Vamos tentar explicar as notas do ENEM.
Muitos alunos têm perguntado o motivo das notas tão discrepantes entre as disciplinas. A grande confusão está no fato da nota não ser linear, ou seja, não ser proporcional ao número de acertos. Sendo assim, 50% de acertos na prova de LINGUAGENS E CÓDIGOS não corresponderá à mesma nota de 50% de acertos na prova de MATEMÁTICA. Isso ocorre porque a nota obtida refere-se à "posição" conseguida pelo candidato em um "ranking" de todos os candidatos naquela prova. A porcentagem de acertos mediana (aquela que separa os candidatos em dois grupos de exatamente o mesmo tamanho) corresponde à nota 500.
Vamos supor uma prova onde a distribuição dos acertos ocorre de acordo com uma curva que chamamos de curva normal. Poucos candidatos acertaram poucas questões. Poucos candidatos acertaram muitas questões. A maioria dos candidatos teve um acerto próximo a 50%. Nessa curva, a média e a mediana são iguais, dividindo a população de candidatos em dois grupos de mesmo tamanho, ou seja, metade dos candidatos acertaram menos de 50% e metade mais de 50%. Verifique a imagem abaixo:
Nesse caso, o percentual de acertos é diretamente proporcional à nota. Bastaria multiplicar o percentual de acertos por 10 para termos a nota do candidato.
Para entender as notas de LINGUAGENS E CÓDIGOS e MATEMÁTICA, vamos considerar que você acertou 50% das questões.
Na prova de LINGUAGENS E CÓDIGOS o percentual de acertos que representa a mediana é muito alto (a curva está "deslocada para a direita"). Isso ocorre porque, de uma maneira geral, os candidatos têm mais facilidade nessa prova. Analise o gráfico abaixo:
Com isso, a mediana desloca-se para a direita (lembre-se que a mediana é o número de acertos que divide o total de candidatos em dois grupos de mesmo tamanho). A mediana corresponderá à nota 500 (sempre). Então, se a mediana for maior do que 50% de acertos, e você acertou metade das questões (menos do que a mediana) ficará com nota menor do que 500.
Já a prova de MATEMÁTICA tem um grau maior de dificuldade para os candidatos. A curva "desloca-se para a esquerda". Observe o gráfico:
A mediana agora é menor do que 50% dos acertos, mas continua valendo 500. Logo, se você acertou metade das questões (mais do que a mediana) sua nota será maior que 500.
A ideia geral é essa. Espero que tenham entendido.
Em caso de dúvidas, podem perguntar nos comentários. Mas lembro: essa é a ideia em torno das notas da avaliação. O método pressupõe alguns ajustes estatísticos. Detalhes sobre a metodologia adotada eu não tenho, apenas o que já foi publicado.
Mas precisamos considerar outras coisas:
- A TRI (Teoria de Resposta ao Item) não confere o mesmo valor a todas as questões. O valor é conferido conforme o grau de dificuldade da questão (avaliado previamente em testes que ninguém sabe quando, onde e como foram feitos). Portanto, candidatos com o mesmo número de acertos podem ficar com notas diferentes. O INEP/MEC deveria divulgar o grau de dificuldade de cada questão e o valor que cada uma recebeu. Isso chama-se transparência.
- A TRI pode desconsiderar aqueles acertos de questões difíceis quando o candidato errou as fáceis. O programa interpreta essa situação como "chute". E o candidato não fica sabendo o que foi considerado certo e o que não foi. A divulgação desse dado também seria um sinônimo de transparência. Isso é uma doideira. Imagine se eu aplico uma prova para meus alunos de colégio e só considero as respostas das questões difíceis se eles tiverem acertado as fáceis. Sou enforcado e esquartejado no dia seguinte.
- Se o Ministério Público resolver questionar esses pontos o INEP/MEC vai ficar em maus lençóis. Terá que apresentar a planilha de notas para cada candidato. Eles têm condição de fazer isso. Seria muito interessante.
Abração!
Texto e gráficos: Ramon Lamar de Oliveira Junior