconhecidos hoje pelo Instituto Estrada Real — o Caminho Velho, o Caminho Novo, o Caminho dos Diamantes e o Caminho do Sabarabuçu. Esses trajetos foram fundamentais para a circulação do ouro e dos diamantes entre as minas e os portos do Rio de Janeiro e Paraty, consolidando uma rede de controle fiscal e de vigilância da Coroa portuguesa.
Mas, paralelamente a esses caminhos oficiais, existia uma imensa malha de estradas secundárias, atalhos, trilhas e rotas alternativas utilizadas por tropas de mulas e gado, responsáveis pelo abastecimento das vilas mineradoras. É nesse contexto que surge a chamada Estrada dos Tropeiros, que cruzava a região de Sete Lagoas, conectando-a às áreas mais ativas da mineração.

A participação de Sete Lagoas no sistema de estradas coloniais
Embora não esteja no mapa oficial da Estrada Real, Sete Lagoas teve papel fundamental na engrenagem econômica e social do período. A cidade e seus arredores eram ricos em lagoas, pastagens e terras agricultáveis, o que a transformou em um importante polo de abastecimento para os centros mineradores. Enquanto Ouro Preto, Sabará e Diamantina dependiam quase exclusivamente da mineração, era em localidades como Sete Lagoas que se produziam os alimentos, o gado, os couros e outros insumos essenciais à vida cotidiana nas minas.

O tropeirismo foi a espinha dorsal dessa conexão. Tropas de mulas e boiadas seguiam em longas caravanas transportando:
  • alimentos (milho, feijão, mandioca, rapadura);
  • gado em pé e carne fresca para abastecer os arraiais;
  • produtos derivados da pecuária, como couro e sebo;
  • além de mercadorias vindas de fora, como tecidos, ferramentas, sal e aguardente.
Essas tropas seguiam em direção ao norte, conectando Sete Lagoas a Curvelo, Serro e Diamantina, onde se integravam ao Caminho dos Diamantes. Assim, mesmo não estando no traçado oficial, a cidade fazia parte de um circuito indispensável para a manutenção da vida mineradora.

As Gameleiras como marcos de viagem
Dentro de Sete Lagoas, a memória do tropeirismo está viva em pontos específicos. Um deles é o bairro rural de Gameleiras, cujo nome remete às antigas árvores que marcavam pousos de tropas. Mas talvez o símbolo mais marcante esteja dentro da própria cidade, próximo à Lagoa do Cercadinho.
Ali permanecem de pé duas enormes gameleiras (Ficus doliaria, gameleira branca), árvores centenárias de copa ampla, cujas raízes se entrelaçam com a história local. Esses exemplares não são apenas vegetação: eles funcionavam como marcos naturais e referenciais de viagem.
As tropas que saíam de Sete Lagoas rumo ao norte passavam por esse ponto, aproveitando a sombra generosa e a proximidade da lagoa para descansar antes de seguir viagem. Na prática, essas duas árvores eram o portal simbólico de saída da cidade pela Estrada dos Tropeiros, um verdadeiro testemunho vivo do movimento que ligava Sete Lagoas ao Caminho dos Diamantes e à vasta rede de circulação colonial.

Patrimônio vivo ameaçado
Essas duas gameleiras, localizadas logo abaixo da Lagoa do Cercadinho, são tombadas pelo patrimônio histórico, reconhecidas como parte da memória cultural da cidade. No entanto, apesar desse status de proteção, estão atualmente ameaçadas de corte pelo proprietário da área em que se encontram.


É uma contradição dolorosa: árvores que sobreviveram por séculos, testemunhando a passagem de tropeiros, viajantes e boiadas, hoje correm risco por interesses imediatos que ignoram seu valor simbólico e coletivo.
Mais do que árvores, elas representam a história de Sete Lagoas, a ligação com a Estrada dos Tropeiros e, por consequência, com o próprio processo de formação de Minas Gerais. Preservá-las não é apenas proteger o meio ambiente, mas também garantir a continuidade de uma memória que pertence a todos.

📌 Em tempos de urbanização acelerada e de apagamento da história local, as Gameleiras da Lagoa do Cercadinho nos lembram que a identidade de uma cidade se constrói também na preservação de seus símbolos. Cortá-las seria mais do que eliminar árvores centenárias: seria apagar um pedaço vivo da memória coletiva.

Ramon L.O. Junior

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Derramamentos de Petróleo: 6 Incidentes e Suas Consequências Devastadoras

Você sabia que o petróleo, apesar de ser uma das principais fontes de energia do mundo, também está por trás de alguns dos maiores desastres ambientais da história? Milhões de litros desse combustível já foram despejados acidentalmente (ou intencionalmente!) em oceanos e rios, causando a morte de animais, prejudicando comunidades inteiras e deixando cicatrizes que duram décadas.

Será que a gente tem ideia do impacto real desses vazamentos? Você já ouviu falar de algum deles? Conhece pessoas que já viveram perto de alguma área atingida por petróleo? Neste texto, vamos conhecer seis dos casos mais marcantes, com detalhes sobre o que aconteceu e sobre as consequências ainda sentidas.

1. Deepwater Horizon – Golfo do México (2010)

Em 20 de abril de 2010, uma explosão na plataforma Deepwater Horizon, operada pela empresa BP, deu início ao maior vazamento de petróleo da história dos Estados Unidos. O acidente matou 11 trabalhadores e resultou na liberação de aproximadamente 5 milhões de barris de petróleo cru no oceano durante 87 dias ininterruptos.

Consequências: O impacto ambiental foi catastrófico. O óleo cobriu vastas áreas do mar e da costa, atingindo pântanos, praias e recifes. Milhares de animais marinhos, como tartarugas, aves costeiras e golfinhos, morreram intoxicados. A pesca e o turismo em vários estados americanos foram severamente afetados. Mesmo mais de uma década depois, estudos indicam que partes do ecossistema ainda não se recuperaram completamente.

O vazamento agravou ainda mais a situação ambiental e econômica da região do Golfo do México, que já havia sido profundamente afetada pelo furacão Katrina em 2005. Comunidades pesqueiras e ecossistemas costeiros ainda em recuperação foram novamente atingidos por uma crise de grandes proporções, com a contaminação da água, mortandade de espécies marinhas e prejuízos à pesca e ao turismo, aprofundando a vulnerabilidade social e ecológica da região. Embora Nova Orleans não tenha sido diretamente atingida pelo petróleo, a cidade sofreu os impactos indiretos do desastre, como prejuízos à economia local — especialmente nas áreas de pesca, turismo e navegação — e o agravamento das dificuldades enfrentadas por uma população ainda fragilizada pelos efeitos do Katrina.

E você? Já imaginou o que é ver uma praia coberta por óleo por semanas?

2. Guerra do Golfo – Kuwait (1991)

Durante a Guerra do Golfo, um dos episódios mais trágicos ligados a conflitos armados e à destruição ambiental ocorreu no início de 1991. Naquele contexto, o Iraque havia invadido o Kuwait em 1990, e uma coalizão liderada pelos Estados Unidos — com apoio de países europeus e árabes — foi formada para forçar a retirada das tropas iraquianas. Essa operação militar ficou conhecida como Tempestade no Deserto.

Antes de abandonar o território kuwaitiano, as tropas do ditador Saddam Hussein realizaram uma série de atos de sabotagem ambiental e estratégica. Um dos mais graves foi o vazamento deliberado de petróleo no Golfo Pérsico, liberando entre 800 mil e 1 milhão de toneladas de óleo cru no mar. A intenção era dificultar a movimentação da frota naval americana, que operava com porta-aviões, cruzadores e navios de apoio na região.

Você sabia que uma mancha de petróleo no mar também pode ser usada como armadilha? Isso mesmo. O óleo no mar torna a navegação arriscada, interfere nos sensores dos navios, prejudica a operação de helicópteros e aviões e pode até causar incêndios em embarcações atingidas. Além disso, a fumaça densa dos poços em chamas reduzia a visibilidade aérea, dificultando os bombardeios da coalizão.

Consequências: Esse ato transformou o Golfo Pérsico em uma zona de desastre ecológico. Corais, tartarugas, golfinhos e aves marinhas morreram aos milhares. As costas de países como Kuwait, Arábia Saudita e Bahrein ficaram cobertas de petróleo. O fogo em mais de 700 poços de petróleo gerou uma densa nuvem negra de fuligem, que permaneceu no céu por meses, causando doenças respiratórias e afetando o clima regional. Além do dano ambiental, esse episódio mostrou como a guerra moderna pode transformar a natureza em campo de batalha.

Você já imaginou o impacto psicológico e ambiental de uma guerra que, além de afetar pessoas, devasta também a vida marinha e os ecossistemas inteiros?

3. Exxon Valdez – Alasca (1989)

Em 24 de março de 1989, o petroleiro Exxon Valdez colidiu com recifes no Alasca, derramando cerca de 40 milhões de litros de petróleo cru nas águas frias e ricas em biodiversidade do local. O acidente aconteceu em uma área remota, com o litoral bastante recortado em muitas praias, dificultando ainda mais a resposta rápida. Não foi um dos maiores acidentes em volume de petróleo derramado, mas é um dos acidentes mais estudados.

Consequências: A contaminação matou centenas de milhares de aves marinhas, lontras, focas e peixes, além de afetar profundamente a pesca comercial de salmão e arenque, base da economia local. A empresa responsável enfrentou diversos processos, mas os impactos ambientais ainda são sentidos hoje, especialmente nos sedimentos costeiros, onde resíduos de petróleo persistem.

Você já pensou em como comunidades inteiras, que vivem da pesca, podem ser destruídas por um acidente desses?

4. Ixtoc 1 – Golfo do México (1979)

Este acidente aconteceu em águas mexicanas, quando a plataforma de perfuração Ixtoc 1, operada pela PEMEX, sofreu um colapso no sistema de segurança e explodiu, liberando petróleo por cerca de 10 meses seguidos. Estima-se que foram despejados mais de 3 milhões de barris no oceano. A explosão que causou o acidente gerou um grande incêndio na plataforma e no óleo que estava presente na superfície do mar nas proximidades da estrutura.

Consequências: O petróleo atingiu áreas costeiras do México e chegou até o estado do Texas, nos EUA. O impacto nos recifes de coral, na pesca e na saúde da fauna marinha foi imenso. Na época, a tecnologia para conter vazamentos era ainda mais limitada, e a resposta foi lenta e ineficaz.

Você sabia que esse acidente é considerado um dos maiores da história antes do de 2010? Será que hoje estamos mais preparados?

5. Derramamento no Nordeste do Brasil (2019)

Entre agosto e novembro de 2019, manchas escuras de petróleo apareceram em mais de 1000 praias de 11 estados do litoral nordestino. Até hoje, a origem exata do vazamento não foi oficialmente confirmada, o que aumenta a indignação de ambientalistas e da população.

O derramamento permanece sem uma causa oficialmente confirmada, mas algumas hipóteses principais ainda são consideradas plausíveis pelas investigações. A mais aceita é a de um vazamento acidental de petróleo cru venezuelano por um navio petroleiro estrangeiro em alto-mar, possivelmente durante o transporte, a centenas de quilômetros da costa. Outra hipótese é o despejo ilegal de resíduos oleosos, como a lavagem clandestina de tanques, prática criminosa que pode ter ocorrido fora das áreas monitoradas. Também se discute, embora com menor respaldo, a possibilidade de um vazamento contínuo causado pelo afundamento de um navio antigo com petróleo ainda nos tanques. Por fim, há teorias que sugerem sabotagem ou ação intencional, mas essas carecem de qualquer evidência concreta e são consideradas altamente improváveis.

Consequências: Foi o maior desastre ambiental em extensão territorial da história do Brasil. O óleo contaminou manguezais, recifes de coral, áreas de proteção ambiental e praias turísticas. Comunidades pesqueiras artesanais perderam sua fonte de renda, e muitos voluntários se expuseram a riscos à saúde para tentar limpar as praias, com pouco apoio oficial.

Você conhece alguém que vive no Nordeste e se lembra desse episódio? Por que será que esse desastre teve tão pouca repercussão internacional?

6. Vazamento da REDUC – Baía de Guanabara (2000)

Em janeiro de 2000, um dos dutos da refinaria da Petrobras (REDUC), em Duque de Caxias (RJ), se rompeu e derramou cerca de 1,3 milhão de litros de óleo combustível na Baía de Guanabara. O manguezal de Magé, um dos mais importantes da região, foi gravemente afetado.



Consequências: O petróleo atingiu diretamente o ecossistema de mangue — um dos mais ricos e frágeis do planeta — matando peixes, caranguejos e aves, e prejudicando profundamente a pesca artesanal. Comunidades ribeirinhas relatam que até hoje não conseguiram recuperar completamente seus modos de vida. A Petrobras foi multada e realizou ações de mitigação, mas os danos ao meio ambiente foram duradouros.

Você sabia que esse acidente aconteceu bem perto da cidade do Rio de Janeiro? Já esteve em algum manguezal e viu sua importância ecológica?

Por Que Esses Casos Ainda Importam?

Esses seis desastres revelam algo em comum: o enorme custo ambiental e social do uso e transporte do petróleo. Mesmo com tecnologia avançada, os riscos continuam elevados. Quando um vazamento acontece, não há botão de “desfazer”. Os danos persistem por anos — ou até décadas.

Além disso, esses episódios mostram que os mais pobres e vulneráveis são sempre os mais atingidos, seja em comunidades pesqueiras no Brasil, seja entre povos indígenas no Alasca. Também expõem a fragilidade de ecossistemas preciosos, como recifes, manguezais e águas costeiras.

E você? O que pensa sobre isso? Acredita que os países e empresas estão realmente comprometidos com a prevenção? Qual sua opinião sobre o uso de fontes renováveis de energia como alternativa ao petróleo?

Compartilhe esse texto, converse com seus amigos e familiares e leve esse debatepara sua escola ou comunidade. A mudança começa com a informação.

domingo, 6 de julho de 2025

ECOLOGIA: Eutrofização: Causas, Mecanismos e Impactos Ambientais

Deve ser meu milésimo texto sobre o assunto! Mas como sempre me perguntam, dessa vez pedi ao ChatGPT para organizar os dados de outra forma! 

EUTROFIZAÇÃO

A eutrofização é um dos principais problemas ambientais que afetam lagos, lagoas, represas e áreas costeiras ao redor do mundo. Trata-se de um processo de enriquecimento excessivo de nutrientes nas águas, especialmente de nitrogênio (N) e fósforo (P), que provoca um desequilíbrio ecológico com sérias consequências para a biodiversidade e a qualidade da água.


🌿 O que causa a eutrofização?

A eutrofização ocorre principalmente devido à atividade humana (processo chamado de eutrofização antrópica). As principais fontes de nutrientes são:

  • Esgoto doméstico sem tratamento ou com tratamento ineficaz (rico em matéria orgânica, fósforo e nitrogênio);

  • Fertilizantes agrícolas e de jardins que escorrem para corpos d'água com as chuvas;

  • Resíduos industriais;

  • Decomposição de lixo orgânico, folhas e restos vegetais urbanos;

  • Ração excedente e dejetos em viveiros de peixes (aqui, chamada eutrofização aquícola).

Esses nutrientes atuam como "alimento" para algas e cianobactérias (antigamente chamadas algas azul-esverdeadas), promovendo seu crescimento exagerado.


🔄 Etapas da eutrofização

  1. Entrada excessiva de nutrientes na água;

  2. Proliferação de algas e cianobactérias (floração ou bloom algal);

  3. Aumento da turbidez da água, que reduz a penetração da luz solar;

  4. Morte das algas em excesso, que não conseguem mais sobreviver por falta de luz e oxigênio;

  5. Decomposição das algas mortas por bactérias aeróbias, que consomem grandes quantidades de oxigênio;

  6. Diminuição do oxigênio dissolvido (hipóxia) ou ausência total (anóxia);

  7. Morte de peixes e outros organismos aquáticos, incapazes de sobreviver em ambiente sem oxigênio;

  8. Formação de gases tóxicos como metano (CH₄) e sulfeto de hidrogênio (H₂S), que causam mau cheiro e aumentam o estresse ambiental.


⚠️ Consequências ecológicas e sociais da eutrofização

A eutrofização tem impactos graves em diversos níveis:

  • Mortandade de peixes e fauna aquática por falta de oxigênio;

  • Redução da biodiversidade, pois apenas poucas espécies toleram ambientes eutrofizados;

  • Aparência turva, coloração esverdeada e mau cheiro da água;

  • Produção de toxinas por cianobactérias, que podem causar problemas neurológicos, hepáticos e dermatológicos em humanos e animais;

  • Imprópria para banho, recreação ou abastecimento humano;

  • Impacto econômico em turismo, pesca e qualidade de vida urbana.


📌 Exemplo real: Lagoa Rodrigo de Freitas (RJ)

Mortandade de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas chega a 65 toneladas (março de 2013)

A Lagoa Rodrigo de Freitas, um cartão-postal da cidade do Rio de Janeiro, é um exemplo clássico de ambiente afetado por eutrofização crônica:

  • Recebe nutrientes vindos de esgotos, lixo urbano e matéria orgânica de áreas do entorno;

  • Apresenta florações frequentes de algas, especialmente após chuvas intensas seguidas de calor;

  • Passa por episódios recorrentes de mortandade de peixes, principalmente tainhas, devido à hipóxia causada pela decomposição de algas;

  • Fatores como ressacas, baixa renovação da água e revolvimento dos sedimentos agravam o quadro. A ressaca, além de poder revolver o fundo e assim liberar nutrientes minerais, pode bloquear a saída de água da lagoa em direção ao oceano, concentrando poluentes.

Esse caso demonstra como eutrofização urbana pode se combinar com fatores naturais (como chuvas e marés) para desencadear eventos ambientais de grande impacto.


📌 Caso da Lagoa Paulino

Na Lagoa Paulino (Sete Lagoas), embora não haja lançamento direto de esgoto, o ecossistema também enfrenta problemas ambientais relacionados à qualidade da água, causados por outros fatores:

  • Águas pluviais (enxurradas) que podem chegar até a lagoa trazendo matéria orgânica de várias naturezas, inclusive fezes de animais e resíduos de alimentos. A matéria orgânica sofre decomposição liberando nitratos e fosfatos;

  • Carpas (colocadas no passado para alimentar os botos que foram trazidos para a lagoa) reviram constantemente o fundo da lagoa, liberando sedimentos ricos em nutrientes como fósforo e nitrogênio para a coluna d’água, o que estimula o crescimento de algas;

  • A presença de aves e outros animais contribui com aporte contínuo de matéria orgânica e nutrientes por meio de fezes, aumentando a concentração de nutrientes disponíveis;

  • Pessoas que lavam carros diretamente na lagoa utilizam água com detergentes e outras substâncias químicas, que contêm fosfatos e surfactantes tóxicos para os organismos aquáticos, além de aumentar a poluição e turbidez da água.

Esses fatores, mesmo sem esgoto lançado diretamente, promovem um ambiente propício para a eutrofização e desequilíbrios ambientais, que podem levar à proliferação de algas, redução do oxigênio dissolvido e mortandade de peixes. A proliferação de algas é facilmente perceptível em algumas épocas do ano (especialmente o inverno), bem cedinho, nas margens da lagoa. Também são visíveis cardumes de peixes (tilápias) buscando água mais oxigenada na superfície da lagoa. Aeradores e fonte já foram instalados para minimizar o problema, mas não atuam na causa do mesmo. Grande mortalidade de peixes não ocorreu ainda, em parte porque as carpas são peixes que têm grande tolerância a baixa concentração de oxigênio na água.


🛠️ Como prevenir e mitigar a eutrofização?

  • Tratar o esgoto doméstico e industrial adequadamente antes do lançamento;

  • Controlar o uso de fertilizantes agrícolas e urbanos;

  • Preservar matas ciliares e zonas de vegetação natural, que funcionam como filtros naturais;

  • Criar barreiras físicas ou biológicas para limitar o crescimento de algas;

  • Investir em monitoramento ambiental e sistemas de oxigenação artificial, quando necessário;

  • No caso da Lagoa Paulino, além disso, é importante:

    • Controlar a população de carpas (muito mais eficiente seria trocar todo o peixamento) para evitar o revolvimento excessivo do sedimento;

    • Promover campanhas educativas para evitar lavagem de carros diretamente na lagoa;

    • Gerenciar o acesso e a presença de aves para minimizar aporte excessivo de nutrientes por meio de suas fezes (muito comuns em algumas partes da orla).


Conclusão

A eutrofização é um processo ambiental provocado pelo excesso de nutrientes na água, que causa desequilíbrios ecológicos graves, como a morte de peixes, proliferação de algas tóxicas e degradação da qualidade da água.
É um problema diretamente relacionado à ocupação urbana, ao saneamento deficiente e ao manejo inadequado dos recursos naturais, mas também pode ser agravado por práticas humanas diretas, como o uso inadequado da água e o manejo da fauna local.
Com informação, fiscalização e planejamento, é possível evitar que ambientes aquáticos ricos em vida se tornem sistemas sufocados e doentes.

sábado, 5 de julho de 2025

ECOLOGIA: Bioacumulação, Bioconcentração e Magnificação Trófica: Conceitos e Diferenças

Em ecologia e toxicologia ambiental, é fundamental compreender como substâncias químicas contaminantes se comportam nos organismos vivos e nos ecossistemas. Três conceitos centrais para entender esse comportamento são bioacumulação, bioconcentração e magnificação trófica. Embora relacionados, eles se referem a processos distintos.


1. Bioacumulação

Bioacumulação é o processo pelo qual um organismo acumula substâncias químicas tóxicas em seus tecidos ao longo do tempo, devido à absorção mais rápida do que a eliminação. Essas substâncias podem entrar no organismo por diferentes vias:

  • Alimentação (via oral);

  • Respiração (vias aéreas);

  • Contato direto com o meio (absorção pela pele ou pelas superfícies corporais).

A bioacumulação ocorre principalmente com substâncias lipofílicas (solúveis em gordura), como metais pesados (mercúrio, chumbo, cádmio) e compostos orgânicos persistentes (como o DDT e os PCBs), que têm baixa taxa de degradação e se acumulam nos tecidos gordurosos dos organismos.

Exemplo: Um peixe que vive em águas contaminadas pode absorver mercúrio tanto da água quanto ao se alimentar de presas contaminadas. Com o tempo, mesmo que o nível de mercúrio na água seja baixo, o peixe acumula concentrações elevadas da substância. Pode envolver a alimentação!


2. Bioconcentração

Bioconcentração é um caso específico de bioacumulação. Refere-se à acumulação de uma substância química diretamente do ambiente (geralmente da água) para o organismo, sem considerar a alimentação como via de entrada.

A taxa de bioconcentração é frequentemente expressa por um índice chamado Fator de Bioconcentração (BCF – Bioconcentration Factor), que é a razão entre a concentração da substância no organismo e a concentração no meio:

BCF=Concentração no organismoConcentração na aˊguaBCF = \frac{\text{Concentração no organismo}}{\text{Concentração na água}}

Exemplo: Plantas aquáticas ou peixes absorvendo pesticidas presentes na água diretamente através da pele ou das brânquias, sem consumir nenhum outro organismo contaminado. Não é por meio da alimentação!!!


3. Magnificação Trófica (ou Biomagnificação)

Magnificação trófica, também chamada de biomagnificação, é o aumento progressivo da concentração de uma substância tóxica à medida que se sobe na cadeia alimentar. Organismos de níveis tróficos superiores consomem repetidamente presas já contaminadas, acumulando substâncias que não são metabolizadas ou excretadas eficientemente.

Dessa forma, topo da cadeia alimentar = maior concentração da toxina.

As substâncias mais comumente associadas à magnificação trófica são:

  • Metais pesados, como mercúrio (Hg) e cádmio (Cd);

  • Pesticidas organoclorados, como o DDT (dicloro-difenil-tricloroetano);

  • PCBs (bifenilos policlorados), usados industrialmente como isolantes térmicos;

  • Outros compostos organoclorados, como as dioxinas (TCDD = 2,3,7,8-Tetraclorodibenzo-para-dioxina)

Esses compostos compartilham duas características principais:

  1. São persistentes, ou seja, degradam-se lentamente no ambiente;

  2. São lipofílicos, o que significa que se dissolvem nas gorduras corporais dos seres vivos em vez de na água, sendo mal eliminados pela urina ou suor. Assim, quanto mais gordura um organismo possui e mais tempo vive, maior a tendência de acumular essas substâncias.

Exemplo clássico do DDT: Durante a década de 1960, foi observado um aumento alarmante na concentração de DDT ao longo das cadeias alimentares aquáticas:

  • Água: 0,000003 ppm (partes por milhão);

  • Plâncton: 0,04 ppm;

  • Pequenos peixes: 0,5 ppm;

  • Peixes maiores: 2 ppm;

  • Aves marinhas predadoras (como gaivotas e falcões): até 25 ppm

Esse acúmulo causou efeitos graves na reprodução das aves, como afinamento da casca dos ovos, que frequentemente se quebravam antes da eclosão, levando à queda das populações. Casos semelhantes de magnificação trófica foram observados com mercúrio em peixes grandes, como o atum e o peixe-espada, que podem concentrar níveis perigosos do metal, afetando inclusive a saúde humana por meio do consumo desses animais.

Importância ambiental e para a saúde humana

Esses processos são particularmente perigosos porque envolvem substâncias persistentes no ambiente, muitas vezes tóxicas mesmo em baixas concentrações. Isso inclui metais pesados, pesticidas e poluentes industriais. A exposição humana ocorre, por exemplo, por meio do consumo de peixes contaminados (como o atum e o peixe-espada, ricos em mercúrio), sendo especialmente perigosa para gestantes e crianças.


A Doença de Minamata: um exemplo real e trágico

Um dos casos mais emblemáticos dos efeitos da bioacumulação e da magnificação trófica foi a Doença de Minamata, identificada na década de 1950 na cidade de Minamata, no Japão. A enfermidade foi causada pelo despejo de grandes quantidades de metilmercúrio (um composto orgânico altamente tóxico) no mar por uma indústria química local.

O mercúrio se acumulou nos organismos aquáticos — primeiro no fitoplâncton, depois nos peixes e moluscos —, e atingiu concentrações muito elevadas nos predadores de topo e, finalmente, nas populações humanas que se alimentavam desses frutos do mar contaminados.

A população local começou a apresentar sintomas neurológicos graves: dificuldade motora, perda de coordenação, problemas visuais, surdez, paralisia e, em casos extremos, morte. Bebês nascidos de mães expostas durante a gestação apresentavam malformações congênitas e deficiências mentais severas, caracterizando a chamada síndrome congênita de Minamata.

Doença de Minamata: observe as mãos crispadas, consequência de contrações musculares.

O caso de Minamata tornou-se um símbolo internacional dos perigos da poluição industrial e levou à formulação de tratados globais sobre controle do mercúrio, como a Convenção de Minamata, assinada em 2013, visando reduzir emissões e liberações desse metal pesado no ambiente.


Conclusão

Entender os processos de bioacumulação, bioconcentração e magnificação trófica é essencial para avaliar os impactos da poluição ambiental sobre os organismos e os ecossistemas. Esses conceitos ajudam a explicar por que certos poluentes representam um risco tão grande, mesmo quando presentes em concentrações aparentemente pequenas no ambiente. Com esse conhecimento, é possível orientar políticas públicas de controle da poluição e promover práticas sustentáveis que protejam a biodiversidade e a saúde humana.

segunda-feira, 30 de junho de 2025

O papel do fogo natural no Cerrado: ecologia, adaptações e impactos

O Cerrado, segundo maior bioma do Brasil, é uma savana tropical marcada por longas estações secas, solos ácidos e pobres em nutrientes, além de uma vegetação composta por gramíneas, arbustos retorcidos e árvores espaçadas, muitas vezes com aparência retorcida. Apesar de sua paisagem aparentemente resiliente, o Cerrado depende de fatores ecológicos específicos para sua manutenção — entre eles, o fogo natural desempenha um papel crucial.

O fogo natural no Cerrado
Diferente dos incêndios provocados por ação humana, o fogo natural no Cerrado ocorre de forma esporádica, geralmente durante o auge da estação seca, especialmente nos meses de agosto e setembro. As principais causas naturais desses incêndios são descargas elétricas atmosféricas (raios), que atingem a vegetação ressecada após longos períodos sem chuva. A propagação do fogo é favorecida pelo material seco e inflamável que se acumula no solo, como folhas, gravetos e gramíneas.
Estudos ecológicos indicam que esses eventos ocorrem em intervalos naturais de aproximadamente 5 a 10 anos em uma mesma área. Esse espaçamento permite que a vegetação se recupere e que as espécies resistentes mantenham seu ciclo de vida, sem comprometer a estrutura e o funcionamento do ecossistema. O fogo, quando segue esse ritmo natural, não é destrutivo, mas regulador da dinâmica ecológica.

Benefícios ecológicos do fogo natural
O fogo natural, quando ocorre em intervalos adequados, atua como um mecanismo de controle ecológico. Ele evita o acúmulo excessivo de biomassa seca e reduz a competição entre espécies, favorecendo aquelas que são adaptadas ao fogo. Além disso, algumas sementes de plantas típicas do Cerrado apresentam uma estratégia adaptativa conhecida como pirogerminabilidade — ou seja, capacidade de germinar após a exposição ao fogo ou à fumaça.
Esse fenômeno ocorre porque o calor das chamas, a fumaça ou mesmo as alterações químicas no solo provocadas pelas cinzas podem quebrar a dormência das sementes e ativar seu metabolismo. A germinação nesse momento é vantajosa: o solo está livre de cobertura vegetal densa, há mais luz solar disponível, e as cinzas liberam nutrientes que enriquecem temporariamente o ambiente. Assim, o fogo atua como um gatilho ecológico, garantindo que a germinação ocorra em um momento mais propício ao estabelecimento das plântulas.
O fogo também mantém a estrutura aberta e heterogênea da vegetação do Cerrado, impedindo o avanço de espécies florestais que exigem mais sombra e umidade, e favorecendo a permanência de espécies nativas do bioma. Isso garante diversidade de habitats para animais como o lobo-guará, o tamanduá-bandeira e a ema, que dependem de ambientes mais abertos para forrageamento e reprodução.

Adaptações das plantas ao fogo
Muitas espécies vegetais do Cerrado apresentam adaptações específicas ao fogo, resultado de milhões de anos de coevolução com esse distúrbio natural:
  • Casca grossa nas árvores: Algumas espécies arbóreas, como o pequi (Caryocar brasiliense), a cagaiteira (Eugenia dysenterica) e o barbatimão (Stryphnodendron adstringens), possuem cascas espessas e isolantes que protegem os tecidos internos contra o calor intenso, permitindo que a árvore sobreviva a incêndios superficiais.
Aspecto da casca grossa da Cagaiteira.
  • Caule com bainhas protetoras nas canelas-de-ema: As canelas-de-ema (do gênero Vellozia), comuns em áreas de Cerrado rupestre, possuem caules recobertos por bainhas foliares secas e sobrepostas que funcionam como escudos térmicos. Essas bainhas protegem os meristemas — tecidos responsáveis pelo crescimento — durante o fogo.
 Canelas-de-ema (Velózias)
  • Capacidade de rebrote subterrâneo: Muitas espécies herbáceas e arbustivas armazenam nutrientes em estruturas subterrâneas como xilopódios, que permitem rebrotar rapidamente após um incêndio.
Essas adaptações garantem que a vegetação do Cerrado se regenere de forma eficiente e continue desempenhando seu papel ecológico após a passagem do fogo.

Impactos dos incêndios provocados pelo homem
Apesar da importância ecológica do fogo natural, os incêndios frequentes e descontrolados provocados por atividades humanas têm causado graves desequilíbrios no Cerrado. Muitos agricultores e pecuaristas usam o fogo anualmente para limpar pastagens, eliminar ervas daninhas ou abrir áreas para cultivo, o que rompe o equilíbrio ecológico natural do bioma.
Quando o fogo ocorre com frequência excessiva — todo ano ou a cada dois ou três anos — os efeitos negativos se acumulam:
  • As plantas não têm tempo suficiente para se recuperar, resultando em perda de cobertura vegetal;
  • A mortalidade de árvores e arbustos aumenta, especialmente das espécies mais jovens e menos resistentes;
  • A biodiversidade vegetal e animal diminui, favorecendo espécies oportunistas e reduzindo a complexidade ecológica;
  • O solo perde matéria orgânica e microrganismos essenciais, tornando-se mais pobre, compacto e suscetível à erosão;
  • A fauna local sofre com a destruição de abrigos, ninhos e fontes de alimento.
Além disso, a combinação de fogo frequente com desmatamento, cultivo extensivo e mudanças climáticas tem acelerado processos de degradação ambiental e desertificação em várias áreas do Cerrado.

Conclusão
O fogo natural é um elemento ecológico fundamental para a manutenção do Cerrado, funcionando como regulador de sua biodiversidade, estrutura e produtividade. A pirogerminabilidade, junto com adaptações estruturais das plantas, mostra como a vegetação desse bioma evoluiu em íntima relação com o fogo. No entanto, quando o fogo é usado de forma indiscriminada pelo ser humano, com frequência muito maior que a do ciclo natural, ele deixa de ser benéfico e passa a ser uma das principais ameaças à conservação desse bioma único. Compreender essa diferença é essencial para promover práticas de manejo sustentável e garantir a preservação do Cerrado para as futuras gerações.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Principais ameaças aos biomas brasileiros: um panorama detalhado

O Brasil é detentor de uma das maiores biodiversidades do planeta, distribuída em seis biomas principais: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampas. Cada bioma apresenta uma estrutura ecológica própria e enfrenta ameaças específicas, geralmente decorrentes da intervenção humana e das mudanças climáticas. A seguir, apresento uma análise aprofundada dessas ameaças, ilustrada com dados e exemplos recentes, bem como sugestões para mitigação.



Floresta Amazônica

A Amazônia cobre cerca de 49% do território brasileiro e é a maior floresta tropical úmida do mundo. A principal ameaça é o desmatamento ilegal, que em 2023 voltou a crescer, atingindo cerca de 13 mil km² naquele ano, segundo o INPE. A expansão da agropecuária, principalmente para criação de gado e plantio de soja, é o motor desse desmatamento. Além disso, o garimpo ilegal em áreas protegidas, especialmente na Terra Indígena Yanomami, causa degradação severa e contaminação por mercúrio. A construção de grandes obras de infraestrutura, como hidrelétricas (ex.: Belo Monte) e estradas (ex.: BR-319), fragmenta o habitat e facilita o acesso ilegal.

As queimadas associadas ao desmatamento provocam aumento significativo nas emissões de CO₂, contribuindo para o aquecimento global. Estima-se que o desmatamento e as queimadas na Amazônia possam transformar partes da floresta em savana nos próximos 30-50 anos, um processo conhecido como “savanização”, que reduziria drasticamente a capacidade do bioma de armazenar carbono e manter a biodiversidade.

Soluções: Combate rigoroso ao desmatamento ilegal com monitoramento por satélite, fortalecimento das áreas protegidas e territórios indígenas, incentivos à agricultura sustentável, recuperação de áreas degradadas e fortalecimento da governança ambiental.


Mata Atlântica

Originalmente cobrindo cerca de 1,3 milhão de km², hoje restam apenas cerca de 10% a 15% da Mata Atlântica nativa, altamente fragmentada. A urbanização desordenada, principalmente nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, é uma das principais causas da perda de habitat. A expansão agrícola e a pecuária em áreas remanescentes também aceleram a degradação.

O avanço da mineração e o impacto de empreendimentos turísticos em áreas costeiras e de restinga ameaçam os ecossistemas frágeis. A poluição dos corpos d’água e a introdução de espécies exóticas (como a acácia negra) agravam o cenário. A Mata Atlântica abriga muitas espécies endêmicas e ameaçadas, como o mico-leão-dourado e o jaguatirica, que têm sua sobrevivência comprometida pela perda de habitat.

Soluções: Ampliação e integração dos corredores ecológicos para garantir conectividade, restauração florestal, controle rigoroso da expansão urbana, políticas de incentivo à agricultura sustentável e educação ambiental nas comunidades locais.


Cerrado

O Cerrado, que ocupa cerca de 24% do território nacional, é conhecido como a “caixa d’água do Brasil”, pois é a nascente de importantes bacias hidrográficas, incluindo o Rio São Francisco. No entanto, a conversão de suas áreas naturais para agricultura intensiva (soja, milho, algodão) e pastagens para pecuária é a principal ameaça. Dados do MapBiomas indicam que o Cerrado perdeu cerca de 50% da vegetação nativa desde 1985, com aceleração nos últimos anos.

Queimadas, frequentemente usadas para manejo e limpeza do solo, muitas vezes fogem do controle, causando danos à fauna e ao solo. A degradação dos recursos hídricos afeta não só a biodiversidade, mas também as populações humanas que dependem da água.

Soluções: Incentivo a práticas agrícolas sustentáveis e integração lavoura-pecuária-floresta, controle do uso do fogo, criação de áreas protegidas e incentivo à recuperação de áreas degradadas para garantir a manutenção dos serviços ambientais.


Caatinga

A Caatinga, exclusivamente brasileira, sofre com a desertificação, acelerada pelo desmatamento para uso agrícola e pecuário, extração de madeira para carvão e manejo inadequado do solo. Estudos apontam que cerca de 60% da Caatinga está degradada em maior ou menor grau. A irregularidade das chuvas e as secas prolongadas tornam o bioma vulnerável à perda de biodiversidade, com espécies adaptadas ao semiárido correndo risco.

O uso excessivo dos recursos hídricos, como a construção de açudes e poços, pode agravar a escassez. A pressão sobre os recursos naturais também impacta comunidades tradicionais que vivem da agricultura familiar.

Soluções: Implementação de técnicas de manejo sustentável do solo e da água, agroecologia e sistemas agroflorestais, recuperação de áreas degradadas, fortalecimento das políticas de combate à desertificação e apoio às comunidades locais.


Pantanal

O Pantanal é a maior planície alagável do mundo e um dos biomas com maior biodiversidade aquática e terrestre. Em 2020, incêndios florestais severos destruíram cerca de 25% da área do bioma, exacerbando os efeitos de um ciclo hidrológico alterado por mudanças climáticas e interferência humana.

A drenagem para agricultura e pecuária, a poluição por agrotóxicos e o avanço imobiliário comprometem a qualidade da água e os habitats aquáticos. A redução da frequência e intensidade das cheias pode alterar drasticamente os ciclos naturais do Pantanal, afetando peixes, aves migratórias e outras espécies.

Soluções: Monitoramento e controle rigoroso de queimadas, políticas integradas de manejo das águas, ampliação das áreas protegidas, fiscalização contra atividades ilegais e envolvimento das comunidades locais em estratégias de conservação.


Pampas

Os Pampas, que ocupam cerca de 2% do território brasileiro, têm sua vegetação natural amplamente substituída por pastagens para pecuária extensiva e monoculturas (soja, arroz, trigo). O plantio de florestas exóticas, como eucalipto e pinus, também altera o equilíbrio ecológico local, afetando a fauna adaptada aos campos naturais.

A fragmentação do habitat e o uso intensivo de agrotóxicos afetam a biodiversidade e a qualidade do solo e da água. Espécies típicas dos campos, como o veado-campeiro e a seriema, estão ameaçadas pela perda de habitat.

Soluções: Incentivo à pecuária sustentável, proteção das áreas naturais remanescentes, recuperação de áreas degradadas, controle do uso de espécies exóticas e criação de corredores ecológicos.



Bioma Marinho-Costeiro

O bioma marinho-costeiro brasileiro abrange os diversos ecossistemas ao longo dos cerca de 7.400 km de costa, incluindo manguezais, recifes de corais, restingas, estuários e praias. Caracteriza-se por sua elevada biodiversidade, servindo como berçário para inúmeras espécies marinhas, aves migratórias e mamíferos aquáticos. Além disso, esses ambientes desempenham funções ecológicas essenciais, como proteção contra a erosão costeira, regulação da qualidade da água e suporte à pesca e ao turismo, atividades econômicas fundamentais para as comunidades locais.

Entretanto, o bioma enfrenta ameaças graves, como a poluição por resíduos sólidos, esgoto e óleo, a degradação e destruição de habitats devido à urbanização desordenada, expansão portuária e turismo predatório. A sobrepesca e a exploração não sustentável dos recursos pesqueiros comprometem a biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas. Ademais, os efeitos das mudanças climáticas, como a elevação do nível do mar, o aquecimento e a acidificação oceânica, provocam o branqueamento dos recifes e a perda de habitats críticos. A conservação do bioma marinho-costeiro depende da criação e fiscalização de áreas protegidas, do manejo sustentável dos recursos e da educação ambiental para garantir a manutenção dos serviços ecossistêmicos e a qualidade de vida das populações costeiras.


Conclusão

Os biomas brasileiros enfrentam desafios complexos e interligados, envolvendo desde a pressão direta sobre o uso do solo até as consequências das mudanças climáticas globais. A conservação desses ambientes requer esforços integrados entre governo, setor privado, cientistas e sociedade civil, com políticas públicas baseadas em ciência, fiscalização eficaz, incentivos econômicos à sustentabilidade e educação ambiental. Preservar os biomas é garantir a qualidade de vida das gerações presentes e futuras, bem como o equilíbrio do planeta.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Dia Mundial do Meio Ambiente 2025 -

O Dia Mundial do Meio Ambiente é uma data internacional dedicada à conscientização e à promoção de ações em defesa do meio ambiente. Celebrado anualmente em 5 de junho, esse dia foi estabelecido em 1972 durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, evento que marcou a primeira grande iniciativa global voltada às questões ambientais. A escolha da data está diretamente relacionada ao início dessa conferência, que começou justamente em 5 de junho daquele ano, sendo considerada um marco para a política ambiental internacional.

A importância do Dia Mundial do Meio Ambiente reside no seu papel de alertar a sociedade, os governos e as empresas sobre os problemas ambientais que ameaçam a vida no planeta, como o desmatamento, a poluição, a perda da biodiversidade e as mudanças climáticas. A data também serve como oportunidade para divulgar práticas sustentáveis, estimular a educação ambiental e reforçar compromissos com o desenvolvimento sustentável.

Todos os anos, o dia é celebrado com um tema diferente, escolhido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que busca destacar questões urgentes e mobilizar ações práticas. 

Em 2025, o Dia Mundial do Meio Ambiente traz como tema central “Acabar com a Poluição Plástica” (Ending Plastic Pollution), reforçando a urgência de enfrentar um dos maiores desafios ambientais da atualidade. A escolha do tema reflete a crescente preocupação global com os impactos do plástico nos ecossistemas, na biodiversidade e na saúde humana. Estima-se que mais de 430 milhões de toneladas de plástico sejam produzidas anualmente, sendo que dois terços desse volume correspondem a produtos de curta duração, que rapidamente se tornam resíduos, poluindo oceanos e entrando na cadeia alimentar humana. A campanha de 2025 busca mobilizar governos, empresas e cidadãos a adotarem medidas concretas para reduzir o uso de plásticos descartáveis, promover alternativas sustentáveis e fortalecer políticas públicas voltadas à gestão adequada dos resíduos. A República da Coreia será o país anfitrião das celebrações globais, destacando-se por iniciativas como o projeto “Ilha Jeju Zero Plástico 2040”, que visa eliminar o uso de plásticos na ilha até 2040 por meio de regulamentações mais rígidas, melhorias na gestão de resíduos e sistemas inovadores de reciclagem. Além disso, a Coreia do Sul sediará a quinta sessão do Comitê Intergovernamental de Negociação sobre Poluição Plástica, com o objetivo de desenvolver um instrumento internacional juridicamente vinculante para combater a poluição por plásticos, conforme estabelecido pela resolução 5/14 da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente. 

Essas ações reforçam o compromisso global com a construção de um futuro mais limpo, saudável e sustentável para as próximas gerações. O Dia Mundial do Meio Ambiente se consolidou como um momento fundamental para refletir sobre o impacto das atividades humanas nos ecossistemas e para inspirar mudanças em favor da preservação da vida e do equilíbrio ambiental no planeta.

domingo, 11 de maio de 2025

Conversando com o ChatGPT sobre BALÕES BIODEGRADÁVEIS!

Pergunta: Balões de material biodegradável, que podem ser usados em eventos e soltos no ambiente sem causar problemas ambientais, realmente existem?

Resposta: Sim, balões feitos de material biodegradável existem, mas é importante esclarecer alguns pontos:

1. Látex natural é biodegradável, mas...

Muitos balões são feitos de látex natural, um produto extraído da seringueira (Hevea brasiliensis). Esse tipo de látex é biodegradável, ou seja, pode se decompor naturalmente com o tempo, especialmente sob condições ideais de umidade, calor e presença de micro-organismos.

  • Estudos indicam que balões de látex podem levar de 6 meses a 4 anos para se decompor completamente, dependendo do ambiente.

  • Sendo assim, esse processo de biodegradação do material não é imediato, e enquanto o balão estiver intacto, pode causar danos à fauna se ingerido por animais.


2. Biodegradável não significa inofensivo

Mesmo balões biodegradáveis podem causar problemas ambientais:

  • Animais (como aves, tartarugas e mamíferos marinhos) podem confundir fragmentos de balões com alimento e sofrer obstruções intestinais ou asfixia. O mesmo acontece com animais que também são de regiões de terra firme como matas, cerrados e campos abertos. Sem contar com o risco da formação de microplásticos, hoje sabidamente de relevante potencial agressivo.

  • Fitas plásticas ou barbantes presos aos balões muitas vezes não são biodegradáveis, permanecendo no ambiente por muito tempo.

3. Soltar balões ainda é prejudicial

Mesmo os de látex natural, não devem ser soltos no ambiente. Organizações ambientais e especialistas alertam que não há forma segura de liberar balões ao ar livre, pois eles quase sempre acabam em locais inadequados, como oceanos, rios ou áreas naturais.

IMPORTANTE LEMBRAR: Biodegradação x Fragmentação

  • A biodegradação verdadeira envolve a quebra completa do material em compostos mais simples (como CO₂ e água), graças à ação de micro-organismos.

  • A fragmentação (como ocorre com muitos plásticos e até parte dos balões de látex industrializados) é a quebra em pedaços menores, sem que esses resíduos desapareçam — formando microplásticos.


Conclusão:

  • Sim, existem balões biodegradáveis, geralmente feitos de látex natural.

  • Não, soltar esses balões na natureza não é ambientalmente seguro, mesmo que biodegradáveis.

  • Para eventos sustentáveis, o ideal é usar decorações reutilizáveis e evitar práticas que envolvam liberar objetos no meio ambiente.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

O lixo é sempre coletável? Limpou, tá novo? (Mais sobre a questão do lixo na Serra de Santa Helena.)

(ESCLARECIMENTO: Fui obrigado a "ressuscitar" esta postagem depois da que ouvi, vindo de dentro da prefeitura: que a sujeira após a festa da Serra de Santa  Helena não é problema ambiental... pois a prefeitura foi lá e varreu tudo depois. DEVE TER VARRIDO TAMBÉM AS DEZENAS DE LITRO DE ÓLEO DE FRITURA QUE SE INFILTRARAM NO TERRENO! DEVE TER VARRIDO UM POUCO DE EDUCAÇÃO PARA DENTRO DE QUEM SUJOU A SERRA E NÃO ESTÁ NEM AÍ PARA O MEIO AMBIENTE QUER SEJA NATURAL OU URBANO! DEVE TER VARRIDO SEM GASTAR UM CENTAVO DOS IMPOSTOS QUE PAGAMOS! FRANCAMENTE!!! QUE DESPREPARO!!! A postagem original é de 2013.)

Muitas pessoas têm discutido as fotos postadas aqui no blog e pelo MUTIRÃO CIDADANIA sobre o lixo gerado na Festa da Serra de Santa Helena, ocorrida na última semana. Geralmente, as pessoas se dividem entre aquelas que condenam totalmente a quantidade de lixo gerada (me incluo entre essas pessoas) e aquelas que acham que é "um exagero, pois é só varrer e coletar o lixo". 
A questão fundamental é que o segundo grupo de pessoas (as que acham que "limpou, tá novo!") não estão conseguindo captar a dimensão do problema. Não as culpo, trata-se de ignorância (no sentido de ignorar ou não ter conhecimento) a respeito do tal lixo espalhado. Como todos os habituais frequentadores do blog sabem, sou biólogo e professor, portanto a preocupação com a educação ambiental é uma constante aqui no blog. Posso enumerar alguns aspectos, ilustrando-os com fotos e um vídeo, espero que fique mais didático e fácil de entender. 

1) CERTOS LIXOS NÃO TÊM COMO SER RECOLHIDOS! É o caso dos poluentes que se infiltram no solo, como o óleo de fritura usado que é descartado no chão. Esse óleo infiltra no solo e, no caso específico, está contaminando nossa "caixa d'água", ou seja, a área de recarga dos nossos lençóis subterrâneos. Dessa forma, coloca-se, ano após ano, um tipo de poluente que pode contaminar as inúmeras nascentes da Serra de Santa Helena. Sem contar o risco sobre o aquífero mais profundo, de abastecimento da cidade.

 Fotos: Marta Villefort

2) ALGUNS LIXOS ALIMENTAM O FOGO DURANTE OS INCÊNDIOS NA ENCOSTA DA SERRA DE SANTA HELENA! Papel e plástico ajudam a aumentar a intensidade do fogo em alguns pontos, dificultando o combate e aumentando a temperatura por mais tempo junto às árvores da encosta. No caso específico dos incidentes da última semana, encontramos as caixas de papelão usadas para a distribuição dos copos plásticos de água durante a subida da procissão, os próprios copos plásticos e os "canudos" de papelão dos fogos de artifício jogados na mata. Esse tipo de lixo é frequentemente esquecido pela "limpeza pública" que só remove o lixo das ruas e calçadas.


 Fotos: Ramon L. O. Junior

3) LIXOS QUE COLOCAM EM RISCO OS BRIGADISTAS QUE VÃO COMBATER OS INCÊNDIOS NA ENCOSTA DA SERRA DE SANTA HELENA! Nessa categoria estão as garrafas de vidro. Inúmeras garrafas e seus cacos foram coletadas na encosta da serra e muitas outras ainda devem estar por lá. Também não são alvo da "limpeza pública", mas podem provocar sérios ferimentos nos brigadistas e também, é claro, nos animais em fuga dos incêndios e nas crianças que, inadvertidamente brincam na área. 

Foto: Ramon L. O. Junior

4) OS PEQUENOS LIXOS QUE PODEM SER INGERIDOS POR ANIMAIS, PROVOCANDO SUA MORTE! São papéis de bala, tampinhas, fragmentos de plástico ou de vidro... materiais brilhantes que atraem os pássaros e outros animais e podem por eles ser ingeridos. Isso encontramos por toda parte. No caso da Serra de Santa Helena, ainda chama atenção a enorme quantidade de preservativos (evidentemente usados) encontrados em alguns locais. Abaixo, o link para um vídeo onde são registradas as mortes de aves marinhas pela ingestão de lixo desse tipo... chocante. São apenas 4 minutos do seu tempo. Vale a pena ver.


E então? Deu para entender toda a nossa preocupação com o lixo? E nessa conversa não paramos para discutir a questão do lixo que armazena água e serve como local de proliferação dos mosquitos transmissores de doenças (como a dengue, né?). É isso.

Ramon Lamar de Oliveira Junior

TURISMO, CULTURA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL DEVEM ANDAR DE MÃOS DADAS!