Introdução: A Professora Mairy é uma grande referência para mim no aprendizado de Ecologia e em meu caminho como biólogo. Tive algumas disciplinas com ela, e sempre me encantaram sua facilidade em transmitir ideias, seu vasto conhecimento e sua preocupação com a formação integral de nós, futuros profissionais. Com suas aulas, adquiri o hábito de tratar meus professores especiais como Mestre ou Mestra — espero que eles nunca tenham visto isso como brincadeira, pois sempre usei esses termos com absoluto respeito e reverência. Sou muito grato a ela, e esta entrevista é uma forma de expressar essa gratidão e manter viva sua história.
Professora Mairy, conte-nos resumidamente:
Sobre sua origem
Sou mineira, do Triângulo. Gosto de pamonha, milho assado e farinha de mandioca. Nasci no Cerrado e amo mangaba, pequi e araçá. Vivo em Belo Horizonte, onde é muito difícil encontrar mangaba. O pequi vem do norte de Minas e costuma aparecer aqui no período de Natal. Já o araçá, tenho dois pés em casa e sempre deixo metade da produção para os passarinhos do bairro. Nasci em Uberlândia, em 1948. Passei boa parte da infância, até os sete anos, na fazenda com meus avós, onde aprendi muito sobre processos naturais, criação de porcos, galinhas, patos, produção de esterco e cultivo de horta. Penso que essa interação com a natureza pode ter influenciado minhas escolhas anos depois. Também não posso deixar de mencionar um professor chamado Kasuto, um japonês recém-formado pela USP, que me ensinou Ciências no ginásio e Biologia no ensino médio e foi decisivo para despertar meu interesse pelas Ciências, especialmente pela Biologia.
Como ingressou na carreira de professora e pesquisadora?
No ensino médio, formei-me como Normalista. Aos 17 anos, já em Belo Horizonte, comecei a trabalhar como professora alfabetizadora no Grupo Escolar Flávio dos Santos. Ao final do ano, abriram inscrições para o concurso de professoras na Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais (SEE/MG), e decidi participar para me tornar professora concursada. Aqui faço uma pausa para contar sobre meu primeiro ato de rebeldia: meu pai me levou até o local do concurso, onde havia uma fila enorme. Não desci do carro e, quando ele perguntou "Você não vai para a fila?", respondi: "Acha que devo trabalhar para um governo que trata as professoras com tanto descaso?" Voltamos para casa, e decidi fazer vestibular.
Havia cursado o Científico no ensino médio e tinha uma boa formação em Biologia, Física e Química, o que me deu uma chance no vestibular. Em 1968, entrei na Faculdade de Filosofia para cursar História Natural, que foi extinto em 1970, transformando-se em Ciências Biológicas. O curso era em período integral, das 8h às 18h. À noite, dava aula de Biologia no ensino médio. Era corrido e, muitas vezes, eu estudava o conteúdo para ensinar coisas que ainda não tinha visto na faculdade. Nos intervalos, participava de projetos com meu professor de Ecologia, e, quando a pesquisa exigia técnicas especiais, eu recorria aos pesquisadores da Fiocruz, René Rachou, em Minas Gerais.
Nessas atividades, tornei-me conhecida pelo conhecimento em sistemática do grupo de moluscos Biomphalaria. Além disso, mesmo com os compromissos profissionais, eu participava das políticas estudantis, aprendendo muito sobre o mundo e lutando pelos direitos de alunos e professores ao longo da minha carreira.
Por quais instituições passou, como docente ou pesquisadora?
Minha carreira começou como professora alfabetizadora. Essa experiência ampliou meu entendimento sobre o raciocínio das crianças e me aproximou das teorias de Piaget, Vygotsky, Maria Montessori e Paulo Freire. Como estudante na UFMG em 1968, passei a dar aulas de Ciências no ensino fundamental e de Biologia no ensino médio.
Trabalhei em várias escolas, como Nossa Senhora das Dores, onde participei do programa "Meu Professor é o Mais Bacana" na TV Itacolomi, e no Colégio da Previdência/MG, Colégio Santa Marcelina e Colégio Imaculada.
Quando me formei, lecionei Ciências em escolas polivalentes do programa PREMEN, mas logo pedi demissão ao receber uma bolsa para o Instituto de Ultramar de Medicina Tropical em Lisboa, Portugal, onde desenvolvi pesquisa com moluscos. De volta ao Brasil, continuei a pesquisa na UFMG e trabalhei como professora em diversas instituições, inclusive na PUC/MG e UFMG.
Quais são suas maiores alegrias como educadora?
Trabalhar com o que gosto sempre me trouxe felicidade. Estar com os estudantes, em sala de aula ou no laboratório, era sempre uma alegria. Discutíamos, ríamos e fiz muitos amigos. Acompanhei a carreira de muitos, e ver seus sucessos sempre foi uma grande satisfação. Fui homenageada diversas vezes, o que me fez muito feliz.
Como educadora, o que considera mais importante transmitir aos estudantes?
Após muito tempo refletindo com colegas, concluí que, em Biologia e Ciências, o mais importante é desenvolver o raciocínio, a criatividade e a capacidade de estabelecer relações. Infelizmente, tenho observado que muitos jovens argumentam com base no "achismo" em vez de informações e correlações bem fundamentadas. Também considero essencial construir valores éticos e de respeito nas relações interpessoais. A compreensão sobre a natureza da ciência, através da história, é outra questão importante para formar bons cidadãos e cientistas.
Quais autores, pesquisadores ou livros mais a influenciaram como educadora ou pesquisadora?
Foram muitos os autores e professores que me influenciaram. No ensino médio, o livro de Biologia de Frota Pessoa era um favorito, e depois, os textos dos livros BSCS. Na graduação, livros como o de Humberto de Carvalho, Genética Programada, o de Odum sobre Ecologia, entre outros, foram marcos na minha formação. Na pesquisa científica, tive a influência do professor José Rabelo de Freitas e, para desenvolver um pensamento crítico, o professor Nelson Vaz e os livros de Maturana e Varela.
Deixe uma mensagem para seus alunos de todos os tempos e locais.
Há quase oitenta anos observo o mundo ao nosso redor e suas mudanças. Refiro-me a "nosso redor" como as comunidades acadêmicas em todos os níveis. Essa afirmação que faço não é científica, mas um puro sentimento intuitivo. A principal mudança a que me refiro está relacionada à transição no comportamento humano de cooperação para competição. Apesar de essas duas formas de relacionamento sempre estarem presentes nas relações pessoais, ser competitivo era, no passado, considerado moralmente ruim. As pessoas competitivas ficavam, no mínimo, mimetizadas nas comunidades, pelo fato de ser uma característica negativa. Hoje em dia, no entanto, ser competitivo é frequentemente visto como uma qualidade imprescindível para o sucesso, cada vez mais valorizada nos ambientes de produção.
Diante disso, seleciono dois pensamentos que considero verdadeiros em todos os sentidos para aqueles que desejam uma vida profissional saudável e feliz. O primeiro é um provérbio africano que diz: "Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo." O segundo, de origem desconhecida, afirma: "O talento vence jogos, mas só o trabalho em equipe vence campeonatos."
Posso afirmar, pela experiência de ter pertencido a diferentes grupos, que pessoas gregárias realizam melhor seus trabalhos, crescem mais rapidamente e, principalmente, apresentam produtos mais relevantes e significativos. Talvez essa seja a característica de um bom professor: saber dialogar e construir laços de confiança dentro de sua comunidade escolar.