Aprendi, na década de 1980, com meu professor e amigo José Mauro de Morais, que cada indivíduo tem seis sexos. Olha só a visão privilegiada desse meu mestre, no início da década de 1980... muito além de seu tempo. Tocar nesse assunto em sala de aula numa época muito nebulosa.
Recentemente abordei o tema em sala de aula, como faço todo ano. É parte do meu dever como biólogo e professor esclarecer os meus alunos sobre temas complexos, sempre dando total liberdade de discussão e argumentação.
Resolvi, então, produzir um pequeno texto para esse blog. Creio ser do interesse de todos. Dúvidas? Postem nos comentários!
A concepção de sexo vai além da visão binária tradicional, englobando múltiplos aspectos que influenciam a identidade e a experiência de cada indivíduo. Podemos classificar o sexo em seis dimensões distintas: anatômico, cromossômico, genético, legal, psicológico e social. Cada uma dessas categorias desempenha um papel ímpar na definição da identidade de uma pessoa e na sua devida aceitação pela comunidade a que pertence, e compreender suas diferenças é essencial para um entendimento mais inclusivo e preciso da diversidade humana.
1. Sexo Anatômico
O sexo anatômico é determinado pelas características físicas do corpo, como órgãos reprodutivos internos e externos, estrutura óssea e distribuição de gordura corporal. Esse aspecto do sexo é frequentemente utilizado para classificar os indivíduos ao nascimento, mas não é absoluto, pois existem condições intersexuais que desafiam a dicotomia entre masculino e feminino. São as chamadas características sexuais primárias (presentes ao nascimento) e, na maioria dos casos envolve também as características sexuais secundárias (adquiridas durante a puberdade sob efeito dos diversos hormônios sexuais).
2. Sexo Cromossômico
Definido pela presença dos cromossomos sexuais, o sexo cromossômico é tradicionalmente identificado como XX para mulheres e XY para homens. Para os menos versados no conceito, funciona assim: cada um de nós tem dois cromossomos sexuais, um proveniente do espermatozoide paterno e um do óvulo materno. As mães sempre nos dão um cromossomo maior chamado cromossomo X. Os pais podem nos dar um cromossomo X ou uma versão menor, que é chamada de cromossomo Y. A presença do cromossomo Y determina que o sexo cromossômico seja masculino, a ausência determina o sexo feminino. No entanto, existem variações, como XXY (Síndrome de Klinefelter), XYY (Duplo Y), XO (Síndrome de Turner) e outras combinações que demonstram que o sexo cromossômico pode ser mais diverso do que convencionalmente se imagina. Mas isso depende da presença de uma região do cromossomo Y chamada SRY. Essa região contém um conjunto de genes (unidades da informação genética) que determina a formação do aparelho reprodutor masculino. Na sua ausência (indivíduo sem o cromossomo Y, como as mulheres), forma-se o aparelho reprodutor feminino. Então percebemos que não são apenas os cromossomos, seus genes também interferem daí o próximo tipo de sexo.
3. Sexo Genético
Diferente do cromossômico, o sexo genético refere-se à ativação de genes específicos que influenciam o desenvolvimento sexual. O conjunto de genes SRY (região sexual do cromossomo Y), presente no cromossomo Y e que contém um gene famoso chamado TDF (Fator de Diferenciação dos Testículos), é o grande responsável pela diferenciação sexual masculina. No entanto, mutações (alterações na estrutura do gene), perda do gene (deleção genética) ou outras variações genéticas podem levar a condições em que a expressão sexual não segue um padrão típico, resultando em indivíduos que possuem características opostas ou intermediárias. Por exemplo, um indivíduo XY - que devido a problemas celulares precoces no desenvolvimento embrionário não tem ou perdeu os genes SRY - irá se desenvolver como indivíduo anatomicamente do sexo feminino. Outras situações são mais complexas. Pode acontecer uma condição que o indivíduo tem genitália externa feminina e internamente tem um testículo e um ovário. E os hormônios testiculares deste indivíduo vão interferir em questões do desenvolvimento, como aumento da massa muscular por exemplo.
4. Sexo Legal
O sexo legal é aquele registrado nos documentos oficiais, como certidões de nascimento, carteiras de identidade e passaportes. Em muitos países, essa categoria ainda segue uma visão binária, mas há nações que reconhecem identidades não binárias, permitindo a alteração do sexo legal para refletir melhor a identidade do indivíduo.
5. Sexo Psicológico
O sexo psicológico, frequentemente relacionado à identidade de gênero, é a percepção interna que a pessoa tem de si mesma em relação ao seu sexo. Esse aspecto é fundamental para o bem-estar e a autoafirmação do indivíduo. Diferente das outras categorias, o sexo psicológico não é determinado por características biológicas, mas sim pela consciência e pelo sentimento pessoal de pertencimento a um determinado gênero.
É importante ressaltar que o sexo psicológico não deve ser confundido com "opção sexual", como alguns erroneamente acreditam. A identidade de gênero não é uma escolha arbitrária ou uma questão de preferência, mas sim uma vivência profundamente enraizada na psique do indivíduo. Pessoas cuja identidade de gênero não corresponde ao seu sexo anatômico ou cromossômico podem enfrentar desafios como disforia de gênero, preconceito e falta de acesso a direitos básicos. O respeito à identidade de gênero é um passo essencial para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
6. Sexo Social
O sexo social diz respeito à maneira como a sociedade percebe e classifica o indivíduo, influenciando expectativas culturais, papéis de gênero e normas sociais. Essa categoria está diretamente ligada ao contexto histórico e cultural, variando ao longo do tempo e entre diferentes sociedades. As normas de gênero impostas podem impactar profundamente a vida dos indivíduos, influenciando suas oportunidades e experiências.
É fundamental compreender que, embora diferentes sociedades possam ter diferentes percepções sobre o que significa ser homem, mulher ou qualquer outra identidade de gênero, isso não pode ser justificativa para a discriminação. O respeito aos indivíduos, independentemente da maneira como a sociedade os enxerga, é essencial para garantir direitos iguais e uma convivência harmoniosa. O preconceito baseado na identidade de gênero e na forma como cada um é socialmente percebido deve ser combatido, pois limita a liberdade e a dignidade das pessoas.
Conclusão
Compreender que o sexo não se limita a uma única dimensão permite uma visão mais abrangente da diversidade humana. O reconhecimento da importância do sexo psicológico, em especial, é essencial para garantir respeito, dignidade e equidade para todas as pessoas. Além disso, a consciência sobre o impacto do sexo social nos direitos e nas oportunidades dos indivíduos reforça a necessidade de combater preconceitos e promover a inclusão. Ao ampliar a discussão sobre os diferentes aspectos do sexo, damos um passo importante rumo a uma sociedade mais justa, respeitosa e consciente da pluralidade das experiências humanas.
A base do texto foi escrita pelo ChatGPT sobre minha orientação e intervenção.
Várias modificações foram introduzidas por mim no texto final.
Ramon Lamar de Oliveira Junior