Puxa vida, já cansei de escrever aqui no blog sobre a situação da Lagoa Paulino, aqui em Sete Lagoas. Mas agora parece que "descobriram" o motivo de seu aspecto lastimável, especialmente pela manhã e em alguns dias mais que outros.
A Lagoa Paulino sofre de um problema crônico de EUTROFIZAÇÃO.
Na eutrofização, as algas absorvem muitos nutrientes liberados das fontes citadas acima (especialmente nitratos e fosfatos, mas não descarto alguma influência de ferro carreado a partir das chaminés de nossas siderúrgicas). Com tantos nutrientes as algas microscópicas proliferam e criam um tapete verde. Oras, mas isso deveria ser bom! Fotossíntese produz oxigênio para os peixes! Mas não é. Não é porque esse tapete verde não deixa a luz chegar nas outras algas microscópicas que estão na massa de água (e aí essas não podem fazer fotossíntese). E some-se a isso um outro problema: à noite as algas não fazem fotossíntese, mas consomem o oxigênio dissolvido na água. Aí começa a morte de algas e sua decomposição liberando mais nutrientes e consumindo oxigênio. A diminuição do nível de oxigênio dissolvido na água provoca morte de peixes... que liberam mais nutrientes na água.
Tudo isso leva a alteração da cor das águas que depende de vários fatores, inclusive qual tipo de alga está proliferando em qual época do ano. Mas também há o trabalho dos peixes que foram colocados para alimentar os botos (os peixes estão lá até hoje) que revolvem o fundo da lagoa levantando o sedimento, sujando a água de marrom e liberando mais nutrientes. E esses peixes - ao contrário do que disseram os "especialistas" que os colocaram - comeram toda a vegetação enraizada no fundo da lagoa. Sem vegetação enraizada a liberação dos sedimentos para turvar a água é maior ainda. Isso já foi claramente demonstrado em um experimento feito nos Estados Unidos e descrito aqui no blog.
Ou seja, é um conjunto, uma "tempestade perfeita" como se diz. Lagoa rasa (muito rasa), muito sol, muitos nutrientes no fundo, uma fauna não-nativa que "detonou" o ambiente mais ou menos conservado que havia. Proliferação de algas, baixo nível de oxigênio, morte de organismos... mau cheiro... alterações da paisagem.
Como resolver???
A resposta é simples. O mesmo que o prefeito Márcio Reinaldo mandou fazer na Lagoa da Boa Vista (mesmo não recebendo licença do Estado, cuja Secretaria de Meio Ambiente do ex-governador Pimentel disse precisar de dois anos para analisar e dar a licença). Tirar toda a água, remover parte do sedimento, impermeabilizar novamente a lagoa e colocar nova fauna de peixes (ictiofauna). Eu particularmente acho que deveríamos colocar apenas lambaris nativos (piabas) na Lagoa Paulino para evitar outros problemas, mas há algumas outras possibilidades que devem ser feitas e pensadas por quem realmente é especialista no assunto (ou conhece bem o problema, em vez de criar outros).
Hoje vocês podem ver a Lagoa da Boa Vista com águas transparentes e algas (Chara) no fundo, segurando os sedimentos. Mas a Lagoa da Boa Vista ainda precisa de uma fonte artificial de água para manter seu espelho d'água o ano inteiro (ao contrário da Lagoa Paulino que ainda tem minadouros a ela relacionados). Algumas de nossas lagoas só vão se manter artificialmente, com aporte de água (especialmente Boa Vista e Catarina). A lagoa do Cercadinho teve suas nascentes em parte "reabilitadas" pelo trabalho do Dr. Lairson Couto quando Secretário de Meio-Ambiente.
Basicamente é isso... tudo está aqui no blog e em outros periódicos que me pediram explicações sobre o problema... abaixo alguns links daqui mesmo:
http://ramonlamar.blogspot.com/2015/07/eutrofizacao-volta-com-forca-na-lagoa.html
http://ramonlamar.blogspot.com/2011/06/eutrofizacao-nas-lagoas-e-nivel-da-agua.html
http://ramonlamar.blogspot.com/2012/05/eutrofizacao-na-lagoa-paulino.html
http://ramonlamar.blogspot.com/2013/10/carpas-e-turbidez-da-agua-enfim-uma-boa.html
Ramon Lamar de Oliveira Junior - Biólogo - Professor
Mestre em Morfologia (UFMG) na área de Reprodução de Peixes
PS.: Alguns slides usados em aulas.
Primeiramente convém lembrar QUE NÃO HÁ LANÇAMENTO DE ESGOTO CLANDESTINO NA LAGOA PAULINO. Os entrevistados devem ou deveriam saber que há um anel de captação de águas pluviais (uma galeria de aproximadamente 1,5m de largura e 1,3m de altura) em volta de toda a Lagoa Paulino e que a mesma já foi esvaziada algumas vezes não se detectando mais os lançamentos de esgotos clandestinos. Quando o anel de captação foi feito pelo SAAE na década de 1980, todas as emissões clandestinas foram eliminadas. Inclusive, por insistência minha, foi feita uma limpeza desse anel de captação em 2014 quando transbordava continuamente para a lagoa, causando a piora na DBO da lagoa.Realmente não descarto que enxurradas ainda possam levar matéria orgânica para dentro da lagoa, inclusive já pedi várias vezes que fosse fiscalizado e autuado o lançamento de óleo de fritura nas tubulações de coleta pluvial que passam pela "feirinha" da praça Dom Carmelo Mota.Já foram feitas tentativas infrutíferas de usar filtração para remoção de algas microscópicas (fitoplancton). Simplesmente o volume é tão grande que é impossível proceder a uma filtração. Podem consultar a Secretaria de Meio Ambiente, isso foi tentado em 2014, se não me engano.A lavação de carros lança sim detergentes no interior do corpo d'água. Basta observar o "cuidado" com que a lavação é feita. Esponjas lotadas de detergentes são lavadas dentro da lagoa. Detergentes são fontes de fosfato, que contribui para a eutrofização.Colocar CARPAS SABIDAMENTE É UM DESASTRE e só piora a eutrofização. Bom consultar trabalhos científicos sobre o tema. Aliás a colocação de carpas que foi feita para alimentar os botos é uma das principais causas do problema.E finalmente, lodo não é resultado da decomposição de matéria orgânica. Lodo são algas, no caso algas que morreram e formam esse tapete na superfície.Sugiro ler diversas postagens minhas sobre o tema em meu blog.Acompanho essa questão da Lagoa Paulino desde a década de 1980, quando ainda estava cursando Biologia na UFMG.Seria importante conhecer um pouco mais sobre a história da lagoa e as obras que foram feitas no passado, as intervenções que eram potencialmente importantes para resolver o problema e as que já foram feitas e resultaram em catástrofe (COMO A INTRODUÇÃO DE CARPAS).Solução para o problema é fazer o mesmo que foi feito na Lagoa da Boa Vista, mas aconselho que sejam introduzidas apenas espécies nativas, preferencialmente lambaris (piabas), para que o problema não se repita e não surjam outros problemas.Ramon Lamar de Oliveira Junior - Sete-lagoano - Mestre em Biologia pela UFMG
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