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domingo, 26 de março de 2017

FAMÍLIA EDUCA, ESCOLA ENSINA!

Vi a mensagem original do "Jornal da Educação" e acrescentei alguns pontos, deixando de uma forma também que fique mais fácil de visualizar ("formato de tela").



domingo, 19 de março de 2017

PROFESSORES, AGUENTEM FIRMES!

Recebi o texto do amigo e professor Maurício Ferreira. Fiz algumas alterações com base na minha experiência como professor. Se era uma corrente ou não, tanto faz, vejo muitas verdades.
   Somos professores e recebemos palpites e julgamentos de todo mundo. Do ministro da educação, do jornalista, do pai do aluno, das famílias. Aquela piadinha que eu tenho regalias, duas férias por ano, que eu ganho bem, que eu não deveria me aposentar... e a sensação é a de que estamos sós.
   Queria mandar um "AGUENTE FIRME" para os PROFESSORES DE VERDADE.
Para você que dá aula em duas ou três escolas (ou mais) e almoça no caminho, que não consegue jantar e engole um salgado na cantina enquanto tira dúvida de aluno, fica acordado na madrugada montando powerpoint ou outros materiais, faz as cópias na sua impressora, compra o material da aula com grana do bolso, passa do horário pra ajudar no evento, inventa evento para ajudar a escola a educar ainda melhor seus alunos. Passa o final de semana corrigindo, leva as atividades na viagem do feriado prolongado (quando dá para viajar), leva um lanchinho a mais na excursão, para o aluno que não tem condições, leva absorvente em excursão porque sempre ocorre uma emergência, compra livros pra turma, vai trabalhar doente porque não quer deixar os alunos na mão aquele dia, só falta quando o médico te obriga...
    Você que vê o aluno se perdendo na vida e tenta evitar que o pior aconteça (e dá-lhe conversa sobre álcool, drogas, violência, comportamento em sociedade), fala duro com o aluno para ver se o mesmo acorda e muda de caminho, briga com a família até levarem o pequeno no médico, deixa seus problemas em casa, porque sabe que na escola tem problemas muito maiores acontecendo de forma visível ou de forma camuflada, já foi agredido verbalmente por alunos e familiares, xingado enquanto dá aula, não é respeitado enquanto dá aula e nas redes sociais (onde você tenta e tenta ajudar também com seu conhecimento e experiência). Você que é compromissado com o processo de aprendizagem, mesmo que seus alunos não sejam, que prefere demitir-se de uma escola a seguir diretrizes erradas de quem acha que ajudar o aluno é dar 20 pontos para ele passar de ano, que vê mais seus alunos que sua família, que às vezes é criticado até por colegas de profissão que não têm o mesmo comprometimento mas "se acham"... e mesmo passando por tudo isso não desiste! "AGUENTE FIRME"!
   Esse país talvez não mereça tanto esforço, mas precisa MUITO de você. Você, com certeza, tem uma legião de alunos verdadeiramente agradecidos, que sabem disso tudo e o incluem em suas orações.
    Professores, apropriem-se do seu saber!
   Se você é professor e tem orgulho de ser, copie e cole no seu mural. E você que não exerce esta profissão mas quer nos dar um incentivo, apoio e encorajamento também pode fazê-lo. 
PS.: O texto original não é meu. Fiz várias modificações. Repudio qualquer uso político do texto original ou das minhas adaptações. Os problemas profissionais que enfrentamos não são de agora ou de 30 anos atrás... são de sempre. Governo, sindicatos, partidos políticos e até mesmo alguns colegas têm culpa pelo que aconteceu ou pelo que acontece. Não devemos perder a noção que estamos lutando pelos nossos direitos e pelos direitos dos nossos alunos a um ensino de qualidade.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Mudanças no ENEM: o INEP/MEC sempre surpreendendo com NADA!

"Você está falando com a pessoa que trouxe para o Brasil uma maneira diferente de olhar para o ensino médio. Não posso achar que as mudanças ocorridas no Enem são positivas. Acho positivos, sim, os inúmeros benefícios concedidos associados ao resultado no Enem: o Prouni, o Fies, o Sisu. Enquanto eu estiver no Inep, qualquer modificação não deve interferir nesses direitos já conquistados. Mas o exame e a maneira como está estruturado eu não aprovo."
Trecho da entrevista da professora Maria Inês Fini ao assumir a presidência do INEP/MEC em 10/08/16 (confira AQUI)
     Foi assim que a presidenta do INEP deu indicativos que o ENEM iria sofrer mudanças radicais em sua estrutura em 2017. As questões estavam caminhando para o vestibular tradicional, o tempo para fazer a prova era exíguo, muitos candidatos sequer chegavam a ler todas as questões. Esperava-se algo que tivesse a ver com a realidade dos alunos e do ensino médio no Brasil (com ou sem reforma). Para que 45 questões de Matemática? Para que 40 questões de Português? Essas perguntas são fundamentais pois é justamente nesse exagero que o candidato se vê numa maratona e não numa avaliação. Três exíguos minutos por questões que, em geral, ocupam um quarto da página de prova, 30 páginas, sem poder usar lápis ou borracha...
     Em entrevista para a Revista Veja, três meses depois de assumir, a presidenta já adiantava que haveria mudanças:
"Revista Veja: Mas o que seriam estas mudanças na prática?
Maria Inês Fini: Da estruturação pedagógica, científica, metodológica e de medida da prova. Ninguém vai inventar a roda. Não existe outra matemática ou outra linguagem. Apenas serão outras características na estrutura da prova."
     Que coisa linda no discurso e pífia na prática. A estruturação pedagógica consistiu em mudar a prova de matemática para junto das ciências da natureza, no lugar da prova de ciências humanas. Pensei que a presidenta iria usar da sua experiência de professora para fazer uma mudança que levasse em consideração como deve ser minimamente uma prova para avaliar a capacidade do aluno do ponto de vista pedagógico. Estou louco para ver as novas e belas questões reestruturadas pedagogicamente. Quero ver a nova estruturação científica. Será que a nova estruturação metodológica e de medida irá acabar com a TRI ou inventar algo mais indecifrável?
      Todos nós sabemos, aliás estamos cansados de saber, que o número de questões é o grande problema dessa prova do ponto de vista pedagógico, metodológico, científico, estrutural, orçamentário e logístico. E nada é falado sobre isso... por que? Porque o INEP está mais preocupado em resolver o problema das pessoas que não podem fazer provas aos sábados por motivos religiosos - que no fundo foi a grande mudança ocorrida!!! E também porque os jornalistas que fazem as entrevistas ou ancoram os telejornais não entendem nadica de nada desse ENEM (só gostam de mostrar candidatos chegando atrasados e repetir releases oficiais).


      Na época da posse da presidenta do INEP muito se falou que seria uma forma do Governo Temer remediar a questão da falta de mulheres no primeiro escalão. Convidar a "criadora" do ENEM seria uma boa maneira de fazer essa correção. Talvez as correções pretendidas sejam desse mesmo nível... na forma... não no conteúdo. 
     Cansei de mandar sugestões para o MEC nas duas consultas virtuais e em e-mails. Já entendi que o INEP/MEC quer apenas realizar uma prova que selecione alunos para as faculdades e para isso qualquer prova serve pois os que chegarem na frente ganharão as vagas. Ponto final. É isso... o resto é conversa para o dia da posse da presidenta... ou coisa que o valha.

Ramon Lamar de Oliveira Junior

PS1.: Gostaria de ver o desempenho da  professora Maria Inês Fini na prova do ENEM. Não digo em relação ao número de acertos pois ela não tem obrigação nenhuma de acertar coisa alguma. Mas gostaria de ver se ela ao menos teria tempo de ler toda a prova e tentar marcar alguma coisa no gabarito. Gostaria muito.

PS2.: É um absurdo que as escolas não recebam, ao menos individualmente, as médias de seus alunos. Esses dados são referenciais importantes para melhorar o ensino. O ranking é um referencial importante para estudantes e famílias escolherem as escolas baseadas em seus resultados, bastaria eliminar as falcatruas das falsas escolas de gênios.

PS3.: Acabo de ler umas pérolas do Ministro da Educação:
O ministro da Educação, Mendonça Filho, considerou que as alterações aprimoram o exame. "Com essas medidas, nós estamos buscando um aperfeiçoamento operacional do exame e deixaremos prontas todas as adequações futuras pelas quais o Enem terá que passar em decorrência da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que nós esperamos que esteja pronta este ano", destacou. Mendonça também garantiu que a opinião pública foi "plenamente contemplada" com as mudanças. "Foi uma atitude corajosa do MEC porque, uma vez feita a consulta, você tem que contemplar a opinião pública. E nós sentimos que ela está plenamente contemplada com as medidas que o ministério tomou."
Senhor Ministro essas medidas são praticamente inócuas para a gigantesca maioria dos candidatos em termos de aperfeiçoamento do exame. E da próxima vez, façam as perguntas corretas na consulta pública para saberem o que os candidatos acham de 90 questões por dia, com textos gigantes e com três minutos apenas para responder a cada uma. Também pergunte se os candidatos confiam nessa medida feita pela TRI. Tenha coragem, ministro!!! 

quarta-feira, 8 de março de 2017

CFBio homenageia Ângelo Machado nesta sexta

Republicando de "https://www.icb.ufmg.br/destaques-categoria/1113-cfbio-homenageia-angelo-machado-nesta-sexta" e acrescentando meus comentários pessoais.
O professor Ângelo Barbosa Monteiro Machado, médico, entomólogo e escritor brasileiro de 83 anos, foi agraciado pelo Conselho Federal de Biologia (CFBio) com o titulo de “Biólogo Honorário”. Segundo a entidade, a distinção se dá devido à trajetória e pelos serviços prestados à sociedade pelo homenageado em diferentes áreas das ciências biológicas.
A sessão solene de outorga será no dia 10 de março, às 20 horas, na sede da 4ª regional do CFBio , que fica na Av. Amazonas, 298, 15º andar, no centro de Belo Horizonte.
Dentre várias realizações notáveis, apenas no ICB o professor Ângelo Machado foi responsável pela criação do Centro de Microscopia Eletrônica, e, junto com sua esposa Conceição Ribeiro da Silva Machado, também criou o Laboratório de Neurobiologia.
Como entomologista descreveu cerca de 100 espécies de libélulas. Perto de 55 organismos levam o seu nome, como homenagem de outros pesquisadores. Além de libélulas, também borboletas, abelhas, besouros, aranhas e um fungo.
Aposentou-se em 1987, como professor titular de Neuroanatomia, e, após novo concurso, retornou ao ICB como professor adjunto de Entomologia.

Um pouco mais da história de Ângelo Machado - Clique aqui para acessar Blog da Fapemig
Jô Soares conversa com Ângelo Machado - Clique aqui para assistir ao video da Rede Globo

COMENTÁRIO 

         Mais do que a felicidade, tive a honra de ser aluno do professor Ângelo Machado na disciplina de Neuroanatomia Médica, em 1983, quando eu ainda cursava Medicina. Ao final do período seguinte transferi-me para o curso de Ciências Biológicas e pouco tempo antes de formar vejo, maravilhado, que o professor tão querido fez o mesmo caminho. Começou a lecionar Entomologia e depois outras disciplinas. Não me esqueço do dia em que entramos juntos no elevador e ele falou muito gentilmente comigo "- E então, Ramon, como está indo a biologia?". Eu lhe disse que estava indo bem e que eu estava muito feliz na minha nova escolha. Ele emendou: "- Que bom, fico satisfeito. Eu também agora sou da biologia. Estou lecionando Entomologia. Mas tive que ir na biblioteca pegar uns livros porque pediram para eu substituir um professor e dar umas aulas de Protista. Ô meu Deus, eu gosto é de insetos! Agora tenho que estudar esses Protistas!!!" E deu uma gostosa gargalhada.
        Visitei-o muitas vezes em sua sala da entomologia mas não tive a oportunidade, apesar do convite, de conhecer sua coleção particular de 30.000 libélulas. Comprei dois de seus livros escritos para o público infanto-juvenil onde mistura ficção com uma boa dose de educação ambiental. Assisti inúmeras palestras, inclusive as hilárias palestras sobre a glândula Pineal onde onde conta sua vida entrelaçada com suas pesquisas, fala da esposa (a também minha querida ex-professora Conceição Machado, já falecida) e de muitas e muitas coisas que nos enchem os ouvidos, o coração e os cantinhos do cérebro onde armazenamos as boas memórias.

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Fonte: https://i.ytimg.com/vi/5iArH7xR8Ps/maxresdefault.jpg
         Ontem mesmo falei sobre ele com o colega Tião (estamos pensando em organizar - ideia do Tião - um encontro de biólogos em Sete Lagoas e claro, seria lindo se pudéssemos contar com a presença do grande mestre). 
        Ângelo Machado marcou uma geração, marcou a Medicina e marcou a Biologia, marcou a todos nós que tivemos a felicidade de conhecê-lo e desfrutar de algumas migalhas que sejam da sua intimidade.
        Fico muito, muito feliz com a homenagem prestada pelo CFBio a um dos maiores nomes da ciência brasileira. Uma verdadeira fonte de inspiração para todos nós, médicos, biólogos, pesquisadores, apaixonados pela ciência, apaixonados pela vida.

Ramon Lamar de Oliveira Junior

PS.: nunca se conseguirá listar todas as produções, intervenções, pesquisas, inspirações, "causos" e tudo o mais do grande Ângelo Machado. Sem exagero algum, ele atingiu o patamar mais alto que se espera de um ser humano e, quando por infelicidade partir, tecerá longas conversas com Charles Darwin, Gregório Mendel, Henry Bates, Ernst Mayr, Theodosius Dobzhansky, Linus Pauling... e vai por aí afora...

segunda-feira, 6 de março de 2017

Mini-postagem de utilidade pública sobre depressão. (Leiam tudo)

Encontrei esse diamante na postagem da filha de um casal amigo. Não há como não replicar. Pedi licença, fui autorizado, e aí vai...

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Fonte da imagem: www.psicologosp.com
[Mentira, não é uma mini-postagem, é grande, muito grande, mas espero que seja útil às pessoas que tenham depressão, e às que têm que lidar com alguém que tem, também]
Vou falar um pouco sobre depressão, já que é uma doença que parece muito mais comum entre os meus amigos do que eu gostaria.
Nada de novo, é claro, porque se fosse um amigo só em depressão, já seria mais do que eu gostaria. Na verdade, nem amigo precisa ser. Uma pessoa já é mais do que eu gostaria.
Como algumas pessoas sabem e outras não, eu já tive depressão. "Tive", no passado mesmo. Vou reforçar isso pq eu sei, e muita gente sabe, que ela não é uma dessas viroses bobas, que você tem a certeza que vai passar em uma semana, e muita gente que eu conheço não teve, ainda, a sorte de falar dela como uma coisa que ficou no passado. Bom, mas a minha já se foi, e tanto que eu ando muito bem, muito feliz com a minha vida, motivada com a faculdade... alegre, mas preocupada com vários amigos meus. Não sou exatamente a pessoa mais empática do mundo, mas como já passei pela depressão eu consigo ao menos saber o quanto ela é horrível (mesmo que cada pessoa reaja a ela de modos diferentes).
Eu queria poder ajudar vocês. Eu QUERO ajudar vocês. O problema é que eu não sei a forma exata de fazer isso, e mesmo quando eu tenho alguma dica boa, a maior parte das pessoas não me escutam, ou não têm como seguir ela, já que a vida de cada um vai pra um rumo diferente. Então... vou fazer esse post, falar nele grande parte das coisas que eu acho que podem ser úteis pra vocês, já que foram ou teriam sido úteis pra mim. Também pode ser útil pra quem queira ajudar alguém em depressão.
A minha depressão durou, contando a parte mais crítica dela, que foi quando notei que tava doente, três anos. Isso foi mais ou menos dos 17 aos 20, e coincidiu com minha entrada na faculdade de arquitetura. Hoje, olhando pra trás, dá pra notar que eu já tinha alguns sinais dela desde os 14 anos, e que eu tive sinais dela até perto dos 22, mas antes dos 17 eu não identificava isso e depois dos 20, como eu tava saindo de algo horrível, eu achava que já tava curada, mesmo não estando ainda. A coisa é que, chegando perto dos 22 anos, quando realmente saí dela, ficou muito claro pra mim que eu tinha saído dela. Antes eu tinha dúvidas, e tinha medo de acabar voltando pra aquela tristeza a qualquer momento.
Não tenho mais.
Algumas notas aqui, agora, sobre o que eu aprendi com tudo isso:
Quando você está em depressão, sua maior prioridade tem que ser sair dela. Abrace qualquer oportunidade que tiver, tente tudo que for oferecido e puder te ajudar, nunca exclua uma possibilidade só por achar que não vai dar certo, e esteja sempre procurando um modo de sair dela. A depressão te garante anos horríveis e, na vida, tudo se resume a quão persistente você é. Claro, isso não significa que vai ser justo. Tem gente com mais sorte, e gente que vai receber mais ajuda, e por isso alguns precisam persistir menos e outros mais. Mas desistir de si mesmo nunca vai ser uma opção. O que todos querem, de verdade, é a felicidade... e a depressão faz algumas pessoas deixarem esse objetivo de lado. Bem, retomem ele. Quando o pesadelo acabar, vão se sentir orgulhosos, e espero que vejam, tanto quanto eu vejo hoje, que a visão que eu tinha de mim mesma na depressão era ridícula: eu me achava fraca.
Você não é fraco por ficar doente. Você é muito forte por resistir a ela. A doença é sorte, a resistência é você.
Outra coisa, se puder, procure um psicólogo. Não, não um psiquiatra. Procure primeiro o psicólogo e, se ele achar que é uma questão de procurar um psiquiatra, o que é bem provável, ele vai te dizer. Se começar com medicamentos, continue indo no psicólogo. Tem muita gente por aí vivendo de medicamentos, sem nunca se tratar de verdade, nunca realmente resolver o problema. Os remédios vão te fazer conseguir fazer as coisas que você precisa fazer, sair de casa quando precisar, e é basicamente isso. Ainda é uma vida muito ruim... a única parte boa deles é que eles vão te garantir um pouco de paz e força, que você deve, sem dúvida, usar em esforços pra acabar com a depressão de uma vez por todas. Sério, a depressão tá aí por um motivo. Não é um "ah, eu tenho depressão, preciso de remédio pra sempre, é isso aí, azar meu". Procure, por favor, o motivo dela estar aí, e trate ele.
Aliás, os motivos pra depressão podem ser muitos. Podem ser tantos que eu nem acho que conseguiria citar aqui todos os que eu conheço, e isso é um dos motivos de ser difícil tratar ela de verdade, e sair dela de verdade: você tem que descobrir o motivo da sua, e aí acabar com ele.
Pra vocês terem uma ideia, o meu motivo era falta de serotonina. Depois de ir em psicólogas (e aliás, não fiquem com os primeiros psicólogos que acharem se não se derem bem com eles... cada um é diferente, existem linhas diferentes que eles podem seguir, e essas primeiras psicólogas foram horríveis pra mim, mas mais tarde eu achei outra que me ajudou muito), psiquiatra, médicos de vários tipos, hipnose, procurar respostas em espiritualidade (e nessa época eu mal acreditava em qualquer coisa), fazer duas polissonografias e ir fazendo tudo que alguém achava que poderia me ajudar, eu acabei dando de cara com a nutrição funcional, que a minha mãe encontrou e leu sobre, e pensou que poderia ajudar.
Foi a única coisa que ajudou.
Você leu ali encima que eu fui ao psiquiatra, então deve ter suposto que eu cheguei a tomar remédios, e bom, realmente tomei; e sim, como sugeri ali, falando que só a nutrição me ajudou, eles não fizeram efeito. O psiquiatra trocou a dose deles algumas vezes, e trocou de remédios duas vezes, então testei três tipos, e nenhum fez diferença. Pra ser sincera, um deles fez algum efeito por três dias, depois parou. A questão é que muitos desses remédios têm a ver com impedir a recaptura de serotonina, o que faz ela fazer efeito por mais tempo, ou trabalha diretamente em aumentar a liberação de serotonina. Pra quem não sabe, ela é um neurotransmissor muito importante pra felicidade, e sem ela é difícil, talvez impossível, se manter alegre. Além disso, ela ajuda na regulagem do sono.
E aí, tantas tentativas depois, quem me ajudou e me tirou dessa coisa horrível foi uma nutricionista que trabalha com nutrição funcional. A partir dela, e depois de alguns exames de sangue (que, ao medir a serotonina, deram 'abaixo de' tal quantidade, o que significa que era algo tão baixo que o teste não tinha sensibilidade o suficiente pra medir o quanto de serotonina que tinha), deu pra notar que o meu corpo em si estava doente, principalmente meu intestino (onde é produzida quase toda a serotonina). Ela ajustou a minha alimentação. Foi uma mudança muito drástica. Descobri que eu era intolerante a glúten e leite, passei dois meses sem comer nada do que ela me proibiu, comendo de modo saudável. Eu não sabia se ia dar certo, ainda mais depois de tanta coisa ter falhado, mas era mais uma oportunidade, e eu tinha jurado pra mim mesma que ia tentar tudo que fosse possível pra melhorar.
E aí, no final de dois meses, eu comecei a melhorar.
Eu vivi três anos horríveis pra, no final, descobrir que eu só precisava comer direito. O difícil é achar qual é o motivo da sua depressão. Quando você acha, é só tratar.
Agora vem mais duas coisas: primeiro, mesmo que você ache que saiba o motivo da sua depressão, é provável que você não saiba; segundo, mesmo que você realmente saiba o motivo pra ela ter começado, ele provavelmente não é o motivo dela ter permanecido, e nem a única coisa a ser tratada, a essa altura.
Quando você está em depressão, e começa a sair dela, você é uma pessoa completamente diferente. A depressão muda as pessoas de um modo tão radical que só ela consegue. Você vai esquecer amigos que eram muito próximos a você, vai passar a odiar coisas que você amava, vão ter músicas que você adorava escutar todo dia e que agora vão te deixar profundamente triste, lugares que você nunca mais vai querer frequentar e, talvez, até mesmo a sua própria casa ou a casa dos seus amigos e familiares passem a guardar elementos e lembranças que te deixam profundamente mal. Talvez a sua faculdade ou a sua profissão passem a parecer um inferno. E aí, nesse ponto, você vai ter algumas opções: ou você resiste a isso até que esses sentimentos se desgastem e sejam substituídos por sentimentos novos, bons ou neutros, ou você foge de tudo que é ruim pra você e vai embora, mudando de amigos, de casa e de profissão, ou você procura tratamento psicológico. Todas essas opções funcionam, cada uma a seu preço.
O que eu quero dizer, então, é que eu comecei a melhorar quando tratei a causa da depressão, mas isso ainda não era o suficiente. Eu já tinha a possibilidade de ficar feliz, e em dois meses tinha melhorado muito, e continuei melhorando muito a cada mês, mas a depressão me marcou de um modo tão horrível que, sinceramente, eu nem sabia mais quem eu era de verdade. Por mais que eu pudesse ficar feliz, e eu ficava, eu tava perdida. As coisas que eu gostava de fazer me traziam sentimentos ruins. Eu me via como uma pessoa egoísta e triste, que é o que eu era durante a depressão, mesmo eu já não sendo mais assim... e quando eu percebi, um dia, que eu não era mais assim, e que muita coisa que eu pensava antes eu já não pensava mais, foi ainda pior: quem eu era, então? E eu fui tentar lembrar do que eu era antes da depressão, e fui percebendo que ela tinha dado seus sinais desde perto dos 14 anos. Nossa! Então, quando ela começou de verdade? Então eu sou o que eu era antes dela começar? Mas antes dela começar eu era uma criança, agora eu sou uma adulta! E aí, do nada, eu tive que começar a redescobrir quem eu era. Foi difícil, muito. Até que eu arrumei uma psicóloga ótima. E aí, finalmente, eu consegui organizar as minhas ideias... e nem demorou tanto, em seis meses, vendo ela uma vez por semana, eu já era outra pessoa. Uma pessoa nova, e a pessoa que eu realmente deveria ser. A verdade é que eu ainda não sei de tudo o que eu sou, mas isso eu acho que ninguém sabe. Foi difícil, mas não me decepcionei. Eu sou uma pessoa ótima, e que melhora a cada dia.
Mais uma coisa: eu achava, de início, que foi a faculdade que me fez entrar em depressão. Durante a depressão, eu fiz vários primeiros períodos de arquitetura. Eu não passava por causa de falta, eu não conseguia me levantar de manhã pra ir pra faculdade. Quando eu me forçava a ir, eu ia chorando de casa até lá, e às vezes não conseguia entrar na sala, então ficava chorando no banheiro. Depois, quando comecei a melhorar (e achei que já tava melhor, mas não tava), eu entrei em Cinema. Gostei mais de lá, mas ainda era difícil viver naquela época. Finalmente eu decidi que não valia a pena ficar tentando cursos aleatoriamente. Cinema era legal, eu gostava... mas eu realmente amo é jogos. E meu deus, como existe diferença entre fazer algo que você gosta e fazer algo que você ama! Eu não sabia que era tanta, mas é enorme. É muito maior que a diferença entre algo que você não gosta e algo que você gosta. Mas na época que resolvi que ia trabalhar com jogos, foi algo complicado. A depressão me deixou insegura. O único curso que eu realmente queria, Design de Games, não tinha em Minas Gerais. Eu ia precisar me mudar, e na época eu mal me sentia segura o suficiente pra chamar o garçom, ou pagar alguma coisa, e com muita dificuldade eu pegava ônibus. Foi aí que entrou a psicóloga que falei, e em seis meses eu tava pronta. Vir pra São Paulo pra fazer Design de Games foi a minha melhor escolha.
Claro, isso só foi possível pq minha família teve dinheiro pra isso, mas eu tinha outros planos caso eu não conseguisse vir, pra área de jogos também, e acredito que teriam dado tão certo quanto... e se não dessem? Eu tentaria outros. O importante mesmo, nessa parte da história, foi a psicóloga. mesmo assim, muita gente da minha família já teve depressão, e cada um por um motivo, e cada uma teve um fim diferente, com psiquiatra, psicólogos ou até mesmo sem ajuda externa. O importante é achar seu caminho, e pegar todos os atalhos possíveis... e isso significa aceitar toda a ajuda que oferecerem, e procurar ajuda. Vai ser muito mais fácil se puder ter ajuda de pessoas que queiram seu bem, e ainda mais fácil se puder procurar ajuda profissional.
E agora, pra finalizar, e espero que eu não tenha esquecido de nada, cuidado com o que a depressão vai te fazer pensar. Ela vai te fazer se sentir horrível, se sentir uma pessoa ruim, se sentir fraco, se sentir sozinho... mesmo que nada disso seja verdade. E o nosso cérebro, sempre com essa vontade incrível de ligar causa à consequência, vai tentar achar o motivo desses seus sentimentos, e quando ele não achar, ele vai criar motivos aleatórios; e aí, do nada, você vai começar a culpar a você e aos outros à sua volta, até mesmo pessoas que querem te ajudar, por coisas que não são culpa sua ou deles. Vai sentir que está sozinho pq ninguém liga pra você, vai se sentir horrível pq você é burro ou feio, vai se sentir fraco pq não consegue sair de casa enquanto todos conseguem. Se tiver como, quando se sentir assim, tente pensar se isso é verdade ou não. Você tá realmente sozinho, ou tem gente que mostra que quer te ajudar e que gosta de você? Lembre dos seus pontos positivos. Lembre também que a depressão é uma doença que leva seu sono, sua memória e sua concentração com ela, e te faz ter menos vontade de se cuidar. Você tem que se curar antes de exigir coisas complexas de si mesmo.
Mas tenho uma má notícia: quando você pensar nisso, e concluir que realmente não faz sentido o que você está sentido, não significa que você vai parar de sentir isso. Uma pessoa que você ama, e que ama você, pode ficar te fazendo companhia o dia inteiro, e é provável que, quando ela for embora, você já passe a se sentir sozinho e abandonado. Talvez até mesmo enquanto está do lado da pessoa você já se sinta assim. A depressão torna difícil que você se sinta amado, mesmo que te amem. É importante você saber disso, assim você pode evitar ferir pessoas em volta de você, culpando elas por coisas que não são culpa delas.
Finalizando, as pessoas também vão te ferir. Muito. Você está em um momento frágil, e não só as palavras vão te ferir mais, mas também as pessoas vão te dizer mais palavras pra te ferir, e isso tem vários motivos. Um deles, é claro, e é o mais clássico, pessoas que não gostam de você vão aproveitar sua fraqueza pra te fazer mal. Sim, isso acontece... mas isso não vai significar nem 1% das suas feridas por palavras, a menos que você literalmente esteja morando com quem te odeia (e cuidado, você pode achar que o caso é esse, e ele pode não ser, por causa justamente do que digo a seguir): as pessoas que mais vão te ferir vão ser as pessoas que querem te ajudar, pq além de doer mais quando é alguém que você gosta falando, essas pessoas vão ficar mais com você.
Muita gente quer te ajudar, mas não sabe o que é depressão, e não tem sensibilidade, ou vai ficar muito frustrada por não saber o que fazer. Essas pessoas vão brigar com você frequentemente, vão tentar te tirar de casa. Normalmente elas acham que, se você se forçar a fazer o que precisa fazer, você vai melhorar. Elas também têm medo que você continue desmotivado e estagnado por muito tempo, por isso vão insistir que você "faça alguma coisa da vida". Isso não significa que elas não gostam de você. Não significa, também, que sejam pessoas saudáveis pra você durante a sua depressão.
Muitas outras pessoas, também, e isso até as mais empáticas, vão brigar muito com você durante a depressão, reclamar que você não escuta elas, que elas tentam te ajudar e você não quer ser ajudado. Elas também vão, frequentemente, pedir desculpa depois disso, mas nem sempre. Isso vai acontecer muito, e vai acontecer principalmente pq pessoas em depressão são MUITO difíceis de se lidar com. Elas são instáveis, atacam os outros sem perceber, sem motivo, são grosseiras, e é extremamente frustante tentar ajudar alguém em depressão quando você não descobriu ainda qual tipo de ajuda vai funcionar pra essa pessoa. Pessoas em depressão também entendem errado até mesmo elogios, e conseguem transformar as mais diversas frases em ofensas para elas mesmas, e vão ficar chateadas, e hora ou outra isso vai irritar quem estiver em volta. Se a pessoa estiver muito próxima a você, e conviver com você todos os dias, isso significa, às vezes, meses da pessoa tentando ajudar, sendo atacada, vendo alguém que ela gosta chorar, e não conseguindo fazer nada quanto a isso. É comum que, às vezes, essas pessoas que te dão apoio estejam em dias ruins, ou já estejam muito frustradas, e acabem explodindo. Acredite, é muito difícil pra elas... e elas são muito especiais, mesmo assim. Como você sabe disso? Bom, a depressão é algo tão horrível que até a gente não se aguenta, até a gente quer fugir de nós mesmos, só não fazemos isso pq não tem como. É, mas essas pessoas podem fugir de vocês, só que elas não o fazem.
Por fim, desejo sucesso a todos vocês.
E quando tudo parecer difícil, e quando não tiverem motivação pra nada, se no mínimo puderem reunir forças pra uma coisa, que essa coisa seja a vontade de se curar. Nesse momento, ela é a única coisa que vocês precisam ter.
Carolina C. N.