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sexta-feira, 18 de junho de 2010

NOVO ENEM: Prova ou Massacre?

(Publicado no site setelagoas.com.br em 09 de Dezembro de 2009)

No último final de semana, realizaram-se as provas do ENEM-2009, tido para o MEC como o substituto do vestibular. Como professor, responsável pela orientação de um grande número de estudantes, me inscrevi para a realização do tal exame. Por questões de segurança minha, dos meus alunos e do processo, não fiz as provas em Sete Lagoas e sim em Belo Horizonte. Lá eu fico livre das acusações levianas de que "ele só foi para passar cola para os alunos".

Pois bem, quais as minhas impressões sobre a prova? Considerei-as um verdadeiro massacre. Para quem não sabe, são 90 questões no sábado (Ciências da Natureza e Ciências Humanas) e 90 questões no domingo (Códigos de Linguagem e Matemática), além de uma redação. No final das contas são as velhas; biologia, química, física, geografia, história, português, literatura e matemática (com uma dose de estatística), associadas a textos algumas vezes desnecessários e quase nunca pequenos.

A promessa oficial era acabar com o modelo ultrapassado e massacrante do vestibular, com questões inteligentes, de raciocínio, sem decorebas ou pegadinhas. Não foi o que vi. Muitas questões são similares a outras que já apareceram em várias provas de vestibular. Decorebas estavam lá, como saber fórmulas de Física não muito usuais, ou conceitos matemáticos menos usuais ainda. Pegadinhas também estavam lá e eu mesmo, com toda a minha experiência em provas, mas extenuado pela duração da mesma e pela leitura de tantos textos, caí em algumas. Em ambos os dias, após a resolução da sexagésima questão, a dor-de-cabeça era certa. Os textos tinham que ser lidos duas ou três vezes, pois o cérebro já saturado não conseguia captar a informação. Pela primeira vez na vida (e olha que já fiz uns 10 vestibulares, tendo sido aprovado em todos) fui obrigado a deixar 5 questões em branco e chutar ao final, pois simplesmente o tempo havia se esgotado.

Ao final, consegui 84% de aproveitamento, mas não sirvo como referência de nota e só citei o meu percentual para que entendam que não faço por brincadeira ou só para dizer que fui, mas para mostrar que levo a sério como sempre levei em todos os vestibulares que participei, seja como aluno ou como professor.

Quem não participou da maratona não tem idéia do que aconteceu. Uma coisa é pinçar 5 ou 10 questões e resolvê-las em casa, no conforto, com todo o tempo do mundo (ao invés de 2 minutos e 40 segundos por questão - tempo inferior ao padrão de 3 minutos e 30 segundos adotado no vestibular da UFMG) e sem o compromisso de ser aprovado. E considere que a pressão pela aprovação triplica, pois o candidato estará concorrendo em 3 universidades e não em apenas uma. Se você quiser ter uma base de como foi à prova baixe-a no site (www.inep.gov.br), isole-se em uma carteira de madeira (às vezes desconfortável - uma aluna minha fez prova em carteira de criança no Ulisses Vasconcelos) e sem relógio (no primeiro dia veio apenas o aviso de 30 minutos para o final da prova - mas isso variou e alguns candidatos puderam usar relógio em outras salas de prova, mostra da desorganização e falta de um critério único).

Encerradas as provas, novo problema: o gabarito é divulgado cheio de erros de "inconsistência", conforme o MEC. O que é essa inconsistência? Eram 4 tipos de provas, com as mesmas questões em ordem diferente. Os "salvadores da educação nacional" não conseguiram compilar as respostas na ordem correta e embaralharam o gabarito. Contudo, vem o MEC ao final dizer que foi tudo bem, às mil maravilhas. Que a abstenção de 40% foi normal. Que não ocorreu nenhum incidente. Que todos estão felizes!!! Daí se conclui que, em breve, acontecerá outro massacre desse tipo. Resta orientar os candidatos aos futuros exames. Daí colho uma sugestão: não tentem resolver as questões na ordem que as provas estão colocadas. Resolvam 25 questões de cada prova primeiro e depois sigam alternando (10 de uma e 10 da outra) até acabar. Dessa forma vocês evitarão de ter de chutar metade de uma das provas ao final. E façam a redação primeiro, não deixem para o final, pois nem conseguirão pensar direito. Está aí a minha pequena colaboração, espero que seja de alguma valia na discussão do processo.

Agradeço ao setelagoas.com.br a oportunidade de manifestação.

Ramon Lamar de Oliveira Junior


[Bem, depois disso tudo somos surpreendidos com a UFMG adotando o ENEM em substituição à primeira etapa do seu vestibular, eliminando inclusive a prova de redação e a avaliação das obras literárias que já haviam sido indicadas. É, no entendimento do MEC e da UFMG todos estão felizes.]

2 comentários:

  1. Participei do Enem este ano. Ainda estou chocada com o número absurdo de questões. Enunciados longos. Tempo insuficiente para que se faça as provas com segurança e tranquilidade. Veio-me à mente a palavra tortura. Traduzi o momento em um sentimento: horror. Pobres meninos, sangraram-lhes. O que querem os elaboradores deste ritual: mostrar o quanto eles não sabem.

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    Respostas
    1. E já vem assim desde 2009... perspectiva de mudar? Nenhuma. Abração, Gabriela!!!

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