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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Transposição do Rio São Francisco e os peixes

Texto original: Transposição do São Francisco: incoerências e os peixes. 
Uma contribuição ao debate.

Carlos Bernardo Mascarenhas Alves – Biólogo
Coordenador do Subprojeto S.O.S. Rio das Velhas

O blog sugere a leitura completa do texto original disponível em:

O trecho abaixo é uma adaptação publicada em: www.sfrancisco.bio.br/aspbio/transpeixes.html

Muito tem sido dito sobre a inviabilidade do projeto de Transposição do rio São Francisco, ou agora maquiadamente denominado “Projeto de Integração da Bacia do São Francisco às Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional”. Dos 44 impactos listados no Relatório de Impacto Ambiental, somente 11 são considerados positivos e muitas incertezas ainda pairam inexplicadas nessa discussão. Até hoje, um tema foi negligenciado: a fauna de peixes. No relatório de impacto ambiental ele é abordado, mas nas discussões que até hoje se viu nos jornais, televisão e internet, muito pouco ou quase nada é exposto.
Os peixes
A fauna de peixes da bacia do rio São Francisco é composta potencialmente por 250 a 300 espécies. Já as bacias receptoras possuem uma fauna significativamente mais pobre, com apenas 53 espécies nativas. Agrava-se a situação o fato de que há um alto grau de endemismo, ou seja, espécies cuja ocorrência se limita a uma dessas bacias ou região (23 espécies ou 43%). Então estamos falando da possibilidade de introdução de centenas de espécies em bacias onde ocorrem somente algumas dezenas. Esses peixes vão ser “captados” no São Francisco, através de ovos, larvas e formas jovens, e lançados nas bacias receptoras.
Hoje se sabe que a segunda maior causa da extinção de espécies e perda de biodiversidade é justamente a introdução de espécies exóticas (aquelas que ocorrem naturalmente em outras bacias ou mesmo países e continentes e, pelas mãos do homem, alcançam outras áreas). Ressalte-se que a introdução de espécies exóticas é crime previsto na legislação ambiental Brasileira. Dessa forma, o projeto estará submetendo a fauna existente nas bacias receptoras a outro impacto, talvez irreversível, com potencial de extinção de espécies endêmicas. Em Lagoa Santa (MG), dentro da bacia do São Francisco, houve extinção de 70% da fauna original nos últimos 150 anos e uma das causas foi a introdução de espécies de peixes, como o tucunaré. O problema não se restringe aos peixes, e sim à fauna aquática como plâncton e invertebrados. Esse tema é tão importante, que o próprio governo estabeleceu uma Força Tarefa Nacional para combate do mexilhão dourado, uma espécie invasora de molusco que têm causado graves danos econômicos no sul, sudeste e pantanal.
Os estudos realizados prevêem uma forma de controle dos peixes que passariam pelas bombas. Mas ainda não está definido qual sistema será utilizado. Filtração, controle com espécies carnívoras nos canais, barreiras elétricas, etc. A filtração de grandes volumes de água é extremamente dispendiosa. Pior ainda é retirar esses ovos, larvas, alevinos e jovens do rio São Francisco, que já apresenta sérios sinais de queda na produção pesqueira, e que poderiam se tornar adultos em sua bacia de origem. 

A próxima transposição
Já foi dito que há a possibilidade de uma outra transposição vir a compensar o rio São Francisco, no futuro, pelas águas que ora lhe estão sendo subtraídas. É a Transposição do Tocantins.
Pelos mesmos motivos já expostos, a transposição do Tocantins para o São Francisco seria outra tragédia ambiental. E de proporções ainda maiores, já que a bacia do Tocantins-Araguaia é mais rica que a do São Francisco. Nesse caso estamos falando na introdução de 400 a 500 espécies de peixes numa bacia que possui entre 250 e 300 espécies.
Você já pensou nisso? Ou já viu esse tema ser abordado nas inflamadas discussões e controvertidas audiências públicas realizadas sobre o Projeto de Integração de Bacias? Essa é a razão desse artigo e espero que seja dada a devida importância a essa causa. 

Rio São Franciso a jusante da UHE de Três Marias. Foto: Ramon L. O. Junior

3 comentários:

  1. Ramon,

    vamos ver se entendi bem. Estao falando em transporte de aguas fluviais entre o Tocantins e o Sao Francisco? E' isso?


    Antes de opiniar, quero assegurar-me que nao estou interpretando mal um trecho do post.

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  2. Ramon, o homem está se metendo demais na natureza. Respeitemos os limites dos rios, dos mares, das florestas! Há tantas terras em regiões habitáveis por que morar onde há seca, por que deixar criar vilas e aldeias e cidades onde não existe infra estrutura!
    Por que o governo não cria condições vantajosas das familias se mudarem em vez de mudar o rio??? O país é grande possui regiões habitáveis e não habitáveis, regiões de desenvolvimento e regiões para as reservas e preservações!
    Assim penso eu!
    Celle

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