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domingo, 9 de junho de 2013

Jacarés, opiniões e contradições

O site setelagoas.com.br publicou a notícia abaixo que pode ser lida integralmente clicando AQUI.


Uma pessoa (não vou citar nomes, está lá para quem quiser conferir) perguntou nos comentários:
"- Biólogos que é isso ? Cada hora num bairro?"
Respondi-lhe:
"(Nome), a cidade vai crescendo horizontalmente e os bairros resultantes de novos loteamentos cada vez mais se colocam em locais onde antes era ambiente natural. Então, o encontro com animais selvagens não é uma surpresa. Já tivemos eventos com o aparecimento de lobo guará e jaguatirica na perimetral, lobo guará dentro das obras da Arena do Jacaré e esses casos de jacarés aí no Bougainville. Cascavéis também já andaram perturbando o sossego em outros bairros. A questão fundamental é o (des)preparo das pessoas e dos responsáveis (Polícia Ambiental e Bombeiros) para lidar com o problema. Ainda vamos ter muitos eventos do tipo, pois novos loteamentos estão surgindo em áreas semelhantes.
Abraços. (Ramon Lamar, Biólogo)"
Depois de algumas intervenções de outros leitores (alguns mais exaltados que outros), alguém escreveu (não sei se se dirigindo à minha resposta ou de outros que foram mais incisivos (sublinhados por minha conta):
"É isso aí (nome), ele fala isso porque não foi na casa dele que encontraram o bicho. Sabemos de toda esta balela sobre invadir o espaço dos animais, mas fazer o quê, a própria prefeitura e órgãos responsáveis liberam estes loteamentos, então se agora esta acontecendo isto alguém tem que fazer alguma coisa. Ah não já sei, quando alguém ou pior uma criança for até morta por um bicho desses aí sim eles vão tomar providência. Ou se alguém matar um desses bichos aí o Ibama, direitos humanos rsrsrsrs aparece."
Direcionamentos à parte (não interessa se estava se referindo à minha resposta ou outra), detectei um problema interessante de ser discutido: uma espécie de falso referenciamento como justificativa de opiniões formadas incorretamente. 
Observemos os trechos sublinhados.
Primeiro a pessoa diz que a invasão do espaço dos animais é uma balela. E depois justifica sua opinião (de que é uma balela) porque a prefeitura e os órgãos responsáveis liberam os loteamentos. Oras, alguma inconsistência no raciocínio está ocorrendo aqui. 
Se a questão da invasão do espaço dos animais é uma balela, como esses animais surgiram nos referidos locais? A cidade cresce e invade o espaço dos animais. Isso não é balela, é fato! Podemos discutir é "se a cidade precisa crescer" e "em qual direção ela pode crescer". Afinal de contas, estamos aí com um daqueles clássicos problemas de ecologia urbana. A cidade é o ambiente do homem. A cidade precisa crescer. Como crescer?
A outra inconsistência é considerar que se a prefeitura e os órgãos responsáveis (que refletem a mesma política da prefeitura, nesses casos) liberaram, então está tudo bem e há uma espécie de garantia de que os jacarés, cobras e outros bichos não deveriam aparecer. Oras, a prefeitura libera ou não libera loteamentos com base em diversos critérios e posso garantir que nem todos são absolutamente técnicos. E nós biólogos, gestores ambientais e engenheiros ambientais estamos constantemente avisando que tal ou tal situação pode ser problemática. A aprovação de certos loteamentos (dependendo do porte) se dá por votação no CODEMA, onde o número de representantes com formação na área biológica, ambiental ou até mesmo urbanística representa a minoria. A discussão não é completamente técnica e a votação nem sempre leva em conta tais critérios. Assista a uma votação recente com diversas ressalvas e que passou por unanimidade. O critério fundamental é o progresso: a cidade precisa crescer e os bichos e plantas que se virem. Bom, quando os bichos aparecem nas casas das pessoas a coisa é tratada com "incidente" isolado. Claro que não é a expressão da verdade.
Não estou aqui para aconselhar ninguém sobre o quê comprar e onde comprar. Mas na questão de lotes, seria muito interessante analisar a história pregressa do local. Com base nisso, a decisão de comprar e ali residir envolve o entendimento da possibilidade de risco de aparecimento de algum visitante indesejável como os da citada reportagem.
É mais ou menos por aí.

Ramon Lamar de Oliveira Junior

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