Texto original: Transposição do São Francisco: incoerências e os peixes.
Uma contribuição ao debate.
Carlos Bernardo Mascarenhas Alves – Biólogo
Coordenador do Subprojeto S.O.S. Rio das Velhas
Coordenador do Subprojeto S.O.S. Rio das Velhas
O blog sugere a leitura completa do texto original disponível em:
O trecho abaixo é uma adaptação publicada em: www.sfrancisco.bio.br/aspbio/transpeixes.html
Muito tem sido dito sobre a inviabilidade do projeto de
Transposição do rio São Francisco, ou agora maquiadamente denominado
“Projeto de Integração da Bacia do São Francisco às Bacias
Hidrográficas do Nordeste Setentrional”. Dos 44 impactos listados no
Relatório de Impacto Ambiental, somente 11 são considerados positivos e
muitas incertezas ainda pairam inexplicadas nessa discussão. Até hoje,
um tema foi negligenciado: a fauna de peixes. No relatório de impacto
ambiental ele é abordado, mas nas discussões que até hoje se viu nos
jornais, televisão e internet, muito pouco ou quase nada é exposto.
Os peixes
A fauna de peixes da bacia do rio São
Francisco é composta potencialmente por 250 a 300 espécies. Já as bacias
receptoras possuem uma fauna significativamente mais pobre, com apenas
53 espécies nativas. Agrava-se a situação o fato de que há um alto
grau de endemismo, ou seja, espécies cuja ocorrência se limita a uma
dessas bacias ou região (23 espécies ou 43%). Então estamos falando da
possibilidade de introdução de centenas de espécies em bacias onde
ocorrem somente algumas dezenas. Esses peixes vão ser “captados” no São
Francisco, através de ovos, larvas e formas jovens, e lançados nas
bacias receptoras.
Hoje se sabe que a segunda maior causa da extinção de
espécies e perda de biodiversidade é justamente a introdução de
espécies exóticas (aquelas que ocorrem naturalmente em outras bacias ou
mesmo países e continentes e, pelas mãos do homem, alcançam outras
áreas). Ressalte-se que a introdução de espécies exóticas é crime
previsto na legislação ambiental Brasileira. Dessa forma, o projeto
estará submetendo a fauna existente nas bacias receptoras a outro
impacto, talvez irreversível, com potencial de extinção de espécies
endêmicas. Em Lagoa Santa (MG), dentro da bacia do São Francisco, houve
extinção de 70% da fauna original nos últimos 150 anos e uma das
causas foi a introdução de espécies de peixes, como o tucunaré. O
problema não se restringe aos peixes, e sim à fauna aquática como
plâncton e invertebrados. Esse tema é tão importante, que o próprio
governo estabeleceu uma Força Tarefa Nacional para combate do mexilhão
dourado, uma espécie invasora de molusco que têm causado graves danos
econômicos no sul, sudeste e pantanal.
Os estudos realizados prevêem uma forma de controle dos
peixes que passariam pelas bombas. Mas ainda não está definido qual
sistema será utilizado. Filtração, controle com espécies carnívoras nos
canais, barreiras elétricas, etc. A filtração de grandes volumes de
água é extremamente dispendiosa. Pior ainda é retirar esses ovos,
larvas, alevinos e jovens do rio São Francisco, que já apresenta sérios
sinais de queda na produção pesqueira, e que poderiam se tornar
adultos em sua bacia de origem.
A próxima transposição
Já foi dito que há a possibilidade de uma
outra transposição vir a compensar o rio São Francisco, no futuro,
pelas águas que ora lhe estão sendo subtraídas. É a Transposição do
Tocantins.
Pelos mesmos motivos já expostos, a transposição do
Tocantins para o São Francisco seria outra tragédia ambiental. E de
proporções ainda maiores, já que a bacia do Tocantins-Araguaia é mais
rica que a do São Francisco. Nesse caso estamos falando na introdução de
400 a 500 espécies de peixes numa bacia que possui entre 250 e 300
espécies.
Você já pensou nisso? Ou já viu esse tema ser abordado
nas inflamadas discussões e controvertidas audiências públicas
realizadas sobre o Projeto de Integração de Bacias? Essa é a razão
desse artigo e espero que seja dada a devida importância a essa causa.
Rio São Franciso a jusante da UHE de Três Marias. Foto: Ramon L. O. Junior |
Ramon,
ResponderExcluirvamos ver se entendi bem. Estao falando em transporte de aguas fluviais entre o Tocantins e o Sao Francisco? E' isso?
Antes de opiniar, quero assegurar-me que nao estou interpretando mal um trecho do post.
Criatividade aqui não tem limite!!!
ResponderExcluirRamon, o homem está se metendo demais na natureza. Respeitemos os limites dos rios, dos mares, das florestas! Há tantas terras em regiões habitáveis por que morar onde há seca, por que deixar criar vilas e aldeias e cidades onde não existe infra estrutura!
ResponderExcluirPor que o governo não cria condições vantajosas das familias se mudarem em vez de mudar o rio??? O país é grande possui regiões habitáveis e não habitáveis, regiões de desenvolvimento e regiões para as reservas e preservações!
Assim penso eu!
Celle