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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Brumadinho: trecho de entrevista concedida para o Jornal Sete Dias

O biólogo Ramon Lamar é especialista em assuntos relacionados a biologia, além daquilo que envolve ecologia e meio ambiente, e por isso foi escolhido como o profissional ideal para esclarecer sobre ângulos diversos o trágico acontecimento de Brumadinho. 

O que aconteceu em Brumadinho? O que aconteceu em Brumadinho foi a repetição do que aconteceu em Mariana, só que agora em uma dimensão muito maior em termos de descaso, porque a lição já havia sido dada.  

O que são essas barragens de rejeitos? O rejeito é aquela parte que é retirada da exploração de minério e que é inútil. É o lixo, que não tem como se retirar o ferro desse material. São outros materiais que vêm misturados com o mineiro de ferro. Então isso é carreado e armazenado dentro de uma grande lagoa, de uma grande barragem.  

Qual é o comparativo da tragédia de Mariana com a de Brumadinho? A tragédia de Mariana envolveu um volume maior de rejeitos e um dano ambiental, parece até o momento, muito maior que do que o dano ambiental de Brumadinho. Mas a questão de Brumadinho foram 350 vidas, e que poderiam ter sido totalmente evitadas por causa da lição de Mariana. Eu considero que Brumadinho é pior que Mariana. Muito pior do que Mariana, pela reincidência, por não se ter sido feito nada.  

A Agência Nacional da Águas (ANA) classificou a barragem de Brumadinho como uma estrutura de pequeno porte com baixo risco e alto dano potencial. O que isso significa? Significa que eles erraram feio! Significa que eles precisam ter mais atenção com essas questões das barragens. Todas têm risco. São estruturas feitas pelo homem, sujeitas a defeitos de engenharia e de tudo mais. Todas têm risco. Mas essa em particular, não sei a situação de outras, mas essa mostrou-se a face real dela como sendo uma coisa muito trágica.

Entrevista de 10 minutos para o Sete Dias no Youtube: Clique AQUI

Entrevista maior (30 minutos), para o PROGRAMA ENTRELINHAS do Juninho Sinonô: AQUI


sábado, 2 de fevereiro de 2019

Brumadinho, um crime ambiental.

Quanto VALE a vida humana?
Pelos aproximadamente 350 mortos na tragédia de Brumadinho, a vida humana vale muito pouco. VALE mais a economia de despesas necessárias, VALE mais negar a opinião contrária e optar por correr um risco e pagar uma multa. Realmente, para uma empresa que pode se dar ao luxo (será que pode?) de perder 70 bilhões de reais numa queda vertiginosa de suas ações na Bolsa de Valores, multas de 50, 100 ou 500 milhões parecem um troco, uma esmola... que aliás nem sempre é paga ou se possível, procrastinada ao máximo (só ver a situação de Mariana, com os mesmo tentáculos sujos de lama da VALE).
Qual desastre foi pior?  Oras, pelo volume de resíduos e impacto ambiental, Mariana tem o triste primeiro lugar no pódio. Mas Brumadinho ceifou quase 20 vezes mais vidas, sua lama contém materiais mais problemáticos (é indubitável a presença de metais pesados), Brumadinho ameaça a barragem de Três Marias e, nessa esteira, o São Francisco, "rio da unidade nacional". Mas mais do que tudo, Brumadinho é o escândalo criminoso de uma lição não aprendida. Após (a tragédia de) Mariana, com todos os seus tropeços jurídicos e de assistência às famílias, (a tragédia de) Brumadinho jamais poderia ter ocorrido.
É revoltante ver como uma grande empresa acha que VALE mais do que as outras, que seu poder econômico tudo permite. Construir a parte administrativa e o refeitório abaixo da barragem, no primeiro minuto da rota de destruição? Que absurdo é esse? Que Engenheiro Responsável foi esse que conduziu essa obra? 
A tragédia escancara a máxima que a fiscalização não é cega como a justiça. Uma das maiores reclamações é o achincalhe que é feito com os pequenos (ameaçados por todos os tipos de multas no limite máximo do seu alcance) e que contrata com a subserviência aos grandes, aos poderosos, aos doadores de campanha ou de caixa 2. Isso deixa a pergunta: essas empresas são grandes mesmo ou sua grandeza tem pés de barro?
Por trás de Brumadinho e Mariana existe uma figura oculta que nunca recebe a culpa pelos acontecimentos: a Bolsa de Valores. Recordes são comemorados porque o dinheiro está trabalhando para produzir mais dinheiro, numa espiral desenfreada, criando bolhas aqui e ali e que de vez em quando estouram. Perde-se 70 bilhões num dia e recupera-se 20 bilhões no outro porque a empresa foi boazinha e doou às famílias 100 mil reais por cada ser humano perdido. Puxa... façam a conta! 350 x 100.000 são 35 milhões de reais. Ou seja, promete-se o gasto de 35 milhões para recuperar 20 bilhões e deixar os acionistas menos insatisfeitos e com a perspectiva que logo as perdas se transformarão em lucros.
Da mesma forma, a solução de acabar com esse modelo de barragens de rejeitos implica em diminuir um pouco a produção... mas na outra ponta sobe o preço do ferro e aço, refazendo lucros e implicando em maiores despesas para quem? Olhe-se no espelho... sim... nós mesmos!
Vamos ver como a situação vai evoluir. Vamos ver como colará ou não a desculpa dada pelo presidente da VALE que "a sirene não tocou porque a barragem desceu muito rápido e cobriu a sirene". Meu Deus!!! Certas pessoas para não serem julgadas como bestas deveriam ficar de boca fechada. Uma fala dessas é praticamente confessar um crime.
Mais uma vez ficam os aplausos para os bombeiros e uma série de outros profissionais e voluntários trabalhando arduamente. 
Não sei as firulas jurídicas do tema, mas uma operação nos moldes da Lavajato faz-se necessária para trazer as explicações e conduzir os responsáveis para o lugar que lhes convém e que atende por presídio.

Ramon Lamar de Oliveira Junior