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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Arborização urbana, o desafio da "Floresta Urbana".

É provável que uma pequena parcela da população não concorde com a afirmação que "a arborização urbana é necessária". Sim, existem pessoas que só conseguem enxergar os problemas relacionados às árvores (queda de folhas, flores e frutos; queda de galhos; rachaduras em calçadas e tubulações de água e esgoto...). Não tiro totalmente a razão destas pessoas, mas convém lembrar que a opção por arborização não pode ser apenas a expressão do "arregace as mangas, vá lá e plante uma árvore". O caminho é um pouco mais complexo.

Vamos tentar colocar esse caminho de uma forma didática (sugestões nos comentários são bem vindas):

1) A escolha do local é determinante de tudo. Calçada, canteiro central, rotatória, praça e interior do lote (frente "jardim" ou fundos "quintal"), para cada local há espécies recomendáveis e espécies "proibidas" (entre aspas porque nesse caso dependerá muito de um esforço para conter os ímpetos de crescimento da espécie).

*** Calçadas: naquelas com menos de um metro e meio é praticamente inviável o plantio de árvores. Nesse limite, algumas arbustivas (se bem guiadas e erguidas) podem ter sucesso: hibisco, ipê-de-jardim, chorão-mexicano, extremosa, falsa murta, flamboyant-mirim, espirradeira e grevilha. A partir de um metro e meio já é possível pensar em árvores, mas levando também em consideração a existência de rede elétrica aérea ou subterrânea: quaresmeira, escumilha-africana, ligustro (alfeneiro), calistemo, eritrina verde-amarela, jasmim-manga e pata-de-vaca. Em calçadas mais largas, em especial sem rede elétrica, já é viável a presença de árvores que vão gerar mais sombra (e também mais cuidados em sua condução e manutenção): jacarandá-mimoso, magnólia amarela, acácia-chuva-de-ouro, árvore-da-China, cinamomo, espatódea, ipês (com muito cuidado em relação à poda e crescimento), eritrina-mulungu, oitizeiro, sabãozinho, triplaris (pau-de-formiga - lembrando que a floração da fêmea e do macho são bem distintas) e sibipiruna (de novo o alerta em relação à poda e crescimento).


Árvore da China, Grevilha e Chorão mexicano. (Cliquem nas imagens para ampliar)

*** Canteiros centrais: a largura do canteiro central também é importante e deve ser considerada como a tal calçada estreita, entretanto a vegetação não pode provocar distração no motorista e dificuldades para o pedestre (visibilidade). Lembrando que temos sugerido muito o uso de forração de grama-amendoim (Arachis) em especial para os canteiros onde não há trânsito de pessoas, devido à sua facilidade de desenvolvimento e trato (não necessitando de podas frequentes). Palmeiras de porte médio (licuri, por exemplo) e yucca seriam opções razoáveis. Pequenos arbustos ornamentais também têm sua vez como azaleias e ixoras. Em caso de árvore, a questão da boa poda de condução e levantamento da copa é fundamental. Frutos que possam cair e provocar acidentes, nem pensar (já vi mangueiras em canteiros centrais de rodovias... o bom senso passou longe). Outra questão relevante é sobre a necessidade de podas frequentes (custo excessivo e risco para os jardineiros).


 Grama-amendoim (Arachis), hibisco e ixora. (Cliquem nas imagens para ampliar)

*** Rotatórias: mais uma vez a questão da visibilidade de todos e distração dos motoristas é fundamental. Palmeiras e plantas de padrão semelhante (Cycas, por exemplo) nos parecem ser mais adequadas.

*** Praças: agora sim podemos pensar nas árvores de grande porte: tipuanas, paineiras, oitizeiros, pau-brasil, ipês diversos, canafístula, flamboyant, pau-ferro, cássia rosa (Cassia javanica e Cassia grandis), gameleira, Ficus elastica, Ficus benjamina, castanheira (sete copas), sapucaia e vai por aí afora. Óbvio que as árvores de médio e pequeno porte também podem e devem estar presentes, mas as praças são o local perfeito para as grandes espécies. Como sempre, o cuidado com a poda, condução, remoção de pragas deve ser uma constante e não um evento esporádico do tipo Copa do Mundo.


Cássia rosa, flamboyant (muito bonito mas plantado inadequadamente em calçada estreita) e sapucaia. (Cliquem nas imagens para ampliar)

*** Jardins das residências: tudo na dependência do afastamento frontal e também na presença de fiação aérea. Atualmente, opta-se por uma aparência mais limpa ("clean") dos jardins, mas isso não impede a presença de uma árvore de porte maior, como um ipê.

*** Quintais: agora o espaço em que podem ser usadas as frutíferas, mas sempre com muito cuidado em relação ao porte das árvores, áreas sujeitas a quedas dos frutos e proliferação de pragas. É importante lembrar ao cidadão que, na maioria das cidades, as árvores da sua calçada, do seu jardim ou do seu quintal não são "propriedade exclusiva" do dono da casa ("- Eu que plantei, então é minha e faço o que quiser!"). Regras existem para podas e para supressões. Convém consultar a Secretaria do Meio Ambiente ou o outro órgão público relacionado com essas ações.

2) O solo e o clima são adequados? É muito comum que as pessoas vejam uma bela planta em uma cidade e depois tentem obtê-la também para seus espaços. "As pessoas", no caso, vão do cidadão comum ao prefeito. Entretanto, nem sempre o solo e as condições climáticas são favoráveis ao desenvolvimento da planta. Daí uma diretriz que, com muita dificuldade, estamos propondo e nos empenhando, que é o uso de espécies nativas. Muita dificuldade porque precisamos do esforço das Faculdades/Universidades/Centros de Pesquisa para que consigamos "domar" algumas espécies e oferecê-las como mudas viáveis e interessantes para o paisagismo urbano. Voltando à questão do solo, sempre é possível trabalhar-se na perspectiva de correção de seu pH e nutrientes, contando com a ajuda de um agrônomo. Já o clima...

3) Parasitas! Erva de passarinho e cipó chumbo são os dois maiores inimigos da floresta urbana. A primeira é verde (faz fotossíntese) e retira da planta os nutriente minerais (água e sais minerais ou "seiva bruta". Lentamente leva a hospedeira ao declínio e morte. A segunda é amarela, são fios amarelos desprovidos de clorofila (não faz fotossíntese) e retira os nutrientes orgânicos produzidos pela planta hospedeira (seiva elaborada). Esta conduz a hospedeira rapidamente à morte. A remoção dos parasitas é primordial e deve ser feita tão logo se perceba a instalação do mesmo. Além de matarem as plantas, os parasitas podem infectar duas ou mais árvores ao mesmo tempo (até de espécies diferentes) e transmitir doenças entre as mesmas (especialmente algumas viroses vegetais). Mas também há os insetos parasitas: pulgões, cigarrinhas, ácaros e cochonilhas, principalmente.

Erva de passarinho (sobre uma tipuana) e cipó chumbo (sobre um pingo de ouro). (Cliquem nas imagens para ampliar)

4) O preço (e o lucro) da opção pelo verde. Como relatado no início do post, muitas pessoas só veem defeitos nas árvores. Na verdade, a disposição em varrer folhas caídas, podar adequadamente e preventivamente, prevenir-se da distância necessária para raízes e queda de frutos é uma decisão que deve ser tomada racionalmente, nunca emocionalmente. "Eu quero a árvore pertinho da minha janela!" ou "Pode ser próximo do muro de divisa com o vizinho, ele é legal e vai gostar! (até que um dia ele se mude e venha outro habitar a vizinhança)" são situações que precisam ser muito pensadas e poneradas. Até mesmo o plantio de árvores altas em calçadas estreitas é um convite aos "amigos do alheio" para subirem nos galhos, pularem seu belo muro alto e praticarem "sua profissão" à vontade (aliás o mesmo cuidado deve-se ter com aquelas cestas elevadas para colocação dos sacos de lixo). No entanto, o preço é barato frente ao benefício das árvores:

FONTE: http://www.vidasustentavel.net
FONTE: http://cidadescomarvores.blogspot.com.br
Na verdade, as imagens acima são apenas de valor simbólico. Dados científicos mostram o valor da arborização de forma fundamental na criação de um microclima com menor temperatura e maior umidade do ar. Não é apenas um ar condicionado (ou 10), mas um ar condicionado que umidifica o ambiente. Também as folhas retêm parte da água das chuvas diretamente e uma grande quantidade de poluentes particulados (especialmente em espécies como o oitizeiro que possui fibras sobre as folhas que agem dessa forma). Contribuem ainda como barreira contra a poluição sonora e visual.
Mas há pontos que devem ficar bastante claros: (1) não basta plantar mil mudas e não fazer a coisa da maneira certa (época adequada, uso de tutores fortes, solo adequado, irrigação...); (2) não basta o prefeito, vereador ou secretário de meio ambiente sonhar com uma cidade arborizada ("embelezar a cidade!")e não contratar adequados serviços de poda, remoção de parasitas e varrição; (3) não basta a população querer a cidade arborizada e sequer arrancar o mato que cresce na guia de suas calçadas; (4) não basta colar um adesivo no carro, usar sacola reciclável, etanol em vez de gasolina, cantar músicas de louvor à natureza e esquivar-se de suas próprias responsabilidades.

Respeito ao meio ambiente equilibrado e sustentável não é modismo, é uma necessidade... quer você acredite ou não!


Texto e fotos: Ramon Lamar de Oliveira Junior

13 comentários:

  1. Muito válido seu artigo. Muito gostoso e fácil de ler, adorei!

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  2. Oi Ramon,
    Legal seu texto, parabéns!!! Concordo muito com você sobre o fato de que é necessário mais investimentos na manutenção. Plantar é importante, mas tem que manter! E a longo prazo essa falta de gestão acaba levando a vários problemas, como essa temporada de queda de árvores a cada época de chuvas. :-(
    Mas eu queria manifestar aqui que ainda fico incomodada quando penso na relação árvores x fiação... Será que não seria mais fácil mudar a fiação do que fazer aquelas podas horríveis nas árvores? Ou isso não é um reflexo do (pouco) valor que a sociedade ainda dá as árvores? (a infra estrutura da fiação é importante, mas será que a árvores também não deveriam ser tão importantes quanto?). Também me preocupa o plantio excessivo de arbustivas (aí vira um "arbustização urbana", hehe), já que os benefícios delas são bem menores do que as médio/grande porte, o que é comprovado por estudos científicos.
    Abraços!

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    1. Sabrina, acho que tudo merece bom senso. O que está acontecendo é que árvores estão sendo cortadas e cimento é plantado no lugar. Se tivéssemos árvores de grande porte do lado sem fiação e arbustivas no lado com fiação já seria um bom efeito sobre o microclima.
      Abraços.

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    2. Com certeza! Porque só plantação de postes nas cidades não dá! (rs)

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    3. Sua frase virou postagem: http://ramonlamar.blogspot.com.br/2013/02/para-sabrina-mieko-so-plantacao-de.html

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  3. Boa noite amigo. Estou travando um verdadeiro debate com a Prefeitura onde resido por causa de uma Praça que remodelaram, mas ela não se parece mais com uma praça. Vou colocar um link da minha postagem se possível gostaria da sua opinião. https://aldeia-mundus777.blogspot.com/2023/08/praca-sebastiao-pereira-lima-jardim.html

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    1. Boa noite, amigo! Conheço muito bem essa luta! Realmente isso ficou mais como um lugar a não ser frequentado, especialmente nos dias de sol forte! Lamentável o desconhecimento sobre espécies arbóreas plantáveis, vegetação de subbosque, iluminação e tudo o mais.
      Parece que o espaço é muito bom, mas outros agentes interferem. A limpeza pública não gosta de praças ("suja", "cai folhas") e a polícia militar diz que atrapalha a visualização de meliantes. No fundo produzem uma ilha de calor.

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    2. Obrigado pela sua opinião. Essa praça se tornou uma "praça de alimentação". Construíram quiosques gigantes am alvenaria, tomaram espaços que caberia no mínimo 02 árvores ou canteiros de folhagens e flores. Estou desanimado com minha cidade, planejo em mudar para São José do Rio Preto onde a cidadania é ativa.

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    3. Sei como é isso, Rivaldo!!! Vivo essa mesma situação desesperadora do desprezo pela arborização urbana numa cidade muito quente.

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