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terça-feira, 16 de dezembro de 2025

PROVAS DO SERIADO UFMG E LINK PARA PROVAS ANTERIORES DO VESTIBULAR UFMG

A exemplo da nossa postagem mais famosa (TODAS AS PROVAS DO ENEM), vamos colocar aqui as provas do Seriado UFMG, sem enrolação!!!

Vista aérea de parte do Campus Pampulha da UFMG

*** ETAPAS DO PERÍODO 2025-2027

        PROVA SERIADO ETAPA 1 DO PERÍODO 2025-2027: CLIQUE AQUI


*** VESTIBULAR UFMG TRADICIONAL

        COLETÂNEA DE PROVAS ANTERIORES DO VESTIBULAR UFMG: CLIQUE AQUI


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CURSO PARA O SERIADO UFMG 2025 - QUESTÕES ABORDADAS NO CURSO E RELACIONADAS COM A PROVA DO SERIADO UFMG

Seguem algumas das questões abordados no curso e que estão relacionadas com as que caíram na Prova do Seriado 2025 UFMG. Claro que, além das questões, há todo o comentário relativo à resolução das mesmas que fez com que a assertividade do curso fosse ainda maior!




 

 

 




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segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

SERIADO UFMG 2025 - GABARITO COMENTADO - SUJEITO A ALTERAÇÕES

A COPEVE/UFMG divulgou as provas da primeira etapa do Seriado 2025 e a sugestão inicial de gabarito (sujeito a recursos). Seguem-se alguns comentários sobre as questões de Biologia e Química.

BIOLOGIA





Analisando o "conjunto da obra" fica a impressão que a prova foi feita por pessoas que não estão acostumadas a lecionar para o Primeiro Ano do Ensino Médio. A presença dos Domínios e a questão sobre conceituação de espécie e população não são típicas do ensino nessa etapa escolar.

Fica a impressão também que a prova foi feita mais para enganar os professores que prepararam seus alunos para essa prova (ou para favorecer os alunos de escolas públicas que têm poucas aulas por semana e não conseguem, às vezes, ver todo o programa). Agora... que falta de criatividade na questão dos polissacarídeos, hein?

A ausência de questões sobre Proteínas e Ácidos Nucléicos, Organelas Celulares, Metabolismo Energético e Divisão Celular - temas dos mais estudados e importantes dessa etapa do ensino - fez com que a prova não avaliasse realmente o aprendizado do Primeiro Ano do Ensino Médio. Mas quem assistiu, ou só teve, o primeiro mês de aulas... acertaria metade da prova.

Três questões classificadas como fáceis ou médias e uma questão (a do ligre) claramente fora dos objetivos do primeiro ano médio. 

QUÍMICA





Três questões entre fáceis e médias... e uma questão muito difícil. 
Contudo, a prova de química mostra-se mais bem elaborada que a prova de biologia.
Infelizmente, para o bem do ensino da química e da estequiometria, poderiam ter colocado uma questão mais acessível do tema. Passa a impressão que estequiometria é difícil mesmo... e que não adianta estudar que você vai errar. Lamentável só nesse aspecto. O resto, tranquilo e dentro do esperado.

Ramon Lamar de Oliveira Junior

PS.: Ainda estou procurando a tal INTERDISCIPLINARIDADE tão falada no Documento Norteador. Houve uma mistura de fermentação (biologia/química) na questão do bolo... mas nada muito criativo. A questão discursiva (ou seria melhor chamar de "Proposta de Redação") perdeu uma boa oportunidade de ser realmente interdisciplinar. Colocar a palavra ecossistema numa pergunta, não a transforma em interdisciplinar. Espero que as questões discursivas da Terceira Etapa realmente consigam medir o aprendizado necessário para o curso superior nas áreas específicas.

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Aranhas: Loxosceles (Aranha-marrom)

(Esta postagem foi feita em 05.03.2011, mas pela atualidade e pelo surgimento recentes de casos de acidentes no período, foi elevada momentaneamente para as primeiras posições do blog para facilitar acesso.)

Vou começar esse post de uma forma diferente. Segue abaixo o relato do artista plástico Luciano Diniz (condensei algumas partes). Esse relato foi publicado na comunidade do Orkut sobre os “Causos de Sete Lagoas”:
Resolvi abrir um depósito que tenho na entrada do meu atelier para uma faxina de rotina, e eis que me deparo com o local infestado de aranhas. Matei muitas, ou quase todas pensei eu, mas no dia seguinte me apareceu uma mancha esbranquiçada na lateral externa do pé direito, bem na junta. Lembrei-me então de um vídeo que vi sobre o assunto, do sintoma aparente do efeito de uma aranha pica o ser humano, e me dirigi à uma farmácia para me medicar. Tomei comprimidos, passei pomadas, e fiquei tranquilo que em alguns dias aquilo estaria desaparecido.
Mas nada disso ocorreu, ao contrário, foi só piorando, passei por 8 médicos que não descobriam o que eu tinha, mesmo avisando estar desconfiado da aranha. Fiz todo tipo de exame possível, e tudo estava perfeito, glicose, triglicérides, colesterol, etc, tudo em ordem e o pé só piorando, o que era um mistério, pois tinha saúde excelente, frequentava há anos a academia, boa alimentação. E fui só piorando, veio uma bengala, depois as muletas, até que caí de cama, sem conseguir andar e a ferida só aumentando, até então já contornando por trás até quase o peito do pé, e uma dor insuportável.
Finalmente, descobri que havia sido realmente vítima de uma aranha. Graças eu ter uma saúde excelente devido à alimentação e a malhação, me salvei. Poderia ter morrido ou perdido o pé.
Fui então enviado imediatamente a um cirurgião que me operou e retirou todo o tecido necrosado e envenenado. Fiquei 32 dias imóvel sobre uma cama sentindo dores desesperantes, pois só sobraram os nervos sobre os ossos ao retirar toda a carne já dissolvendo e necrosando, mais 6 meses de cama em recuperação, e mais de um ano nas muletas. Hoje me sinto praticamente um deficiente físico, pois não tenho mais os movimentos do pé, ainda ando com dificuldade, mas pelo menos estou vivo e andando, graças à Deus.
Muito provavelmente o nosso amigo Luciano foi vítima da aranha-marrom (gênero Loxosceles). A aranha-marrom, pertencente à família Sicariidae, também é conhecida como aranha-violino (devido a uma mancha escura em forma de violino que geralmente está presente no dorso do animal). Essa aranha é originalmente de ambiente cavernícola, entretanto já se adaptou ao interior de nossas residências. É uma das poucas aranhas que se alimentam de insetos mortos (a maioria come insetos vivos) que ela encontra com facilidade em nossas casas. A lagartixa de parede é o predador dessa aranha no ambiente doméstico. A Loxosceles possui tamanho total (corpo e patas) entre 3 a 4 centímetros no máximo.

Loxosceles. Observe a mancha dorsal em forma de violino (nem sempre é bem visível). Crédito da foto: Ubirajara de Oliveira (Bira) - Laboratório de Aracnologia - ICB/UFMG.

Nas nossas casas ela habita normalmente os armários, guarda-roupas, atrás de quadros e entre as telhas (quando não há laje). Normalmente é dócil, não ataca. Porém, se comprimida contra o corpo ela inocula o veneno. A picada não dói, pois as quelíceras são muito pequenas e não provocam dor ao penetrar na pele.  O veneno também não é neurotóxico, como o da armadeira. Mas a picada deixa o veneno que é NECROSANTE. Assim, de 24 a 48 horas depois da picada seguem os sintomas iniciais descritos pelo Luciano, inicia-se com uma mancha parecendo mármore. Depois vai complicando e chega a necrosar toda a pele.
Médicos e farmacêuticos normalmente não têm informação sobre esse tipo de acidente. Geralmente confundem com furúnculo ou cabelo encravado e não dão muita importância. Na dúvida, recorra ao HPS João XXIII em BH e mostre a lesão. Eles conhecem bem esses casos pois são assessorados pelos biólogos da UFMG e são a referência para esse tipo de acidente. Acredite, biólogos conhecem mais esses casos do que os médicos, afinal de contas, se expõem mais a esses acidentes em cavernas e tal. Não há nos Cursos de Medicina, uma disciplina que trate com detalhes desses casos. O pessoal do Laboratório de Aracnologia da UFMG montou um curso excelente sobre o assunto. Fiz o curso e estive presente em algumas aulas em outras vezes que foi oferecido. Infelizmente, nas turmas que frequentei, nenhum matriculado era aluno do curso de medicina. Só biólogos mesmo e alguns curiosos interessados no assunto (inclusive meu aluno Saulo - que de vez em quando dá as caras aqui no blog).
A procura dessas aranhas em nossas casas é importante. Não as confunda com aquelas aranhas pernudas que ficam no canto das paredes, quase lá no teto. Aquelas - Pholcus phalangioides - não fazem nadinha, no máximo nos ajudam comendo pernilongos. Procure cuidadosamente (use luvas) atrás de quadros na parede. Nossos colegas biólogos do Laboratório de Aracnologia da UFMG coletaram mais de 300 numa casa de alto padrão no bairro Mangabeiras em BH, sem nenhum acidente na casa, pois as aranhas não atacam. Só picam, como já mencionei, se pressionadas contra nosso corpo (dentro de sapatos, roupas...).

Uma Loxosceles perto de sua teia onde deposita ovos. O corpo é pequeno, cerca de 8 a 10 milímetros. Mas as pernas são alongadas.
Crédito da foto: Ubirajara de Oliveira (Bira) - Laboratório de Aracnologia - ICB/UFMG.

O tratamento é a inoculação do soro anti-loxosceles até no máximo 48 horas do acidente. Pode usar o soro depois, mas o efeito será menor e algum grau de ferida vai se estabelecer. Ou seja, vá para o HPS João XXIII, rápido. Farmácias, remedinhos e pomadinhas não farão nenhum efeito. No máximo, poderão evitar a infecção por bactérias quando a ferida estiver gigante.




Ao lado, imagens chocantes de lesões tegumentares causadas pela Loxosceles. Eu não aconselho, mas se tiver estômago, clique na imagem para ampliar. Não consegui os créditos das duas primeiras imagens, quem souber, por favor me informe. As demais estão devidamente referenciadas. Febre, dor, edema local, mancha avermelhada, irritabilidade, taquicardia, náuseas e vômitos são sinais e sintomas que costumam acompanhar o desenvolvimento das lesões.



Felizmente (bom, melhor seria não ter acontecido, claro!), nosso amigo Luciano foi vítima da forma Tegumentar, ou seja, "apenas" lesões de pele (mas que foram muito graves). Em 2% dos casos pode se estabelecer a forma Visceral, ou seja, o veneno ataca os órgãos internos, em especial o fígado e os rins causando sintomas sérios e progressivos: febre alta e persistente, destruição das hemácias, com consequente anemia e icterícia, perda de proteínas na urina, acidose metabólica, desequilíbrio hidroeletrolítico e crise hipertensiva. Arritmia cardíaca completa e agrava o quadro. A urina fica escura como na Hepatite ("urina de coca-cola") e o prognóstico é grave, especialmente em crianças e idosos, muitas vezes culminando em óbito.

OBSERVAÇÃO

Recentemente tenho recebido várias fotos de aranhas para identificação. O pessoal realmente se preocupa muito com a aranha-marrom. Mas não é toda aranha de coloração marrom que é a perigosa Loxosceles. Entre as aranhas que são muito confundidas com a aranha-marrom está a aranha-cuspideira. 
A aranha-cuspideira também é uma aranha pequena, amarronzada, mas seu cefalotórax é mais alto do que o cefalotórax da aranha-marrom. É possível perceber isso em fotos "de perfil". Mas a cuspideira também tem 3 pares de olhos. E a cuspideira não tem a famosa mancha em forma de violino. 

Sendo assim: 
  • O cefalotórax da aranha-marrom (Loxosceles) é plano ou levemente achatado, com formato mais oval ou em violino, sem a elevação pronunciada que caracteriza a aranha-cuspidora.
  • Aranha-cuspidora (Scytodes) → cefalotórax abaulado e alto, lembrando uma “cúpula”.
  • Aranha-marrom (Loxosceles) → cefalotórax baixo e plano, com o desenho em forma de violino (na região dorsal anterior).
  • Essa diferença de formato é uma das características visuais mais úteis para distingui-las, especialmente quando observadas de perfil.
 Ramon Lamar de Oliveira Junior



OUTRAS IMAGENS COMPARATIVAS


sexta-feira, 19 de setembro de 2025

AINDA SOBRE EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES

Existem várias teorias sobre a evolução das espécies. É um assunto recorrente nos vestibulares e os estudantes têm que saber interpretar os fatos à luz de cada teoria. As mais famosas são o Evolucionismo de Lamarck, o Evolucionismo de Darwin e Wallace e a Teoria Sintética da Evolução (Neo-Darwinismo). 

Os postulados principais de cada uma são:

Lamarck
Lei do uso e desuso → estruturas usadas se desenvolvem, não usadas atrofiam.
Herança dos caracteres adquiridos → características adquiridas ao longo da vida passam aos descendentes.
Adaptação como resposta direta ao ambiente.

Darwin e Wallace
Existem variações entre os indivíduos da mesma espécie → todos os indivíduos diferem em vários aspectos anatômicos e funcionais.
Na natureza nascem mais indivíduos do que o ambiente suporta
Ocorre a luta pela sobrevivência → competição por recursos limitados.
Seleção natural → os mais adaptados sobrevivem, reproduzem e deixam mais descendentes.
As características mais adaptativas passam para os descendentes.

Teoria Sintética (Neodarwinismo)
As variações são produzidas pelas mutações e recombinação de genes → fontes principais da variabilidade. (Variabilidade genética → matéria-prima para a evolução.)
Seleção natural → atua sobre fenótipos, moldando frequências gênicas.
As características mais adaptativas passam para os descendentes de acordo com as leis da genética e se fixam nas populações de acordo com os postulados da genética de populações.

Comparação clássica das teorias de Lamarck e Darwin e Wallace.


Como as três teorias explicariam uma situação-modelo como "a existência de peixes albinos em rios no interior de cavernas"?

ENUNCIADO: “Em um rio subterrâneo dentro de uma caverna foram encontradas populações de peixes albinos (sem pigmentação). Explique, segundo as teorias evolutivas de Lamarck, Darwin e a Teoria Sintética, como se justificaria a presença desses animais.”

Respostas:

Lamarck: Os peixes que viviam no escuro deixaram de usar a capacidade de produzir pigmentação (que não é necessária nesse ambiente), e essa capacidade foi desaparencendo ("se atrofiando") com o tempo (lei do uso e desuso). As características adquiridas (perda de pigmento = albinismo) foram transmitidas aos descendentes (herança dos caracteres adquiridos), originando uma população de peixes albinos.

Darwin e Wallace: Existiam variações naturais entre os peixes, alguns com menos pigmento e outros com mais pigmento. No ambiente escuro da caverna, a pigmentação não traz vantagem (nem proteção e nem camuflagem); indivíduos albinos sobreviveram e se reproduziram normalmente. Com o tempo, a seleção natural favoreceria a predominância dos albinos (pois têm vantagem por não gastar energia produzindo pigmento).

Teoria Sintética: Mutação e recombinação gênica originaram indivíduos albinos de forma completamente aleatória (casual). A ausência de luz eliminou a vantagem da pigmentação, e a seleção natural permitiu que os genes do albinismo se fixassem, passando para a descendência. Além disso, o isolamento reprodutivo na caverna reduziu o fluxo gênico com populações externas, favorecendo a manutenção do caráter albino.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

CHARLES DARWIN

Charles Darwin nasceu em 12 de fevereiro de 1809, em Shrewsbury, Inglaterra, filho de Robert Darwin, médico respeitado, e Susannah Wedgwood, da famosa família de porcelanas Wedgwood. Era o quinto de seis filhos. Quando tinha apenas oito anos, perdeu a mãe, Susannah, em 1817, um evento que marcou profundamente sua infância. Apesar dessa perda, Darwin recebeu apoio dos tios e da família estendida, especialmente da família Wedgwood, que valorizava educação, curiosidade intelectual e incentivo às ciências. Esse ambiente familiar estimulante foi fundamental para o desenvolvimento precoce do interesse de Darwin pela natureza, mesmo sem a presença materna.

Darwin iniciou seus estudos em escolas locais e posteriormente na Shrewsbury School, onde se destacou mais por sua curiosidade natural do que pelo desempenho acadêmico formal. Em 1825, ingressou na Universidade de Edimburgo, para estudar medicina, conforme o desejo de seu pai, mas rapidamente percebeu que não se adaptava à prática médica. Achava as cirurgias traumáticas e pouco interessantes, o que desviou seu interesse para atividades intelectuais e científicas, especialmente a botânica e a história natural. Durante sua permanência em Edimburgo, Darwin participou de clubes de história natural, colecionou insetos e plantas, e teve contato com naturalistas que alimentaram seu gosto pela pesquisa.

Em 1828, Darwin transferiu-se para a Universidade de Cambridge, com o objetivo de se formar como clérigo da Igreja da Inglaterra, profissão respeitável e segura socialmente. Em Cambridge, frequentou cursos de teologia e filosofia, mas encontrou verdadeira paixão nas atividades de história natural. Foi nesse período que conheceu John Stevens Henslow, mentor fundamental que o introduziu à botânica, geologia e técnicas de coleta científica. Henslow também o recomendou para a viagem no HMS Beagle, que se tornaria decisiva para sua carreira científica.

Durante a viagem do Beagle (1831–1836), Darwin estabeleceu uma relação profissional e pessoal importante com o capitão Robert FitzRoy. FitzRoy, líder da expedição, era um homem disciplinado e de convicções religiosas fortes, mas reconhecia a competência científica de Darwin. Apesar de diferenças de opinião — FitzRoy era profundamente religioso e cético quanto às ideias evolucionistas —, os dois mantiveram um relacionamento de respeito. Essa convivência proporcionou a Darwin experiências práticas de coleta e observação em regiões diversas, desde a Patagônia e Chile até as ilhas Galápagos, consolidando sua capacidade de análise e percepção das variações entre espécies.

 
H.M.S. Beagle

Após retornar da viagem, Darwin se dedicou à análise de suas coleções e à escrita de artigos científicos. Em 1848, com a morte do pai, Robert Darwin, Charles ganhou independência financeira, o que permitiu dedicar-se inteiramente à pesquisa sem preocupações profissionais externas. Essa liberdade foi crucial para o desenvolvimento de suas ideias sobre seleção natural.

Em 1839, Darwin casou-se com Emma Wedgwood, sua prima de primeiro grau, membro da mesma família intelectual que o apoiou na infância. Emma era profundamente religiosa e preocupada com a moralidade e bem-estar familiar. O casamento, embora afetuoso, trouxe consigo algumas preocupações genéticas. Diversos estudiosos e biógrafos sugerem que alguns problemas de saúde de seus filhos possam ter sido agravados pelo casamento consanguíneo, uma prática relativamente comum na época entre famílias da elite. A família Darwin enfrentou trágicas perdas, incluindo a morte de alguns filhos ainda jovens, eventos que afetaram profundamente a vida pessoal de Darwin, embora ele continuasse seu trabalho científico com disciplina e dedicação.

Darwin, em 1854

A vida familiar de Darwin, incluindo o apoio de Emma e a convivência com filhos doentes, contrasta com sua intensa atividade científica. Ele conseguia manter a rotina de pesquisas, observações e correspondência com naturalistas do mundo inteiro, mesmo diante das dificuldades pessoais. Emma, embora profundamente religiosa, apoiava Darwin e administrava a casa, garantindo que ele tivesse tempo e estabilidade para sua pesquisa.


Entre 1836 e 1859, Darwin consolidou suas ideias sobre evolução. A correspondência com outros naturalistas, a análise meticulosa de suas coleções do Beagle e os estudos de variação em plantas e animais o levaram à formulação da teoria da seleção natural, culminando na publicação de A Origem das Espécies em 1859. A trajetória de Darwin evidencia a interação entre contexto familiar, apoio de tios e esposa, mentorias acadêmicas, independência financeira e experiências práticas de campo. Essa combinação permitiu que ele se tornasse um naturalista cuja obra transformou a biologia moderna.

Amigos, colegas e "discípulos"

Durante sua carreira, Charles Darwin não esteve sozinho em suas investigações científicas. Ele manteve uma extensa rede de amigos, colegas e correspondentes que contribuíram significativamente para o desenvolvimento de suas ideias. Muitos desses contatos eram cientistas renomados da época — naturalistas, geólogos, botânicos e biólogos — cujas observações ajudaram Darwin a fortalecer suas teorias.

Entre os amigos mais próximos estava Joseph Dalton Hooker, botânico britânico e confidente de Darwin, que ofereceu críticas construtivas e validou suas conclusões sobre a evolução das plantas. Outro grande aliado foi Thomas Henry Huxley, que se tornaria famoso como o “cão de combate” da teoria darwiniana, defendendo publicamente a evolução e formando uma geração de jovens cientistas interessados na biologia evolutiva.

Darwin também manteve uma amizade e intensa correspondência com Asa Gray, botânico americano que se tornou um defensor crucial da teoria da seleção natural nos Estados Unidos. Gray ajudou a interpretar a teoria de Darwin em termos botânicos e espirituais, conciliando ciência e religião para muitos leitores americanos, o que ampliou significativamente a aceitação de suas ideias.

Além desses, Darwin interagiu com inúmeros naturalistas e pesquisadores ao redor do mundo, como Alfred Russel Wallace, que independentemente chegou a conclusões semelhantes sobre a seleção natural, e Geoffroy Saint-Hilaire, Charles Lyell (geólogo), Richard Owen (anatômico), entre outros. A correspondência ativa e o intercâmbio de espécimes e observações transformaram Darwin em um verdadeiro núcleo de uma rede científica global.

Darwin também inspirou diretamente futuros “discípulos” que deram continuidade ao estudo da evolução, como os jovens naturalistas da Inglaterra, América e Europa que seguiram seu trabalho em diversas áreas da biologia, ecologia e paleontologia. Além dos grandes nomes, ele contou com a colaboração de amadores e naturalistas locais que coletavam espécimes e enviavam dados valiosos, antecipando uma forma de ciência colaborativa que se tornaria modelo no futuro.

Em resumo, Darwin não foi um solitário pensador; foi o centro de uma comunidade científica em expansão. Seus amigos, correspondentes e discípulos — de Hooker e Huxley a Gray e Wallace — garantiram que suas ideias sobre evolução e seleção natural alcançassem reconhecimento mundial e permanecessem influentes até os dias de hoje.

Darwin e a "perseguição" religiosa

Charles Darwin enfrentou, ao longo de sua vida, tensões religiosas consideráveis, embora falar em “perseguição” no sentido de ataques físicos ou legais não seja exatamente preciso. A oposição foi sobretudo intelectual e social, ligada ao choque entre suas ideias sobre evolução e os ensinamentos religiosos predominantes.

Darwin nasceu em uma família anglicana, embora pessoalmente tenha se tornado cada vez mais cético em relação à religião organizada ao longo de sua vida. Sua teoria da seleção natural, apresentada em A Origem das Espécies (1859), questionava a interpretação literal da Bíblia sobre a criação, o que gerou resistência da Igreja Anglicana, instituição dominante na Inglaterra vitoriana. Clero, estudiosos e parte do público religioso reagiram com críticas severas, considerando a ideia de evolução uma ameaça à moral e à ordem divina.

Alguns debates famosos ilustram essa tensão: por exemplo, o confronto público entre Thomas Huxley (defensor de Darwin) e o bispo Samuel Wilberforce na Oxford Debate de 1860, que se tornou símbolo do embate entre ciência e religião. Embora não tenha havido perseguição legal formal, Darwin evitou frequentemente discussões públicas sobre religião para proteger sua reputação e manter sua pesquisa em foco, mostrando sua prudência diante do clima religioso da época.

No entanto, é importante notar que a oposição não veio majoritariamente do catolicismo, que tinha menor influência na Inglaterra vitoriana, mas sim da anglicana e de setores protestantes conservadores. Darwin próprio manteve relações cordiais com alguns religiosos que aceitavam ou conciliavam a ciência com a fé, como Asa Gray, que via compatibilidade entre seleção natural e crenças religiosas.

O homem veio do macaco?

Charles Darwin começou a considerar a evolução humana de forma teórica já nos anos 1830–1840, durante e após a viagem do Beagle, mas publicou formalmente sobre o tema apenas em 1871, em seu livro A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo (The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex). Nesse livro, Darwin expandiu suas ideias da seleção natural para explicar a origem do homem, abordando aspectos físicos e mentais, e introduziu conceitos de seleção sexual para explicar características humanas, como diferenças entre sexos, comportamento social e capacidades cognitivas. Ele também tratou da origem das emoções humanas e da continuidade entre humanos e outros primatas, reforçando que o ser humano não ocupava uma posição separada da natureza, mas sim resultava de processos evolutivos semelhantes aos observados em outros animais.

Representações feitas por Darwin para uma "árvore da vida".

É nesse contexto que surge a famosa, mas simplificada e muitas vezes distorcida, “ideia do macaco”: a percepção popular de que Darwin teria afirmado que “o homem veio do macaco”. Na verdade, Darwin nunca disse que o homem descendia de macacos modernos, mas sim que humanos e macacos atuais têm ancestrais comuns. A confusão surgiu da forma como suas ideias foram interpretadas pelo público e pela imprensa da época, especialmente por críticos religiosos que queriam ridicularizar suas teorias.

Vale destacar que, embora a obra tenha causado enorme polêmica, Darwin já havia sugerido ideias sobre a evolução do homem de forma mais indireta em correspondências e notas, especialmente a partir da publicação de A Origem das Espécies (1859), mas evitou, naquele momento, entrar em detalhes explícitos sobre a espécie humana para não inflamar críticas religiosas e sociais.

E depois de Darwin???

As teorias de evolução não terminam com Darwin. Ele lançou as bases da compreensão científica da evolução com a seleção natural, mas o desenvolvimento da biologia evolutiva continuou por décadas e se expandiu com descobertas posteriores. Darwin propôs que as espécies mudam ao longo do tempo por meio da seleção natural: indivíduos com características vantajosas sobrevivem e se reproduzem mais. Ele também explorou a seleção sexual e a evolução humana em A Descendência do Homem (1871). No entanto, Darwin não conhecia os mecanismos genéticos precisos, pois Gregor Mendel ainda não havia sido redescoberto e a genética moderna ainda não existia.

A redescoberta dos trabalhos de Mendel em 1900 permitiu que pesquisadores como Hugo de Vries, Carl Correns e Erich von Tschermak confirmassem os princípios da herança genética, e a partir daí a evolução de Darwin começou a ser combinada com a genética mendeliana, dando origem à síntese moderna da evolução, consolidada nas décadas de 1930 e 1940 por cientistas como Theodosius Dobzhansky, Ernst Mayr, Julian Huxley e George Simpson. A síntese moderna integrava genética, seleção natural, paleontologia e sistemática, explicando como a variação genética dentro das populações é o combustível para a evolução e permitindo compreender adaptação, especiação e história evolutiva de forma quantitativa e rigorosa.

Um avanço decisivo nesse período foi a contribuição de Thomas Hunt Morgan, que estudou a herança genética utilizando a mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster). Morgan demonstrou experimentalmente que os genes estão localizados nos cromossomos e que mutações podem gerar variação hereditária dentro das populações. Seu trabalho forneceu evidências concretas de como as mudanças genéticas alimentam a evolução, reforçando e expandindo a síntese moderna ao conectar diretamente a genética clássica com os princípios darwinianos da seleção natural.

Com a descoberta da estrutura do DNA por Watson e Crick em 1953, a biologia molecular passou a influenciar a teoria evolutiva, permitindo estudar mutações genéticas, recombinação, deriva genética e migração com precisão. Surgiram campos como evolução de genes, epigenética, paleogenética e biologia evolutiva do desenvolvimento, conhecida como evo-devo. Hoje, a evolução é entendida como um processo dinâmico e multifatorial, envolvendo seleção natural, seleção sexual, deriva genética, cooperação, simbiose e mudanças ambientais rápidas.

Darwin continua sendo a base conceitual da teoria evolutiva, mas a compreensão moderna vai muito além de suas ideias iniciais, conectando ecologia, genética, paleontologia, biologia molecular e comportamento, e mostrando a evolução como um fenômeno contínuo e complexo que afeta todas as formas de vida na Terra.


Linha do Tempo de Charles Darwin

1809 – Nascimento

  • 12 de fevereiro: Nasce em Shrewsbury, Inglaterra, filho de Robert Darwin e Susannah Wedgwood, quinta de seis crianças.

1817 – Perda da mãe

  • Morte de Susannah Wedgwood.

  • Recebe apoio dos tios e da família Wedgwood, que incentivam a educação e a curiosidade científica.

1825 – Universidade de Edimburgo

  • Ingressa para estudar medicina, a pedido do pai.

  • Não se adapta à prática médica (cirurgias traumáticas).

  • Participa de clubes de história natural, coleciona insetos e plantas.

  • Desenvolve interesse por biologia experimental e botânica.

1828 – Universidade de Cambridge

  • Transfere-se para Cambridge para formar-se como clérigo da Igreja da Inglaterra.

  • Conhece John Stevens Henslow, mentor de história natural.

  • Participa de excursões botânicas e coleta científica, desenvolvendo habilidades de observação e registro de dados.

  • Começa a afastar-se do foco clerical, concentrando-se em história natural.

1831–1836 – Viagem no HMS Beagle

  • Participa como naturalista na expedição global liderada pelo capitão Robert FitzRoy.

  • Observa ecossistemas diversos, espécies endêmicas e variação entre populações.

  • Mantém uma relação de respeito e aprendizado com FitzRoy, apesar das diferenças ideológicas.

  • Coleta fósseis, plantas, animais e realiza anotações detalhadas que fundamentarão suas futuras teorias.

1836–1839 – Retorno e análise científica

  • Analisa minuciosamente coleções e dados da viagem.

  • Inicia correspondência com naturalistas e cientistas do mundo todo.

1839 – Casamento com Emma Wedgwood

  • Casa-se com sua prima Emma, membro da família Wedgwood.

  • O casamento é afetuoso, mas há preocupações com consanguinidade e saúde dos filhos.

  • A família enfrenta tragédias, incluindo a morte de alguns filhos em tenra idade, eventos que impactam emocionalmente Darwin, mas não interrompem seu trabalho científico.

1848 – Morte do pai, Robert Darwin

  • Darwin herda parte da fortuna familiar, conquistando independência financeira.

  • Ganha liberdade para se dedicar inteiramente à pesquisa, análise de dados e escrita científica.

1859 – Publicação de A Origem das Espécies

  • Depois de anos de estudo e elaboração de suas ideias sobre seleção natural, publica a obra que transforma a biologia.

Resumo da Trajetória

  • A trajetória de Darwin é marcada pela combinação de influência familiar, mentoria acadêmica, experiências de campo e independência financeira, permitindo-lhe unir observação prática e análise teórica.

  • Relações importantes:

    • Família Wedgwood e tios: incentivo à educação e ciência.

    • John Stevens Henslow: mentor acadêmico, recomendou o Beagle.

    • Capitão Robert FitzRoy: liderança da expedição e contato com perspectivas religiosas e científicas divergentes.

    • Emma Wedgwood: apoio emocional e familiar, gerenciando a casa e cuidados com os filhos.



quinta-feira, 10 de julho de 2025

O "Milagre da Planta que Chora": Entre a Gutação e o Ataque dos Insetos Sugadores

A imagem de uma planta com gotículas de água escorrendo pelas folhas remete a uma metáfora poderosa: uma planta que chora. Esse fenômeno, embora poético, tem explicações científicas bem definidas. Na maioria dos casos, essa "lágrima vegetal" está relacionada à gutação, um processo fisiológico natural. Em outras situações, pode ser resultado de infestações por insetos sugadores, que levam a planta a "sangrar" seiva doce em forma de exsudato. Compreender esses processos é fundamental não apenas para a botânica, mas também para a agricultura, jardinagem e manejo ecológico. 


1. O Que é a Gutação?

A gutação é a liberação de água líquida pelas folhas das plantas, geralmente durante a noite ou ao amanhecer. Esse processo é visível como pequenas gotas nas extremidades ou bordas das folhas, frequentemente confundidas com orvalho. A diferença fundamental é que a gutação é produzida pela própria planta, enquanto o orvalho é o resultado da condensação da umidade do ar.

Como a gutação ocorre?

Durante a noite, quando a temperatura é mais baixa e a umidade relativa do ar é alta, os estômatos — poros reguladores localizados na epiderme das folhas — permanecem fechados. Isso reduz a transpiração, que normalmente ajuda a eliminar o excesso de água. No entanto, a absorção de água pelas raízes pode continuar, especialmente em solos úmidos. O acúmulo de água no interior da planta gera uma pressão radicular positiva, forçando a água a sair por estruturas chamadas hidatódios, localizadas principalmente nas margens das folhas.

Composição do líquido expelido

Ao contrário da transpiração, que libera vapor de água, a gutação libera água líquida que contém sais minerais, aminoácidos, pequenas quantidades de açúcares e outras substâncias orgânicas. Com o tempo, essas gotículas podem deixar resíduos cristalinos ou manchas nas folhas.

Espécies em que a gutação é frequente:

- Colocásia (Colocasia esculenta) – Conhecida como taioba, exibe gotas visíveis nas pontas das folhas pela manhã.

- Morangueiro (Fragaria spp.) – Frequentemente apresenta gutação nas margens das folhas em cultivos irrigados.

- Arroz (Oryza sativa) – A gutação é comum em condições de solo alagado.

- Milho (Zea mays) – Mostra gutação em ambientes úmidos e irrigados.

- Trevos (Oxalis spp.), batata-doce (Ipomoea batatas) e algumas espécies ornamentais também apresentam o fenômeno.

 

2. Insetos Sugadores e o “Falso Choro” da Planta

Nem todo líquido observado nas folhas tem origem fisiológica natural. Muitas vezes, plantas infestadas por insetos sugadores apresentam secreções pegajosas e brilhantes que imitam o aspecto das gotas de gutação. A diferença é que, nesse caso, o líquido não é produzido pelas plantas, mas sim excretado pelos insetos após se alimentarem da seiva.

Quem são os insetos sugadores?

Esses insetos possuem aparelho bucal do tipo sugador-perfurador, que permite inserir um estilete nos tecidos vegetais (especialmente no floema) e sugar a seiva rica em açúcares. Como essa seiva é pobre em proteínas e rica em carboidratos, os insetos precisam ingerir grandes quantidades e eliminam o excesso em forma de um líquido açucarado conhecido como honeydew (ou "exsudato açucarado").

Principais grupos de insetos sugadores:

- Pulgões (Aphididae) – Pequenos e geralmente encontrados em colônias.




- Cigarrinhas (Cicadellidae) – Transmitem doenças como o enfezamento do milho.

- Cigarras (Cicadidae) – Extraem grandes volumes de seiva e excretam muito honeydew.

- Percevejos (Pentatomidae) – Alguns causam murchas e deformações.

- Mosca-branca (Aleyrodidae) – Importante vetor de viroses em hortaliças.

- Cochonilhas (Coccoidea) – Fixam-se à planta e excretam grandes quantidades de melada.

Consequências da infestação

  • Fumagina: Fungos se desenvolvem sobre o exsudato, formando uma crosta preta que impede a fotossíntese.
  • Atração de formigas: As formigas se alimentam do honeydew e passam a proteger os insetos sugadores contra predadores, formando uma relação mutualística.
  • Debilidade da planta: Perda de seiva, toxinas salivárias e transmissão de doenças debilitam a planta, podendo levar à sua morte em infestações severas.

 

3. Diferenças Visuais e Diagnóstico

Gutação vs. Exsudato de Insetos:

  • Origem: gutação (hidatódios); exsudato (insetos sugadores).
  • Aparência: gotas claras nas bordas vs. gotas pegajosas dispersas.
  • Ocorrência: madrugada/manhã vs. qualquer hora.
  • Presença de insetos: ausente vs. visível.
  • Efeitos: natural e inofensiva vs. prejudicial e sintomática.

 

4. Importância Agrícola e Ecológica

  • Na agricultura: saber identificar gutação e diferenciar de exsudatos é importante para evitar diagnósticos errados.
  • Na ecologia: a gutação pode servir de fonte de água para pequenos insetos e aranhas. Já os exsudatos açucarados alteram relações tróficas.
  • Na fisiologia vegetal: a gutação revela o funcionamento do sistema radicular e da pressão osmótica.

 

5. Curiosidade: Quando a Gutação se Torna um Problema?

Em certas situações, como em cultivos de arroz irrigado, a gutação excessiva pode facilitar o desenvolvimento de patógenos bacterianos, já que as gotas permanecem por muito tempo nas folhas, favorecendo a umidade constante. Além disso, a gutação pode carrear nutrientes para a superfície da folha, tornando-a mais atrativa para patógenos fúngicos e insetos.

 

Conclusão: Quando a Planta Chora, Devemos Ouvir

O chamado “milagre da planta que chora” é, na verdade, uma manifestação visível de processos internos complexos. A gutação é uma prova da inteligência fisiológica das plantas na regulação da água. Já os exsudatos causados por insetos revelam desequilíbrios ecológicos e são alertas para intervenção. Observar, compreender e interpretar esses sinais é essencial para agricultores, jardineiros, cientistas e todos que se interessam pela vida vegetal.

E você? Já percebeu sua planta chorando? Era um alívio natural... ou um pedido de socorro silencioso?