Vapabuçu, "terra de muitas lagoas" na língua indígena da região (pelo menos foi isso que aprendi).
Vapabuçu, lagoa abandonada... sem dono em meio a tantos donos, esquecida em um canto da cidade, brevemente será apenas um transtorno ou empecilho ao progresso. Estrategicamente posicionada próximo à Igreja de São Judas Tadeu... só mesmo o "santo das causas impossíveis" para auxiliar na recuperação da área.
Não sonho ver a Lagoa do Vapabuçu com o mesmo aspecto da Lagoa Paulino "dos bons tempos". Não creio que ali seja o lugar para investir milhões de reais em urbanização e iluminação feérica. Gostaria de ver o espelho d'água em parte recuperado, a APP (Área de Preservação Permanente) respeitada e um acesso para que a população pudesse observar a beleza biológica do local, capaz de servir de abrigo para espécies nativas e aves em migração. Gostaria de ver as nascentes preservadas e o esgoto doméstico e industrial sem acesso à suas águas.
Contudo, vejo ali a figura do vazio: o vazio do interesse público, o vazio de ideias para sua preservação, o vazio em forma de desrespeito a um bem público na forma de cercas que invadem não só a APP mas o próprio leito da lagoa. E nesse vazio a situação vira uma espécie de brincadeira onde as pessoas do entorno brincam com sua própria saúde e brincam de engenheiros, agricultores e pecuaristas.
Triste é ver que a situação da Lagoa do Vapabuçu mudou muito depois da palestra que fiz, a convite do vereador Claudinei, em comemoração ao Dia Mundial da Água, em março de 2011. MUDOU PARA PIOR, MUITO, MAS MUITO PIOR. Acompanhando a postagem anterior (clique
AQUI) e as imagens da lagoa naquela época (postarei uma foto adiante), vemos que a "promessa" de se fazer alguma coisa foi promessa vazia.
Sete Lagoas, dessa forma, caminha a passos largos para ter seu nome alterado para
Cinco Lagoas (ou então, mudar-se a lei que instituiu quais seriam as "sete lagoas" que dão nome à cidade). Bom, temos mais de 20 lagoas, mas mesmo assim seria preciso correr para escolher duas já que as demais encontram-se em estado precário ou caminhando na mesma direção.
A verdade é simples, nua e crua: não há interesse em recuperar nossas lagoas. No máximo, há interesse em manter as lagoas Paulino, Boa Vista, Cercadinho, Catarina e José Félix. Lagoa da Chácara e Lagoa do Vapabuçu são "primas pobres" que só podem ser salvas de os proprietários das terras do entorno assim entenderem e quiserem. Não há dinheiro público disponível para tanto, e se há, não há interesse em procurá-lo. Precisamos cultivar esse interesse da busca de recursos financeiros e técnicos que viabilizem a preservação, mesmo que ínfima, de nossa história natural.
Seguem-se as imagens e alguns comentários. Cliquem nas imagens para ampliar.
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Lagoa do Vapabuçu, hoje (14 de abril de 2013) |
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O mesmo local em março de 2011. |
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A lagoa em 2011, servindo de refúgio para aves nativas e em migração. |
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Reduzida a pequenos poços espalhados, não foi observada a diversidade de aves vista em 2011. |
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Acreditem, aqui é a Lagoa do Vapabuçu. |
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Cavalos pastam no leito da lagoa. |
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Cercas avançam no leito da lagoa. |
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Outro fragmento da lagoa. |
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Outro. |
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Nascente no meio da área, local onde o lençol subterrâneo encontra-se mais superficial. Abaixo, um pequeno vídeo mostrando o fluxo da água, bem rapidinho. |
O vídeo é curtíssimo mesmo, para não ocupar muita memória. Só para ver o movimento da água. Agora, toda vez que vejo uma nascente, lembro do meu aluno Hugo Filipe, nunca vi sujeito mais emocionado ao ver uma nascente pela primeira vez (no Parque da Cascata).
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Outro poço. |
Biodiversidade e problemas caminham juntos:
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Pneu com água (possível criadouro de Aedes aegypti) e caramujo africano (Achatina fulica). Leia sobre o caramujo clicando AQUI (leia os comentários pois há uma turma que defende o caramujo, mas não há defesa para a questão da água em suas conchas... ver mais abaixo.) |
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Concha do caramujo africano vazia e contendo água. Aí está um local muito favorável à reprodução do transmissor da dengue, o Aedes aegypti. Confesso que eu mesmo fiquei impressionado com essa imagem porque nunca havia visto uma concha numa situação igual a essa. |
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Concha de caramujo planorbídeo. Provavelmente de Biomphalaria tenagophila, um dos caramujos hospedeiros da xistose ou esquistosomose. Achado extremamente preocupante já que há o relato de esgoto que cai na lagoa. A presença de ovos do verme da xistose poderia provocar a contaminação desses caramujos e criar um foco importante de transmissão da doença. Mais uma vez fica o alerta para as pessoas que se aventuram a andar ou nadar dentro das lagoas sem se atentar para o risco da transmissão de doenças. |
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Duas conchas de Pomacea (à esquerda) e duas de planorbídeo (à direita). O Pomacea é inimigo natural dos planorbídeos uma vez que compete com eles pelo alimento e também devora suas desovas. Sua presença é importante no controle da xistose. |
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Pequeno anfíbio em meio ao solo orgânico. Só biólogo mesmo para ver essas coisas minúsculas. De repente, você está andando, e alguma coisa fala em sua cabeça: "- Olhe para baixo, com atenção." |
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Libélulas em casais, copulando e depositando seus ovos na água de um dos poços que restou da lagoa. As larvas de libélula são predadoras de larvas de mosquitos. A presença das libélulas atesta, que pelo menos nesse ponto, a qualidade da água é biologicamente favorável. |
A turma do MUTIRÃO CIDADANIA:
Ao final, o resultado de alguma coleta de lixo no trecho (inclusive no leito da lagoa) e o pneu que adotei para ser colocado na garagem do meu prédio (na parede atrás do carro, para evitar incidentes ao estacionar).
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Ao final, uma parte da turma seguiu adiante para fotografar denúncias de depósitos clandestinos de lixo próximos à lagoa, mas não pude acompanhá-los. |
Fotos e texto: Ramon Lamar de Oliveira Junior
Olá, eu estou fazendo um curso técnico em meio ambiente e a nossa professora Jussara k. solicitou um trabalho de recuperação, restauração ou revitalização de determinada área degradada. Por uma aluna integrante do grupo morar no bairro Vapabuçu próximo a lagoa, escolhemos a lagoa para fazer um projeto de recuperação da mesma, e elaborar um plano de ação para recuperá-la... fomos até a lagoa e verificamos que ela está completamente seca, com alguns pontos saindo fumaça provavelmente por causa do alto grau de matéria orgânica concentrada no local, quando eu vi a foto do nascente acima fiquei intrigado pois no dia não vimos qualquer sinal de água... apenas quando entramos dentro das crateras no meio da lagoa e cavamos um pouco a terra percebemos que ela ainda se encontrava um pouco úmida...
ResponderExcluirDe acordo com a integrante do grupo que mora perto do local, a horta comunitária ao lado da lagoa drenava a água da mesma para fazer a irrigação e esse seria um dos motivos para essa seca , além de um pouco de lixo dizem que é comum as pessoas irem lá para coletar a terra da lagoa que é muito fértil. Um local onde ela dizia ser a nascente estava tomado por caminhões e caminhões de entulho. Não sei se é por causa do baixo nível do lençol freático ou por causa de poços artesianos ou diminuição no volume da chuva ou se é comum a lagoa passar períodos seca , se foi por causa da drenagem feita pela horta comunitária ou se a lagoa secou por causas naturais... eu acho que essa lagoa deveria receber uma atenção da prefeitura pois é uma das sete lagoas. Obs: se for depender dos moradores ao redor da lagoa ela vai virar um grande pasto pois o número de vacas e cavalos era muito grande.
Alef, há planos de revitalização da lagoa sim. Talvez comecemos a fazer alguma coisa em 2014. Mas realmente a situação lá é muito complexa. Aquela nascente foi observada alguns dias após a ocorrência de chuva, ou seja, o lençol freático é bem superficial e talvez possa ser trabalhado para garantir a perenização da lagoa. Abraços e obrigado pelos comentários.
ExcluirVocê poderia me dizer que tipo de obra seria necessária para perenizar a lagoa? a instalação de uma bomba por exemplo ?
ResponderExcluirA interceptação do lençol freático (como foi feito na Lagoa do Cercadinho) e a colocação de um poço artesiano jorrando pelo menos uns 10 metros cúbicos por hora no período de falta de chuvas.
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