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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Formação de professores

Hoje, conversei demoradamente com meu colega Alex, também professor. Entre os vários assuntos, surgiu a questão da formação de professores. Com ampla experiência nas escolas públicas, o Alex é muito mais gabaritado a falar sobre o assunto do que eu. Confesso não ter muito conhecimento sobre os meandros da escolas públicas, uma vez que sempre lecionei em escolas particulares. Contou-me o Alex, fato confirmado por outros colegas, que as escolas públicas em Sete Lagoas estão com dificuldades de contratação de professores com licenciatura (imagino que o problema não se restrinja à nossa cidade). O problema ocorre praticamente em todas as disciplinas. É grande o número de professores que são contratados para cobrir essas lacunas mas que, em verdade, são bacharéis oriundos da enfermagem, nutrição, engenharia etc. E que muitas vezes aceitam esses cargos só até que apareça um emprego na área de sua formação, quando simplesmente abandonam seus trabalhos na escola.
Talvez seja a hora das faculdades de Sete Lagoas perceberem essa carência e criarem cursos que, ao menos, forneçam capacitação pedagógica para quem deseja "enfrentar" uma sala de aula. Há anos que não atuo mais nessa área de formação de professores, portanto não estou a par das alternativas viáveis para que isso seja feito (se é que pode ser feito). Lembro das licenciaturas curtas, dos cursos emergenciais realizados em cidades mais afastadas de Belo Horizonte pela PUCMinas e de algumas situações que hoje não existem mais. Entendo perfeitamente a razão da extinção das licenciaturas curtas, mas não entendo que não se enxergue que uma pessoa sem preparação acadêmica para trabalhar em sala de aula precisaria de alguma orientação nesse sentido.
Hoje vivemos aqui um paradoxo: ampliou-se o acesso ao ensino fundamental e médio, mas não ampliou-se, na mesma proporção, a formação de licenciados para essa tarefa. E aí as contratações temporárias correm o risco de passar a ser regra e não exceção.

Ramon Lamar de Oliveira Junior

LEITURA COMPLEMENTAR

Meio milhão de professores da educação básica ensina, nas salas de aulas da rede pública brasileira, disciplinas sobre as quais não aprenderam durante o curso superior. Nos mais variados colégios brasileiros, profissionais formados em matemática dão aulas de física e professores de educação física dão aulas de biologia, por exemplo. Eles representam quase um quarto dos 1.977.978 educadores dessa etapa.
Dados do Censo Escolar 2009 tabulados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revelam que pouco mais da metade (53,3%) dos professores que atuam no ensino médio na rede pública têm formação compatível com a disciplina que lecionam. O total é de 366.757. Nas séries finais do ensino fundamental, etapa na qual as matérias começam a ser dadas por professores de áreas específicas, a proporção é ainda menor: 46,7% de 617.571 docentes.
O levantamento feito pelo Inep considerou apenas a inadequação dos professores que já possuem diploma de curso superior. A quantidade de docentes que atua nos colégios brasileiros sem ter freqüentado uma universidade também é grande: 152 mil, como divulgou o iG. Os números revelam que a maior distorção está na área de exatas, na qual os profissionais formados nos cursos de licenciatura do País são insuficientes para suprir a demanda. (Fonte: http://quimicacomtecnologia.blogspot.com/2010/06/meio-milhao-de-docentes-da-aulas-sem.html)

6 comentários:

  1. Ramon, uma coisa me deixa muito curioso com relação este fato. Escuto isso há 16 anos. Desde quando eu resolvi dar aulas! Existe sim a carência de professores. Mas, vou eu lá pedir uma vaga como professor... Os "apadrinhados" de outras áreas , que não da licenciatura, tem preferência! Aconteceu algo semelhante comigo em novembro de 2011 no Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Diamantina. Colocaram uma estudante de Química para ministrar aulas de Física passando por cima de minha designação. Somente por que ela era amiga da diretora da escola. E isso é muito comum! Pode até ter carência de profissionais de sala de aula, mas em escolas públicas que privilegiam mais o círculo de amizades do que o currículo é impossível se ter um ensino de qualidade! Eu, você e com certeza o Alex citado aí em cima , sabemos muito bem que lecionar não é pra quem simplesmente resolve dar aulas enquanto espera algo melhor aparecer e sim pra quem pode e gosta disso! Você é a maior prova disso Ramon! Deixou de ser médico para fazer o que ama! Aí, com esse comportamento, o resultado é isso:

    http://feidantas.blogspot.com/2011/11/professore-de-fisica-de-rede-estadual.html

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  2. Sim, Fernando, lembre desse caso lá em Diamantina. Como já dizia De Gaulle...

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  3. A desvalorização do professor não faz da licenciatura algo atrativo à um acadêmico. Quando esse se forma, e cai (de para-quedas) no mercado, essa lacuna permitida pelo estado na rede de educação publica funciona sim, como um step.
    Enquanto a profissão não for valorizada não haverá respeito.
    Há 6 anos a UFMG mudou a grade curricular impossibilitando que seus alunos de Biologia se formassem em duas habilitações. Optei pelo bacharelado porque já estava na IC e essa habilitação facilitaria minha entrada no mestrado. Pensava que a pós graduação me passaria alguma base didática. Afinal, estão se formando professores para o ensino superior.
    Mas, como a moeda do mundo científico são artigos, e temos que manter o CAPES 7, nada de formação para "formar".
    E é assim, ninguém acha que saber ensinar é importante!

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  4. Realmente. Se a formação do licenciado está complicada, a formação dos professores universitários "mestres e doutores" tem se mostrado mais complicada ainda. Na busca pelo conceito da Capes, infla-se a pesquisa e a produção de conhecimento, enquanto ao mesmo tempo limita-se a qualidade da transmissão de conhecimentos. Nesses casos, aprende-se a ensinar observando os bons professores... que infelizmente vão ficando cada vez mais raros. Fiz licenciatura e bacharelado (na minha época era permitido) e tive mestres fantásticos na licenciatura. Não gosto de citar nomes para não deixar alguém de fora, mas o professor Mário De Maria (Zoologia) e a professora Mairy Barbosa (Ecologia) foram grandes referenciais para mim na licenciatura. Mas também tive outros com quem aprendi a dar aulas por observação: Paulo Novais (Evolução), Robson Rossoni (Histologia), Elizete e Ana (Citohistologia), Marcos Cláudio (Patologia), Deusdedit(Botânica), Leonor (Fisiologia), Ibrahim Heneine (Biofísica), Ângelo Machado (Neuroanatomia), Marcinho e Ezequiel (Anatomia). E no mestrado ter a honra de ser orientado pelo meu querido Nilo Bazzoli. Tive sorte, admito. A todos eles, e mais alguns que a memória do velhinho aqui falhou, minhas homenagens e minha gratidão.

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    1. Infelizmente, na Física tenho apenas 1 professor como referência... Aliás ele nem é da Física e sim da Matemática, uma vez que me deu aula de Cálculo II. Chama-se Antônio Zumpano. Dava gosto assistir a aula dele!

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