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terça-feira, 7 de outubro de 2025

Aranhas: Loxosceles (Aranha-marrom)

(Esta postagem foi feita em 05.03.2011, mas pela atualidade e pelo surgimento recentes de casos de acidentes no período, foi elevada momentaneamente para as primeiras posições do blog para facilitar acesso.)

Vou começar esse post de uma forma diferente. Segue abaixo o relato do artista plástico Luciano Diniz (condensei algumas partes). Esse relato foi publicado na comunidade do Orkut sobre os “Causos de Sete Lagoas”:
Resolvi abrir um depósito que tenho na entrada do meu atelier para uma faxina de rotina, e eis que me deparo com o local infestado de aranhas. Matei muitas, ou quase todas pensei eu, mas no dia seguinte me apareceu uma mancha esbranquiçada na lateral externa do pé direito, bem na junta. Lembrei-me então de um vídeo que vi sobre o assunto, do sintoma aparente do efeito de uma aranha pica o ser humano, e me dirigi à uma farmácia para me medicar. Tomei comprimidos, passei pomadas, e fiquei tranquilo que em alguns dias aquilo estaria desaparecido.
Mas nada disso ocorreu, ao contrário, foi só piorando, passei por 8 médicos que não descobriam o que eu tinha, mesmo avisando estar desconfiado da aranha. Fiz todo tipo de exame possível, e tudo estava perfeito, glicose, triglicérides, colesterol, etc, tudo em ordem e o pé só piorando, o que era um mistério, pois tinha saúde excelente, frequentava há anos a academia, boa alimentação. E fui só piorando, veio uma bengala, depois as muletas, até que caí de cama, sem conseguir andar e a ferida só aumentando, até então já contornando por trás até quase o peito do pé, e uma dor insuportável.
Finalmente, descobri que havia sido realmente vítima de uma aranha. Graças eu ter uma saúde excelente devido à alimentação e a malhação, me salvei. Poderia ter morrido ou perdido o pé.
Fui então enviado imediatamente a um cirurgião que me operou e retirou todo o tecido necrosado e envenenado. Fiquei 32 dias imóvel sobre uma cama sentindo dores desesperantes, pois só sobraram os nervos sobre os ossos ao retirar toda a carne já dissolvendo e necrosando, mais 6 meses de cama em recuperação, e mais de um ano nas muletas. Hoje me sinto praticamente um deficiente físico, pois não tenho mais os movimentos do pé, ainda ando com dificuldade, mas pelo menos estou vivo e andando, graças à Deus.
Muito provavelmente o nosso amigo Luciano foi vítima da aranha-marrom (gênero Loxosceles). A aranha-marrom, pertencente à família Sicariidae, também é conhecida como aranha-violino (devido a uma mancha escura em forma de violino que geralmente está presente no dorso do animal). Essa aranha é originalmente de ambiente cavernícola, entretanto já se adaptou ao interior de nossas residências. É uma das poucas aranhas que se alimentam de insetos mortos (a maioria come insetos vivos) que ela encontra com facilidade em nossas casas. A lagartixa de parede é o predador dessa aranha no ambiente doméstico. A Loxosceles possui tamanho total (corpo e patas) entre 3 a 4 centímetros no máximo.

Loxosceles. Observe a mancha dorsal em forma de violino (nem sempre é bem visível). Crédito da foto: Ubirajara de Oliveira (Bira) - Laboratório de Aracnologia - ICB/UFMG.

Nas nossas casas ela habita normalmente os armários, guarda-roupas, atrás de quadros e entre as telhas (quando não há laje). Normalmente é dócil, não ataca. Porém, se comprimida contra o corpo ela inocula o veneno. A picada não dói, pois as quelíceras são muito pequenas e não provocam dor ao penetrar na pele.  O veneno também não é neurotóxico, como o da armadeira. Mas a picada deixa o veneno que é NECROSANTE. Assim, de 24 a 48 horas depois da picada seguem os sintomas iniciais descritos pelo Luciano, inicia-se com uma mancha parecendo mármore. Depois vai complicando e chega a necrosar toda a pele.
Médicos e farmacêuticos normalmente não têm informação sobre esse tipo de acidente. Geralmente confundem com furúnculo ou cabelo encravado e não dão muita importância. Na dúvida, recorra ao HPS João XXIII em BH e mostre a lesão. Eles conhecem bem esses casos pois são assessorados pelos biólogos da UFMG e são a referência para esse tipo de acidente. Acredite, biólogos conhecem mais esses casos do que os médicos, afinal de contas, se expõem mais a esses acidentes em cavernas e tal. Não há nos Cursos de Medicina, uma disciplina que trate com detalhes desses casos. O pessoal do Laboratório de Aracnologia da UFMG montou um curso excelente sobre o assunto. Fiz o curso e estive presente em algumas aulas em outras vezes que foi oferecido. Infelizmente, nas turmas que frequentei, nenhum matriculado era aluno do curso de medicina. Só biólogos mesmo e alguns curiosos interessados no assunto (inclusive meu aluno Saulo - que de vez em quando dá as caras aqui no blog).
A procura dessas aranhas em nossas casas é importante. Não as confunda com aquelas aranhas pernudas que ficam no canto das paredes, quase lá no teto. Aquelas - Pholcus phalangioides - não fazem nadinha, no máximo nos ajudam comendo pernilongos. Procure cuidadosamente (use luvas) atrás de quadros na parede. Nossos colegas biólogos do Laboratório de Aracnologia da UFMG coletaram mais de 300 numa casa de alto padrão no bairro Mangabeiras em BH, sem nenhum acidente na casa, pois as aranhas não atacam. Só picam, como já mencionei, se pressionadas contra nosso corpo (dentro de sapatos, roupas...).

Uma Loxosceles perto de sua teia onde deposita ovos. O corpo é pequeno, cerca de 8 a 10 milímetros. Mas as pernas são alongadas.
Crédito da foto: Ubirajara de Oliveira (Bira) - Laboratório de Aracnologia - ICB/UFMG.

O tratamento é a inoculação do soro anti-loxosceles até no máximo 48 horas do acidente. Pode usar o soro depois, mas o efeito será menor e algum grau de ferida vai se estabelecer. Ou seja, vá para o HPS João XXIII, rápido. Farmácias, remedinhos e pomadinhas não farão nenhum efeito. No máximo, poderão evitar a infecção por bactérias quando a ferida estiver gigante.




Ao lado, imagens chocantes de lesões tegumentares causadas pela Loxosceles. Eu não aconselho, mas se tiver estômago, clique na imagem para ampliar. Não consegui os créditos das duas primeiras imagens, quem souber, por favor me informe. As demais estão devidamente referenciadas. Febre, dor, edema local, mancha avermelhada, irritabilidade, taquicardia, náuseas e vômitos são sinais e sintomas que costumam acompanhar o desenvolvimento das lesões.



Felizmente (bom, melhor seria não ter acontecido, claro!), nosso amigo Luciano foi vítima da forma Tegumentar, ou seja, "apenas" lesões de pele (mas que foram muito graves). Em 2% dos casos pode se estabelecer a forma Visceral, ou seja, o veneno ataca os órgãos internos, em especial o fígado e os rins causando sintomas sérios e progressivos: febre alta e persistente, destruição das hemácias, com consequente anemia e icterícia, perda de proteínas na urina, acidose metabólica, desequilíbrio hidroeletrolítico e crise hipertensiva. Arritmia cardíaca completa e agrava o quadro. A urina fica escura como na Hepatite ("urina de coca-cola") e o prognóstico é grave, especialmente em crianças e idosos, muitas vezes culminando em óbito.

OBSERVAÇÃO

Recentemente tenho recebido várias fotos de aranhas para identificação. O pessoal realmente se preocupa muito com a aranha-marrom. Mas não é toda aranha de coloração marrom que é a perigosa Loxosceles. Entre as aranhas que são muito confundidas com a aranha-marrom está a aranha-cuspideira. 
A aranha-cuspideira também é uma aranha pequena, amarronzada, mas seu cefalotórax é mais alto do que o cefalotórax da aranha-marrom. É possível perceber isso em fotos "de perfil". Mas a cuspideira também tem 3 pares de olhos. E a cuspideira não tem a famosa mancha em forma de violino. 

Sendo assim: 
  • O cefalotórax da aranha-marrom (Loxosceles) é plano ou levemente achatado, com formato mais oval ou em violino, sem a elevação pronunciada que caracteriza a aranha-cuspidora.
  • Aranha-cuspidora (Scytodes) → cefalotórax abaulado e alto, lembrando uma “cúpula”.
  • Aranha-marrom (Loxosceles) → cefalotórax baixo e plano, com o desenho em forma de violino (na região dorsal anterior).
  • Essa diferença de formato é uma das características visuais mais úteis para distingui-las, especialmente quando observadas de perfil.
 Ramon Lamar de Oliveira Junior



OUTRAS IMAGENS COMPARATIVAS


terça-feira, 23 de setembro de 2025

Sete Lagoas, a Estrada dos Tropeiros e as Gameleiras da Memória

A história de Minas Gerais é inseparável de suas estradas coloniais. Quando se fala em Estrada Real, muitos imediatamente lembram os caminhos oficiais reconhecidos hoje pelo Instituto Estrada Real — o Caminho Velho, o Caminho Novo, o Caminho dos Diamantes e o Caminho do Sabarabuçu. Esses trajetos foram fundamentais para a circulação do ouro e dos diamantes entre as minas e os portos do Rio de Janeiro e Paraty, consolidando uma rede de controle fiscal e de vigilância da Coroa portuguesa.
Mas, paralelamente a esses caminhos oficiais, existia uma imensa malha de estradas secundárias, atalhos, trilhas e rotas alternativas utilizadas por tropas de mulas e gado, responsáveis pelo abastecimento das vilas mineradoras. É nesse contexto que surge a chamada Estrada dos Tropeiros, que cruzava a região de Sete Lagoas, conectando-a às áreas mais ativas da mineração.

A participação de Sete Lagoas no sistema de estradas coloniais
Embora não esteja no mapa oficial da Estrada Real, Sete Lagoas teve papel fundamental na engrenagem econômica e social do período. A cidade e seus arredores eram ricos em lagoas, pastagens e terras agricultáveis, o que a transformou em um importante polo de abastecimento para os centros mineradores. Enquanto Ouro Preto, Sabará e Diamantina dependiam quase exclusivamente da mineração, era em localidades como Sete Lagoas que se produziam os alimentos, o gado, os couros e outros insumos essenciais à vida cotidiana nas minas.

O tropeirismo foi a espinha dorsal dessa conexão. Tropas de mulas e boiadas seguiam em longas caravanas transportando:
  • alimentos (milho, feijão, mandioca, rapadura);
  • gado em pé e carne fresca para abastecer os arraiais;
  • produtos derivados da pecuária, como couro e sebo;
  • além de mercadorias vindas de fora, como tecidos, ferramentas, sal e aguardente.
Essas tropas seguiam em direção ao norte, conectando Sete Lagoas a Curvelo, Serro e Diamantina, onde se integravam ao Caminho dos Diamantes. Assim, mesmo não estando no traçado oficial, a cidade fazia parte de um circuito indispensável para a manutenção da vida mineradora.

As Gameleiras como marcos de viagem
Dentro de Sete Lagoas, a memória do tropeirismo está viva em pontos específicos. Um deles é o bairro rural de Gameleiras, cujo nome remete às antigas árvores que marcavam pousos de tropas. Mas talvez o símbolo mais marcante esteja dentro da própria cidade, próximo à Lagoa do Cercadinho.
Ali permanecem de pé duas enormes gameleiras (Ficus doliaria, gameleira branca), árvores centenárias de copa ampla, cujas raízes se entrelaçam com a história local. Esses exemplares não são apenas vegetação: eles funcionavam como marcos naturais e referenciais de viagem.
As tropas que saíam de Sete Lagoas rumo ao norte passavam por esse ponto, aproveitando a sombra generosa e a proximidade da lagoa para descansar antes de seguir viagem. Na prática, essas duas árvores eram o portal simbólico de saída da cidade pela Estrada dos Tropeiros, um verdadeiro testemunho vivo do movimento que ligava Sete Lagoas ao Caminho dos Diamantes e à vasta rede de circulação colonial.

Patrimônio vivo ameaçado
Essas duas gameleiras, localizadas logo abaixo da Lagoa do Cercadinho, são tombadas pelo patrimônio histórico, reconhecidas como parte da memória cultural da cidade. No entanto, apesar desse status de proteção, estão atualmente ameaçadas de corte pelo proprietário da área em que se encontram.


É uma contradição dolorosa: árvores que sobreviveram por séculos, testemunhando a passagem de tropeiros, viajantes e boiadas, hoje correm risco por interesses imediatos que ignoram seu valor simbólico e coletivo.
Mais do que árvores, elas representam a história de Sete Lagoas, a ligação com a Estrada dos Tropeiros e, por consequência, com o próprio processo de formação de Minas Gerais. Preservá-las não é apenas proteger o meio ambiente, mas também garantir a continuidade de uma memória que pertence a todos.

📌 Em tempos de urbanização acelerada e de apagamento da história local, as Gameleiras da Lagoa do Cercadinho nos lembram que a identidade de uma cidade se constrói também na preservação de seus símbolos. Cortá-las seria mais do que eliminar árvores centenárias: seria apagar um pedaço vivo da memória coletiva.

Ramon L.O. Junior

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

AINDA SOBRE EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES

Existem várias teorias sobre a evolução das espécies. É um assunto recorrente nos vestibulares e os estudantes têm que saber interpretar os fatos à luz de cada teoria. As mais famosas são o Evolucionismo de Lamarck, o Evolucionismo de Darwin e Wallace e a Teoria Sintética da Evolução (Neo-Darwinismo). 

Os postulados principais de cada uma são:

Lamarck
Lei do uso e desuso → estruturas usadas se desenvolvem, não usadas atrofiam.
Herança dos caracteres adquiridos → características adquiridas ao longo da vida passam aos descendentes.
Adaptação como resposta direta ao ambiente.

Darwin e Wallace
Existem variações entre os indivíduos da mesma espécie → todos os indivíduos diferem em vários aspectos anatômicos e funcionais.
Na natureza nascem mais indivíduos do que o ambiente suporta
Ocorre a luta pela sobrevivência → competição por recursos limitados.
Seleção natural → os mais adaptados sobrevivem, reproduzem e deixam mais descendentes.
As características mais adaptativas passam para os descendentes.

Teoria Sintética (Neodarwinismo)
As variações são produzidas pelas mutações e recombinação de genes → fontes principais da variabilidade. (Variabilidade genética → matéria-prima para a evolução.)
Seleção natural → atua sobre fenótipos, moldando frequências gênicas.
As características mais adaptativas passam para os descendentes de acordo com as leis da genética e se fixam nas populações de acordo com os postulados da genética de populações.

Comparação clássica das teorias de Lamarck e Darwin e Wallace.


Como as três teorias explicariam uma situação-modelo como "a existência de peixes albinos em rios no interior de cavernas"?

ENUNCIADO: “Em um rio subterrâneo dentro de uma caverna foram encontradas populações de peixes albinos (sem pigmentação). Explique, segundo as teorias evolutivas de Lamarck, Darwin e a Teoria Sintética, como se justificaria a presença desses animais.”

Respostas:

Lamarck: Os peixes que viviam no escuro deixaram de usar a capacidade de produzir pigmentação (que não é necessária nesse ambiente), e essa capacidade foi desaparencendo ("se atrofiando") com o tempo (lei do uso e desuso). As características adquiridas (perda de pigmento = albinismo) foram transmitidas aos descendentes (herança dos caracteres adquiridos), originando uma população de peixes albinos.

Darwin e Wallace: Existiam variações naturais entre os peixes, alguns com menos pigmento e outros com mais pigmento. No ambiente escuro da caverna, a pigmentação não traz vantagem (nem proteção e nem camuflagem); indivíduos albinos sobreviveram e se reproduziram normalmente. Com o tempo, a seleção natural favoreceria a predominância dos albinos (pois têm vantagem por não gastar energia produzindo pigmento).

Teoria Sintética: Mutação e recombinação gênica originaram indivíduos albinos de forma completamente aleatória (casual). A ausência de luz eliminou a vantagem da pigmentação, e a seleção natural permitiu que os genes do albinismo se fixassem, passando para a descendência. Além disso, o isolamento reprodutivo na caverna reduziu o fluxo gênico com populações externas, favorecendo a manutenção do caráter albino.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

CHARLES DARWIN

Charles Darwin nasceu em 12 de fevereiro de 1809, em Shrewsbury, Inglaterra, filho de Robert Darwin, médico respeitado, e Susannah Wedgwood, da famosa família de porcelanas Wedgwood. Era o quinto de seis filhos. Quando tinha apenas oito anos, perdeu a mãe, Susannah, em 1817, um evento que marcou profundamente sua infância. Apesar dessa perda, Darwin recebeu apoio dos tios e da família estendida, especialmente da família Wedgwood, que valorizava educação, curiosidade intelectual e incentivo às ciências. Esse ambiente familiar estimulante foi fundamental para o desenvolvimento precoce do interesse de Darwin pela natureza, mesmo sem a presença materna.

Darwin iniciou seus estudos em escolas locais e posteriormente na Shrewsbury School, onde se destacou mais por sua curiosidade natural do que pelo desempenho acadêmico formal. Em 1825, ingressou na Universidade de Edimburgo, para estudar medicina, conforme o desejo de seu pai, mas rapidamente percebeu que não se adaptava à prática médica. Achava as cirurgias traumáticas e pouco interessantes, o que desviou seu interesse para atividades intelectuais e científicas, especialmente a botânica e a história natural. Durante sua permanência em Edimburgo, Darwin participou de clubes de história natural, colecionou insetos e plantas, e teve contato com naturalistas que alimentaram seu gosto pela pesquisa.

Em 1828, Darwin transferiu-se para a Universidade de Cambridge, com o objetivo de se formar como clérigo da Igreja da Inglaterra, profissão respeitável e segura socialmente. Em Cambridge, frequentou cursos de teologia e filosofia, mas encontrou verdadeira paixão nas atividades de história natural. Foi nesse período que conheceu John Stevens Henslow, mentor fundamental que o introduziu à botânica, geologia e técnicas de coleta científica. Henslow também o recomendou para a viagem no HMS Beagle, que se tornaria decisiva para sua carreira científica.

Durante a viagem do Beagle (1831–1836), Darwin estabeleceu uma relação profissional e pessoal importante com o capitão Robert FitzRoy. FitzRoy, líder da expedição, era um homem disciplinado e de convicções religiosas fortes, mas reconhecia a competência científica de Darwin. Apesar de diferenças de opinião — FitzRoy era profundamente religioso e cético quanto às ideias evolucionistas —, os dois mantiveram um relacionamento de respeito. Essa convivência proporcionou a Darwin experiências práticas de coleta e observação em regiões diversas, desde a Patagônia e Chile até as ilhas Galápagos, consolidando sua capacidade de análise e percepção das variações entre espécies.

 
H.M.S. Beagle

Após retornar da viagem, Darwin se dedicou à análise de suas coleções e à escrita de artigos científicos. Em 1848, com a morte do pai, Robert Darwin, Charles ganhou independência financeira, o que permitiu dedicar-se inteiramente à pesquisa sem preocupações profissionais externas. Essa liberdade foi crucial para o desenvolvimento de suas ideias sobre seleção natural.

Em 1839, Darwin casou-se com Emma Wedgwood, sua prima de primeiro grau, membro da mesma família intelectual que o apoiou na infância. Emma era profundamente religiosa e preocupada com a moralidade e bem-estar familiar. O casamento, embora afetuoso, trouxe consigo algumas preocupações genéticas. Diversos estudiosos e biógrafos sugerem que alguns problemas de saúde de seus filhos possam ter sido agravados pelo casamento consanguíneo, uma prática relativamente comum na época entre famílias da elite. A família Darwin enfrentou trágicas perdas, incluindo a morte de alguns filhos ainda jovens, eventos que afetaram profundamente a vida pessoal de Darwin, embora ele continuasse seu trabalho científico com disciplina e dedicação.

Darwin, em 1854

A vida familiar de Darwin, incluindo o apoio de Emma e a convivência com filhos doentes, contrasta com sua intensa atividade científica. Ele conseguia manter a rotina de pesquisas, observações e correspondência com naturalistas do mundo inteiro, mesmo diante das dificuldades pessoais. Emma, embora profundamente religiosa, apoiava Darwin e administrava a casa, garantindo que ele tivesse tempo e estabilidade para sua pesquisa.


Entre 1836 e 1859, Darwin consolidou suas ideias sobre evolução. A correspondência com outros naturalistas, a análise meticulosa de suas coleções do Beagle e os estudos de variação em plantas e animais o levaram à formulação da teoria da seleção natural, culminando na publicação de A Origem das Espécies em 1859. A trajetória de Darwin evidencia a interação entre contexto familiar, apoio de tios e esposa, mentorias acadêmicas, independência financeira e experiências práticas de campo. Essa combinação permitiu que ele se tornasse um naturalista cuja obra transformou a biologia moderna.

Amigos, colegas e "discípulos"

Durante sua carreira, Charles Darwin não esteve sozinho em suas investigações científicas. Ele manteve uma extensa rede de amigos, colegas e correspondentes que contribuíram significativamente para o desenvolvimento de suas ideias. Muitos desses contatos eram cientistas renomados da época — naturalistas, geólogos, botânicos e biólogos — cujas observações ajudaram Darwin a fortalecer suas teorias.

Entre os amigos mais próximos estava Joseph Dalton Hooker, botânico britânico e confidente de Darwin, que ofereceu críticas construtivas e validou suas conclusões sobre a evolução das plantas. Outro grande aliado foi Thomas Henry Huxley, que se tornaria famoso como o “cão de combate” da teoria darwiniana, defendendo publicamente a evolução e formando uma geração de jovens cientistas interessados na biologia evolutiva.

Darwin também manteve uma amizade e intensa correspondência com Asa Gray, botânico americano que se tornou um defensor crucial da teoria da seleção natural nos Estados Unidos. Gray ajudou a interpretar a teoria de Darwin em termos botânicos e espirituais, conciliando ciência e religião para muitos leitores americanos, o que ampliou significativamente a aceitação de suas ideias.

Além desses, Darwin interagiu com inúmeros naturalistas e pesquisadores ao redor do mundo, como Alfred Russel Wallace, que independentemente chegou a conclusões semelhantes sobre a seleção natural, e Geoffroy Saint-Hilaire, Charles Lyell (geólogo), Richard Owen (anatômico), entre outros. A correspondência ativa e o intercâmbio de espécimes e observações transformaram Darwin em um verdadeiro núcleo de uma rede científica global.

Darwin também inspirou diretamente futuros “discípulos” que deram continuidade ao estudo da evolução, como os jovens naturalistas da Inglaterra, América e Europa que seguiram seu trabalho em diversas áreas da biologia, ecologia e paleontologia. Além dos grandes nomes, ele contou com a colaboração de amadores e naturalistas locais que coletavam espécimes e enviavam dados valiosos, antecipando uma forma de ciência colaborativa que se tornaria modelo no futuro.

Em resumo, Darwin não foi um solitário pensador; foi o centro de uma comunidade científica em expansão. Seus amigos, correspondentes e discípulos — de Hooker e Huxley a Gray e Wallace — garantiram que suas ideias sobre evolução e seleção natural alcançassem reconhecimento mundial e permanecessem influentes até os dias de hoje.

Darwin e a "perseguição" religiosa

Charles Darwin enfrentou, ao longo de sua vida, tensões religiosas consideráveis, embora falar em “perseguição” no sentido de ataques físicos ou legais não seja exatamente preciso. A oposição foi sobretudo intelectual e social, ligada ao choque entre suas ideias sobre evolução e os ensinamentos religiosos predominantes.

Darwin nasceu em uma família anglicana, embora pessoalmente tenha se tornado cada vez mais cético em relação à religião organizada ao longo de sua vida. Sua teoria da seleção natural, apresentada em A Origem das Espécies (1859), questionava a interpretação literal da Bíblia sobre a criação, o que gerou resistência da Igreja Anglicana, instituição dominante na Inglaterra vitoriana. Clero, estudiosos e parte do público religioso reagiram com críticas severas, considerando a ideia de evolução uma ameaça à moral e à ordem divina.

Alguns debates famosos ilustram essa tensão: por exemplo, o confronto público entre Thomas Huxley (defensor de Darwin) e o bispo Samuel Wilberforce na Oxford Debate de 1860, que se tornou símbolo do embate entre ciência e religião. Embora não tenha havido perseguição legal formal, Darwin evitou frequentemente discussões públicas sobre religião para proteger sua reputação e manter sua pesquisa em foco, mostrando sua prudência diante do clima religioso da época.

No entanto, é importante notar que a oposição não veio majoritariamente do catolicismo, que tinha menor influência na Inglaterra vitoriana, mas sim da anglicana e de setores protestantes conservadores. Darwin próprio manteve relações cordiais com alguns religiosos que aceitavam ou conciliavam a ciência com a fé, como Asa Gray, que via compatibilidade entre seleção natural e crenças religiosas.

O homem veio do macaco?

Charles Darwin começou a considerar a evolução humana de forma teórica já nos anos 1830–1840, durante e após a viagem do Beagle, mas publicou formalmente sobre o tema apenas em 1871, em seu livro A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo (The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex). Nesse livro, Darwin expandiu suas ideias da seleção natural para explicar a origem do homem, abordando aspectos físicos e mentais, e introduziu conceitos de seleção sexual para explicar características humanas, como diferenças entre sexos, comportamento social e capacidades cognitivas. Ele também tratou da origem das emoções humanas e da continuidade entre humanos e outros primatas, reforçando que o ser humano não ocupava uma posição separada da natureza, mas sim resultava de processos evolutivos semelhantes aos observados em outros animais.

Representações feitas por Darwin para uma "árvore da vida".

É nesse contexto que surge a famosa, mas simplificada e muitas vezes distorcida, “ideia do macaco”: a percepção popular de que Darwin teria afirmado que “o homem veio do macaco”. Na verdade, Darwin nunca disse que o homem descendia de macacos modernos, mas sim que humanos e macacos atuais têm ancestrais comuns. A confusão surgiu da forma como suas ideias foram interpretadas pelo público e pela imprensa da época, especialmente por críticos religiosos que queriam ridicularizar suas teorias.

Vale destacar que, embora a obra tenha causado enorme polêmica, Darwin já havia sugerido ideias sobre a evolução do homem de forma mais indireta em correspondências e notas, especialmente a partir da publicação de A Origem das Espécies (1859), mas evitou, naquele momento, entrar em detalhes explícitos sobre a espécie humana para não inflamar críticas religiosas e sociais.

E depois de Darwin???

As teorias de evolução não terminam com Darwin. Ele lançou as bases da compreensão científica da evolução com a seleção natural, mas o desenvolvimento da biologia evolutiva continuou por décadas e se expandiu com descobertas posteriores. Darwin propôs que as espécies mudam ao longo do tempo por meio da seleção natural: indivíduos com características vantajosas sobrevivem e se reproduzem mais. Ele também explorou a seleção sexual e a evolução humana em A Descendência do Homem (1871). No entanto, Darwin não conhecia os mecanismos genéticos precisos, pois Gregor Mendel ainda não havia sido redescoberto e a genética moderna ainda não existia.

A redescoberta dos trabalhos de Mendel em 1900 permitiu que pesquisadores como Hugo de Vries, Carl Correns e Erich von Tschermak confirmassem os princípios da herança genética, e a partir daí a evolução de Darwin começou a ser combinada com a genética mendeliana, dando origem à síntese moderna da evolução, consolidada nas décadas de 1930 e 1940 por cientistas como Theodosius Dobzhansky, Ernst Mayr, Julian Huxley e George Simpson. A síntese moderna integrava genética, seleção natural, paleontologia e sistemática, explicando como a variação genética dentro das populações é o combustível para a evolução e permitindo compreender adaptação, especiação e história evolutiva de forma quantitativa e rigorosa.

Um avanço decisivo nesse período foi a contribuição de Thomas Hunt Morgan, que estudou a herança genética utilizando a mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster). Morgan demonstrou experimentalmente que os genes estão localizados nos cromossomos e que mutações podem gerar variação hereditária dentro das populações. Seu trabalho forneceu evidências concretas de como as mudanças genéticas alimentam a evolução, reforçando e expandindo a síntese moderna ao conectar diretamente a genética clássica com os princípios darwinianos da seleção natural.

Com a descoberta da estrutura do DNA por Watson e Crick em 1953, a biologia molecular passou a influenciar a teoria evolutiva, permitindo estudar mutações genéticas, recombinação, deriva genética e migração com precisão. Surgiram campos como evolução de genes, epigenética, paleogenética e biologia evolutiva do desenvolvimento, conhecida como evo-devo. Hoje, a evolução é entendida como um processo dinâmico e multifatorial, envolvendo seleção natural, seleção sexual, deriva genética, cooperação, simbiose e mudanças ambientais rápidas.

Darwin continua sendo a base conceitual da teoria evolutiva, mas a compreensão moderna vai muito além de suas ideias iniciais, conectando ecologia, genética, paleontologia, biologia molecular e comportamento, e mostrando a evolução como um fenômeno contínuo e complexo que afeta todas as formas de vida na Terra.


Linha do Tempo de Charles Darwin

1809 – Nascimento

  • 12 de fevereiro: Nasce em Shrewsbury, Inglaterra, filho de Robert Darwin e Susannah Wedgwood, quinta de seis crianças.

1817 – Perda da mãe

  • Morte de Susannah Wedgwood.

  • Recebe apoio dos tios e da família Wedgwood, que incentivam a educação e a curiosidade científica.

1825 – Universidade de Edimburgo

  • Ingressa para estudar medicina, a pedido do pai.

  • Não se adapta à prática médica (cirurgias traumáticas).

  • Participa de clubes de história natural, coleciona insetos e plantas.

  • Desenvolve interesse por biologia experimental e botânica.

1828 – Universidade de Cambridge

  • Transfere-se para Cambridge para formar-se como clérigo da Igreja da Inglaterra.

  • Conhece John Stevens Henslow, mentor de história natural.

  • Participa de excursões botânicas e coleta científica, desenvolvendo habilidades de observação e registro de dados.

  • Começa a afastar-se do foco clerical, concentrando-se em história natural.

1831–1836 – Viagem no HMS Beagle

  • Participa como naturalista na expedição global liderada pelo capitão Robert FitzRoy.

  • Observa ecossistemas diversos, espécies endêmicas e variação entre populações.

  • Mantém uma relação de respeito e aprendizado com FitzRoy, apesar das diferenças ideológicas.

  • Coleta fósseis, plantas, animais e realiza anotações detalhadas que fundamentarão suas futuras teorias.

1836–1839 – Retorno e análise científica

  • Analisa minuciosamente coleções e dados da viagem.

  • Inicia correspondência com naturalistas e cientistas do mundo todo.

1839 – Casamento com Emma Wedgwood

  • Casa-se com sua prima Emma, membro da família Wedgwood.

  • O casamento é afetuoso, mas há preocupações com consanguinidade e saúde dos filhos.

  • A família enfrenta tragédias, incluindo a morte de alguns filhos em tenra idade, eventos que impactam emocionalmente Darwin, mas não interrompem seu trabalho científico.

1848 – Morte do pai, Robert Darwin

  • Darwin herda parte da fortuna familiar, conquistando independência financeira.

  • Ganha liberdade para se dedicar inteiramente à pesquisa, análise de dados e escrita científica.

1859 – Publicação de A Origem das Espécies

  • Depois de anos de estudo e elaboração de suas ideias sobre seleção natural, publica a obra que transforma a biologia.

Resumo da Trajetória

  • A trajetória de Darwin é marcada pela combinação de influência familiar, mentoria acadêmica, experiências de campo e independência financeira, permitindo-lhe unir observação prática e análise teórica.

  • Relações importantes:

    • Família Wedgwood e tios: incentivo à educação e ciência.

    • John Stevens Henslow: mentor acadêmico, recomendou o Beagle.

    • Capitão Robert FitzRoy: liderança da expedição e contato com perspectivas religiosas e científicas divergentes.

    • Emma Wedgwood: apoio emocional e familiar, gerenciando a casa e cuidados com os filhos.



sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Por que o adolescente estudante do século XXI está cansado? ...

... e como equilibrar esforço pessoal, sistema educacional e apoio social para aprender de verdade

No século XXI,  muitos estudantes se queixam ou deixam transparecer sinais e sintomas de cansaço constante, dificuldade de concentração, baixo rendimento e problemas na interpretação de questões, mesmo - em princípio - dedicando horas aos estudos na escola e em casa. O mais preocupante é que essa exaustão não resulta apenas da estrutura educacional ou da sociedade moderna: parte significativa decorre da gestão inadequada do tempo, hábitos de sono irregulares, dispersões frequentes, déficit no treino de atenção e reflexão, bem como de fatores emocionais e sociais que influenciam diretamente a aprendizagem. A realidade é complexa: tanto o ambiente quanto as escolhas individuais determinam a qualidade do aprendizado e o nível de fadiga.

Segundo a National Sleep Foundation (2019), adolescentes precisam de  ao menos 8 horas de sono por noite para manter a função cognitiva ideal. Estudos recentes da Universidade de São Paulo - USP (2021) mostraram que mais de 70% dos estudantes paulistas dormem menos de 6 horas por noite durante a semana, muitas vezes priorizando redes sociais, vídeos e outras atividades ao invés de descanso adequado. Nesse cenário, a responsabilidade do aluno em organizar sua rotina se torna crucial. Estratégias simples, como planejamento eficiente, intervalos programados e priorização de tarefas essenciais, podem reduzir significativamente a sobrecarga mental. No entanto, é importante reconhecer que barreiras socioeconômicas — como falta de acesso a materiais de estudo, ambientes silenciosos, alimentação adequada ou suporte familiar — limitam a capacidade de autogestão de muitos estudantes, tornando algumas estratégias mais difíceis de implementar (HAN, 2017).

Como em uma marcha mecânica e sem identidade, estudantes seguem um caminho confuso e complexo ao enfrentar a realidade do aprendizado no mundo atual — inspiração na cena icônica de The Wall (Pink Floyd, 1982).

A neurociência do equilíbrio entre esforço, atenção e interpretação

Aprender exige energia, atenção sustentada e memória de trabalho ativa. A Universidade de Stanford (2018) demonstrou que a exaustão prolongada diminui a neuroplasticidade, dificultando a consolidação de memórias. Mesmo estudantes disciplinados que estudam por muitas horas, se o fizerem sem pausas adequadas podem não consolidar o conhecimento. Além disso, é comum observar que alunos têm dificuldade para interpretar enunciados longos ou responder de forma reflexiva a perguntas diretas: muitas vezes leem superficialmente, retêm apenas palavras-chave e tentam “chutar” a resposta rapidamente, sem refletir. Essa impulsividade é reforçada pela fadiga mental, excesso de estímulos digitais, ansiedade de desempenho, saúde mental fragilizada e falta de treino metacognitivo (LEVIN, 2014; WALKER, 2017).

A saúde mental e emocional tem papel central nesse cenário. Ansiedade, depressão e burnout (estado de exaustão física, emocional e mental causado por estresse crônico, geralmente relacionado ao trabalho ou a atividades que demandam alto nível de dedicação e pressão) reduzem concentração, memória e motivação, tornando o estudo mais exaustivo mesmo quando há disposição física. Apoio psicológico, estratégias de autocuidado e acompanhamento profissional são essenciais para manter o equilíbrio e potencializar o aprendizado.

Por outro lado, o domínio de hábitos eficazes — estudo concentrado em blocos de tempo, pausas estratégicas, sono regular, treino de atenção ativa e prática metacognitiva — aumenta a eficiência do aprendizado e melhora a capacidade de interpretação de questões e respostas fundamentadas, mostrando que a responsabilidade pessoal é tão relevante quanto fatores externos.

Prática metacognitiva: aprender a pensar sobre o próprio pensamento

A prática metacognitiva consiste em refletir sobre como se aprende, resolve problemas e toma decisões. Uma analogia útil é imaginar o cérebro como um navegador de GPS: você pode seguir um caminho sem perceber se está correto, ou parar, verificar o mapa e ajustar a rota. Na prática, o aluno deve se questionar e responder sinceramente: “Estou respondendo com base no que acabei de estudar ou estou apenas chutando?”, “Que informações do enunciado estou usando para chegar à resposta?”, “Existe outra maneira de interpretar essa pergunta?”.

Exemplos de aplicação da metacognição incluem:

  • Ler um enunciado longo sublinhando palavras-chave, reescrevendo a pergunta em suas próprias palavras e identificando exatamente o que se pede.

  • Pausar antes de responder perguntas diretas, refletindo sobre o raciocínio.

  • Explicar passo a passo como chegou a uma resposta, detectando falhas de compreensão e consolidando o aprendizado.

  • Revisar conteúdos questionando: “O que já entendi sobre este tema?”, “Onde ainda sinto dúvida?” e “Que estratégia posso usar para lembrar ou aplicar essa informação?”.

Tecnologia, família e comunidade

Embora muitas vezes associada à dispersão, a tecnologia também pode ser uma poderosa aliada do aprendizado. Plataformas de ensino adaptativo, aplicativos de memorização, podcasts educativos e vídeos de reforço ajudam a organizar informações, consolidar conteúdos e treinar interpretação de textos. A chave é gerenciar o uso digital, estabelecendo períodos de foco sem distrações e aproveitando recursos que reforçam o aprendizado. 

O apoio familiar e comunitário, contudo, é decisivo para o sucesso estudantil. Ambientes domésticos organizados, incentivo à rotina equilibrada e envolvimento da comunidade escolar criam condições favoráveis ao desenvolvimento cognitivo e emocional. Famílias e professores que acompanham hábitos de estudo, promovem diálogo e valorizam pausas saudáveis contribuem significativamente para reduzir o cansaço e aumentar a eficácia do aprendizado. 

Nunca esquecendo que, para além do mundo virtual tecnológico, os professores estão atentos aos seus erros, à sua participação nas aulas e às suas dificuldades, muitas vezes podendo ser bastante assertivos em detectar suas limitações. 

Exemplos internacionais e políticas educacionais

Sistemas educacionais bem-sucedidos demonstram que estruturas escolares equilibradas podem reduzir sobrecarga e melhorar aprendizado. Na Finlândia, os alunos têm horários mais curtos, intervalos frequentes, menor carga de tarefas de casa e foco no bem-estar, resultando em alto desempenho acadêmico e motivação (MEDINA, 2008). No Japão, práticas de cuidado social e atenção à saúde mental complementam o ensino formal, contribuindo para maior engajamento e disciplina. Esses exemplos indicam que políticas públicas e mudanças estruturais são fundamentais, pois nem todos os alunos conseguem alcançar autonomia plena em contextos desfavoráveis.

Aprender é responsabilidade compartilhada

O sistema educacional frequentemente ignora ritmos biológicos, limitações humanas, diversidade socioeconômica e saúde mental. Como alerta Matthew Walker (2017), a privação de sono crônica e o estresse contínuo comprometem atenção, memória e controle emocional. Cabe à escola oferecer condições de aprendizado saudáveis — horários razoáveis, avaliação equilibrada, estímulos pedagógicos, apoio psicológico e promoção de cidadania digital — mas cabe ao aluno também gerir seu tempo, usar a tecnologia de forma estratégica, cultivar hábitos de concentração e treinar interpretação de enunciados de forma metacognitiva.

A exaustão estudantil resulta da interação entre pressões externas, saúde mental, contexto socioeconômico e escolhas individuais. Alunos que não planejam horários, procrastinam ou priorizam distrações digitais sobre o descanso e o estudo de qualidade amplificam efeitos negativos. Ao mesmo tempo, escolas, famílias e políticas públicas que não oferecem suporte adequado contribuem para esse cenário. Estudos da OMS (2022) mostram que programas combinando orientação sobre sono, gestão de tempo, suporte psicológico, metodologias ativas e educação digital reduzem ansiedade, fadiga e melhoram desempenho cognitivo.

Em última análise, o aprendizado eficiente depende de autogestão consciente dentro de condições estruturais favoráveis, apoio familiar e comunitário, saúde mental equilibrada e políticas educacionais adequadas. Reconhecer responsabilidades pessoais e coletivas permite ao aluno aprender com energia, foco, reflexão e equilíbrio emocional, evitando que cansaço, ansiedade ou impulsividade se tornem barreiras intransponíveis.

Referências

HAN, Byung-Chul. A sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017.

LEVIN, Daniel. The Organized Mind: Thinking Straight in the Age of Information Overload. New York: Dutton, 2014.

MEDINA, John. Brain Rules: 12 Principles for Surviving and Thriving at Work, Home, and School. Seattle: Pear Press, 2008.

NATIONAL SLEEP FOUNDATION. Teens and Sleep. 2019. Disponível em: https://www.sleepfoundation.org. Acesso em: 15 ago. 2025.

STANFORD UNIVERSITY. Neuroplasticity and Cognitive Fatigue. 2018. Disponível em: https://www.stanford.edu/research. Acesso em: 15 ago. 2025.

USP – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Pesquisa sobre sono de estudantes adolescentes. São Paulo, 2021.

WALKER, Matthew. Why We Sleep: Unlocking the Power of Sleep and Dreams. New York: Scribner, 2017.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (OMS). Adolescent Mental Health and Sleep Patterns. 2022. Disponível em: https://www.who.int. Acesso em: 15 ago. 2025.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Ciência nas redes sociais: Será que você está realmente aprendendo ciência com esses vídeos?

Hoje, milhares de estudantes do ensino médio passam horas consumindo vídeos curtos no Instagram, TikTok e YouTube sobre ciência ou suposta ciência. Aulas estão sendo inundadas e atrapalhadas com perguntas fora de hora sobre "o vídeo que vi no Tik Tok". Muitos acreditam que estão "aproveitando o tempo" e aprendendo mais, pois o conteúdo parece impressionante: física quântica, dobras do espaço-tempo, espécies raríssimas, doenças exóticas e fenômenos astronômicos que sequer aparecem no currículo escolar. No entanto, é preciso questionar seriamente: Isso está realmente ajudando no seu desenvolvimento intelectual ou apenas preenchendo a mente com curiosidades soltas? Está realmente na hora de você aprofundar nesses conhecimentos? Você não está apenas ajudando um algoritmo a reforçar a divulgação de informações com o objetivo de caça-likes?

1. Uma sensação falsa de aprendizado

Um dos maiores riscos desses vídeos é gerar a ilusão de conhecimento. O aluno sente que está avançado porque viu algo complexo. Ele acha que entende porque um divulgador (às vezes até bem intencionado) simplificou o tema com analogias bonitas. Porém, na prática, ele ainda não domina temas muito mais básicos, como fotossíntese e funcionamento do DNA, regra de três composta, funções matemáticas, conceitos elementares de química ou a classificação dos animais e das plantas. Ou seja, o aluno pode estar substituindo temas que realmente precisa se dedicar, reforçar, praticar e dominar... por outros que simplesmente foram enfeitados para atrair sua atenção.

2. Inversão de prioridades e foco

Ser bombardeado diariamente com conteúdos de física quântica, doenças raríssimas ou animais de regiões isoladas da Terra dá uma sensação enganosa de progresso intelectual. Mas isso pode desviar completamente o foco daquilo que realmente importa naquela fase escolar: o domínio sólido dos conceitos fundamentais que serão a base para qualquer conhecimento científico futuro.

3. Sobrecarga cognitiva e poluição mental

Essas curiosidades chegam sem contexto, sem sequência didática e sem conexão entre si. O resultado: informações aleatórias se acumulam na memória de trabalho do estudante, gerando confusão, saturação e até ansiedade. O cérebro gasta energia com aquilo que não faz parte da construção lógica do aprendizado, poluindo o processo de formação intelectual.

4. Comparação injusta: o conteúdo relevante da sala de aula parece chato

Quando o aluno se acostuma com vídeos extremamente estimulantes, coloridos e rápidos, o conteúdo das aulas parece mais lento e "chato". Isso acaba diminuindo a motivação para estudar aquilo que realmente vai desenvolvê-lo e que ele precisa dominar para provas, vestibulares e para entender o mundo de forma crítica. Ou para, quando realmente for necessário, aprofundar-se nesses temas complexos no mundo acadêmico, pautado em livros, programas de estudo, modelos matemáticos etc.

5. Um exemplo claro: física quântica no ensino médio

A maioria dos fenômenos da física quântica exige matemática avançada (cálculo diferencial, matrizes, funções probabilísticas etc.). Explicações superficiais em vídeos de 30 segundos podem gerar mais confusão do que aprendizado real. Além disso, o fato de o aluno achar que “entendeu” algo tão complexo pode gerar um bloqueio inconsciente para estudar aquilo que ele julga básico demais.

6. Consequências práticas observadas

- Estudantes sabendo o que é um buraco negro primordial, mas não sabem converter unidades de medida (especialmente se estiverem em potências de 10).
- Sabem nomes de doenças raras, mas erram questões simples de biologia celular, botânica, verminoses comuns... ou vacilam na hora de explicar como uma vacina funciona.
- Decoram curiosidades sobre tubarão-duende e fungos bioluminescentes, mas não conseguem explicar o ciclo do nitrogênio, o efeito estufa ou o funcionamento de uma pilha.

7. Um contraponto necessário

Nem todo conteúdo de redes sociais é ruim. Há divulgadores sérios que motivam o interesse dos jovens de forma excelente. Quando o conteúdo é contextualizado, guiado por um professor ou usado como complemento, pode ser inspirador. O problema é quando esse tipo de conteúdo começa a substituir o estudo estruturado ou consumir tempo precioso de estudo consciente. O aluno deve se policiar para não substituir o conteúdo necessário ao seu aprendizado em formação por uma coletânea de informações desconectadas.

8. Conclusão: fascínio não é conhecimento

É preciso compreender que curiosidades científicas não substituem conhecimento científico real. Estudos em neurociência educacional, como os de Daniel Willingham (2010), mostram que aprendizado duradouro depende de repetição, esforço intencional e organização lógica do conteúdo — exatamente o oposto de consumir pílulas aleatórias de curiosidades.

Pesquisas sobre efeito de ilusão de profundidade demonstram que estudantes que assistem vídeos com linguagem sofisticada têm a falsa impressão de domínio, mas não conseguem aplicar o conteúdo em situações práticas. Esse fenômeno foi observado por Rozenblit & Keil (2002) no chamado efeito da ilusão de explicação, em que as pessoas acreditam que entendem conceitos complexos, mas falham ao tentar explicá-los com precisão (precisão, aliás, que até com anos de estudo acadêmico pode ser difícil).

Portanto, aprender exige esforço contínuo, organização e, muitas vezes, enfrentar conteúdos que não têm tanta dopamina imediata. O verdadeiro estudante é aquele que separa o momento de entretenimento do momento de estudo e não confunde fascínio com progresso. Que não deixa de lado as informações organizadas do ambiente e programa escolar para montar em sua cabeça uma "enciclopédia aleatória de conhecimentos fragmentados". Que confia na condução dos seus professores para atingir um objetivo que está logo à sua frente.

A pergunta que fica é: será que você está realmente aprendendo, ou está apenas acumulando curiosidades brilhantes que te afastam do conhecimento verdadeiro? Pensar nisso pode ser um passo importante para recuperar a autonomia do seu aprendizado e retomar o controle do que realmente importa para o seu crescimento acadêmico e intelectual.


sexta-feira, 18 de julho de 2025

Vacinas e Segurança: Compreendendo Riscos, Benefícios e a Realidade da CoronaVac (COVID-19)

Vacinas e Efeitos Adversos: O Que a Ciência Já Sabe

Vacinas são, desde o século XX, uma das ferramentas mais eficazes da medicina preventiva. Elas atuam ensinando o sistema imunológico a reconhecer e combater agentes infecciosos antes que causem doenças graves. No entanto, como qualquer intervenção médica, vacinas podem provocar efeitos adversos — geralmente leves e temporários, mas, em raros casos, podem ocorrer reações moderadas ou graves.

Entre os efeitos leves mais comuns após a vacinação (em qualquer idade e tipo), estão: dor no local da aplicação, febre baixa, mal-estar e dor de cabeça. Eventos adversos moderados podem incluir febre alta ou reações alérgicas, e os eventos graves são extremamente raros.

É importante destacar que até vacinas amplamente utilizadas e consolidadas, como as do sarampo, HPV, febre amarela e influenza, também estão associadas a eventos adversos raríssimos, como:
  • Miocardite: já relatada após vacina contra influenza e, mais recentemente, após vacinas de RNA mensageiro (Pfizer e Moderna).
  • Trombose com trombocitopenia (TTS): documentada em casos raros com vacinas de vetor viral, como a da AstraZeneca.
  • Síndrome de Guillain-Barré: associada, com baixa frequência, a vacinas como a contra gripe e raiva.
Esses dados são rigorosamente monitorados por sistemas de farmacovigilância como o VAERS (EUA) e a Anvisa (Brasil), e servem para garantir a máxima segurança na vacinação em larga escala.

Vacinas contra a Covid-19: Tecnologias Diferentes, Finalidade Comum

Durante a pandemia de Covid-19, quatro vacinas principais foram aplicadas em massa no Brasil:
  1. CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan) – baseada em vírus inativado.
  2. Oxford/AstraZeneca (Fiocruz) – vetor viral (adenovírus de chimpanzé).
  3. Pfizer/BioNTech – RNA mensageiro.
  4. Janssen (Johnson & Johnson) – vetor viral (adenovírus humano).
Cada uma utiliza tecnologias diferentes:
  • A CoronaVac é baseada em uma tecnologia clássica, já usada há décadas. O vírus é cultivado, inativado e usado para induzir resposta imune.
  • A AstraZeneca e a Janssen usam adenovírus modificados como vetor para introduzir o gene da proteína spike.
  • A Pfizer utiliza o RNA mensageiro da proteína spike para que o corpo a produza temporariamente e gere resposta imune.

Efeitos Adversos: Dados Comparativos

Estudos clínicos e dados de farmacovigilância mostraram diferenças claras entre os perfis de segurança:

* Fonte: Anvisa, OMS, EMA, CDC, estudos multicêntricos revisados por pares (2021–2023)


CoronaVac: A Mais Segura e a Mais Injustiçada

Apesar de ter apresentado o melhor perfil de segurança entre todas as vacinas aplicadas no Brasil, a CoronaVac foi, paradoxalmente, a mais questionada e rejeitada por parte da população durante o início da campanha de vacinação.

Muitos dos ataques vieram de discursos políticos e teorias da conspiração, sem fundamento científico. A origem chinesa da vacina, somada ao envolvimento do Instituto Butantan (governo paulista) em sua produção nacional, fez com que a CoronaVac fosse alvo de resistência em um cenário de polarização política intensa, ainda que seu uso fosse respaldado por órgãos regulatórios sérios como a Anvisa, a Organização Mundial da Saúde e agências internacionais.

Além disso:
  • Foi a primeira vacina aplicada no Brasil, permitindo que profissionais de saúde e idosos fossem protegidos ainda no pico da pandemia.
  • Demonstrou eficácia robusta contra hospitalizações e mortes, mesmo quando a eficácia contra infecção leve era menor em comparação com outras vacinas.
  • Os estudos de efetividade, como os realizados em Serrana (SP), mostraram queda drástica de internações e mortes com a imunização em massa pela CoronaVac.

Considerações Finais

Vacinas são uma conquista da ciência moderna. Nenhuma vacina é isenta de riscos, mas os benefícios superam imensamente os eventuais efeitos colaterais. Em pandemias, a velocidade com que se oferece proteção segura à população é decisiva. A CoronaVac cumpriu esse papel com eficácia e segurança, mesmo diante da desinformação.

Lições importantes ficaram:
  • A ciência precisa ser ouvida acima da ideologia.
  • A comunicação em saúde pública deve ser clara, ética e baseada em dados.
  • Vacinas salvam vidas, todas elas.

Referências

- Ministério da Saúde (Brasil) – Informes técnicos da Covid-19 (2020–2022)

- Organização Mundial da Saúde (WHO) – Safety surveillance manual for Covid-19 vaccines

- CDC (EUA) – Adverse events following mRNA Covid-19 vaccination

- Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) – Relatórios de farmacovigilância

- Palacios R. et al. (2021). Effectiveness of CoronaVac in a mass vaccination campaign in Brazil. The Lancet Regional Health

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Prepare-se para o Vestibular Seriado da UFMG: Provas Anteriores da UFMG!

Olá, pessoal! 

Para quem está se preparando para o Vestibular Seriado da UFMG, tenho uma ótima notícia! 
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Esse material é perfeito para você conhecer o estilo das provas, os tipos de questões cobradas e praticar bastante antes da sua prova.
Além disso:
  • É gratuito;
  • Testado e seguro, sem vírus;
  • E sem enrolação, só conteúdo de qualidade para turbinar sua preparação.

Pegue também o edital da primeira fase 2025:

Ah... e você pode assistir gratuitamente aulas de teoria e resolução de exercícios no canal: 


Não perca essa oportunidade de estudar com material original e aumentar suas chances de sucesso! Bons estudos e boa sorte no Vestibular Seriado!

Ramon L. O. Junior

Seriado UFMG
Provas Antigas UFMG
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Biologia e Química UFMG
Medicina UFMG
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domingo, 13 de julho de 2025

Uma árvore bacana para as calçadas e as podas mal feitas da CEMIG

Olá, pessoal!

Ontem, caminhando pela Rua Goiás, passei em frente à casa que morei quando criança. Essa casa foi vendida por meu pai para nosso amigo Prezado (Prezado Frangos) e até hoje a família dele comercializa lá um delicioso frango assado. Fica em frente ao CEME (Centro Educacional Mundo Encantado), uma referência no ensino em Sete Lagoas, com suas turmas do Fundamental I, capitaneado pela minha cunhada Teca e minhas sobrinhas Priscila e Carolina.

Aproveitei para fotografar a árvore que foi plantada em frente ao "Prezado", uma árvore-samambaia. Conheci-a quando fiz um dos meus cursos de Paisagismo Urbano em Holambra, juntamente com minhas colegas Adriana Drumond (artista plástica) e Regina Márcia (arquiteta). Gostamos muito dessa árvore e também da grama-amendoim. Com muito custo e insistência conseguimos trazer a grama-amendoim para que se tornasse conhecida em Sete Lagoas a partir de um projeto que fizemos para a praça Alexandre Lanza, em que fizemos a proposta que a mesma fosse utilizada. Daí ela, por sugestão minha, foi plantada em algumas das bases das palmeiras da Lagoa Paulino (era para plantar em todas, mas resolveram plantar clorofito e algumas e, como eu previa, não foi pra frente).

Bom, voltando à árvore-samambaia, está aí uma árvore que não é agressiva com calçadas (desde que plantada com espaçamento adequado), e tem uma série de características interessantes (apesar de ser uma espécie exótica, mas sem potencial para tornar-se invasora):

  • Raízes pouco agressivas – geralmente não causam elevação ou rachaduras em calçadas.
  • Tamanho controlado – pode chegar a cerca de 8, mas costuma ser mantida menor com poda.
  • Copa densa e ornamental, com aparência exótica e folhas que lembram samambaias.
  • Pouca sujeira – ao contrário de muitas árvores tropicais, não solta flores ou frutos em excesso.
  • Boa sombra, mas não excessiva ao ponto de escurecer demais calçadas ou jardins.
  • Raramente apresenta pragas ou doenças.

Acho que vale a pena conhecerem. Encontrei outras plantadas aqui em Sete Lagoas: ao lado do Colégio Caetano e em frente ao restaurante Mamute. Essa da rua Goiás precisará, em breve, de receber uma poda de elevação, para permitir melhor passagem de pedestres pela calçada. Vejam a foto:


Descendo um pouco mais a rua, aparecem para mim aquelas árvores fantasmagóricas, disformes pelas podas conduzidas pela CEMIG (geralmente são empresas terceirizadas). É um absurdo! A CEMIG publica um dos melhores MANUAIS DE ARBORIZAÇÃO que conheço, mas parece que é só para inglês ver.


Vejam só essas "podas técnicas" da CEMIG, na rua Goiás:

Francamente! É muito melhor investir num projeto de melhoria da arborização, suprimir essas árvores e plantar espécies mais adequadas que não atinjam a fiação ou que possam ser conduzidas para abrir a copa acima da fiação (muitos países desenvolvidos fazem isso). 
Acho que já passou muito da hora da Prefeitura Municipal e a CEMIG olharem para essa situação. Árvores podadas dessa forma podem ter seus caules apodrecidos por infiltração de água das chuvas e proliferação de cupins e fungos, bem como perdem totalmente o centro de equilíbrio e numa ventania mais forte podem cair provocando tragédias (envolvendo veículos, crianças, idosos...).
E olha que nem estou comentando da péssima arborização da cidade (que depois reclama do calorão). Em certos quarteirões não há uma árvore sequer.
Gente, vamos trabalhar de forma técnica, por favor!!!
Ah, breve comentarei do novo paisagismo de nossas praças e seus problemas!!!

- Ramon, que caramba, você só vê problemas???
- Não gente, eu vejo que falta muita técnica na nossa pobre arborização urbana. Já expliquei muito sobre isso aqui no blog. Por uma série de razões eu havia diminuido a frequência desse tipo de postagem. Mas não dá. Prefiro ser voz solitária a não escutar nenhuma voz. Vai dar certo... uma hora vai dar certo!

Ramon L. O. Junior

PS.: Agora, se você acha que tá tudo bacana... fica difícil!