É...Tem que gostar demaaaaaaais da medicina.
Pela primeira vez tenho vivenciado um trabalho diário de um grande hospital fazendo parte efetivamente do seu corpo clínico. Não tem como demostrar o quanto nossa futura profissão está desvalorizada. Observar as condições de trabalho impostas aos médicos, chega a ser desumano. Não que os demais profissionais de saúde também não compartilhem da mesma realidade, claro que sim, mas aqui estou relatando especificamente a medicina.
Esse final de semana, estava em minha cidade natal e fui convidado por um grande mestre que tive em minha vida, Professor Ramon Lamar, a dizer umas palavras a alguns vestibulandos do seu cursinho, o qual fiz parte e serei eterno aluno, acerca do cenário médico atual. Tentei não frustar os sonhos daqueles jovens, ansiosos pela aprovação, até porque me via neles. Munidos de grandes expectativas. Mas não pude me furtar em tentar repassar aquilo que estamos contemplando contemporaneamente.
Testemunhar futuros colegas acostumados a dar 36, 48 horas de plantões, tendo em vista que determinadas especialidades passam por uma carência absurda e os mesmos estão comprometidos com a continuidade do serviço e sabem que, em caso de recusa, a população ficaria desassistida. Ouvir de uma pediatra que não vê seu próprio filho há dois dias ( filho de 9 anos ) porque está cuidando dos filhos de outras mães é, no mínimo, um fato para se meditar. Vim embora para minha casa, depois dos meu de 12 horas, após uma cesária de 2 horas e 12 minutos pra fechar com chave de ouro, pensando dentro do ônibus.
Tinha que relatar isso. A exaustão imperando em toda a equipe e todos tentando fazer o seu trabalho da melhor forma possível. Falo porque fico indignado quando a imprensa marrom noticia erros médicos e posturas indevidas de determinados "profissionais". É claro e evidente que devemos repudiar tais atos mas generalizar e colocar todos no mesmo balaio é triste.
Para aqueles que pretendem ou que sonham um dia fazer a tão badalada Medicina, fica a dica. Preparem-se...A situação está precária e não vejo um cenário acalentador a médio e longo prazo. Tem que gostar demaaaaaaais....
Josué Lessa
Acadêmico de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas de MG
(Foto: Recorte da Capa do Jornal da Associação Médica de MG, n. 136)
Comentário: Josué Lessa é uma daquelas pessoas que você tem que reservar uma boa parte do tempo para analisar, compreender e reconhecer que se trata de um ser humano notável. Adjetivos não servem bem para o propósito de qualificá-lo. Resumidamente, basta dizer, "Josué é o cara". Mas, felizmente, não está sozinho. Tive a honra que lecionar para outros "caras" e outras "caras" da envergadura do Josué. Hoje eles estão por aí atuando na Medicina e em muitas outras áreas. Não tenho nem como fazer uma lista de nomes ou de cursos, pois correria o risco de deixar muitos de fora. O Grande Arquiteto do Universo me deu essa felicidade de ter conhecido tantas pessoas maravilhosas e ter contribuído com uma fração minúscula da formação deles, porque na verdade eles já estavam formados. A verdadeira missão deles era a de colaborar para a minha formação. Obrigado, gente!
PS.: Josué, sua fala não foi de devaneios... são verdades.
Mestre, fico muito feliz pelo apreço que o senhor dispensa a minha pessoa, mas acredito que, pelo perfil do seu caráter e coração, muito excede o que de fato sou. Queria pontuar que só fui ao NDA por entender que lá realmente se tenta formar cidadãos realmente críticos, qualidade incomum em cursinhos pré-vestibulares, que se limitam a doutrinar rasamente seus alunos. Recusei, inúmeras vezes, convites de alguns dos cursinhos mais "badalados" da capital. Assim o fiz por entender que os reais objetivos de tal convite seria a perpetuação de uma "moda" mercadológica em se fazer Medicina. Florear a realidade. Não compactuo com essa política. Fui e irei quantas vezes o senhor me requisitar, com o intuito de contribuir, mesmo que parcamente, na formação dos seus alunos, tendo em vista que tenho a honra de ser mais um entre eles. Muito obrigado pelo espaço.
ResponderExcluirAbração, Josué! Minha casa, sua casa!
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