As opiniões emitidas neste blog, salvo aquelas que correspondem a citações, são de responsabilidade do autor do blog, em nada refletindo a opinião de instituições a que o autor do blog eventualmente pertença. Nossos links são verificados permanentemente e são considerados isentos de vírus. As imagens deste blog podem ser usadas livremente, desde que a fonte seja citada: http://ramonlamar.blogspot.com. Este blog faz parte do Multiverso de Ramon Lamar

domingo, 26 de junho de 2011

A importância dos jardins

A diversidade dos jardins é muito ampla e, por tal motivo, sua importância também é muito vasta. Basta lembrar de duas funções dadas ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro criado por Dom João VI: aclimatar espécies capazes de produzir carvão para uma pólvora de qualidade (havia a preocupação de uma possível invasão francesa, pois a Família Real veio para o Brasil fugindo de Napoleão Bonaparte) e também tentar obter por aqui mesmo grande parte das especiarias que eram trazidas da ásia por meio de rotas cada vez mais perigosas. Mas citar os Jardins Botânicos com sua importância histórica e também na pesquisa científica é covardia. Vamos nos ater, portanto, aos jardins domésticos e aos jardins das praças.
Dentre os jardins domésticos há aqueles bem cuidados, com espécies cuidadosamente escolhidas por profissionais ou por meio das sugestões das floras, livros e revistas de fácil acesso. Mas há também os “jardins da vovó”. Ambos satisfazem visualmente os seus donos. Eu não diria que é apenas uma questão de estética, mas de preencher as necessidades do dono do jardim. 
O jardim planejado por profissionais procura seguir uma certa linha de tratamento técnico-artístico do espaço. A grama bem aparada, as palmeiras, as bromélias, as flores e a interação com a luz ou com a água tentam alcançar um senso de harmonia que também pode ser absorvido pelo frequentador do local. E quanto mais observador for o dono do jardim, melhor saberá aproveitar toda a riqueza que ali se encontra.
Já os “jardins da vovó”, com sua profusão de plantas obtidas das mais diversas maneiras - uma muda recebida da querida dona Fulana ou uma plantinha “roubada” da pracinha -, com os mais diversos aspectos, cores e usos, não se esquecendo das várias que têm uso medicinal, trazem uma certa segurança ao dono/dona do espaço. Uma roseira, uma dália, cravos-de-defunto, margaridas, marias-sem-vergonha, samambaias no canto em latas muito antigas, um pé de pitanga... ali está também o elo com o passado da família, os costumes dos “antigos”. E não nos esqueçamos da arruda, da espada-de-São-Jorge e da comigo-ninguém pode! Estética? Não sei, talvez a estética de uma certa ordem no caos. Mas antes de tudo uma ocupação. Manter o jardim. Manter a mente ocupada em tratar das plantas, cortar os ramos mortos, adubar, comemorar o aparecimento de uma flor...

Beija-flor visita um ipê-de-jardim (Tecoma stans).
Nas praças, os jardins cumprem a função de nos aliviar da poluição visual das cidades servindo de importante colírio para nossas vistas cansadas. Quando não cumprem essa missão são logo alvo de críticas pelo mau estado de conservação. Os jardins das praças são, ou deveriam ser, o local de encontro das crianças e o início do aprendizado sobre a beleza e a necessidade de conservação da natureza. Fora com as placas "Proibido Pisar na Grama": a grama é a única vegetação que suporta pisoteio (claro que uma boa dose de educação é necessária para não danificar o jardim, bom local para se aprender algumas regras de convivência com os bens públicos). Ali tem-se a oportunidade de observar a diversidade de formas e cores, expressa na mistura de espécies, de flores, de texturas, de aromas e de pequenos animais como borboletas e beija-flores que são atraídos ao local. Para muitas crianças, que nasceram e cresceram em apartamentos, os jardins são o que de mais próximo há do contato com a natureza. E não precisa ser um jardim maravilhoso, caro, esteticamente indiscutível (existe estética indiscutível?). Claro que, no ambiente de uso comum, algumas regras precisam ser seguidas: fácil manutenção, preferência pelas plantas que trazem alguma beleza (pela folhagem, pelas flores ou pelo porte, no caso de praças maiores), ausência de espinhos ou plantas tóxicas que possam ser atrativas para as crianças (tarefa difícil, pois a gigantesca maioria das plantas de jardim possuem algum princípio tóxico em suas partes) e gramados - ou outro tipo de forração - muito bem cuidados.
Isso tudo sem esquecer da função pedagógica dos jardins: ensinar a reconhecer algumas espécies, perceber a ocorrência do ciclo da vida, notar a ação das plantas sobre o microclima, avaliar o consumo de gás carbônico e a produção de oxigênio e receber a tranquilidade que eles podem nos oferecer para um ou vários momentos de reflexão.
Não creio ser apenas uma questão estética. 
Meus olhos foram moldados para enxergar muito além.

Foto e texto: Ramon Lamar de Oliveira Junior

4 comentários:

  1. Ramon,

    tive a sorte de ser criado num ambiente verde de cabo a rabo. Graças a minha mae. Ela, apesar de nao ter conhecimentos de botanica, se esforçava ao maximo para compreender o funcionamento e diversificar seus jardins. Digo no plural porque nosso quintal era um bosque! Cobria parte da Benedito Valadares e da Quintino Bocaiuva. Tinha pereiras, passando por parreiras, laranjeiras, mexeriqueiras, mangueiras, goiabeiras, figos italianos, bananeiras de diversas especies, abacateiros, jabuticabas, ameixas, pauzinho doce, pitanga, roma~s, coqueiros, mandioca, fruta do conde, urucum, amoreira, etc. Paro por aqui! A unica fruta que compravamos era maça~.


    Isso sem contar as plantas "ornamentais". Quando eu tinha uns 7 anos me lembro de ir com ela a agencia de correios buscar mudas de rosas que comprava numa cooperativa de Cotia (acho). Fazia (e me ensinou) a fazer enxertos. E eu ficava ali, vigiando cada dia o paninho amarrado, esperando sair uma nova vida conjunta. E me maravilhava as avencas pela fragilidade, as orquideas pela beleza e delicadeza, as rosas pelo simbolismo. O tudo pelo cheiro de planta.

    O que voce escreve e' importante porque desperta e ensina a importancia dos jardins. Adoro jardins! Nao podia ser de outra forma.

    Se me permite, acrescento uma "aplicaçao" adicional dos jardins: curar ressacas. Nao so' pelo boldo (que tinhamos bem como gengibres) mas pela paz que trazia olhar-los. Se estava na varanda de minha casa, conversando com minha mae entao, era cura na certa!

    Um abraçao e obrigado por me fazer lembrar de tanta coisa boa!

    ResponderExcluir
  2. Abração, Claret! E parabéns pelo seu bom relacionamento com os jardins.

    ResponderExcluir
  3. Parabéns Ramon, parece uma coisa tao simples a definicao de um jardim, mais gostaria de deixar aqui meu agradecimento pelo seu blog, pois muitas veses nos esquecemos de tudo o que um simples jardim pode nos proporcionar alem de beleza, e sou testemunha disso pelo fato de nao saber responder ao meu filho essa pergunta, gracas a seu Blog, que encontrei depois de muito tempo encontrando respostas absurdas que tinha certeza de nao ser o que encontrava e o correto, obtive aqui o procurava e me concientizei tambem da importancia do mesmo...mais uma Parabens e muito Obrigado; Atenciosamente;
    Luciano Lima

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Luciano, eu que agradeço sua visita e as palavras tão incentivadoras. Abraços!

      Excluir

Clique em "Participar deste site" e siga o blog para sempre receber informações sobre atualizações. O seu comentário será publicado após ser lido pelo administrador do blog.