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terça-feira, 28 de maio de 2013

Obras, peixes iliófagos, "buracos" nas lagoas e eutrofização.

As carpas são peixes que possuem alimentação variada. Comem os pequenos organismos que vivem na massa de água durante toda a vida (o famoso plancton), mas também se alimentam dos materiais do fundo, em especial do fundo lodoso. Nesse aspecto, todas as carpas têm algo de iliófagas (comedoras de lodo). Alguns autores preferem chamar de iliófagas-detritívoras (comem os detritos presentes no lodo) ou "de alimentação bentônica" (dos materiais presentes no fundo).
As carpas não são nativas do Brasil, são originárias da China. Portanto, são animais exóticos, ou seja, não são da nossa fauna.
Em Sete Lagoas, as carpas foram introduzidas na Lagoa Paulino na década de 1980 para alimentar os botos trazidos do Araguaia. Os botos foram embora, mas as carpas ficaram. Na época, disseram que seriam introduzidas carpas-capim (que se alimentam de capim). Portanto tais carpas não iriam se alimentar do lodo, não alterando a turbidez da água. Só não disseram qual capim as carpas comeriam, pois na Lagoa Paulino não há capim disponível para isso. Então as carpas recorreram à alimentação a partir do material do fundo, cavando bacias arredondadas e lançando nutrientes na água. O excesso de nutrientes na água provoca eutrofização (proliferação excessiva de algas, que conduz à coloração esverdeada da água, morte de outros organismos aquáticos - inclusive peixes - e mau cheiro).
Quando a Lagoa Paulino foi esvaziada pela última vez para a captura do boto remanescente, tais bacias eram facilmente visíveis no fundo. Em uma foto que tirei mais recentemente, uma leve mudança no contraste revelou as tais bacias.

Bacias escavadas pelas carpas no leito da Lagoa Paulino.
Agora, vendo a situação da Lagoa da Boa Vista, encontro lá as mesmas bacias. Foram colocadas carpas lá também ou algum outro peixe iliófago (curimbatá, por exemplo)? Vejam as imagens abaixo... (Com a palavra os pescadores, já que provavelmente ninguém mais tem certeza da variedade de peixes que ali foram colocadas.) Ah, importante lembrar que os iliófagos concentram em seus organismos uma grande quantidade de organismos patogênicos. Portanto, vale o aviso para não comer os peixes da lagoa.




Espero que as obras não fiquem apenas nos especialistas de engenharia, especialmente na construção de gabiões como os da imagem (necessários para a contenção das encostas). Espero que também sejam consultados os especialistas na parte biológica das lagoas. A qualidade das águas das lagoas depende de muitos fatores, fiquemos atentos a isso.
Precisamos refazer o peixamento de nossas lagoas com espécies nativas. Se queremos que as lagoas sejam de mais fácil manejo e de águas mais bonitas, precisamos voltar com as espécies nativas: basicamente lambaris (piabas) e traíras. A minha sugestão é a introdução de lambaris no primeiro ano e de traíras no segundo, garantindo a reprodução de um modelo de sucessão ecológica. Outras espécies como o Lebistes ("barrigudinho" ou "guppy"), mesmo sendo exóticas, poderiam ser introduzidas pois exercem um papel importante no controle de larvas de mosquitos e não causam danos ambientais importantes.

Ramon Lamar de Oliveira Junior

PS.: Obviamente as mesmas bacias aparecerão no leito da Lagoa Paulino quando a mesma for esvaziada para sua reforma.

Um comentário:

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