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segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Capins invasores no Cerrado brasileiro: a ameaça silenciosa dos capins africanos (e questão do ENEM 2025)

O Cerrado é um dos biomas mais biodiversos do planeta, abrigando milhares de espécies vegetais e animais altamente adaptadas ao clima sazonal, ao solo pobre em nutrientes e ao regime natural de queimadas. Porém, nas últimas décadas, o equilíbrio desse ambiente tem sido profundamente impactado pela chegada e expansão de gramíneas exóticas invasoras, especialmente os chamados capins africanos.

Originalmente introduzidos no Brasil para formação de pastagens, controle de erosão e até ajardinamento, esses capins encontraram no Cerrado condições ideais para se espalhar. Seu crescimento rápido, alta produção de biomassa e resistência ao fogo fazem com que dominem grandes áreas, substituindo a vegetação nativa e alterando completamente o funcionamento do ecossistema.

Por que os capins africanos são um problema?

Os capins invasores competem com as plantas nativas por luz, espaço e nutrientes. Como crescem muito mais rápido e produzem mais biomassa que a vegetação típica do Cerrado, eles:

  • Aceleram e intensificam incêndios, pois acumulam grande quantidade de matéria seca inflamável.
  • Reduzem a biodiversidade, formando grandes monoculturas e impedindo o estabelecimento de novas espécies nativas.
  • Alteram o ciclo hidrológico, já que mudam a estrutura do solo e a dinâmica da infiltração de água.
  • Favorecem a reinvasão, porque se regeneram rapidamente após queimadas ou distúrbios.

 As espécies invasoras mais comuns no Cerrado

1. Capim-gordura (Melinis minutiflora)

https://tropicalforages.info/text/entities/melinis_minutiflora.htm

2. Capim-braquiária (Urochloa spp. especialmente Urochloa decumbens e Urochloa brizantha)

Urochloa decumbens - https://plantastoxicas.com.br/urochloa-decumbens/

3. Capim-marmelada (Urochloa plantaginea)

https://www.inaturalist.org/taxa/288222-Urochloa-plantaginea

4. Capim-colonião (Megathyrsus maximus sin. Panicum maximum)

https://www.feedipedia.org/node/416

5. Capim-andropogon (Andropogon gayanus)

https://revistacultivar.com.br/

Impactos ecológicos e socioeconômicos: Além das consequências ambientais, os capins invasores influenciam atividades humanas, aumentando custos de manejo, dificultando restauração ecológica e favorecendo incêndios próximos a áreas urbanas.

Como combater os capins invasores?

O controle dessas gramíneas exige:

  • remoção manual ou mecanizada;
  • uso criterioso de herbicidas;
  • manejo integrado do fogo;
  • restauração com espécies nativas;
  • prevenção da expansão.

 

QUESTÃO DO ENEM 2025

E aí? Qual resposta você marcaria???

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

AINDA SOBRE EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES

Existem várias teorias sobre a evolução das espécies. É um assunto recorrente nos vestibulares e os estudantes têm que saber interpretar os fatos à luz de cada teoria. As mais famosas são o Evolucionismo de Lamarck, o Evolucionismo de Darwin e Wallace e a Teoria Sintética da Evolução (Neo-Darwinismo). 

Os postulados principais de cada uma são:

Lamarck
Lei do uso e desuso → estruturas usadas se desenvolvem, não usadas atrofiam.
Herança dos caracteres adquiridos → características adquiridas ao longo da vida passam aos descendentes.
Adaptação como resposta direta ao ambiente.

Darwin e Wallace
Existem variações entre os indivíduos da mesma espécie → todos os indivíduos diferem em vários aspectos anatômicos e funcionais.
Na natureza nascem mais indivíduos do que o ambiente suporta
Ocorre a luta pela sobrevivência → competição por recursos limitados.
Seleção natural → os mais adaptados sobrevivem, reproduzem e deixam mais descendentes.
As características mais adaptativas passam para os descendentes.

Teoria Sintética (Neodarwinismo)
As variações são produzidas pelas mutações e recombinação de genes → fontes principais da variabilidade. (Variabilidade genética → matéria-prima para a evolução.)
Seleção natural → atua sobre fenótipos, moldando frequências gênicas.
As características mais adaptativas passam para os descendentes de acordo com as leis da genética e se fixam nas populações de acordo com os postulados da genética de populações.

Comparação clássica das teorias de Lamarck e Darwin e Wallace.


Como as três teorias explicariam uma situação-modelo como "a existência de peixes albinos em rios no interior de cavernas"?

ENUNCIADO: “Em um rio subterrâneo dentro de uma caverna foram encontradas populações de peixes albinos (sem pigmentação). Explique, segundo as teorias evolutivas de Lamarck, Darwin e a Teoria Sintética, como se justificaria a presença desses animais.”

Respostas:

Lamarck: Os peixes que viviam no escuro deixaram de usar a capacidade de produzir pigmentação (que não é necessária nesse ambiente), e essa capacidade foi desaparencendo ("se atrofiando") com o tempo (lei do uso e desuso). As características adquiridas (perda de pigmento = albinismo) foram transmitidas aos descendentes (herança dos caracteres adquiridos), originando uma população de peixes albinos.

Darwin e Wallace: Existiam variações naturais entre os peixes, alguns com menos pigmento e outros com mais pigmento. No ambiente escuro da caverna, a pigmentação não traz vantagem (nem proteção e nem camuflagem); indivíduos albinos sobreviveram e se reproduziram normalmente. Com o tempo, a seleção natural favoreceria a predominância dos albinos (pois têm vantagem por não gastar energia produzindo pigmento).

Teoria Sintética: Mutação e recombinação gênica originaram indivíduos albinos de forma completamente aleatória (casual). A ausência de luz eliminou a vantagem da pigmentação, e a seleção natural permitiu que os genes do albinismo se fixassem, passando para a descendência. Além disso, o isolamento reprodutivo na caverna reduziu o fluxo gênico com populações externas, favorecendo a manutenção do caráter albino.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

CHARLES DARWIN

Charles Darwin nasceu em 12 de fevereiro de 1809, em Shrewsbury, Inglaterra, filho de Robert Darwin, médico respeitado, e Susannah Wedgwood, da famosa família de porcelanas Wedgwood. Era o quinto de seis filhos. Quando tinha apenas oito anos, perdeu a mãe, Susannah, em 1817, um evento que marcou profundamente sua infância. Apesar dessa perda, Darwin recebeu apoio dos tios e da família estendida, especialmente da família Wedgwood, que valorizava educação, curiosidade intelectual e incentivo às ciências. Esse ambiente familiar estimulante foi fundamental para o desenvolvimento precoce do interesse de Darwin pela natureza, mesmo sem a presença materna.

Darwin iniciou seus estudos em escolas locais e posteriormente na Shrewsbury School, onde se destacou mais por sua curiosidade natural do que pelo desempenho acadêmico formal. Em 1825, ingressou na Universidade de Edimburgo, para estudar medicina, conforme o desejo de seu pai, mas rapidamente percebeu que não se adaptava à prática médica. Achava as cirurgias traumáticas e pouco interessantes, o que desviou seu interesse para atividades intelectuais e científicas, especialmente a botânica e a história natural. Durante sua permanência em Edimburgo, Darwin participou de clubes de história natural, colecionou insetos e plantas, e teve contato com naturalistas que alimentaram seu gosto pela pesquisa.

Em 1828, Darwin transferiu-se para a Universidade de Cambridge, com o objetivo de se formar como clérigo da Igreja da Inglaterra, profissão respeitável e segura socialmente. Em Cambridge, frequentou cursos de teologia e filosofia, mas encontrou verdadeira paixão nas atividades de história natural. Foi nesse período que conheceu John Stevens Henslow, mentor fundamental que o introduziu à botânica, geologia e técnicas de coleta científica. Henslow também o recomendou para a viagem no HMS Beagle, que se tornaria decisiva para sua carreira científica.

Durante a viagem do Beagle (1831–1836), Darwin estabeleceu uma relação profissional e pessoal importante com o capitão Robert FitzRoy. FitzRoy, líder da expedição, era um homem disciplinado e de convicções religiosas fortes, mas reconhecia a competência científica de Darwin. Apesar de diferenças de opinião — FitzRoy era profundamente religioso e cético quanto às ideias evolucionistas —, os dois mantiveram um relacionamento de respeito. Essa convivência proporcionou a Darwin experiências práticas de coleta e observação em regiões diversas, desde a Patagônia e Chile até as ilhas Galápagos, consolidando sua capacidade de análise e percepção das variações entre espécies.

 
H.M.S. Beagle

Após retornar da viagem, Darwin se dedicou à análise de suas coleções e à escrita de artigos científicos. Em 1848, com a morte do pai, Robert Darwin, Charles ganhou independência financeira, o que permitiu dedicar-se inteiramente à pesquisa sem preocupações profissionais externas. Essa liberdade foi crucial para o desenvolvimento de suas ideias sobre seleção natural.

Em 1839, Darwin casou-se com Emma Wedgwood, sua prima de primeiro grau, membro da mesma família intelectual que o apoiou na infância. Emma era profundamente religiosa e preocupada com a moralidade e bem-estar familiar. O casamento, embora afetuoso, trouxe consigo algumas preocupações genéticas. Diversos estudiosos e biógrafos sugerem que alguns problemas de saúde de seus filhos possam ter sido agravados pelo casamento consanguíneo, uma prática relativamente comum na época entre famílias da elite. A família Darwin enfrentou trágicas perdas, incluindo a morte de alguns filhos ainda jovens, eventos que afetaram profundamente a vida pessoal de Darwin, embora ele continuasse seu trabalho científico com disciplina e dedicação.

Darwin, em 1854

A vida familiar de Darwin, incluindo o apoio de Emma e a convivência com filhos doentes, contrasta com sua intensa atividade científica. Ele conseguia manter a rotina de pesquisas, observações e correspondência com naturalistas do mundo inteiro, mesmo diante das dificuldades pessoais. Emma, embora profundamente religiosa, apoiava Darwin e administrava a casa, garantindo que ele tivesse tempo e estabilidade para sua pesquisa.


Entre 1836 e 1859, Darwin consolidou suas ideias sobre evolução. A correspondência com outros naturalistas, a análise meticulosa de suas coleções do Beagle e os estudos de variação em plantas e animais o levaram à formulação da teoria da seleção natural, culminando na publicação de A Origem das Espécies em 1859. A trajetória de Darwin evidencia a interação entre contexto familiar, apoio de tios e esposa, mentorias acadêmicas, independência financeira e experiências práticas de campo. Essa combinação permitiu que ele se tornasse um naturalista cuja obra transformou a biologia moderna.

Amigos, colegas e "discípulos"

Durante sua carreira, Charles Darwin não esteve sozinho em suas investigações científicas. Ele manteve uma extensa rede de amigos, colegas e correspondentes que contribuíram significativamente para o desenvolvimento de suas ideias. Muitos desses contatos eram cientistas renomados da época — naturalistas, geólogos, botânicos e biólogos — cujas observações ajudaram Darwin a fortalecer suas teorias.

Entre os amigos mais próximos estava Joseph Dalton Hooker, botânico britânico e confidente de Darwin, que ofereceu críticas construtivas e validou suas conclusões sobre a evolução das plantas. Outro grande aliado foi Thomas Henry Huxley, que se tornaria famoso como o “cão de combate” da teoria darwiniana, defendendo publicamente a evolução e formando uma geração de jovens cientistas interessados na biologia evolutiva.

Darwin também manteve uma amizade e intensa correspondência com Asa Gray, botânico americano que se tornou um defensor crucial da teoria da seleção natural nos Estados Unidos. Gray ajudou a interpretar a teoria de Darwin em termos botânicos e espirituais, conciliando ciência e religião para muitos leitores americanos, o que ampliou significativamente a aceitação de suas ideias.

Além desses, Darwin interagiu com inúmeros naturalistas e pesquisadores ao redor do mundo, como Alfred Russel Wallace, que independentemente chegou a conclusões semelhantes sobre a seleção natural, e Geoffroy Saint-Hilaire, Charles Lyell (geólogo), Richard Owen (anatômico), entre outros. A correspondência ativa e o intercâmbio de espécimes e observações transformaram Darwin em um verdadeiro núcleo de uma rede científica global.

Darwin também inspirou diretamente futuros “discípulos” que deram continuidade ao estudo da evolução, como os jovens naturalistas da Inglaterra, América e Europa que seguiram seu trabalho em diversas áreas da biologia, ecologia e paleontologia. Além dos grandes nomes, ele contou com a colaboração de amadores e naturalistas locais que coletavam espécimes e enviavam dados valiosos, antecipando uma forma de ciência colaborativa que se tornaria modelo no futuro.

Em resumo, Darwin não foi um solitário pensador; foi o centro de uma comunidade científica em expansão. Seus amigos, correspondentes e discípulos — de Hooker e Huxley a Gray e Wallace — garantiram que suas ideias sobre evolução e seleção natural alcançassem reconhecimento mundial e permanecessem influentes até os dias de hoje.

Darwin e a "perseguição" religiosa

Charles Darwin enfrentou, ao longo de sua vida, tensões religiosas consideráveis, embora falar em “perseguição” no sentido de ataques físicos ou legais não seja exatamente preciso. A oposição foi sobretudo intelectual e social, ligada ao choque entre suas ideias sobre evolução e os ensinamentos religiosos predominantes.

Darwin nasceu em uma família anglicana, embora pessoalmente tenha se tornado cada vez mais cético em relação à religião organizada ao longo de sua vida. Sua teoria da seleção natural, apresentada em A Origem das Espécies (1859), questionava a interpretação literal da Bíblia sobre a criação, o que gerou resistência da Igreja Anglicana, instituição dominante na Inglaterra vitoriana. Clero, estudiosos e parte do público religioso reagiram com críticas severas, considerando a ideia de evolução uma ameaça à moral e à ordem divina.

Alguns debates famosos ilustram essa tensão: por exemplo, o confronto público entre Thomas Huxley (defensor de Darwin) e o bispo Samuel Wilberforce na Oxford Debate de 1860, que se tornou símbolo do embate entre ciência e religião. Embora não tenha havido perseguição legal formal, Darwin evitou frequentemente discussões públicas sobre religião para proteger sua reputação e manter sua pesquisa em foco, mostrando sua prudência diante do clima religioso da época.

No entanto, é importante notar que a oposição não veio majoritariamente do catolicismo, que tinha menor influência na Inglaterra vitoriana, mas sim da anglicana e de setores protestantes conservadores. Darwin próprio manteve relações cordiais com alguns religiosos que aceitavam ou conciliavam a ciência com a fé, como Asa Gray, que via compatibilidade entre seleção natural e crenças religiosas.

O homem veio do macaco?

Charles Darwin começou a considerar a evolução humana de forma teórica já nos anos 1830–1840, durante e após a viagem do Beagle, mas publicou formalmente sobre o tema apenas em 1871, em seu livro A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo (The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex). Nesse livro, Darwin expandiu suas ideias da seleção natural para explicar a origem do homem, abordando aspectos físicos e mentais, e introduziu conceitos de seleção sexual para explicar características humanas, como diferenças entre sexos, comportamento social e capacidades cognitivas. Ele também tratou da origem das emoções humanas e da continuidade entre humanos e outros primatas, reforçando que o ser humano não ocupava uma posição separada da natureza, mas sim resultava de processos evolutivos semelhantes aos observados em outros animais.

Representações feitas por Darwin para uma "árvore da vida".

É nesse contexto que surge a famosa, mas simplificada e muitas vezes distorcida, “ideia do macaco”: a percepção popular de que Darwin teria afirmado que “o homem veio do macaco”. Na verdade, Darwin nunca disse que o homem descendia de macacos modernos, mas sim que humanos e macacos atuais têm ancestrais comuns. A confusão surgiu da forma como suas ideias foram interpretadas pelo público e pela imprensa da época, especialmente por críticos religiosos que queriam ridicularizar suas teorias.

Vale destacar que, embora a obra tenha causado enorme polêmica, Darwin já havia sugerido ideias sobre a evolução do homem de forma mais indireta em correspondências e notas, especialmente a partir da publicação de A Origem das Espécies (1859), mas evitou, naquele momento, entrar em detalhes explícitos sobre a espécie humana para não inflamar críticas religiosas e sociais.

E depois de Darwin???

As teorias de evolução não terminam com Darwin. Ele lançou as bases da compreensão científica da evolução com a seleção natural, mas o desenvolvimento da biologia evolutiva continuou por décadas e se expandiu com descobertas posteriores. Darwin propôs que as espécies mudam ao longo do tempo por meio da seleção natural: indivíduos com características vantajosas sobrevivem e se reproduzem mais. Ele também explorou a seleção sexual e a evolução humana em A Descendência do Homem (1871). No entanto, Darwin não conhecia os mecanismos genéticos precisos, pois Gregor Mendel ainda não havia sido redescoberto e a genética moderna ainda não existia.

A redescoberta dos trabalhos de Mendel em 1900 permitiu que pesquisadores como Hugo de Vries, Carl Correns e Erich von Tschermak confirmassem os princípios da herança genética, e a partir daí a evolução de Darwin começou a ser combinada com a genética mendeliana, dando origem à síntese moderna da evolução, consolidada nas décadas de 1930 e 1940 por cientistas como Theodosius Dobzhansky, Ernst Mayr, Julian Huxley e George Simpson. A síntese moderna integrava genética, seleção natural, paleontologia e sistemática, explicando como a variação genética dentro das populações é o combustível para a evolução e permitindo compreender adaptação, especiação e história evolutiva de forma quantitativa e rigorosa.

Um avanço decisivo nesse período foi a contribuição de Thomas Hunt Morgan, que estudou a herança genética utilizando a mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster). Morgan demonstrou experimentalmente que os genes estão localizados nos cromossomos e que mutações podem gerar variação hereditária dentro das populações. Seu trabalho forneceu evidências concretas de como as mudanças genéticas alimentam a evolução, reforçando e expandindo a síntese moderna ao conectar diretamente a genética clássica com os princípios darwinianos da seleção natural.

Com a descoberta da estrutura do DNA por Watson e Crick em 1953, a biologia molecular passou a influenciar a teoria evolutiva, permitindo estudar mutações genéticas, recombinação, deriva genética e migração com precisão. Surgiram campos como evolução de genes, epigenética, paleogenética e biologia evolutiva do desenvolvimento, conhecida como evo-devo. Hoje, a evolução é entendida como um processo dinâmico e multifatorial, envolvendo seleção natural, seleção sexual, deriva genética, cooperação, simbiose e mudanças ambientais rápidas.

Darwin continua sendo a base conceitual da teoria evolutiva, mas a compreensão moderna vai muito além de suas ideias iniciais, conectando ecologia, genética, paleontologia, biologia molecular e comportamento, e mostrando a evolução como um fenômeno contínuo e complexo que afeta todas as formas de vida na Terra.


Linha do Tempo de Charles Darwin

1809 – Nascimento

  • 12 de fevereiro: Nasce em Shrewsbury, Inglaterra, filho de Robert Darwin e Susannah Wedgwood, quinta de seis crianças.

1817 – Perda da mãe

  • Morte de Susannah Wedgwood.

  • Recebe apoio dos tios e da família Wedgwood, que incentivam a educação e a curiosidade científica.

1825 – Universidade de Edimburgo

  • Ingressa para estudar medicina, a pedido do pai.

  • Não se adapta à prática médica (cirurgias traumáticas).

  • Participa de clubes de história natural, coleciona insetos e plantas.

  • Desenvolve interesse por biologia experimental e botânica.

1828 – Universidade de Cambridge

  • Transfere-se para Cambridge para formar-se como clérigo da Igreja da Inglaterra.

  • Conhece John Stevens Henslow, mentor de história natural.

  • Participa de excursões botânicas e coleta científica, desenvolvendo habilidades de observação e registro de dados.

  • Começa a afastar-se do foco clerical, concentrando-se em história natural.

1831–1836 – Viagem no HMS Beagle

  • Participa como naturalista na expedição global liderada pelo capitão Robert FitzRoy.

  • Observa ecossistemas diversos, espécies endêmicas e variação entre populações.

  • Mantém uma relação de respeito e aprendizado com FitzRoy, apesar das diferenças ideológicas.

  • Coleta fósseis, plantas, animais e realiza anotações detalhadas que fundamentarão suas futuras teorias.

1836–1839 – Retorno e análise científica

  • Analisa minuciosamente coleções e dados da viagem.

  • Inicia correspondência com naturalistas e cientistas do mundo todo.

1839 – Casamento com Emma Wedgwood

  • Casa-se com sua prima Emma, membro da família Wedgwood.

  • O casamento é afetuoso, mas há preocupações com consanguinidade e saúde dos filhos.

  • A família enfrenta tragédias, incluindo a morte de alguns filhos em tenra idade, eventos que impactam emocionalmente Darwin, mas não interrompem seu trabalho científico.

1848 – Morte do pai, Robert Darwin

  • Darwin herda parte da fortuna familiar, conquistando independência financeira.

  • Ganha liberdade para se dedicar inteiramente à pesquisa, análise de dados e escrita científica.

1859 – Publicação de A Origem das Espécies

  • Depois de anos de estudo e elaboração de suas ideias sobre seleção natural, publica a obra que transforma a biologia.

Resumo da Trajetória

  • A trajetória de Darwin é marcada pela combinação de influência familiar, mentoria acadêmica, experiências de campo e independência financeira, permitindo-lhe unir observação prática e análise teórica.

  • Relações importantes:

    • Família Wedgwood e tios: incentivo à educação e ciência.

    • John Stevens Henslow: mentor acadêmico, recomendou o Beagle.

    • Capitão Robert FitzRoy: liderança da expedição e contato com perspectivas religiosas e científicas divergentes.

    • Emma Wedgwood: apoio emocional e familiar, gerenciando a casa e cuidados com os filhos.



segunda-feira, 14 de abril de 2025

"Desextinção" do Lobo Terrível???

Recentemente, a empresa americana Colossal Biosciences anunciou um feito inédito no campo da biotecnologia: o nascimento de três filhotes geneticamente modificados com características do extinto lobo-terrível (Aenocyon dirus), espécie que desapareceu há aproximadamente 10 mil anos. Os filhotes, batizados de Romulus, Remus e Khaleesi, não são clones diretos da espécie extinta, mas sim lobos-cinzentos modernos que passaram por um processo sofisticado de edição genética. A base desse avanço foi a utilização da técnica CRISPR-Cas9, uma ferramenta de edição gênica de altíssima precisão, que permite inserir, remover ou alterar trechos específicos do DNA.


A partir da análise de fósseis com até 72 mil anos, os pesquisadores conseguiram identificar fragmentos de DNA do lobo-terrível ainda preservados. Embora o genoma completo da espécie não esteja disponível — devido à degradação natural do material genético ao longo de milênios — os cientistas mapearam genes específicos associados a características fenotípicas do animal, como maior robustez corporal, estrutura craniana ampliada e uma pelagem mais densa, adaptada ao clima frio do Pleistoceno.

Com essas informações em mãos, foram editados 20 genes em embriões de lobos-cinzentos, utilizando o CRISPR para substituir sequências específicas por variantes encontradas nos fósseis do lobo-terrível. Após a edição, os embriões foram implantados em cadelas domésticas, que serviram como barrigas de aluguel para o desenvolvimento dos filhotes. O nascimento bem-sucedido dos três animais marca um avanço técnico importante na chamada "desextinção funcional" — quando o objetivo não é recriar uma cópia exata do organismo extinto, mas sim trazer de volta características ecológicas e genéticas relevantes da espécie original.

Apesar do entusiasmo da equipe envolvida, o projeto gerou diversas críticas dentro da comunidade científica. O paleogeneticista Dr. Nic Rawlence, da Universidade de Otago, por exemplo, destacou que o DNA disponível é altamente degradado, o que impede a clonagem total e precisa da espécie. Assim, os filhotes seriam, na prática, lobos-cinzentos com alterações genéticas inspiradas no lobo-terrível, e não representantes autênticos da espécie extinta. Ele argumenta que essa abordagem pode gerar confusão sobre o que significa "trazer uma espécie de volta", além de levantar questões éticas importantes.

Outras críticas se concentram nas implicações ecológicas e morais da desextinção. A reintrodução de animais extintos em ecossistemas modernos pode causar desequilíbrios imprevisíveis, principalmente se esses novos organismos forem liberados sem uma análise aprofundada das condições ambientais e da interação com espécies existentes. Também há preocupações quanto ao bem-estar dos animais gerados e aos riscos de aplicar tecnologias genéticas de forma prematura.

Por outro lado, defensores do projeto argumentam que essa tecnologia pode ser extremamente útil para a conservação de espécies ameaçadas de extinção. A Colossal Biosciences, por exemplo, já aplicou técnicas semelhantes para clonar lobos-vermelhos, visando aumentar a diversidade genética da população atual — um recurso valioso para evitar colapsos populacionais em espécies criticamente ameaçadas. Além disso, ao restaurar traços funcionais perdidos de espécies extintas, seria possível reequilibrar ecossistemas degradados, como o da tundra ártica, que poderiam se beneficiar do retorno de grandes predadores.

Em resumo, a tentativa de “ressuscitar” o lobo-terrível representa um marco na engenharia genética e na biotecnologia, mas também impõe desafios éticos, técnicos e ecológicos que ainda precisam ser amplamente debatidos. Mesmo que os animais criados não sejam verdadeiros lobos-terríveis, o projeto pode abrir caminho para futuras aplicações em conservação ambiental e para uma melhor compreensão sobre a evolução e a função ecológica de espécies extintas.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Você sabe o que são os Chemtrails???

Os chemtrails são uma teoria da conspiração que sugere que rastros deixados por aviões no céu contêm produtos químicos misteriosos, deliberadamente pulverizados para manipular o clima, controlar a população ou realizar experimentos secretos. No entanto, cientificamente, esses rastros nada mais são do que contrails (condensation trails, trilhas ou esteiras de condensação), fenômeno facilmente explicável e causado pela interação dos gases quentes liberados pelos motores das aeronaves com o ar frio da alta atmosfera. O fenômeno pode ser observado até nos aerofólios traseiros de carros de Fórmula I em alta velocidade, principalmente quando o ar tem grande umidade.


Contrails em carro de Fórmula I.

O que os contrails realmente contêm?

Os contrails são compostos, principalmente, por vapor d’água condensado e cristais de gelo. Quando os motores dos aviões queimam combustível, eles liberam vapor d’água e outros gases. Se a própria atmosfera estiver suficientemente fria e úmida, esse vapor se condensa rapidamente, formando pequenas gotículas que logo congelam, criando rastros brancos no céu. Dependendo das condições atmosféricas, esses rastros podem se dissipar rapidamente ou permanecer por mais tempo, tornando-se semelhantes a nuvens cirros.


Como surgiu a teoria da conspiração?

A ideia de que os rastros deixados pelos aviões seriam algo além de vapor d’água começou a se popularizar na década de 1990. Algumas pessoas notaram que os contrails pareciam durar mais tempo em certas condições e começaram a especular que poderiam conter substâncias químicas misteriosas. A teoria ganhou força com a disseminação de informações falsas na internet, associando os chemtrails a projetos secretos de geoengenharia, controle populacional e até disseminação de doenças.


Apesar de não haver absolutamente qualquer evidência científica que comprove essas alegações, a conspiração se espalhou por redes sociais, fóruns e documentários sensacionalistas. Muitos acreditam que governos e corporações estariam ocultando a verdade, ignorando o fato de que cientistas atmosféricos já explicaram exaustivamente o fenômeno dos contrails.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Terra Plana, o homem não foi à Lua??? O que está acontecendo???

Em uma era marcada pelo avanço tecnológico e pela disseminação do conhecimento, é surpreendente que ainda existam pessoas que duvidam de fatos cientificamente comprovados, como o formato esferoide da Terra e a ida do homem à Lua. Essas crenças, que deveriam ter sido superadas há séculos, revelam não apenas uma falha na educação, mas também a influência de fatores psicológicos e sociais na propagação da desinformação.


O negacionismo científico encontra respaldo em diversas causas. Em primeiro lugar, a disseminação de teorias conspiratórias pelas redes sociais potencializa a dúvida e reforça crenças pseudocientíficas. Plataformas digitais frequentemente promovem conteúdos sensacionalistas, criando bolhas de informação em que evidências sólidas são ignoradas. Ademais, a crise de confiança criada por alguns nas instituições científicas e governamentais faz com que várias pessoas rejeitem fatos amplamente documentados, como as fotografias tiradas do espaço e os depoimentos dos astronautas que participaram das missões lunares.

"Se nem a Rússia questiona a ida dos Norte-Americanos à Lua, inclusive os cumprimentou pelo feito, como é possível que outros duvidem do fato sem nenhuma prova consistente?"

Além disso, aspectos psicológicos contribuem para a perpetuação dessas ideias. O viés de confirmação leva indivíduos a buscar informações que corroborem suas crenças preexistentes, ignorando evidências contrárias. Esse fenômeno é agravado pelo efeito Dunning-Kruger, no qual pessoas com pouco conhecimento sobre um tema superestimam sua compreensão, rejeitando o consenso acadêmico.

Não se pode descartar, no entanto, que boa parte das menções a essas teorias conspiratórias nas redes sociais seja feita apenas com o intuito de chamar a atenção e obter engajamento. A polêmica atrai interações, e muitos influenciadores e criadores de conteúdo se aproveitam disso para aumentar seu alcance, independentemente da veracidade das informações compartilhadas. Esse comportamento contribui ainda mais para a disseminação da desinformação e para a confusão do público em relação a questões científicas estabelecidas.

"O cachorro que morde a pessoa não é notícia de jornal, mas a pessoa que morde o cachorro merece a primeira página!"

Para combater essa situação, é essencial investir na educação científica desde os primeiros anos escolares. O ensino deve enfatizar a importância do método científico e da verificação de fontes confiáveis, promovendo o pensamento crítico. Além disso, é necessário regulamentar a divulgação de desinformação nas redes sociais, evitando que conteúdos falaciosos alcancem grandes audiências.

Dessa forma, é paradoxal que, em pleno século XXI, teorias refutadas há tanto tempo ainda encontrem adeptos. A solução para esse problema passa por um esforço coletivo de educadores, cientistas e governos na difusão do conhecimento, garantindo que as conquistas da humanidade não sejam obscurecidas pela desinformação.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Professores, perdemos a batalha ou o pessoal está de gozação?

Recentemente concluí que muitas pessoas estão se informando recentemente apenas pelas redes sociais: Whatsapp, Telegram, X (antigo Twitter), Instagram, Facebook e outras. Mesmo assuntos que deveriam ser de conhecimento geral pela formação básica no ensino fundamental ou médio parece que estão sendo "aprendidas" nessas mídias sociais. Aliás, só se informam pelo aplicativos. Digitar a URL de um site, nem pensar... trabalho demais.

É absolutamente ridículo encontrar pessoas que não entendem como a Terra pode ser um globo e não um plano ("porque os japoneses ficam como? de cabeça pra baixo?"), que não entendem como navios flutuam ("mas não é feito de aço?") ou que não têm a mínima ideia sobre a idade do universo, da Terra ou de processos básicos de datação ("como podem saber que o fóssil do dinossauro tem 130 milhões de anos?" ou "como assim 130 milhões de anos de a Terra tem pouco mais de 5.000 anos?").


Olha, eu acho que grande parte só pode ser de gozação. Prefiro acreditar nisso. Mas páginas e usuários que colocam esses questionamentos têm muitos seguidores ou muita visibilidade, com muitas interações (positivas ou negativas). Parece que virou uma coisa de "quanto mais ignorante mais aparece"... e o pessoal só quer aparecer.


Absolutamente é um inferno para professores. Não dá para discutir nenhum assunto, absolutamente nenhuma assunto, e os formados na faculdade do google (e agora da IA) aparececem com xingamentos e argumentos fétidos (fecais, para ser mais preciso e menos deselegante).

Mas quando vejo certas celebridades e sub-celebridades respondendo (ou não respondendo) algumas perguntas no "passa-ou-repassa" do Celso Portiolli, fico muito temeroso pelo futuro da humanidade. É de cair o orifício!!!

E outra... algumas páginas colocam questões "complexas" como "Qual o resultado de 3 x 2 + 4 como se fosse a coisa mais avançada da matemática. 

E Darwin coitado? Mais de um século depois, com tantas teorias e desdobramentos colocados por cima de suas afirmações, com análises cladísticas e de DNA... e o pobre coitado do inglês é que ainda sofre: "DARWIN ESTÁ ERRADO!". Como se ele ainda estivesse ativo e postando suas observações!

Sei não... tá complicado!

Ramon Lamar de Oliveira Junior

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

PROSA DE NERD: NEGACIONISMO CIENTÍFICO

Olá, amigos!

Confiram esse papo com meu querido ex-aluno Mário Fontana sobre Negacionismo Científico!

https://www.youtube.com/watch?v=hkfhiDo1M9E


Abração para vocês, espero que apreciem!

Ramon Lamar de Oliveira Junior

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Escorpião amarelo: dois casos fatais na mesma semana

(Esta postagem foi feita em 29.03.2012, mas pela atualidade e pelo surgimento recentes de casos de acidentes no período, foi elevada momentaneamente para as primeiras posições do blog para facilitar acesso.)

Dois casos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nesta semana, vitimaram duas crianças de 3 anos de idade: primeiro foi a Sara Karla, em Contagem, agora o pequeno Hailander, picado em Caeté. O Serviço de Toxicologia do HPS João XXIII, da Fundação Hospitalar de Minas Gerais, emitiu alerta para as vítimas de picadas de escorpiões para que busquem atendimento imediato. No ano passado (2011), foram registrados 1.254 atendimentos somente nesse hospital. Entre 2009 e 2010, houve 2.512 ocorrências envolvendo escorpiões. 

Escorpião amarelo (Tityus serrulatus). Fonte: Laboratório de Aracnologia, ICB/UFMG.

Escorpião amarelo encontrado em apartamento novo, provavelmente escalou o sistema de esgoto. Foto enviada pela Flávia Franco, leitora do blog. O escorpião encontra-se um pouco destruído. Uma mãe não pensa duas vezes na hora de preservar seu filho, não é mesmo Flávia. Obrigado pela imagem.

O escorpião amarelo, Tityus serrulatus, é o mais perigoso escorpião brasileiro, e um dos mais perigosos do mundo. Sua picada é particularmente grave em crianças e em idosos. Em ambos, graças à menor quantidade de água no corpo, a concentração da toxina atinge valores mais elevados. Em ambos, também, os sistemas de defesa e resistência são menos eficientes (por ainda não estarem completamente desenvolvidos ou por já estarem perdendo a capacidade de resposta).
O veneno é uma neurotoxina, o que explica a forte dor da picada. Minha mãe, que já foi picada quando jovem pelo escorpião amarelo e pelo escorpião marrom (Tityus bahiensis), relatou-me que a dor da picada do amarelo é infinitamente maior. A neurotoxina pode interferir com a liberação dos nossos mediadores químicos mais importantes. Dessa interferência em relação ao sistema simpático (adrenalina/noradrenalina) podem derivar sintomas como alterações da pressão sanguínea, da frequência cardíaca (arritmia) e edema pulmonar. Já em relação ao parassimpático (acetilcolina) podem derivar problemas com as diversas secreções (nasal, salivar, gástrica...), tremores e espasmos musculares, diminuição da pupila (miose) e do rítmo cardíaco.
O escorpião amarelo é registrado em diversos estados brasileiros, com especial predileção pelos estados da Região Sudeste e estados vizinhos como Bahia e Goiás, bem como o Distrito Federal. Os escorpiões adultos medem de 5 a 7 centímetros, com manchas escuras o cefalotórax, pedipalpos e pernas. Por muito tempo acreditou-se que a espécie não possuia machos, reproduzindo-se apenas por partenogênese a partir de fêmeas. A descoberta, a partir de 1999 de machos desta espécie em área de transição de floresta seca e cerrado para caatinga, na Bahia, lançou muita controvérsia sobre o tema. Parece haver, portanto, estratégias reprodutivas de dois tipos, mas a partenogênese é de grande importância pelo explosivo crescimento populacional.
Introduzido em Brasília na década de 1980, T. serrulatus hoje corresponde a 70% dos achados de escorpiões naquela área urbana. Sua capacidade de agir como espécie oportunista, sobrevivendo por muito tempo em ambientes impactados, aliada a alta densidade populacional e tamanho da prole explicam o sucesso dessa espécie e nos indicam o tamanho do perigo.
Alimentam-se de insetos, com grande preferência pelas baratas, caçando principalmente à noite. Durante o dia ficam entocados em frestas, montes de entulhos, restos de construções e em toda sorte de porcarias que escondemos em nossos "quartinhos de muquifo" ou amontoamos num canto do quintal. São diligentemente predados por galinhas. A aquisição de algumas dessas aves é uma medida interessante para combater escorpiões encontrados em casas que têm quintais. O problema é o hábito diurno dos galináceos, contrastante com o hábito noturno dos tais aracnídeos. Mesmo assim, as galinhas ciscam, ciscam, ciscam... e acabam com vários escorpiões.
Em caso de acidente, siga os seguintes procedimentos:
  • Lavar o local com água e sabão e aplicar compressas de água fria. A vítima deve ser mantida deitada e evitar grandes movimentos para não favorecer a distribuição do veneno. Se a picada estiver no braço ou na perna, mantê-los mais elevados. Não fazer torniquete ou sucção no local da ferida, não espremer, cortar, furar ou aplicar folhas ou outros produtos.
  • Coletar o escorpião. Se ele ainda estiver vivo, isso pode ser feito invertendo-se um frasco de boca grande sobre o bicho e passando-se uma folha de papel embaixo do recipiente e do animal, que deve ser substituída pela tampa furada após virar o frasco. Não é necessário colocar alimento. Também é possível capturá-lo segurando o pós-abdome com uma pinça, de modo a impedir o uso do ferrão. Nunca utilize sacos plásticos para aprisionar indivíduos. Também é importante saber para realizar a captura que escorpiões não saltam. Se o animal estiver morto, coloque-o em um frasco de vidro com álcool. Se possível, identifique o escorpião. Constatado alto grau de periculosidade, leve a vítima imediatamente a um hospital.
  • Observe a vítima. Se ela apresentar os sintomas: náuseas ou vômito, suor excessivo, abaixamento da temperatura, agitação, tremores, salivação, aumento da frequência cardíaca e da pressão sanguínea, leve-a imediatamente ao serviço de saúde mais próximo com o escorpião capturado. O soro anti-escorpiônico deve ser aplicado em último caso, pois pode gerar distúrbios. Em pacientes com hipersensibilidade (alérgicos) pode até mesmo levar a óbito. Esse, no entanto, é o único tratamento eficaz para a maioria dos casos graves.
  • Notifique o órgão municipal responsável sobre o ocorrido, mesmo que o acidente tenha sido leve, mesmo que tenha ocorrido apenas a visualização/captura de escorpiões. Essa etapa é esquecida por muitos, mas é de suma importância para alertar a população local sobre riscos, guiar medidas e focalizar áreas para ações de controle e até mesmo garantir estatísticas reais. (Adaptado de: http://www.ibaraki.com.br/escorpiao-o-veneno-dos-escorpioes-e-suas-consequencias.htm)
Fonte: Ministério da Saúde, conforme www.ibaraki.com.br

CURIOSIDADES E OUTRAS INFORMAÇÕES:
  • Escorpião é aracnídeo, não é inseto. Portanto não morre com a aplicação de inseticidas usuais. A aplicação de inseticidas costuma piorar o problema, pois mata as baratas. Com isso, os escorpiões tornam-se mais ativos, migrando pelo terreno ou pela casa à procura de alimentos.
  • Escorpiões emitem uma fluorescência azul quando iluminados com luz ultravioleta (luz negra). Tal técnica é usada para a pesquisa da presença desses aracnídeos em locais como cemitérios e depósitos de materiais dos mais diversos tipos. Claro que só funciona à noite.
  • O número de segmentos no abdômen ("cauda") do escorpião é constante e não tem nada a ver com a idade do bicho. Aliás, o veneno é produzido por escorpiões de todas as idades.
  • Escorpião não se suicida. O veneno do escorpião é ineficaz contra o próprio escorpião. Além disso, o aguilhão ("ferrão") não consegue romper o espesso exoesqueleto do dorso do escorpião. Na verdade, quando presos em um círculo de fogo, os escorpiões tentam "atacar o fogo" e acabam morrendo pelo efeito do calor. Fizemos tal experimento no curso de Biologia, na UFMG, quando do estudo desses animais. Naquela época, experimentos desse tipo eram mais tolerados.
  • Em caso de acidentes na nossa região, o HPS João XXIII de Belo Horizonte é o centro de referência para esse tipo de caso. Inclusive para acidentes com aranhas e cobras. Se em sua cidade o atendimento estiver complicado (sem soro, sem um protocolo rápido de ações) dirija-se imediatamente para o João XXIII.
Ramon Lamar de Oliveira Junior

PS1.: Aproveito esta postagem para relatar mais um encontro de escorpião amarelo em estabelecimento no entorno do Mercado Municipal e Teatro Redenção, aqui em Sete Lagoas.

PS2.: Alyne Goulart, ex-aluna e atualmente estudante de Medicina na Ciências Médicas (FCMMG) postou o seguinte comentário no Facebook sobre este tópico.

"Ramon, muito boa a postagem. Lembrando que a Unidade de Toxicologia do Hospital João XXIII tem um Centro de Informações e Assistência Toxicológica disponível. Acho que vale muito a pena divulgar: (31)32244000 ou 08007226001."
PS3.: Para indicações sobre venenos com ação sobre escorpiões, leiam o comentário publicado em 15 de junho de 2014 por "E mai essa..."

PS4.: Leiam sobre Alerta Sobre Risco de Acidentes em http://ramonlamar.blogspot.com.br/2014/12/alerta-sobre-risco-de-acidentes-com.html

PS5.: Infográfico sobre escorpionismo do website do Estado de Minas: http://www.em.com.br/app/infografico/2012/09/28/interna_infografico,360/escorpioes.shtml

domingo, 18 de junho de 2017

Incêndios em florestas de Pinus e Eucalyptus

Estamos recebendo as informações sobre o grave incêndio florestal ocorrido em Portugal com mais de 50 vítimas, o que nos abala bastante. Principalmente por saber que muitos morreram dentro dos carros, sem a menor condição de escapar do inferno que se formou em volta.
Incêndios em florestas de Pinus e Eucalyptus são particularmente muito perigosos. As folhas das duas árvores possuem muitos óleos essenciais em sua composição e por isso mesmo permanecem muito tempo no solo, onde a decomposição é lenta (a maioria das substâncias são praticamente desinfetantes!). Sendo assim, as folhas ficam secas e pela sua conformação têm grande superfície de contato para pegar e propagar o fogo. 
As altas temperaturas geradas no solo coberto pelas folhas provoca evaporação da água das folhas verdes e volatização dos óleos ali presentes, aumentando o poder combustível da floresta viva! Some-se a isso a ocorrência de ventos e esses incêndios propagam-se a velocidades muito grandes.
Estou vendo muita gente criticar os sistemas de "Defesa Civil" em Portugal mas creio que esse tipo de combate é particularmente muito difícil. A Califórnia (EUA) sofre muito com esses incêndios em suas matas de pinheiros, quase todo ano. São dificílimos de controlar, quem já combateu algum incêndio florestal sabe como é complicado e, nesse caso específico, é muito pior! Aliás, quando o incêndio a copa das árvores (e é o que estamos vendo nas imagens) pouca coisa há para se fazer.
A foto abaixo é só para ter uma pequena ideia da velocidade de propagação do fogo. O trecho mostrado ficou completamente tomado pelas chamas em menos de 15 segundos.

Foto de um incêndio na Serra de Santa Helena em Outubro de 2011. Na oportunidade, cheguei ao local de carona com a Alessandra Casarim, que teve que dar ré rapidamente no carro. Eu, já do lado de fora, tive que dar uns 10 passos para trás para poder avaliar a situação. A gente sabia que dificilmente o fogo ultrapassaria essa barreira formada pela estrada, mas nosso objetivo era combatê-lo rapidamente para evitar os danos ambientais. Lá encontramos Silvinho, da ADESA, já combatendo as chamas em outro ponto. E os bombeiros, praticamente apenas acompanhando para ver se as chamas iriam cruzar a estrada.
Foto e texto: Ramon L. O. Junior


PS.: A matéria que reproduzo abaixo mostra como outras espécies de árvores formam agrupamentos que resistem à dispersão do fogo (www.bbc.com/portuguese/salasocial-40389515)

Por que carvalhos e castanheiras salvaram pequeno sítio do megaincêndio em Portugal

  • 23 junho 2017

Na última semana, um incêndio de grandes proporções matou 64 pessoas e deixou mais de 200 feridos em Portugal. Mas um sítio em Figueiró dos Vinhos, na região onde ocorreu a tragédia, ficou surpreendentemente ileso.
Uma foto publicada no Facebook nesta semana mostra como o sítio se tornou uma pequena ilha verde em meio às cinzas deixadas pelas chamas.
A imagem foi compartilhada mais de 2 milhões de vezes no Facebook e recebeu mais de 1,5 milhão de reações.
O que mais chama a atenção na foto é o fato de dezenas de árvores e uma casa se manterem intactas em meio ao cenário de devastação.
É como se uma barreira formada por carvalhos, castanheiras, oliveiras e sabugueiros tivesse impedido o avanço do fogo.
Postagem no Facebook motivou quase 2 milhões de reações

"Apesar de não ser a minha propriedade, achei importante partilhar a imagem para demonstrar que as árvores nativas podem ser muito efetivas no combate ao fogo", explicou a mulher que tirou a foto, Tania Sullivan, ao jornal português "Jornal de Notícias".
O botânico Ricardo Cardim explicou à BBC Brasil que as árvores formaram um bolsão de umidade, que inibiu a destruição do sítio. Árvores formaram uma barreira que impediu o avanço das chamas em Portugal
"Essas espécies com certeza impediram a destruição do sítio. Isso ocorreu porque elas são muito folhosas e densas. Quando estão com folhas, no verão, apresentam uma copa volumosa, o que causa uma diminuição significativa da temperatura, além de armazenar água no solo", afirmou o especialista brasileiro.
Cardim explicou ainda que é muito raro uma floresta com essas características ser atingida por um incêndio.
"Nas áreas preservadas da floresta amazônica, por exemplo, é quase impossível pegar fogo, mesmo nas estações secas", disse.
Para o botânico, que avalia a foto como chocante, o dono do sítio deve, inclusive, plantar mais árvores para proteger ainda mais sua propriedade.
"Ele tem que dar um beijo e um abraço em cada uma das árvores e cuidar muito bem delas."


IMAGEM E COMENTÁRIO NO FACEBOOK DE TANIA SULLIVAN:

Please note !!...this is not my house...I stated that my house is surrounded by native trees with eucalyptus 800 metres away...not as close as the picture shown !!....I was just making an observation and used a picture which I stated was of a Portuguese farm...but have given another good example of another property similarly affected this past weekend with bad fires at Figueiró dos Vinhos. Most people understood this and I have been contacted by journalists who were very interested on the angle of the story ~ I have passed them onto the people who have had this happen in the past few days

Original Post ~ Our house is surrounded by native oak with the nearest eucalyptus about 800 m away...on our land we have olive, oak and fruit trees....all native to Portugal unlike the eucalyptus...it would seem according to studies that this would make us safer as these trees act as natural fire breaks, especially due to the Oak...A photo illustrating how Portuguese farms with indigenous trees are far more fire resistant than the eucalyptus plantations